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terça-feira, 21 de abril de 2015

Secretary III - Capítulo 20

Sob/sobre o céu de Paris
(Músicas do capítulo: Paris da Lana Del Rey, In a manner of speaking da Nouvelle Vague, Those Sweet Words da Norah Jones, Video Games da Lana Del Rey, Bliss do Muse, Koop do Koop Island Blues, I Belong To You (+ Mon Ceur S'ouvre A Ta Voix) do Muse e Feeling Good, também do Muse. Se possível, deixe todas carregando e as coloque para tocar quando cada aviso surgir.)




Examinei diversos pertences espalhados pela grande cama de casal, semicerrando os olhos e tentando me recordar de algo que poderia ter esquecido. Sem dúvidas era a terceira vez que eu desfazia e refazia aquelas malas, com medo de que pudesse me esquecer de algo imprescindível. Movimentei meus pés em passos rápidos quando, em um estalo, percebi que minha câmera não estava ali, o que poderia ser considerado um pecado. Minha câmera e eu: inseparáveis. Peguei-a e arrumei um espacinho apropriado para ela dentro da mala menor, organizando o restante das roupas e alguns sapatos. Coloquei a mala média ao lado da maior, sorrindo maliciosamente enquanto me lembrava do que ela guardava. Era certo que minha viagem com Joseph para Paris não consistiria em vinte e quatro horas dentro de um extenso quarto de hotel, mas nossos planos eram voltados para algo que provavelmente faríamos várias e várias vezes apenas entre quatro paredes. 
Foi apenas quando me senti totalmente satisfeita com a arrumação de minhas três malas que decidi tomar um banho rápido e escolher uma roupa adequada para a viagem. Não seria longa, eu diria que ficaríamos em média meia hora dentro do avião, já que a distância entre Londres e Paris era consideravelmente pequena. O fim de tarde se aproximava e trazia consigo a ansiedade que me deixava inquieta enquanto ia de um lado para o outro do quarto com um secador de cabelo em uma mão e sapatos em outra. Assim que consegui me vestir totalmente e cuidei de meu cabelo molhado, percebi que alguém estava parado no batente da porta, me observando com os braços cruzados. Joseph apenas me analisava, aparentemente pronto. Ele estava levando apenas uma mala, o que me incomodou um pouco, já que eu precisava de três. Bom, mulheres são sempre mais complicadas, como os homens gostam de dizer. 
Salut, mon amour! - disse-lhe com ânimo de sobra, forçando um sotaque, já procurando meios de entrar no clima francês. Meu marido aproximou-se e foi em direção a minhas malas, pegando a maior e se mostrando determinado a levá-la para o andar de baixo. 
- Diga-me uma coisa... Por que você precisa de tantas malas? - fez a mesma pergunta pela terceira vez no dia, inconformado com a complexidade feminina. Se ao menos soubesse que muitas coisas dentro daquela bagagem seriam para o seu benefício, não ficaria resmungando. 
- Porque uma mulher é cheia de segredos e precisa levá-los consigo onde quer que vá. - coloquei a mão na cintura e ri ao pronunciar aquela explicação, vendo-o negar com a cabeça e rir também. Caminhei em seu encalço segurando as outras duas malas mais leves, enquanto saíamos do quarto e começávamos a descer as escadas. - Ou talvez eu realmente precise de algumas coisinhas para o que vamos fazer em Paris. Nunca ouviu falar na palavra “apimentar”? - questionei-o assim que chegamos a sala de estar. Logo um táxi especialmente reservado para nós chegaria. Joseph parou a minha mente e me fitou com aquela expressão superior de sempre. 
- Você só precisa do seu corpo para isso, Demi. – ele lembrou, enquanto eu procurava pelos outros habitantes da casa. Apesar da felicidade crescente, sentia um aperto em meu peito só de lembrar que passaria algumas noites longe deles. E um aperto ainda maior se fez presente quando imaginei como eles ficariam sem a minha presença. Não eram adolescentes, então não dariam uma festa para comemorar uma curta chance de liberdade graças a ausência temporária dos pais. 
- Fique quieto, Joe! Você adora as minhas lingeries. - rebati, cruzando os braços e encarando-o de forma semelhante, também superior. 
- De acordo. - Joseph desistiu de retrucar e se deu por vencido, me olhando com curiosidade como se perguntasse o que eu escondia dentro das malas. 
- Além do mais, quero brincar com a sua imaginação o máximo que eu puder, portanto não reclame da quantidade de malas, você vai me agradecer depois. - concluí com um sorriso e passei os braços por seus ombros, beijando-lhe os lábios por um curto espaço de tempo, visto que logo nossos filhos estavam no mesmo cômodo. Jamie vinha andando segurando a mão de Matthew, e eu diria que o pequeno já conseguia caminhar completamente bem, sem muitos tropeços. Percebi minha visão borrar quando encarei o pequeno me olhando daquela forma manhosa, como se já soubesse que ficaria um tempinho sem a mãe. Soltei-me de Joseph e fui em sua direção, pegando-o no colo e enchendo seu rosto de beijinhos, coisa que o fez começar a gargalhar desimpedido. Apesar de saber que ambos, ele e Jamie, estavam em boas mãos, a angústia não me largava. Aquela era a primeira vez que ficaríamos separados por mais de um dia. E foi instantâneo; como se notasse minha inquietação, o bebê deitou a cabecinha em meu ombro e começou a resmungar, iniciando um choro baixo. Joseph aproximou-se e começou a conversar com ele enquanto acariciava sua bochecha com o dedo indicador, afirmando que logo nós estaríamos de volta. Passei o bebê choroso para os braços de meu marido, que logo conseguiu acalmá-lo um pouco, e fui abraçar Jamie, que não parecia tão triste assim. Obviamente ele sentiria nossa falta, mas já tinha capacidade de entender tudo o que estávamos fazendo e por quê. Certo, talvez ele não precisasse entender tudo
- Ei, garotão, tudo bem! - Joseph dizia a Matt, que esfregava os olhinhos e pedia por mim. - Nós vamos trazer uma grande surpresa quando voltarmos, certo? - sorri com suas palavras, acreditando fielmente que na próxima vez em que colocasse meus pés dentro daquela casa, estaria carregando outra vida dentro de mim. - Não vou contar o que é, mas você vai gostar muito, eu prometo. - com aquele sorriso e atitudes tão paternais, como Matthew poderia continuar a chorar? Improvável! 
- Vem aqui, meu ursinho. - ergui meus braços em sua direção, sendo imitada pelo bebê e voltei a pegá-lo, me sentando no sofá para deixá-lo mais calmo. Depositei um beijo em sua testa e fiz cócegas em seus pezinhos. Ele riu, mesmo que ainda estivesse com pequenas lágrimas escorregando de seus olhos. - Não chore, meu amor. – passei a niná-lo, balançando seu corpo lentamente a fim de acalmá-lo. - O papai está certo, nós vamos trazer uma grande surpresa. 
- O que é? - Jamie perguntou curioso, sentando-se ao meu lado e tentando distrair Matthew. 
- É surpresa, Jam, não podemos contar agora. - sorri enigmática para meu filho mais velho, que entortou a boca e se viu obrigado a aceitar meu sigilo. 
Logo minha mãe surgiu no recinto e, vendo que meu bebê estava mais calmo, entreguei-o a ela, que sorria de orelha a orelha, alternando um olhar significativo de Joseph para mim. Certos segredos você não consegue esconder de sua mãe, graças a esse fato comprovado eu acabei deixando passar e revelei nossos planos. É claro que ela ficou radiante com a notícia. 
- Por favor, mãe, qualquer coisa não hesite em ligar para nós. - pedi um pouco afobada, enquanto Joseph se encaminhava até a porta quando percebeu que o táxi já havia sido estacionado a frente de nossa casa e buzinava para nos alertar de sua chegada. Joe saiu jardim pelo jardim, já disposto a levar nossas bagagens ao porta malas. Voltei a me desesperar por um momento e abracei Jamie forte demais, o que arrancou uma risada de sua garganta. Depois fui até Matthew outra vez e segurei suas mãozinhas, depositando mais uma sequência de beijos, vendo suas feições se repuxarem em uma careta. Mamãe riu de meu desespero e rolou os olhos, apontando na direção da porta para que eu saísse de uma vez. 
Demetria, apenas me prometa que vocês vão jogar esses aparelhos no rio Sena quando chegarem a Paris. - ela se referia aos nossos celulares. - E que vão aproveitar muito a viagem. - piscou maliciosamente para mim, me forçando a adquirir um riso que se transformou em um largo sorriso. 
- Espero que dê tudo certo. - exprimi minha expectativa, já ouvindo Joseph me chamar animado do lado de fora. 
- É claro que vai dar! Agora vá, nós vamos ficar bem. - concordei com a cabeça e me despedi de todos, vendo meu marido retornar a casa para fazer o mesmo. Ele fora mais rápido e não demorou a sair novamente, então assim que terminei de dar mil e uma recomendações a minha mãe e aos meninos, corri feito criança para o lado de fora. As malas já estavam devidamente organizadas em seu espaço próprio dentro do táxi que nos levaria até o aeroporto. Joe e eu sorrimos com cumplicidade, nenhum conseguindo controlar a alegria ao imaginar o que nos aguardava em Paris. Ele abriu a porta do veículo para mim em um gesto galante, segurando minha mão para que eu pudesse entrar, fechando a porta e dando a volta para poder entrar pelo outro lado. O táxi adquiriu velocidade e eu olhei minha casa pela janela, acenando para mamãe e meus meninos que também acenavam através de uma das grandes janelas de vidro da propriedade. 
Algum tempo se passou e nós ainda estávamos a caminho do Heathrow. Eu tinha minha cabeça descansando sobre o encosto do banco de trás enquanto assistia um Joseph que tentava se manter paciente com os olhos presos ao que parecia ser o início de um caótico engarrafamento. Não era possível que toda a Londres tinha decidido viajar justo naquele dia e hora. Uma chuva ligeira e firme acabara de cair, resultando então em ruas escorregadias e veículos encharcados. Em silêncio, virei meu rosto e passei a observar as gotinhas de água paralisadas do lado de fora do vidro da janela, que vez ou outra despencavam juntas, como se apostassem corrida, desfazendo-se ao chegar ao final da janela. Uma ansiedade tremenda crescia na boca de meu estômago. Estávamos indo para Paris! E eu me sentia como uma criança que vai conseguir algo que quer muito ter, ou visitar um lugar que quer muito conhecer. Realmente, eu nutria um gigante anseio por conhecer acidade luz. Poderia estar me balançando animada de um lado para o outro, se não fosse o espaço desproporcional a isso dentro do veículo e o semblante de poucos amigos de Joe, que parecia mais impaciente do que o próprio motorista. Levei minha mão até sua coxa coberta pela calça jeans, tocando os dedos ali em um carinho despretensioso. Ele me olhou e, ao constatar meu semblante infantilmente entusiasmado, não conseguiu manter a seriedade e revelou um sorriso. Tudo estava perfeitamente em seus eixos. Ambos concordávamos totalmente com aquilo, ambos esperávamos ansiosamente por aquilo. Eu havia passado por um detalhado check-up tempos antes para verificar se minha saúde estava em ordem. Então, perfeitamente saudável, me consultei com a ginecologista em que confiava, apenas para começar a me preparar melhor. Ela recomendou que eu começasse a tomar ácido fólico antes mesmo de engravidar, e era exatamente o que eu estava fazendo, me cuidando da melhor forma possível. 
Senti o rosto de Joseph se aproximar do meu, depois percebi que ele sussurrou algo ao pé de meu ouvido, na intenção de permitir que apenas eu escutasse. 
- Nós vamos ter outro bebê, responsabilidade triplicada, então acho válido um pouco de irresponsabilidade nessa viagem. - ri de sua sugestão repentina, já conseguindo avistar o aeroporto poucos quilômetros a frente. - Escolha um nível de loucura para que eu possa elevá-lo. - olhei em sua direção com o cenho franzido, notando que ele parecia esconder algo. As feições joviais e travessas avisando que uma brilhante - e irresponsável - ideia era arquitetada. 
- Você tem algo em mente? - perguntei inocentemente, imaginando que tipo de loucura poderíamos cometer em Paris. Meus olhos se arregalaram brevemente quando a cena de um possível sexodentro da Torre Eiffel adentrou minha imaginação sem pedir permissão. Gargalhei com a ideia, deixando o homem ao meu lado perdido, sem entender o motivo de minha alegria repentina. 
- Tenho, sim, algo em mente, mas você só ficará sabendo quando chegar o momento. - arqueei uma sobrancelha e juntei nossos lábios, afastando-os logo após para olhar em seus olhos, transmitindo um sugestivo aviso quando o táxi estacionou em uma área própria para veículos no aeroporto: 
- Prepare-se, senhor Jonas. 
- Estou mais preparado do que você é capaz de imaginar. - com excesso de convicção, Joseph afirmou com uma mão segurando minha nuca, puxando-a para frente. 
- É melhor que esteja mesmo. - me desvencilhei de seu toque e sozinha abri a porta, colocando meu corpo para fora do carro. Inspirei o ar levemente frio e analisei toda a agitação ao meu redor. - E lá vamos nós. 


Aeroporto Charles de Gaulle - Paris, França

(Coloque a primeira música para tocar!)
A viagem fora tão breve que não ouve tempo para sequer sentir cansaço. Ao descer do avião e colocar meus pés no chão daquele aeroporto, foi como se eu tivesse sido apoderada por um misto de sensações que me fizeram sorrir feito boba para tudo ao redor. Eram constantes as vezes em que minha audição captava o típico cumprimento “Bienvenue en France”, proferido por aeromoças e funcionários em geral. Já era noite e a movimentação era mediana. Joseph andava ao meu lado empurrando o carrinho específico para o transporte de malas, enquanto eu procurava pela área de táxis para que pudéssemos nos dirigir ao hotel escolhido. Não seria propício um tour pela cidade naquele momento, apesar de eu ter certeza de que Paris iluminada certamente era deslumbrante. Finalmente encontrando um táxi, avisei meu marido e nós caminhamos em sua direção. Outra vez assisti o processo de malas sendo colocadas dentro do porta malas, um pouco entediada com aquela fase da viagem. Aeroportos são exaustivos, por mais que eu não tivesse perdido nem um terço de minhas energias, todavia o simples fato de estar ali naquela agitação incomoda já me fazia bocejar. Eu contava os segundos para o veículo entrar em movimento e nos conduzir por aquela linda cidade. Joseph aproximou-se um pouco mais de mim no banco de trás enquanto eu procurada determinada por indícios da Torre Eiffel com os olhos fixos na janela. Apesar de ser noite, parisienses e turistas eram vistos por todos os lados. Conjuntos excepcionais de luzes espalhados por todas as direções que guiavam por entre todas as boulevards espalhadas. Até aquele momento, mesmo vendo tão pouco, já tinha certeza de que Paris era deveras mais estonteante do que pude conferir em Midnight In Paris, filme que despertava o desejo de estar ali toda vez em que eu o assistia. A cidade luz nos dava as boas vindas com sua beleza, fascinando a mim de uma maneira impressionante. Eu sentia a necessidade de caminhar por aquelas ruas e esperaria ansiosa para o dia seguinte. Virei meu rosto para encarar Joseph e percebi que seu sorriso refletia o meu. Ao que pude constatar, estávamos nos aproximando da Avenida Champs-Élysées, até mesmo o Arco do Triunfo era de fácil visualização diante do local em que estávamos. E algum tempo depois, finalmente consegui avistar ao longe o que mais ansiei por ver: a Torre Eiffel. Lá estava a majestosa Torre Eiffel, banhada por suas luzes amareladas e pavorosamente enorme. Ergui meu rosto ao notar que ficávamos cada vez mais próximos dela, já que o hotel em que nos hospedaríamos era localizado entre a Avenida Champs e a Torre. Como se sua beleza me hipnotizasse, demorei a constatar que Joseph tinha uma mão apoiada em meu ombro para tentar chamar minha atenção. 
Take me to Paris, let's go there and never look back. Paaaaaris, we can be crazy like that! - comecei a cantar, apesar de baixinho para evitar olhares do taxista, animadamente, apontando na direção de Joe. - You're such a naughty boy, why you taking that polaroid? Put on a show you'll enjoy... Take me to Paris! - finalizei, voltando a colar os olhos na janela, deslumbrada, um sorriso bobo no rosto. - Acho que acabei de esquecer o motivo de termos vindo aqui. - comentei com a voz pouco audível, como resultado de meu deslumbramento. Joe me olhou seriamente e eu não consegui mais segurar um risinho. - Não se desespere, eu não me esqueço das coisas tão fácil. - gracejei, deixando-o levemente aliviado. E como eu poderia deixar que nossos planos caíssem no esquecimento quando eram compostos por uma tarefa tão emocionante e esperada? Eu estava distraída quando um leve solavanco me fez olhar ao redor e perceber que o táxi havia acabado de estacionar em frente ao Hotel Plaza Athénée, na Avenida Montaigne
- Vem, vamos conhecer um dos prováveis locais em que nosso filho será concebido. - ele me convidou para sair do veículo de forma terna, levando prontamente sua mão até minha direção para que eu pudesse segurá-la ao sair do táxi. 
Encaminhamo-nos até a bonita entrada e prontamente um dos funcionários surgiu para nos atender, abrindo cordialmente a porta para que pudéssemos adentrar e chegar até o lobby do hotel. Após alguns procedimentos necessários para que uma suíte fosse liberada a nós, assisti funcionários levarem nossas malas enquanto outro deles nos guiava para que pudéssemos subir. 
Finalmente chegamos ao andar de nossa suíte localizada na cobertura; as portas que decoravam um vasto corredor com tapete vermelho e quadros diversos eram brancas com detalhes em dourado. A decoração vistosa aparentemente até mesmo em detalhes simples como os interruptores de luz e nas lâmpadas acima de nossas cabeças protegidas por delicados lustres de cristal. Mas tudo aquilo pareceu insignificante quando o adorno que preenchia nosso quarto foi revelado assim que a porta fora aberta por um cartão magnético. O chão era escuro e resistente, algumas áreas eram cobertas por tapetes brancos e felpudos. Havia uma janela de vidro que pegava boa parte da parede do canto. Do outro lado, cortinas em tom marrom davam acesso a uma pequena varanda com uma privilegiada vista para a Torre Eiffel. Uma cama gigante e confortável com uma colcha de um branco detalhado que contrastava com as diversas almofadas vermelhas que repousavam sobre a mesma. Havia também duas poltronas no mesmo tom de vermelho das almofadas, assim como alguns quadros ornamentando as paredes pintadas em um tom aconchegante da cor creme. Joseph e eu nos olhamos ao tomar consciência do tamanho daquela cama e não demorou para que a porta atrás de nós fosse rapidamente trancada. Comecei a caminhar pelo vasto quarto e parei em frente a uma mesinha delicada em madeira, era decorada com flores brancas e vermelhas; ao lado um recipiente de vidro com macarons, os típicos docinhos franceses. Deliciosos, por sinal. Joe deitou-se de atravessado na cama, como se quisesse testá-la e eu sorri, retirando meus sapatos e sendo surpreendida por outro artigo de decoração presente naquele quarto: um biombo translúcido. Aos risinhos, fui descalça até aquele canto do quarto que tinha uma vista privilegiada da cama, me colocando atrás do biombo e fazendo de tudo para atrair a atenção de Joe. Ele me olhou e arqueou uma sobrancelha. Eu movimentava meus quadris de maneira sensual, mas sem conseguir esconder os risos. Joseph só conseguia ver a região de meu rosto e ombros, o restante era coberto pelo material que permitia a visão de apenas minha silhueta. Interessante para provocá-lo. 
- Isso aqui será bem útil. - comentei saindo dali e indo fazer companhia a Joe na cama, jogando-me nela de forma exagerada, fazendo com que algumas das almofadas caíssem no chão. 
- Por que você não guarda um pouco dessa empolgação para... - o homem olhou em seu relógio de pulso e fez meu rosto se erguer ao segurar meu queixo com seus dedos indicador e médio. - Que tal agora? - os olhos sugestivos de brilho acentuado fizeram aquele frio em minha barriga me atingir instantaneamente. Afastei-me dele de repente, com os olhos perdidos no belo quarto enquanto pensava em coisas que não deveriam ser pensadas naquele momento. Meus filhos estavam bem em Londres, eu tinha total certeza que sim. - Quanto mais vezes tentarmos, mais chances teremos de conseguir. - ele tentou atrair minha atenção para si enquanto tomava uma de minhas mãos para simplesmente acariciá-la com seus dedos. 
- Matt é a prova de que somos saudáveis, férteis e de que rapidamente vamos conseguir o que queremos, mas é claro que isso não nos impede de praticar muitas e muitas vezes, não é? - ele concordou e mordeu seu lábio inferior, selando nossos lábios. Deixei-me levar e elevei meu corpo para ficar sobre o seu, indo parar em seu colo. Meu gesto fogoso o agradou prontamente. 
- Acho que vou me dar bem nessa viagem. - o jeito em que as palavras foram pronunciadas me fez rir, tamanha a empolgação que demonstravam. Porém, de forma veloz, uma imagem se projetou em minha mente. Rapidamente saí de cima de meu marido e ajeitei meus cabelos, pensando em Matthew. 
- Acabei de me lembrar do Matt... - comentei com a voz chorosa, a típica mãe coruja que não sabe lidar com a distância que a separa do filho. Apesar de compreender, eu sabia que Joseph se decepcionara um pouco, era evidente. - Os olhinhos extremamente curiosos e brilhantes, a risada tão gostosa... - juntei minhas mãos na altura de meu peito e fechei os olhos, suspirando. - Os passinhos desengonçados, as palavrinhas proferidas de maneira errada... Ah! - derrubei meu corpo, ficando deitada, repentinamente triste, mas um estalo me fez erguer o corpo segundos depois e me levantei da cama para vasculhar por meu notebook em uma das malas. Como o fuso horário era de apenas uma hora, eu o considerava irrelevante. As chances de meus meninos ainda estarem acordados eram imensas. Tomei o notebook em mãos e voltei a me sentar na cama, ficando com as pernas cruzadas enquanto era observada por Joseph, que não dizia nada. Liguei o aparelho, esperando alguns instantes até ver a tela se iluminar. Depois de alguns cliques e uma mensagem de texto que enviei a minha mãe, já posicionava devidamente a webcam para que umavideoconferência fosse realizada. Eu sentia que necessitava de ver meus meninos para conseguir ficar em paz. Não demorou até que a imagem de minha mãe e Jamie surgisse e sorrisos pintassem os lábios de ambos quando nos viram. Acenei para eles e chamei Joseph para chegar mais perto, tendo o pedido atendido. 
- Como foi a viagem? - mamãe perguntou do outro lado da tela, levantando-se enquanto chamava carinhosamente alguém que deveria estar por perto. Matthew. 
- Foi ótima, e Paris é mesmo incrível! Eu não sei se vou conseguir ir embora daqui. - admiti, mas revelei que era uma simples brincadeira quando percebi que não seria capaz de deixar Londres. 
- Vocês já estão montando a grande surpresa? - foi a vez de Jamie perguntar, sorrindo abertamente e curiosamente. 
- Digamos que montar é realmente uma palavra bem propícia, filho. - Joseph explicou a ele e eu gargalhei, sorrindo bobamente quando vi minha mãe retornou a aparecer na imagem, porém com meu bebê em seus braços. Ela voltou a se sentar e o acomodou melhor em seu colo. O pequeno rapidamente nos viu e agitou os bracinhos, pronunciando palavras desconexas misturadas commamãe e papaiJoe e eu acenávamos para ele como dois idiotas babões, mas não existe meio de mudar isso em pais, existe? 
- A mamãe já está com saudades, meu amor. - toquei a tela do notebook na direção em que o rostinho de meu filho estava. Ele sorriu para mim e Jamie chamou sua atenção, dizendo algo perto de ser ouvido que não pude identificar. - O que vocês estão aprontando, hein? 
Mamãe lida! - escapou pelos lábios do pequeno que riu satisfeito do que acabara de dizer, batendo palminhas. Mamãe linda era o que ele tinha dito. Meus olhos marejaram na hora e senti Joseph passar um braço por meu ombro. O orgulho ao ouvir Matthew me chamar de mamãe já era grande o suficiente para aquecer meu peito pela eternidade, mas ouvi-lo me chamar de mamãe e de linda era totalmente sem explicação, o ápice da felicidade. 
- Concordo plenamente com isso, Matthew. - Joe se manifestou, e eu não sabia para qual dos dois olhar. 
- Boa noite, ursinho. Boa noite, Jam. Boa noite, mãe. Durmam bem! - nos despedimos e a videoconferência fora encerrada. Meu marido e eu voltamos a nos encarar por segundos, como se conversássemos mentalmente e tentássemos planejar o que seria feito. Nós dois, um quarto maravilhoso de hotel e em Paris. Ainda restam dúvidas? 

Ajeitei a liga de perna em minha coxa, balançando graciosamente meus braços enquanto movia meus quadris de um lado para o outro atrás do biombo, erguendo os olhos na direção de um Joseph muito confortável sentado sobre a cama, com as pernas esticadas. Ele vestia apenas uma calça preta; o peitoral totalmente exposto, os cabelos bagunçados, os olhos insinuantes que questionavam o que eu ainda fazia tão longe. Checando se minha lingerie estava em ordem, apoiei minha mão na parte de cima do biombo e revelei meu corpo, deixando meu marido embasbacado. Vermelho poderia ganhar o primeiro lugar quando se tratava da cor que ele apreciava ver cobrindo minhas curvas, mas branco levava facilmente o segundo lugar. E preto o terceiro. Pendi a cabeça para um lado, deixando que as mechas de meu cabelo aos poucos se soltassem do coque frouxo e caíssem por minhas costas e ombros em cascatas. Era incrível a forma como eu me sentia elétrica, como se Paris tivesse levado embora qualquer exaustão, sem a mínima intenção de devolvê-la. 
Vem aqui, Demi. - meu marido pediu com sua voz rouca e sussurrada, os dedos de sua mão deslizando por seu peitoral até que brecaram no cós de sua calça. 
Oui, monsieur. - respondi-lhe graciosamente em francês, fazendo-o levantar o olhar, dessa vez um ainda mais sugestivo. Senti meu corpo ser puxado para perto do seu com o mesmo magnetismo presente em ímãs. Fui dando passos lentos, mas ainda assim provocantes, passos que tardavam o momento em que ele finalmente poderia me tocar como queria. Parei em frente a cama e sorri um sorriso enviesado que iluminou suas feições antes contraídas em um semblante enigmático. O calor acentuado que pairava por entre nós era quase que palpável, uma energia no ar parecia favorecer nossa vontade carnal, estimulando-a a crescer, crescer e crescer. 
Tudo parecia jogar ao nosso favor naquela noite. Pouco nos importava que fosse Paris a cidade que se revelava através daquelas janelas do quarto, tudo que fazia sentido naquele momento era começar a executar um plano que não teria hora certa para ser concluído. Ah, e como saber disso era bom. 
Inclinei meu corpo levemente e apoiei as palmas de minhas mãos sobre o colchão, levando-as para frente enquanto erguia também minhas pernas e apoiava os joelhos na superfície macia que afundou levemente. Engatinhei na direção de Joseph e não demorou para que ele se desencostasse da cabeceira e segurasse meus dois braços, deslizando as mãos pelos mesmos até que viu meus poros eriçados. Pisquei meus olhos algumas vezes e os fechei quando senti sua boca colar em meu queixo, sorrindo de forma devassamente inocente; aquela forma que o deixava louco. Sua mão impaciente logo tocou uma das alças de minha calcinha e ameaçou abaixá-la, mas eu segurei sua mão e a retirei dali, guiando-a até minha cintura. 
- É ele, meu período fértil. Eu tenho certeza que se iniciou hoje. - sussurrei como se estivéssemos em um local repleto de pessoas e o esforço para manter a voz quase inaudível fosse necessário.Joseph realizou movimentos circulares em minha coxa e torceu os lábios, distraindo-se com o aroma delicado que emanava da pele de meu colo. 
- Acho que nunca vou entender isso direito. - confessou com um risinho sem graça nos lábios, mas suas mãos não faziam questão de perder sua graça em momento algum, meu corpo sobre o seu era a prova concreta disso. Espalmei minhas mãos em seu peitoral e rocei meu nariz na pele de seu rosto, sentindo sua respiração bater um pouco acima de meu pescoço. 
- Você não precisa entender, só fazer seu trabalho. - eu disse severamente, obrigando-o a olhar em meus olhos enquanto dava aquela séria instrução. Não apenas o meu esmero ao tratar daquela situação era notável, mas o seu também. Pensar que fora ele quem propôs que fôssemos à Paris para fazer um bebê me deixava nas nuvens. A dedicação era tanta que não parecíamos dispostos a ter um filho, mas sim, três. 
- E eu também não tenho a menor ideia do que faz uma mulher agir assim quando quer engravidar, mas estou adorando! - alertou um Joseph que não aguentava mais manter sua boca longe da minha. Sorrateiramente nossos lábios se uniram e nossas línguas brincaram um pouco, mas eu logo tratei de quebrar o contato, segurando os cabelos de sua nuca e distribuindo leves arranhões na pele da região. Queria ouvir algumas palavras estimulantes irromperem por seus lábios naquele momento, pois elas tinham um papel indispensável nas tentativas dele em me deixar desconcertada. 
- Diga o que você mais gosta em mim. - pedi, recebendo apenas um olhar semicerrado em resposta. - Mas sem mencionar partes do meu corpo. - Joe pensou por instantes, segurando minhas duas coxas para conseguir encaixar melhor nossos corpos, deixando nossos troncos alinhados. Ao encontrar uma resposta que certamente me agradaria, ele sorriu satisfeito. 
- Eu gosto da sua espontaneidade. E do seu olhar que diz “vamos fazer sexo agora!” - o tom de sedução envolvia sua fala de forma surpreendente. 
- Tem certeza de que esse olhar pertence a mim? - perguntei desconfiada e, visto a forma como suas mãos impacientes começavam a examinar meu corpo, quem tentava propor sexo naquele exato instante era ele. 
- Absoluta. 
- Eu tenho mesmo um olhar assim? - mordi meus lábios e fiz uma careta, surpresa por ele conseguir captar, classificar e se recordar de meus olhares, dispondo-se a reconhecer o que cada um tentava transmitir. 
- Tem, sim. E ele te deixa injustamente sexy. - Joseph bem que tentou impulsionar meu corpo para trás e ficar por cima, mas eu fui mais rápida ao destravar minhas pernas de seus quadris e ficar de joelhos, atraindo-o em minha direção, seus olhos presos em meu decote que ficara mais evidente devido a minha posição inclinada. Fiz meu marido se deitar e voltei a ficar com uma perna em cada lado de seu corpo, acariciando seus ombros largos e peitoral definido. Joe me olhou como se perguntasse o motivo de meu desespero em querer estar por cima, dominar a situação. Não hesitei em explicar. 
- Eu li em algum lugar que se a mulher estiver por cima, as chances de engravidar de uma menina são mais fortes. - expliquei, maravilhada com a hipótese de realmente engravidar de uma menina, mas meu marido riu em descrença mediante aquela superstição e repousou suas mãos em minha cintura, segurando-a e tentando me puxar para baixo. Notando que eu não cederia, pelo menos não ainda, voltou sua atenção ao laço rente ao meu busto, convicto de que bastava puxá-lo, soltá-lo e, pronto, abriria o corset. 
- Pare de ler coisas e comece a praticar coisas. - era impossível ignorar a sensação de nossas pélvis se roçando, por mais que tecidos ainda estivessem barrando um contato maior. Fechei meus olhos em um momento de distração com seus toques, cansada de continuar aquela conversa. Inclinei meu corpo o suficiente para ficar com meu tronco rente ao seu e deixei que suas mãos percorressem a distância de minha cintura até meus glúteos. Passei a me movimentar em cima dele em uma fricção que gradualmente atingia a frequência mais elevada. 
Tudo funcionava perfeitamente bem, estávamos a um passo de arrancar os tecidos desnecessários que escondiam nossa nudez, mas, juntos, foi como se tivéssemos uma espécie de estalo. Suas mãos soltaram meu corpo e meu tronco subiu alguns centímetros. Joseph fitou meus olhos seriamente, deixando-me agoniada por não dizer nada. 
- Está pensando o mesmo que eu? - arrisquei, respirando pesadamente quando um medo súbito mascarou minha excitação. Tivemos tempo para pensar e nos programar, tivemos tempo para concluir que aquela era a decisão certa. Nós queríamos ter mais um filho, queríamos aumentar nossa família. Queríamos um lar cheio de risadas e conversas altas. - Eu sei que estamos prontos para isso, mas será que é assim que deve acontecer? - parecia trivial minha inquietação, mas de repente fora algo que passou a assolar minha mente. Se queríamos que o momento da concepção fosse especial, deveríamos realmente torná-lo especial. 
- Você se refere a esse quarto, a hoje? Não quer tentar hoje? - Joseph não sabia ao certo qual era o meu receio, já que para ele não existia muita diferença. Mas algo dentro de mim pedia um pouquinho mais de tempo, como se a organização de meu interior para receber uma nova vida ainda estivesse sendo planejada. Suspirei e olhei frustrada para cima. Ainda estava com vontade de ser dele naquela noite, mas só depois que me certificasse de uma coisa. 
- Eu me sinto tão pronta! Sinto o meu sistema reprodutor tão pronto! Meu útero está chamando “venha bebê, venha bebê!”, mas não consigo controlar esse estranho nervosismo. - Joe franziu o cenho e provavelmente se perguntou o quanto uma mulher é louca. 
Demetria, eu estou totalmente pronto, é só você me dizer o que eu devo fazer, então eu farei. - ele sorriu ternamente para mim, fornecendo o máximo de apoio que podia. 
- Meu amor, para você é muito mais fácil, não é? Apenas coloca o bolo no forno. - ri internamente de uma metáfora tão estranha. - Mas eu... Bom, eu espero até que ele fique pronto. E tenho que tirá-lo do forno depois. - nós dois caímos na gargalhada e alguns minutos depois Joseph pareceu entender que eu precisava de apenas mais algum tempinho para me declarar oficialmente pronta, apesar de, por vezes, acreditar já estar. - Por favor, eu só preciso de mais um tempo. 
- O que você quiser, meu amor. - Joseph levou minha mão até seus lábios e depositou um beijo nas costas. - Então vamos dormir? - ele perguntou, a mandíbula travada e as mãos inquietas como se torcesse para que minha resposta não fosse afirmativa. Ainda em cima dele, eu prontamente neguei com a cabeça e assumi uma expressão maliciosa. 
- Você... Está... Hum... - apontei para baixo com as sobrancelhas erguidas, explicitando a área onde um volume se concentrava. Considerei minha pergunta desnecessária, já que poderia simplesmente ter tocado a região e constatado o óbvio, sozinha. 
- Mas que pergunta é essa, mulher? Totalmente! - Joseph não poupou sinceridade, soltando o ar com força pela boca quando assistiu minha mão repousar sobre sua ereção. 
- Trouxe preservativos, não trouxe? - perguntei baixinho, saindo de cima dele assim que vi seu tronco se erguer. 
- Sim, eu trouxe. - respirei aliviada. 
- Ótimo, vá pegar! - determinei e o vi sair em um ímpeto da cama, correndo até sua mala colocada em um dos cantos do quarto, retornando pouco tempo depois com algo em mãos. 
- Na próxima vez faremos sem, tudo bem? - Joe passou uma perna em cada logo de meu corpo e segurou uma de minhas mãos enquanto a outra acariciava minha barriga ainda coberta, apenas esperando minha confirmação para começar a agir. Eu só precisava de mais uma noite para assimilar totalmente o que me aguardava. Só mais uma. Medo do incerto, talvez. Algo normal. Sofri com sentimento semelhante quando engravidei pela primeira vez. No entanto, tão rápido como vinha, costumava ir embora. 
E como não ceder àquele homem em cima de mim? Impossível. 
- Você é quem manda! - eu disse determinada e o puxei para baixo, querendo-o de uma vez. Logo Joseph conseguiu desfazer a perfeita arrumação da cama e jogou aquelas cobertas sobre nós. E ali embaixo nós passamos o restante da noite, nos divertindo o máximo possível. 


Joseph's P.O.V

Como se soubessem que aquele era o momento certo, meus olhos se abriram. O dia já havia amanhecido e uma boa quantidade de claridade percorria o quarto, facilitando a ação de apreciar a mulher adormecida ao meu lado. Não pude segurar o sorriso que curvou meus lábios quando lembrei da noite interior, da forma como, mesmo tão sedentos por sexo, sedentos para conseguir o que tanto queríamos, não deixávamos de rir e de nos comportar como amigos. Eu estava deitado de bruços, de costas para uma Demetria que vez ou outra se mexia, fazendo com que o cheiro de seu cabelo e pele fizesse um agrado ao meu olfato. Preguiçosamente me virei, ficando de barriga para cima, olhando para o teto antes de virar apenas meu rosto e olhar para ela. O corpo deDemetria era parcialmente coberto pelos lençóis brancos, mais ou menos até a área de sua cintura. Eu não tinha visto-a pegar minha camisa branca e vesti-la, mas naquele momento a enxerguei em seu corpo. Os botões estavam apertos, o que revelava a região entre seus seios quase expostos que subiam e desciam de forma lenta e mínima, graças ao seu ato de respirar. Ela parecia feliz, mesmo com os olhos ainda fechados. Os cabelos soltos e jogados em várias direções não permitiam que eu desviasse o olhar. Eu não me importaria em passar a vida inteira tentando descobrir como ela conseguia passar tanta sensualidade sem querer, conseguia ficar tão sexy até mesmo dormindo, uma sensualidade que vinha naturalmente, mas ainda assim permanecer delicada ao ponto de despertar a vontade de envolvê-la com meus braços e não soltar nunca mais. Ou eu poderia desistir de buscar uma explicação e passar o resto da vida aproveitando-a, o máximo que ela permitisse, todos os dias de uma vida. Sim, era a melhor opção. Ela jamais se esforçava em tentar parecer maravilhosa. Ela era maravilhosa; sempre foi, sempre seria. 
Sem conseguir controlar aquele instinto, me movimentei calmamente para não acordá-la e apoiei meu corpo sobre um cotovelo que permaneceu pressionando o colchão. Levei minha mão até um fio de cabelo que cobria uma área de seu rosto, ouvindo a mulher soltar um resmungo e voltar a se mexer. Desci meus dedos por sua bochecha e pescoço, aproveitando a pele quente. Cheguei até uma de suas clavículas e, fingindo que fora apenas acidentalmente, sorri abertamente quando minha mão esbarrou no tecido da camisa e a afastou ainda mais de seu busto; o seio direito perigosamente perto de ser totalmente exposto. Eu não sabia dizer se ela se fingia de adormecida ou se de fato dormia, mas isso não me importava no momento. E também não me preocupei com a hipótese dela ficar irritada por ter sido acordada. Inclinei meu corpo e aproximei meu rosto do seu, tocando os lábios na pele de sua testa e descendo sem pressa, enquanto minha mão descia pela parte nua de seu tronco. Demetria continuava a se mexer de forma insignificante e às vezes sua respiração ficava mais pesada, provavelmente perto de abrir os olhos. Desfiz a posição em que estava e ergui meu tronco, apoiando uma mão de cada lado de seu corpo e descendo o meu rapidamente, mas sem deixar que Demetria acordasse em um susto por sentir o peso do meu corpo sobre o seu. Beijei seu queixo e desci por seu pescoço cheiroso - o cheiro parecia ainda melhor do que na noite anterior. Senti suas pernas se movimentarem, roçando-se contra as minhas. Ainda sem tirar totalmente a camisa de seu corpo, livrei-a apenas do lençol inconveniente que insistia em nos separar. Observei a calcinha branca e minúscula que ela usava, pensando que seria melhor não usar nenhuma se queria me provocar tanto. Comecei a acreditar que Demetria se fingir de desacordada, então intensifiquei meus toques, descendo mais meu corpo e por fim deixando que se colasse ao dela. Beijei seu colo duas, três, quatro vezes, segurando sua cintura de forma firme para que ela não se movesse abaixo de mim. Apenas encostei nossos lábios, notando que prontamente eles se abriram, a mulher sorriu preguiçosamente contra a minha boca, ainda de olhos fechados. Notei que ela se esforçou para elevar seu quadril, gesto que de forma provocante grudou nossas pélvis. 
Aos poucos, Demi abriu os olhos, mirando-os prontamente na direção dos meus.
Bonjour, mon homme. - ela falou sorridente. 
Bonjour, ma belle femme. - respondi a altura. 
- Eu adoro a sua animação matinal, a energia astuta que você tem pela manhã. - suas mãos se fixaram em minhas costas e subiram até meus cabelos, onde ela fez questão de segurar com força. Notei que Demetria insistia em se esfregar contra mim, com os dentes mordendo o próprio lábio enquanto os olhos continuavam grudados aos meus. Respirei fundo, tendo que concordar com ela. A minha animação matinal era incontestável. E lá estava ela. 
- Por que me tentar desse jeito, mulher? - perguntei ao pé de seu ouvido, depositando um beijo no local. 
- Porque eu preciso conseguir o máximo de você, se é que me entende. - aquela mulher estava determinada a sugar todas as minhas energias. E não existiam palavras para expressar o quanto eu adorava aquilo. 
- Continue desse jeito e eu vou querer fazer muitos outros bebês. - Demi sorriu abertamente com a ideia, dobrando sua perna e colocando-a na altura do meu quadril, pude sentir seu joelho encostado ali. De repente a mulher ficou quieta e parou de se mover contra mim, encarando um ponto qualquer do teto. Analisei seu rosto e selei nossos lábios, vendo-a sorrir como se tentasse dizer que eu não precisava olhá-la daquela forma preocupada. Mas sua animação fora embora muito rápido, então era evidente que eu deveria ficar curioso para saber do que se tratava. - O que foi? - ela não respondeu, apenas virou o rosto na direção contrária do meu. Desci minha boca até seu pescoço outra vez, sentindo seus seios contra meu peitoral. - Eu te conheço tão bem... - segurei brevemente a pele do local com os dentes, fazendo-a fechar os olhos. - O que te faz pensar que eu acredito que não tem nada te incomodando agora? - beijei sua orelha, segurando o lóbulo com mais força do que pude calcular. A culpa não era minha se eu não conseguia me controlar quando o assunto era ter o corpo de Demetria. Rocei minha língua por toda a região que julguei ser sensível, analisando suas reações depois de cada toque. Passei a acariciar suas coxas com movimentos circulares e firmes. - Não vou parar de te tocar e de provocar até que você me diga o que está acontecendo. Não importa até onde eu tenha que ir. - Demetria ficou tensa quando sentiu meus dedos extremamente próximos de sua virilha, brincando com a frágil calcinha. Aos poucos eu conseguia trazer o sorriso de minutos antes de volta, levando seja lá o que a incomodava embora. - Me diga um local do seu corpo que eu não conheça bem o suficiente para provocá-lo até que você me peça para parar? Um local que eu não saiba tocar como você gosta e merece? - sorri satisfeito comigo mesmo ao pronunciar todas aquelas palavras ao pé de seu ouvido, disposto a galanteá-la o máximo que eu podia, da forma que ela gostava. 
A mulher voltou a virar o rosto em minha direção e a intensidade em seus olhos me deixou tenso, desconfortável dentro daquelas calças. Como se não fosse nada, ela abriu a boca e despejou as palavras da forma mais calma que quis. 
Quero vocêDentro de mimAgora
Aquilo foi o suficiente para que o meu corpo reagisse da forma esperava. Era a minha deixa para colocar em prática o que tinha em mente desde o momento em que acordei. Porém, Demetria tentou forçar o corpo para cima em um pedido mudo para levantar. Tentei não começar a me aborrecer com aquilo, apenas saindo de cima dela e assistindo com atenção seus movimentos. A mulher colocou as pernas para fora da cama e ficou de costas para mim, apenas ajeitando os cabelos com as mãos, gesto que ela não tinha conhecimento do quanto me atiçava. Virou-se em minha direção e sorriu abertamente, me chamando com o dedo indicador enquanto dava passos para trás na direção do banheiro. Perguntei-me o que aquela camisa ainda fazia em seu corpo. E eu tinha uma missão: retirá-la. Como se sentisse algo me puxando em sua direção, levantei da cama e a segui na mesma velocidade de seus passos. Seu corpo parou ao batente da porta e ela esperou por mim. Sem dizer nada ou esperar sua próxima reação, segurei nas duas partes da camisa que cobria seu corpo e puxei ambas em direções contrárias, abaixando minha cabeça para contemplar seu corpo, agora, quase nu. Aquela calcinha tinha seus segundos contados. 

Demetria's P.O.V

(Coloque a segunda música para tocar!)
Meu coração estava acelerado graças a forma como ele olhava para minha pele desnuda. Um arrepio correu por minha espinha, não sei dizer se por frio ou pela necessidade de descobrir o que se passava por sua mente naquele banheiro. Seu corpo outra vez se colou ao meu enquanto nossos narizes se roçaram e ele juntou nossas bocas, sem pedir permissão ao impulsionar sua língua por entre meus lábios entreabertos. Beijamo-nos com o típico furor, mas, apesar de tão típico, era surpreendente a forma como eu era capaz de obrigar meu ser a se esquecer das memórias de seu gosto e toque, para depois senti-las como se fosse a primeira vez, descobri-las um milhão de vezes e ainda assim reagir como se fosse a primeira. Qualquer indício da dúvida que pairou sobre mim na noite interior se esvaiu naquele momento. Enfim, eu estava pronta. Eu queria engravidar, eu iria engravidar. E se pudesse escolher a hora mais propícia, seria aquelaJoseph aproveitou-se de minha distração com nossos lábios empenhamos naquele beijo molhado e levou suas mãos ágeis até minha calcinha, forçando a peça a deslizar para baixo e cair na altura de meus calcanhares. Completamente nua, senti o impulso que ele tomou para frente, apenas esperando que eu chutasse a peça delicada de roupa para longe, me levando consigo enquanto adentrávamos o banheiro e aos beijos e toques nos aproximávamos cada vez mais do box. Senti a rigidez de meus mamilos contra seu peitoral, contato que certamente o agradava de uma forma que eu jamais poderia calcular. Nossos lábios foram separados apenas para que pudéssemos colocar nossos corpos para dentro do box de vidro. Grudei minhas costas em uma das paredes e esperei para ser tomada em seus braços outra vez. Ainda mais faminto, ele me capturou com mãos firmes, como se tivesse a sensação de que, caso não me segurasse empenhadamente, me perderia em um piscar de olhos. Eu deixava-o se aproveitar de mim da forma que bem entendia, enquanto me fixava apenas ao desejo de aproveitar o seu corpo que tinha aquele encaixe tão perfeito ao meu. Eu era apaixonadamente fascinada por ele, até mesmo por suas mínimas ações. Suas costas largas, os ombros largos que naquele momento já sofriam com minhas unhas que se fincavam na pele quente como uma forma de controlar o desejo que eu sentia adquirir mais potência graças àquela troca de carícias. As mãos grandes de dedos cálidos e determinados, os fios de cabelo grudados em sua testa, dando-lhe aquele ar genuinamente jovial. Seus lábios gostosos de beijar, os olhos verdes de profundidade semelhante a um oceano; sempre grudados em mim, me analisando até mesmo em momentos em que a visão não é capaz de deduzir nada. Suas entradinhas acima de sua região pélvica coladas a minha barriga que já se contraía até mesmo com os mais delicados toques. Sempre que estávamos juntos era como se eu pudesse explodir a qualquer momento, como se tocá-lo por todas as horas de um dia não fosse o suficiente para suprimir minhas necessidades tão carnais e infindáveis. E eu notava que ele sentia algo semelhante, demonstrando não aguentar mais. Em um passe de mágica, Joseph se livrou de qualquer coisa em seu corpo que não tivesse o acompanhado durante seu nascimento, ficando nu a minha frente. Uma onda de calor despencou de meu estômago para o meio de minhas pernas quando vi sua ereção de tamanho generoso que tocou a região abaixo de minha virilha, próxima de minha coxa, me fazendo congelar e fechar os olhos, desejando-o dentro de mim como nunca acreditei ser possível. Em um suspiro coberto por vontade de tê-lo, rompi a distância assim que ele girou o registro acima de nós e deixou que uma ducha quente e deliciosa de água caísse sobre nossos corpos, massageando-os e levando qualquer tensão embora. Meus dedos afundaram em seus cabelos que aos poucos se molhavam, assim como os meus. Voltamos a nos beijar e eu não me controlei, sendo apenas capaz de tomar consciência de minhas ações quando já tinha meus dedos fechados por seu pênis ereto. Fiz questão de admirar as feições de seu rosto que se modificavam da surpresa para o prazer, realizando movimentos rápidos com meus dedos, sentindo os seus quase perfurarem a pele de minha cintura, tamanha a força que depositava em seu enlace. Masturbei-o, mordendo meu lábio inferior com vontade quando vi sua cabeça pender para trás e uma aprovação em forma de gemido rouco escapar por seus lábios entreabertos, simplesmente sem coragem para deixar de admirá-lo ali, daquela forma por minha causa. Tratei de eliminar qualquer distância que pudesse vir a atrapalhar e guiei seu pênis até minha virilha, deslizando-o pela região até que encontrou meus grandes lábios. Ele tentava impedir que eu continuasse a guiar aquele estímulo, mas fiz questão de movimentar meu quadril para que ele também conseguisse sentir o prazer que eu já sentia, sem nem mesmo precisar de uma penetração. Eu levava a determinação em atiçá-lo a novos extremos, chegando ao auge de provocação enquanto sentia minha intimidade úmida, pedindo incessantemente para ser preenchida por seu pênis que, ainda preso por meus dedos firmes, parecia latejar de puro desejo. Joseph encontrou oportunidade para agir, conseguindo uma forma de desfazer o toque de minha mão em seu membro, levando os dedos encharcados até minhas nádegas, espalmando-as e apertando com firmeza, impulsionando meu quadril para frente em um gesto que voltou a reaproximar nossos sexos. Foi a minha vez de tentar conter um gemido e tombar a cabeça para trás, assistindo meu marido sorrir satisfeito por ter conseguido se vingar. Nossos corpos eram compostos por volúpia, controlados pelo instinto animalesco. Eu não me importava em ir devagar contanto que cada segundo trouxesse uma sensação nova. O sagaz toque de Joseph ainda me surpreendia, atingindo partes de meu corpo que pareciam despertar depois de muito tempo adormecidas, me causando a sensação de estar prestes a adentrar o paraíso; sem ninguém para temer, sem pensar em hesitar. Ser apenas dele enquanto Paris nos observava, mesmo que não literalmente. Nossas línguas não aguentavam mais ficar apenas dentro de nossas próprias bocas, queriam guerrear entre si novamente, e nós concedemos essa chance a elas ao iniciar um beijo em baixo da ducha que caía sobre nós. Estava mais do que comprovado queJoseph era mais faminto durante o período da manhã, era incrível ser acordada com um pedido irresistível por sexo. Mas ele não era o único ali determinado a dar prazer antes de pensar em receber, a gratificante sensação de estar em seus braços me obrigou a lançar o corpo para trás, conseguindo me soltar de abraço malicioso. Olhei-o com chamas se formando em meus olhos, da forma que sempre o deixava sem saber qual seria meu ato seguinte. Apoiei minhas mãos em seus ombros e fui descendo-as por seu peitoral enquanto aos poucos dobrava meus joelhos para conseguir ficar na altura da pele que meus lábios beijavam. Quase de joelhos diante dele, distribui um caminho de beijos que teve fim abaixo de seu umbigo. Eu queria tocá-lo, prová-lo, ser a responsável pelo delírio explícito nas expressões de Joseph. Queria vê-lo envolto por um prazer que fora proporcionado única e exclusivamente por mim. 
Demetria... - ele chamou meu nome, me obrigando a erguer o rosto e olhar firme em seus olhos. - Você me provoca tanto que eu não sei se vou conseguir me segurar caso... - ele tentou dizer, mas eu sorri esperta e fui rápida ao cortá-lo, ensaiando o toque de meus dedos sobre sua masculinidade. Já estávamos a um passo de distância da ducha incessante que continuava a cair, com água escorrendo por todas as partes de nossos corpos. 
- Eu não me importo, Joseph. - disse-lhe com a voz que transbordava confiança. - Sinta-se a vontade para deixar acontecer, para fazer o que quiser. - ameacei tocar sua glande quando, em um gesto impulsivo, o homem levou uma das mãos até a parte de trás de minha cabeça, tentando firmá-la no local. Desviei, levando-a para um lado e negando com o dedo, recusando seu auxílio. - Eu sei o que estou fazendo, Jonas! - foi então que ele sorriu abertamente, um sorriso lindo que me dava permissão para fazer o que eu quisesse. Utilizei de uma de minhas mãos para acariciar sua coxa enquanto com a outra segurei seu membro com firmeza, acabando com a pouca distância existente ao deixar minha língua acariciar sua glande em um toque que aos poucos se intensificava. Iniciei o uso da combinação de mãos e boca, massageando toda a extensão de seu pênis enquanto estimulava a glande com a ponta de minha língua. Eu mantinha os olhos fechados, ainda não tinha erguido o rosto para checar sua expressão, mas minha audição aguçada captava a aprovação que ele deixava escapar através de gemidos que insistentemente Joseph tentava controlar. Abri meus olhos e os ergui em sua direção, estudando feições masculinas contorcidas no mais genuíno prazer. Ele logo percebeu que era observado e manteve o contato, não sabendo o que fazer com as mãos que queriam segurar minha cabeça enquanto eu sustentava o contato. Decidida a proporcionar a ele mais prazer, comecei a deslizar minha língua por toda a extensão, realizando movimentos de sucção repentinamente ao enfiá-lo quase que inteiramente dentro de minha boca, e assim controlei a situação por um tempo, conduzindo-o para dentro e para fora, lambendo toda sua extensão. Eu não sabia dizer se ele estava se deliciando mais com o que sentia ou com o que via, já que seus olhos semicerrados tentavam a todo o custo se manter fixos em minha boca agradando seu pênis. Joseph tombou a cabeça para o lado, expressando um estímulo ao pronunciar meu nome de forma autoritária e ao mesmo tempo suplicante, enquanto eu tratava seu membro enrijecido com o máximo de dedicação que meu ser desesperado para ver seu ápice era capaz. Optei por chupar e massagear de forma mais consistente logo após carícias mais delicadas, variando entre toques precisos que atingiam a região de seus testículos e depois subiam para sua virilha. Joseph estava inquieto, não conseguia mais ficar parado, eu notava como os músculos de suas pernas estavam retesados, e por isso deslizei minhas unhas pela pele até a região de seus joelhos, causando-lhe mais um espasmo. Como notei que o gesto anterior havia agradado o homem de forma estupenda, voltei a massagear seus testículos, dando atenção a um e depois ao outro, enquanto continuava o vai e vem com a outra mão, para não deixar que o ritmo diminuísse, tocando novamente a glande com a língua já que se tratava do ponto mais sensível. Talvez eu nunca tivesse sido capaz de ir tão longe ao escolher lhe dar prazer, mas não podia estar mais do que satisfeita. Vê-lo daquele jeito tão ensandecido fazia meu corpo inteiro queimar, como se eu não precisasse de mais nada para alcançar o meu próprio prazer sexual. Eu sabia que a hora se aproximava, a hora em que ele simplesmente não aguentaria mais. E como eu estava ansiosa para esse momento, voltei a deslizar meus lábios por sua masculinidade, finalizando com uma lenta e empenhada lambida quando, de repente, ele desistiu de se conter e segurou minha cabeça, mais rígido do que em qualquer outro momento. Pequenos jatos de esperma começaram a ser liberados e com curiosidade eu levei minha boca entreaberta para mais perto, deixando que o líquido quente tocasse meus lábios e área do queixo, até que sua quantidade elevou-se o suficiente para conseguir atingir também a região de meu colo e, graças a água presente ali, escorrer por minha barriga. Ao engolir o líquido, voltei a erguer meus olhos e sorri-lhe apaixonada, feliz por vê-lo tão mergulhado em sensações que o ápice lhe proporcionou. Alucinando com meus atos. Era incrível como não precisávamos falar nada para que nossas intenções fossem compreendidas. 

In a manner of speaking
I don't understand
How love in silence becomes reprimand
But the way that i feel about you
Is beyond words.


Seus braços tocaram meus ombros e desceram um pouco para que ele conseguisse me erguer. Forcei minhas pernas e elevei meu corpo aos poucos, voltando a ser abraçada enquanto sua respiração descompassada atingia meus lábios úmidos que tocaram a pele de seu pescoço. Joseph tinha um misto de agradecimento com aviso no seu olhar. Sim, um aviso. Como se me alertasse que algo estava prestes a acontecer. Os lábios vermelhos se curvaram em um sorriso perverso que combinava absurdamente com o brilho obscuro que tomou conto das íris verdes. 
- Tem ideia do que acabou de acontecer por aqui? - uma de suas mãos segurou meu pescoço enquanto a outra se fechou em meu seio esquerdo, me forçando a contrair a barriga ao sentir a região sensível começar a ser estimulada por seus dedos, sem forças para questioná-lo. - Eu acabei de ficar ainda mais louco por você, e juro que eu não acreditava que isso fosse possível, Demetria. - sua boca guiou-se até a minha para que seus lábios pudessem morder e sugar meu lábio inferior que pareceu ferver ao ser liberto, me dando a chance de falar. 
- Essa é a prova de que nós sempre seremos surpreendidos por nós mesmo, juntos. E, se depender de mim, seu nível de loucura por mim irá se elevar cada vez mais. - provoquei com um sorriso sapeca, deixando-o visivelmente desnorteado, mas o homem optou por não responder. Não estávamos de muitas palavras naquele momento, porque muitas vezes elas não significam nada. Ações falam bem mais alto, alto como os gemidos que ainda escapariam por nossas bocas naquele dia. Naqueles dias. Então, meus dois seios passaram a ser tocados e provocados por um homem faminto. Faminto por mim. Ele não se contentava em me estimular apenas beijando, mordicando os mamilos rígidos e lambendo a região de meus seios, ele tinha que descer aquela mão mal intencionada por minha barriga, eriçando poro por poro para, enfim, encontrar a região que latejava de desejo abaixo de meu umbigo. Joseph conhecia meu corpo, sabia encontrar todos os lugares em que um simples toque desencadeava um turbilhão de sensações maravilhosas. Minha pele era sensível a ele, assim como todo o meu ser. 
E ele queria se vingar, ele queria me ver da exata forma enlouquecida em que se encontrava momentos antes. Joseph agilmente empurrou meu corpo, chocando-o contra o vidro coberto por vapor que já revelava marcas de nossas mãos. Ajoelhou-se de uma forma que julguei ser absurdamente galante diante de mim, elevando as mãos para continuar tocando meus seios quentes que gostavam tanto de seus agrados. Ao descer as mãos com as palmas viradas para baixo, tocando toda a extensão de minha barriga e fixando em meus quadris, ele imitou um gesto anterior meu e ergueu os olhos, sorrindo abertamente, sem precisar dizer mais nada. Desceu a mão até deixá-la na altura de minha canela esquerda e puxou-a para cima, apoiando minha perna em seu ombro, me deixando com o corpo sustentado apenas pela outra, enquanto sua outra mão se manteve segura em meu quadril. Primeiro, ele sorrateiramente aproximou a boca da pele abaixo de meu umbigo e segurou a região com os dentes, deslizando a língua para baixo até que a mesma fora guiada até minha virilha, por onde uma trilha de beijos fora depositada, juntamente com curtas lambidas que me obrigavam a prender a respiração e controlar o fogo crescente ao centro de minhas pernas. Apoiei uma de minhas mãos em seu ombro, pendendo a cabeça para o lado enquanto já sentia as sensações fluírem por meu ser. Joseph começou a me masturbar com toques que dotavam de uma instigante mistura entre gentis e empenhados, deixando a princípio meu clitóris de lado e dedicando sua atenção aos grandes lábios. Sua língua quente e áspera foi passada por dentro e por fora deles, enquanto seu dedo indicador e médio os mantiveram abertos para que pudesse lamber com mais firmeza. Inconscientemente, comecei a me contorcer em cima de seu corpo, não sabendo se seria capaz de lidar com as ondas de prazer que me acertavam. Depois fora a vez de meus pequenos lábios serem estimulados; seus dedos indo para cima e para baixo, arriscando tocar meu clitóris, que provavelmente já se encontrava inchado. Joseph apertou os dedos contra minha coxa que repousava apoiada em seu ombro e abocanhou outra vez minha intimidade, dessa vez passando a língua por meu clitóris em círculos ágeis que me deixavam desconcertada, forçando-me a segurar meus seios com força como se aquela fosse a única forma de me conter. Eu sussurrava seu nome, tendo em mente que isso apenas o deixaria mais determinação a me levar ao paraíso. O homem decidiu arriscar-se mais e passou a língua com mais firmeza pelo local de sensibilidade surpreendente, segurando-o com seus lábios, como se tentasse sugá-lo. Aquilo me fez gritar, gritar desimpedida. Meus músculos estavam tensos, eu me sentia prestes a pegar fogo. Vulnerável em excesso diante de suas carícias. Aquela boca repleta de sagacidade tocava todas as partes possíveis de minha feminilidade com a mesma intensidade e vontade que utilizava para beijar meus lábios. Ele me deixava cada vez mais molhada, mergulhada na volúpia que me golpeava com cada vez mais frequência. Eu já segurava seus cabelos sem medir consequências, sem pensar se poderia machucá-lo. E aquele era apenas o começou, pois com maestria ameaçou penetrar minha entrada com a língua e em seguida afastou-se insignificantes centímetros, mordendo o lábio inferior quando constatou meu estado. Joseph umedeceu o dedo indicador juntamente com o dedo médio com sua saliva, levando ambos até o início de minha vagina, correndo-os por toda a extensão até pressioná-los contra minha entrada, introduzindo primeiramente o indicador, colocando-o para dentro até quase escondê-lo completamente dentro de mim. Voltei a me contorcer, gemendo enlouquecidamente enquanto massageava meus seios já cálidos e vermelhos devido a toques desenfreados. Eu disse seu nome mais algumas vezes enquanto ele se preparava para me penetrar com o outro dedo também, retirando o indicador para que pudesse introduzir os dois, ainda sendo surpreendentemente capaz de brincar com o dedo polegar sobre meus grandes lábios e clitóris molhado. Joseph movimentava os dedos dentro de mim, uma penetração frenética. Saia lentamente, mas apenas para entrar bruscamente logo após. Repetindo, repetindo, repetindo. Repetindo até me ver completamente imersa ao mar de prazer que me levava até suas profundezas mais obscuras e desconhecidas. Enlouquecida e sem consciência de meus atos e de meu corpo cujos músculos agiam por vontade própria, comecei a me mover contra seus dedos, deixando que ele ditasse os movimentos de meus quadris com a mão livre. Soltei um lamento em protesto quando ele ameaçou diminuir tais movimentos, deixando-o me ver enfurecida de tal maneira que provavelmente formava uma imagem bem suja em sua mente. Contraí minha barriga e os músculos vaginais para prender seus dedos por mais tempo dentro de mim, sorrindo satisfeita enquanto rebolava os quadris para senti-los perfeitamente. Joguei a cabeça para trás quando ele decidiu que já era hora de interromper meu controle da situação e voltou a levar sua boca na direção de minha vagina, indo e vindo com a língua enquanto aumentava ainda mais - como se fosse possível - a velocidade dos dedos que entravam e saíam. Joseph voltou a segurar meu clitóris com os lábios da mesma forma de antes, tentado a sugá-lo, e isso foi o suficiente para que uma crescente chama se acumulasse por entre minhas pernas. Ele percebeu meu orgasmo se aproximando e lambeu toda a extensão de minha intimidade, enquanto, com a mão livre, agarrava meu glúteo com firmeza. Não restou muito tempo antes da chama em meu interior ocasionar uma explosão que correu por cada pedacinho de meu corpo, alcançando todos os meus órgãos e até mesmo minhas extremidades. Uma súbita felicidade tão profunda que chegava a se tornar insuportável dominou meu ser. Gemi alto, suspirei profundamente, sorri abertamente, em sequência, era inevitável. 
Paciente, Joseph continuou ajoelhado e não tirou a boca de mim, ficou me acariciando com seus lábios, deleitando-se com o líquido resultante de meu orgasmo presente em seus dedos e lábios, que ele logo tratou de lamber, como se quisesse sentir o gosto, olhando em minha direção para demonstrar que adorava tudo aquilo. Largou minha perna com cuidado e aos poucos se elevou, enquanto eu tentava estabilizar minha respiração e torcia para meu coração voltar a bater normalmente. Meus olhos fechados e o sorriso que não abandonava meus lábios eram apenas sintomas do ápice que ainda envolvia todo o meu ser. Quando tentei me desencostar do box, senti minhas pernas bambas e até pensei que elas cederiam e me levariam até o chão, mas mãos ágeis e firmes me seguraram. Ainda perplexa com tudo que aquele homem me fez sentir, abri os olhos e de imediato encontrei os seus, tão verdes e lindos. Sorrimos cúmplices um para o outro, unindo nossos lábios para desfrutar do gosto um do outro. Passei meus braços por seus ombros e o abracei pela nuca, enquanto ele distraidamente acariciava o osso de meu quadril com uma mão e enlaçava minha cintura com a outra. 
- Isso foi incrível! - falei sem pensar, sentindo lábios tocarem minha testa molhada. 
- Você é incrível, então não sei por que se surpreende. Aliás, nós somos incríveis juntos. - ele me garantiu, deixando que um riso escapasse ao constatar que tinha demonstrado seu ego inflado. - E essa foi só a preparação para as nossas tentativas, Demi. Eu mal posso esperar pelo resto. - aconselhou-me, começando a depositar mais pressão nos toques, alertando que, assim que estivesse pronto novamente, nós daríamos continuidade ao nosso momento. Puxei-o pela nuca e grudei meus lábios em seu rosto até conseguir levá-los até sua boca, falando contra seus eles: 
- Eu juro que vou tentar não soar absurdamente romântica agora, mas preciso te dizer que eu estou muito feliz por ter tanta sorte, muito grata pela sorte de ter alguém como você. E não sei por que sempre fico emotiva nesses momentos, mas... 
- Ei! - Joe segurou meu queixo e me impediu de continuar ao selar nossos lábios. - Deixa eu te mostrar o que é felicidade de verdade, felicidade completa... E então, sim, você pode agradecer. Não faça isso agora, Demetria, porque você ainda terá muito mais. Você merece muito mais. - ele falava como se ainda não tivesse sido capaz de me mostrar o que é sentir felicidade verdadeira. Lá estavam os olhos de um sonhador que arquiteta seu futuro brilhantemente. 
- Se eu ainda não sei o que é felicidade de verdade, então o que é isso que sinto agora? - indaguei inconformada, levando a mão até o peito para sentir meu coração ainda acelerado, mas Joseph apenas arqueou as sobrancelhas e escolheu mudar de assunto. - Lembra daquela música melosa do Bryan Adams que você tanto gosta? Aquela que diz algo mais ou menos assim... - ele olhou para os lados, cerrando os olhos para vasculhar por sua mente as palavras que necessitava. - And when you can see your unborn children in her eyes... - Joe entoou uma voz exagerada, fazendo-me soltar uma gargalhada inesperada seguida por um leve tapa que acertei em seu ombro. Ele me acompanhou nos risos e pediu para se explicar ao erguer a mão. De repente conversávamos como se não estivéssemos nus em um box, ainda nos recuperando de momentos anteriores de puro prazer. - Ela pode ser melosa, mas é verdadeira. - seus olhos fitaram os meus. Intensos era um eufemismo para classificá-los. - É exatamente o que eu vejo agora. - sorriu abertamente. - Talvez isso de deva ao fato de que ele está prestes a ser feito. - voltou a me puxar, sem ceder oportunista de resposta. 


A sorte havia sido lançada. Daquele momento em diante, era apenas questão de tempo até que um espermatozóide fecundasse um óvulo e uma nova aventura com duração de neve meses conquistasse seu início. Até mesmo o singelo ato de respirar parecia mais fácil naquele resto de manhã, meus movimentos pareciam mais leves e minhas feições mais relaxadas, eu estava totalmente pronta e ansiosa para o que nos aguardava. Nossa primeira tentativa fora caprichada, eu mal sabia dizer quanto tempo passamos dentro daquele box. Apenas sei que não foi pouco. E após muito amor trocado, ainda tínhamos forças o suficiente para descer e optar por almoçar em um dos restaurantes do hotel. O La Cour Jardin era ao ar livre e muito agradável. Passamos um bom tempo selecionando os lugares que gostaríamos de visitar, e o Palácio de Versalhes ganhou como primeira opção. Assim que terminamos nossa apetitosa refeição, subi até nosso quarto para me aprontar enquanto Joseph ia consultar um guia para nos informar como chegar devidamente ao Palácio. Um pouco indecisa, optei por um vestido leve, elegantemente simples e saltos altos. Lembrei-me de que precisava ligar para casa e checar se tudo estava bem. E coincidentemente meu celular avisou a chegada de uma nova mensagem. Fui verificar e sorri aliviada quando notei que se tratava de uma foto de Matthew sorrindo, havia também um texto abaixo com os dizeres: Bom dia mamãe e papai! 
Cerca de meia hora depois, já estávamos acomodados dentro de um dos vagões do trem que nos levaria até nosso destino. Constantemente eu me distraia com a paisagem que passava ligeira por meus olhos, aos poucos adquirindo tons de verde mais evidentes. Assim que chegamos a região, facilmente encontramos o Palácio e ficamos passeando pelos jardins, apreciando toda uma arquitetura que não deixou de ser registrada por dezenas de cliques de minha câmera. Tudo era simplesmente lindo, até mesmo o céu dava sua significante ajuda para realçar ainda mais as paisagens. 

(Coloque a terceira música para tocar!)
Um amigável vento brincava com meus cabelos e com a saia de meu vestido, um ar úmido que indicava chuva pairava sobre nós. Eu e meu marido estávamos andando por uma das regiões que julguei ser a mais bonita de toda Paris. A nossa frente se encontrava a Torre Eiffel adornada pela agitação ao ser redor. Lembrei-me de minha câmera e perguntei a uma pessoa que passava por nós se ela podia fazer o favor de tirar uma foto, e felizmente ela concordou, pegando minha câmera e indo para mais longe. Fui surpreendida por um Joseph que rapidamente me pegou no colo, decidindo que aquela seria a pose, com a Torre Eiffel em plano de fundo. 
Minha mão permanecia encaixada com a de Joe e vez ou outra eu simplesmente precisava olhá-lo, admirar sua beleza. Seus cabelos não estavam mais arrumados como na manhã daquele dia, bagunçando-se levemente com o vento. Vestia um colete preto por cima de uma camisa social branca com as mangas erguidas até a altura dos cotovelos, uma calça preta e sapatos sociais. Nós não tínhamos direção certa, apenas a intenção de continuar a contornar todo o lugar enquanto conversávamos, ríamos de alguma coisa ou pensávamos em nossos planos. Um sorvete de casquinha era segurado por meus dedos distraídos e esporadicamente apreciado por minha língua, me fazendo parecer uma garotinha. Parei de caminhar e atraí a atenção de Joseph para mim quando o fiz, olhando estranhamente para o sorvete. Fiz uma careta e o levei em sua direção, não dando tempo para que o homem pudesse desviar do sorvete que atingiu o canto de seus lábios e a área abaixo deles. Gargalhei com a expressão surpresa e inconformada que ele adotou e aproximei mais meu corpo do seu, lançando-lhe um olhar que pedia desculpas, mesmo que eu tivesse lambuzado seu rosto de propósito. Era só um detalhe. 
- Vem aqui, eu limpo. - puxei-o pela camisa e comecei a distribuir beijos e leves lambidas pela área suja, enquanto o homem não sabia se tentava se livrar de mim ou se aproveitava o agrado que eu lhe fazia. 
Demi, pare com isso! - ele pediu segurando-se para não rir, firmando as mãos em minha cintura em uma tentativa de me afastar. 
- Me obrigue! - desafiei, passando os braços por seus ombros, sem desistir de continuar a beijá-lo. Provavelmente meu rosto também já estava sujo com o sorvete que derretia em minha mão. As feições de Joe se repuxaram em uma careta quando finalmente o soltei, dando-lhe língua. 
- Você é louca! E consegue ser bem infantil quando quer. - ele disse tentando aparentar seriedade, mas fracassou quando não se segurou e começou a sorrir, passando um braço por meu ombro e nos impulsionando a continuar nosso passeio. 
- A culpa é sua, é você que desperta esse lado em mim. - expliquei com o queixo erguido, finalizando minha casquinha e jogando o resto que não me interessava mais em uma lixeira próxima. Cada vez ficava mais evidente no ar que uma típica chuva não tardaria a vir, mas nenhuma daquelas pessoas que caminhavam sozinhas ou em grupo parecia se importar, totalmente acostumadas com as chuvas repentinas parisienses. 
- O lado infantil? - Joe perguntou com uma sobrancelha erguida. 
- Não, o lado louco que quer incessantemente te provocar. Você é sexy quando fica desnorteado com minhas provocações. - ele não parecia prestar muita atenção no conteúdo de minhas palavras, mas não tirava os olhos de mim, fascinado. 
- E você fica sexy dizendo a palavra sexy. Diga de novo. - percebi que havíamos parado em frente a um dos adoráveis bancos espalhados pela área que ficava de frente para a Torre, proporcionando uma vista de tirar o fôlego. Sutilmente empurrei meu marido para que se tentasse ali e continuei de pé. O vento levava os fios de meus cabelos soltos para várias direções, obrigando-me a intervir e tentar afastá-los quando ameaçavam cobrir meu rosto e atrapalhar minha visão. Joseph ajeitou-se confortável no banco e olhou ao redor, os olhos verdes perdidos por um instante. 
- Sexy. - falei pausadamente, mexendo em meus cabelos. Quando lancei um beijo no ar e fiz menção de me afastar, o homem segurou minha mão de forma impressionantemente rápida e me trouxe para perto ao promover um rodopio de meu corpo inerte e surpreso. Como consequência, fui parar sentada em seu colo, cruzando minhas pernas e enlaçando seus ombros. 
- Agora você está em um lugar seguro. - ele disse apoiando o queixo em meu ombro, enquanto eu distraidamente passava meus dedos polegares por suas sobrancelhas, bagunçando-as e depois arrumando, rindo. 
- Uau, que super herói incrível eu tenho! - fingi entusiasmo na voz ao levar teatralmente uma mão ao peito. 
- Se eu sou o super herói, me diz por que não desisto de acreditar que quem salvou alguém aqui foi você? - e mais uma vez, mesmo depois de tanto tempo, lá estava o típico olhar de gratidão que aquecia meu peito e ao mesmo tempo me deixava debilitada. Segurei seu rosto com as duas mãos para facilitar a aproximação de nossos lábios em um longo selinho. 
- Eu me salvei ao salvar você. Entende o que eu quero dizer? - permaneci olhando firme em seus olhos, uma de suas mãos repousando sobre minha coxa de forma despretensiosa. - Passei a ver o mundo de forma diferente depois que te conheci, dei valor a coisas que nunca acreditei ser capaz de dar. Foi uma salvação duplaJoe. - concluí com um sorriso largo e sincero no rosto, vendo-o me imitar e remover uma mecha teimosa de cabelo que queria ficar em meu rosto. Joseph respirou fundo e meneou positivamente com a cabeça. 
- Paris está apaixonada por você, é fácil perceber. - ele mudou bruscamente de assunto, me deixando perdida por um instante, mas logo já sentia a agitação em meu estômago tão presente em todas as vezes que ele me elogiava. Eu sentia a necessidade de aproveitar com gosto todas as inúmeras vezes em que isso acontecia, simplesmente porque me fazia um bem imensurável. - E só para te avisar... Eu estou até com ciúmes. 
- Ciúmes de Paris? - pedi impressionada, olhando apaixonadamente para tudo ao meu redor, assentindo com a cabeça de forma brincalhona. - Sim, tem razão, eu trocaria facilmente você por essa cidade. - Joe me olhou sério, ignorando meus risinhos, apertando suas mãos sobre mim como se alertasse que, mesmo que eu pensasse em fazer o que havia dito, ele não daria chances para que eu obtivesse sucesso na tentativa. 

Coloque a quarta música para tocar!
Levantei-me algum tempo depois e nós voltamos a passear, passando pelas diversas ruas próximas, bonitas e arborizadas. Pouco tempo depois chegamos até um café de nome Café de Flore, sua fachada era jeitosa e de aparência convidativa. Sentamo-nos em uma das mesinhas do lado de fora e enquanto decidíamos o que comer, retomamos a conversa de antes. 
- Dá para acreditar que esse será o nosso terceiro filho? - Joe tinha as mãos repousando em seu colo e uma expressão entusiasmada, olhos sonhadores que se perdiam através dos veículos que passavam pela rua. Tombei minha cabeça e fitei o salto de meu sapato, sentindo as bochechas coradas e o frio na boca do estômago, já acostumada com a sensação que vinha toda vez que eu lembrava o motivo de estar em Paris.
- Sabe o que eu quero? - não esperei que ele tentasse adivinhar, proferi de uma vez: - Quero apenas o privilégio de, daqui alguns bons anos, poder olhar para trás e pensar: que vida maravilhosa eu tive! - confessei-lhe sorridente, perdida em meus próprios devaneios. O tom alaranjado das folhas das árvores chamou minha atenção por um instante, inclusive algumas delas se desprendiam dos galhos e dançavam em conjunto graças ao vento quando atingiam o chão. - E eu sei que é exatamente isso que vou conseguir, porque não preciso de muito. Não sonho com coisas absurdas, eu sonho com o que sei que posso conseguir, se tentar. - ele concordou com a cabeça, de acordo com minhas palavras, mas a abaixou logo após e adquiriu um semblante distante. - E você, Joe, precisa parar de teimar que é egoísta! - adverti, não precisando pensar muito para constatar que ele ainda ficava daquela forma aérea porque pensava no que estava fazendo com sua empresa. - Precisa correr atrás do que quer. - segurei sua mão, falando convictamente. - Você deve se dar uma chance e acreditar que merece o melhor, porque é a maior das verdades. - Joseph negou com a cabeça e desviou o olhar, sorrindo de forma desprovida de alegria, mas ainda assim satisfeita por, apesar dos impasses que rodeavam sua mente, ter alguém por perto para apoiá-lo. 
- O que eu faria sem você, Demetria? - aproximou o rosto do meu e indagou com a voz pausada, dizendo as palavras aos poucos. 
- É exatamente para isso que estou aqui, para não permitir que você pense o que não deve. E eu acredito que fazemos bem em ser assim, do jeito que somos. Precisamos ser incompletos para que um possa completar o outro. Por exemplo: - apoiei minhas mãos na mesinha, disposta a falar como se tratasse de uma brilhante explicação. - Quando você estiver triste, eu preciso estar feliz. Quando eu estiver irritada, você precisa ser um mar de calmaria. Quando lágrimas brotarem nos meus olhos, me deixe ver um sorriso seu. 
- Quando eu pensar em desistir, você tem que ser a força que não vai permitir. - ele me parafraseou, um pouco surpreendido com tudo que havia escutado. 
Após comermos e bebermos alguma coisa - pedi um suco, já que estava evitando cafeína -, eu sugeri animadamente que fôssemos passear pela Ponte Alexandre III, que atravessava o Rio Sena. Durante o caminho, enquanto cruzávamos uma das boulevards, Joseph pareceu segurar minha mão com mais força e olhou insistentemente para o lado. Segui a direção, mas tudo que conseguia enxergar eram veículos que não possuíam nada de tão chamativo para que o homem não conseguisse tirar os olhos da região. Toquei seu ombro e ele rapidamente me olhou, eu diria que um pouco atordoado e com os lábios entreabertos, como se estivesse assustado. 
- Ei, o que foi? - perguntei baixinho, puxando-o para que atravessássemos logo a rua. 
- Não é nada... - Joseph balançou a cabeça de forma negativa e exagerada, tentando espantar pensamentos. - Só pensei ter visto um rosto conhecido, mas acho que me enganei. - explicou brevemente, tentando afirmar com um olhar firme e um sorriso brando que tudo estava bem, então tive que corresponder e continuar a andar sem pensar em questioná-lo. 
Estávamos sobre a Ponte Alexandre III e eu segurava firmemente minha câmera, deixando-a pronta para iniciar um vídeo. A arquitetura da ponte era deslumbrante e a visão do Rio Sena que se estendia metros a frente era acolhedora. Passei a filmar o caminho que fazíamos e logo apontei a câmera na direção de meu marido, que olhava para o céu de um cinza escuro com diversas nuvens. 
- Diga olá para a câmera, senhor Jonas. - ele sorriu jovialmente em resposta. - Então... - voltei a câmera para a região de meu rosto. - Paris é uma cidade muito bonita e... 
- E mais bonita ainda quando você e sua esposa estão planejando fazer um bebê nela. - ele me cortou e eu me senti obrigada a levar a lente do aparelho em sua direção outra vez. 
- Exato, é a nossa prioridade. Temos que tentar muito para não correr o risco de dar errado. 
- Quer tentar agora? Nessa ponte? É uma chance a mais que temos. - ele ergueu as duas sobrancelhas e encolheu os ombros como se não tivesse sugerido nada alarmante. Filmei a extensão da ponte outra vez. 
- Você acha que devemos? Pelo menos está vazia. - arqueei uma sobrancelha e depois ri, sendo acompanhada por ele. Não sei como aconteceu tão rápido, mas antes que eu pudesse puxar ar para meus pulmões outra vez, já estávamos com os lábios colados. Dobrei meu joelho e ergui minimamente minha perna para trás enquanto beijava-o, inconscientemente fazendo charme. Quando o homem me largou, senti meu batom borrado e me dispus a ajeitá-lo, contornando os cantos de meus lábios enquanto ele se vangloriava por ter sido o responsável. 
Mon Dieu, como você é linda. - o uso do francês em sua frase deixou o elogio tão sedutor que por um instante senti minhas pernas bambas, a irresistível vontade de ter novamente aquela boca perfeita e de palavras ditas na hora certa sobre a minha. Seu timing impecável fazia de mim uma mulher desconcertada. 
- São os seus olhos. - apoiamo-nos em uma das beiradas da ponte para poder olhar o Rio, o fluxo agitado da corrente seguindo seu curso. 
- Eu te acharia linda até mesmo se fosse cego, porque sua beleza não vem somente da aparência física, Demetria. - meu Deus, ele havia mesmo incorporado o poeta que ousava ser em momentos inesperados. Estava me cortejando tanto que, mesmo se eu não conseguisse engravidar naquela viagem, só o fato de ter estado ali já seria o suficiente para me deixar feliz ao extremo. Eu não sabia lidar com o seu romantismo, tendo de me conformar com as bochechas ruborizadas no instante em que seus lábios exprimiam elogios única e exclusivamente para mim. 
- Sabia que eu te odeio? - menti com um semblante fechado, e ele se divertiu. - Não é justo me pegar desprevenida com essas respostas tão... - perdi a linha de raciocínio e pensar em uma continuação para minha frase fora impossível. 
- Se é assim, quem disse que ser odiado é algo ruim, mentiu descaradamente. - comentou presunçoso. A mensagem em seu olhar consistia em um mistério sutil. Deduzi que ele tentava me dizer em silêncio que, devido ao clima que pairou no ar, deveríamos voltar para o hotel e dar continuidade a nossos planos. Fechei os olhos firmemente e me escolhi por entre seus braços quando o homem os passou por mim, sentindo um arrepio súbito proveniente dos pingos de água que começaram a cair. Uma chuva imprevisível foi molhando pouco a pouco o chão da cidade, dando a ela uma aparência ainda mais encantadora. Se é que era possível. Senti uma mordida brincalhona em meu pescoço e sorri angelical em sua direção, divertindo-o, pois sabia que, na verdade, de angelical aquele sorriso não tinha nada. Poderíamos realmente voltar para o hotel ou procurar guarda chuvas para comprar, mas qual seria a graça? Por que utilizar um guarda chuva quando se pode sentir a chuva revigorante levando corpo e alma? 
Olhei para meu marido como se perguntasse “e agora?” e ele prontamente segurou minha mão, puxando-me na direção contrária em que caminhávamos antes. Porém, fiz questão de firmar meus pés no chão e não permitir que ele conseguisse me levar. 
- Espere, espere! Vamos caminhar na chuva! - abri meus braços no ar para explicitar a chuva, sentindo meus cabelos já totalmente ensopados, assim como os de Joe que já caíam por algumas partes de sua testa. Pisquei meus olhos de forma piedosa algumas vezes, na tentativa se convencê-lo. O homem rolou os olhos e ponderou. 
- Depois nós vamos acabar ficando doentes e a cama do hotel não será mais tão divertida. - ele me repreendia e eu encenava um bico decepcionado, olhando para o céu acinzentado. 
- Ou você está ficando velho e perdendo o ritmo! - provoquei, segurando meu lábio inferior com os dentes de forma travessa. Recuei um passo quando ele ameaçou se aproximar, cruzando os braços atrás de meu corpo e encolhendo os ombros. 
- O que foi que você disse? - Joseph parecia pronto para me capturar. 
- Nada. - voltei a sorrir angelical, disfarçando e olhando a ponte. A chuva era apenas figurante, já que não nos importávamos mais com ela. Joe se aproximou mais e eu soltei um risinho nervoso, girando em calcanhares para correr. 
Demetria, vem aqui! - já corríamos loucamente pela ponte, o som de nossas risadas em sintonia com o da chuva. 
- Não! - exclamei, sentindo-o muito perto de mim, prestes a me alcançar. 
- Sabia que eu ando na velocidade em que você corre? Vou te pegar! - virei meu rosto para trás e ele tinha um sorriso diabólico adornando suas feições felizes e molhadas. Segundos depois fui raptada por braços firmes que me puxaram para trás e construíram uma barreira sobre meu corpo, arrepiando-me devido a temperatura baixa graças a nossas roupas molhadas. Começamos a nos movimentar como se dançávamos e eu joguei a cabeça para trás em uma gargalhada alta quando quase escorregamos no concreto escorregadio. 
- Aposto que vão olhar torto para nós por estarmos entrando ensopados no hotel. - comentei quando já estávamos um pouco longe da ponte, andando pelas ruas, sem vontade de sair dali. A chuva havia cessado, porém as ruas continuavam molhadas, refletindo as luzes acessas graças ao fim de tarde que se aproximava. O bonito tom alaranjado no céu harmoniosamente contrastando com a mistura de marrom, verde e laranja das árvores enfileiradas. 
- Podemos passar correndo e eles nem vão nos notar. - Joseph sugeriu despreocupado, com os braços cruzados na altura do peito. Lembrei-me de um garotinho. 
- Quantos anos nós temos? - pedi fingindo não saber, meneando com a cabeça, demonstrando que desaprovava sua ideia. 
- Quantos anos você quer que nós tenhamos agora? - ele modificou a questão e a enviou de volta para mim, esperando pacientemente por uma resposta. 
- Agora? - parei de andar. - Que tal cinco? Pelo menos eu posso chutar essa poça em você... - impulsionei meu pé na direção de uma larga poça e chutei, fazendo com que várias gotículas de água atingissem Joseph, sem me importar com o fato de que eu usava saltos altos. O homem, já molhado o suficiente, não tentou se proteger. Era o momento em que reservamos para agir feito crianças, porque é exatamente disso que todo adulto precisa em algum momento de sua vida. Faz bem. - Depois nós podemos ter quinze anos e colocar metade dos nossos corpos para fora do teto solar de um carro enquanto berramos uma canção idiota. - comecei a falar sem pausas, empolgada enquanto ele ria de mim. - Mais tarde podemos ter a nossa real idade e fazer o que estávamos fazendo hoje de manhã. - Joe gostou muito dessa opção. - E à noite podemos fingir que já vivemos por muito tempo e queremos aproveitar a vida como se ela fosse uma chama prestes a se apagar. 
- Crianças, adolescentes, adultos e idosos em um só dia... Parece bom. - ele comentou sincero e eu já me via distraída a poucos passos em sua frente, comparando o tamanho das diversas poças espalhadas pela rua. 
It's you, it's you, it's all for you. Everything I do, I tell you all the time. Heaven is a place on earth with you. Tell me all the things you want to do... - cantarolei sem perceber, sentindo seus olhos pesarem sobre minhas costas. 

Chegamos ao hotel e realmente tentamos passar como vultos pela recepção, deixando um rastro de água pelo local, esquecendo-nos totalmente da classe que o lugar exigia. Mas Joseph não se importava, muito menos eu. Adentramos nosso quarto e, sem pensar, fomos arrancando as roupas molhadas uma a uma, ajudando um ao outro durante o processo. Eu estava só com um conjunto preto de calcinha e sutiã e ele apenas com sua boxer cinza, a pele ainda molhada de seu abdômen exposta. Afastei-me dele para procurar por roupas secas antes de pensar em tomar um belo banho e, quando voltei a me virar em sua direção, o homem estava sentado sobre a cama, tinha algo entre suas mãos. 
Caminhei em sua direção com um olhar desconfiado, vendo Joe estender um papel dobrado, balançando-o no ar, sorrindo sem mostrar os dentes. 
- O que é isso? - perguntei, mas aos poucos ia reconhecendo o papel e juntando as peças. 
- Encontrei caído no chão do nosso quarto... Acho que te pertence. 
Tomei o papel de suas mãos e desdobrei-o agilmente, reconhecendo ali minha própria caligrafia e uma lista consideravelmente grande. Era a minha lista de coisas a fazer antes de morrer, a lista que eu tinha desenvolvido quando meu marido viajava a trabalho e nós mal tínhamos tempo um para o outro. 
- Não acredito que você encontrou minha lista! - eu disse um pouco decepcionada, pois queria que diversos itens fossem surpresa; só seriam revelados a ele quando eu julgasse que era o momento certo. 
- E que lista, Demi! - ele se levantou e pegou uma toalha, colocando-a sobre seus ombros. - Mas olhe melhor, ela não está mais da forma que você a deixou. 
Abaixei meu olhar para verificar e notei um “x” marcado dentro do quadrado correspondente a um dos itens. O quadrado que deveria ser preenchido quando aquela opção fosse realizada.Paraquedismo
- Mas nós não saltamos de paraquedas... - confusa, procurei por ele para conseguir mais explicações. Joe parou ao batente da porta do banheiro e simplesmente disse: 
- E continuaremos assim apenas até amanhã. Prepare-se. 
Arregalei os olhos e meu queixo caiu pouquíssimos centímetros. Sedenta por uma explicação decente, segui Joseph, entrando no banheiro um pouco perplexa. E animada, claro. 


Não estávamos mais em Paris naquela fria manhã. Acordamos quando o sol ainda não tinha dado o ar de sua graça e nos preparamos com uma pequena bagagem para passar um dia e uma noite fora da cidade. Joseph optou por manter a reserva no hotel, já que retornaríamos à Paris no dia seguinte. Nosso destino então era o Monte Saint-Michel, mas precisávamos novamente andar de trem e pegar um ônibus próprio para chegar. Meu marido havia planejado tudo nos mínimos detalhes, cuidando para que eu não desconfiasse de nada. Durante o tempo que passamos dentro do trem, ele me contou que, com base na lista que encontrou, pesquisou e acabou encontrando um centro de paraquedismo próximo do lugar para onde iríamos. Teríamos que nos hospedar em um pequeno hotel na região. 
Chegamos cedo ao local onde os ônibus saíam de quatro em quatro horas, sendo acompanhados por várias outras pessoas que embarcaram no mesmo. A viagem fora rápida, logo Joe e eu admirávamos a abadia de Saint-Michel. A mesma era erguida sobre uma ilha rochosa, as ondas se quebravam em diversas direções ao redor conforme o movimento da maré, mas o lugar permanecia isolado e seguro em meio a camadas de areia. Brevemente encontramos o hotel mais próximo, fazendo uma reserva e indo a busca do centro de paraquedismo, que não levou muito tempo para ser encontrado. Surpreendi-me quando notei que não éramos os únicos ali, e ainda era cedo. Joseph e eu trocamos olhares animados, o espírito aventureiro a flor da pele. 
Os instrutores logo se mostraram disponíveis e começaram a explicar pacientemente todos os processos, além de compartilhar dicas valiosas para a hora em que o salto fosse realizado. Meu estômago parecia agitado e embrulhado, um frio quase que insuportável deixava meus lábios e mãos trêmulas, ou talvez fosse apenas a ansiedade. Durante as explicações e demonstrações que se estenderam por mais de meia hora, olhei para Joseph e ele não parecia nem um pouco acanhado com a ideia de que, pouco tempo depois, estaria largado ao ar. Eu inspirava e expirava o máximo que podia, dizendo a mim mesma que seria muito bom, que seria algo lembrado pelo resto da vida. 
Nossa vez finalmente chegou e fomos guiados até um dos espaços do centro para que pudéssemos colocar os equipamentos necessários. Como era a primeira vez que saltaríamos, fora aconselhado que o salto fosse realizado sob a supervisão de um instrutor, ou seja: eles saltariam juntamente conosco. Isso me entristeceu um pouco, já que Joseph e eu não poderíamos realizar o salto de mãos dadas como combinados durante a madrugada em claro que passamos conversando e conversando mais um pouco. Foram entregues a nós dois macacões específicos - eu peguei o vermelho e Joseph o azul -, assim como um par de capacetes e óculos de proteção transparentes. Fomos até a área indicada e nos vestimos devidamente, voltando a região de antes. Havia outros dois equipamentos que precisaríamos usar, mas ficavam por contra dos instrutores: o paraquedas e um altímetro, que entendi por se tratar de um aparelho que indica a altura que o paraquedas se encontra em distância ao solo. 
Era tudo um pouco complexo para mim, apavorante em excesso. Que loucura estamos fazendo?, pensei. Mas a empolgação de meu marido era tanta que não hesitei ao caminhar pela vasta pista até um avião amarelo e branco de pequeno porte, modelo utilizado para a prática do esporte. Embarcamos e os instrutores que saltariam conosco fizeram o mesmo, arrumando todo o equipamento para que pudéssemos ficar juntos. Soltei o ar com força e apertei a mão de Joseph quando o avião começou a taxiar pela pista, rapidamente levantando voo. Ao passar do tempo em que subíamos cada vez mais para chegar à altitude do salto, o piloto e os instrutores continuavam a conversar conosco e com outros dois casais que também saltariam. As duas mulheres pareciam tanto ou mais assustadas do que eu, que estava quase gritando e alegando desistência. Sobrevoávamos toda a área em volta de Saint-Michel, uma região que contrastava entre os tons de azul, verde, cinza e branco. Aproximando-se o momento dos saltos, a porta do avião por onde sairíamos fora aberta e uma barra de metal para suporte estava acima, lugar em que meu instrutor recomendou que eu segurasse enquanto me preparava para pular. O som constante da hélice girando ferozmente me deixava tonta. 
Uma conversa entre os responsáveis me alertou que o momento havia chegado. Joseph e eu seríamos o primeiro casal a saltar. Assisti meu marido e seu instrutor ficarem a minha frente enquanto eu encarava embasbacada a imensidão azul abaixo de nós, um vento violento que parecia querer sugar meu corpo. Eu sentia minhas mãos ensopadas dentro das luvas pretas, enfregando uma na outra incessantemente. 
- Pronta, Demetria? - o homem atrás de mim perguntou amigável enquanto checava por uma última vez os equipamentos. Eu não consegui responder de imediato, apenas neguei com a cabeça, sentindo meu rosto esquentar e depois esfriar de forma absurda, temendo que minha pele estivesse mais pálida do que o recomendado. 
- Olhe para mim, Demi. - Joe pediu, sua calma absoluta me irritava. Ele não parecia diante do que eu gostava de chamar de abismo, parecia estar caminhando tranquilamente pela rua. Eu já nem conseguia mais calcular as batidas desenfreadas de meu coração. 
- Eu não quero mais... - comecei, dando um passo para trás, mas o peso dos equipamentos e do instrutor próximo me impediu de tomar a distância que eu queria. - Olhe só para isso, Joe! Eu não posso, eu sou mãe, e se algo acontecer? E se... - fechei os olhos com força e tentei controlar a raiva que senti dos três homens próximos que riram de mim, inclusive meu marido. Inacreditável.Joseph ergueu sua mão e tocou meu rosto, enquanto já começávamos a ser apressados pelo piloto. - Eu não quero ir! - esbravejei quando senti meus olhos marejarem. 
Demetria, eu prometo que esses segundos ficaram em segundo lugar nos melhores segundos da sua vida. - ele me garantiu, criando uma momentânea distração para meu pânico. 
- E quais são os segundos que ficam em primeiro lugar? - franzi o cenho, sendo incapaz de compreender em imediato. Ambos precisávamos falar alto graças a todo o barulho ao redor. 
- Preciso mesmo responder? - ele deu um sorriso enviesado, contemplando a paisagem pavorosa. Então eu entendi. 
- Ah, claro. - soltei um risinho nervoso. Os segundos de um orgasmo, era a isso que ele se referia. 
Não restava mais tempo para ponderar. Ou pularíamos naquele momento... Ou pularíamos naquele momento. Joseph me passou confiança com o olhar e meneou a cabeça de forma positiva. A vida é sobre riscos que você se dispõe a correr, certo? 
(Coloque a quinta música para tocar!)
Gritei por impulso quando vi o corpo de meu marido e de seu instrutor serem jogados para fora do avião, e eu sabia que depois seria a minha vez. O instrutor apenas me avisou o que aconteceria a seguir e não tive escolha, tendo de empurrar meu corpo para frente e deixar que meus pés tomassem distância do chão seguro do avião. 
Eu mergulhei na imensidão azul. 
A princípio, tudo girou, e era possível ouvir somente o barulho ensurdecedor do ar que se chocava contra o meu corpo de forma brusca e um grito de pavor que subiu por minha garganta. Eu estava em queda livre a uma velocidade colossal. Fechei meus olhos firmemente e os abri seguida, sentindo meus braços se esticaram horizontalmente por completo enquanto eu e meu instrutor dávamos cambalhotas no ar. Um pouco abaixo, vi Joseph, e isso pareceu substituir meu medo por uma adrenalina que dominou meu corpo. Estiquei meus braços o máximo que pude e tentei manter minha respiração regular. Outra cambalhota no ar fora dada e eu gritei de pavor outra vez, tocando as nuvens, sendo jogada para várias direções graças as correntes de ar contra mim. As paisagens abaixo de nós pareciam apenas desenhos de mapas, inalcançáveis, eu era até mesmo capaz de distinguir a forma arredondada da Terra, tamanha distância do solo em que me encontrava. Eu não poderia mentir, era uma sensação indescritível, duvidava que outra experiência em minha vida pudesse proporcionar aquela mistura insana de sensações de uma só vez. Então passei a apreciar a vista, me sentindo livre como um pássaro. O paraquedas azul e preto de Joseph e de seu instrutor acabara de se abrir e isso me fez soltar o ar com mais calma, torcendo para que eu o meu fizesse o mesmo logo. 
Meu marido e eu conseguimos por um curto espaço de tempo ficar próximos e esticamos nossos braços para que nossas mãos pudessem tocar uma a outra. 
- EU TE AMO! - o homem berrou totalmente eufórico, urrava em empolgação. 
- EU TAMBÉM TE AMO, MAS VOU TE MATAR QUANDO CHEGARMOS AO SOLO! - ameacei, deixando meu tom de voz ainda mais alto que o seu. Sabia que era a fúria do momento, e felizmente meu marido gargalhou, não se mostrando amedrontado. 
Era divertido, sim, era muito divertido. Era de enlouquecer! Sem dúvidas a maior sensação de liberdade que o homem pode sentir na vida. Em média a quatro mil metros de altura, rasgando as nuvens com velocidade semelhante a uma estrela cadente. 
E aquele foi o momento assustador em que o chão pareceu ficar próximo, mas não era uma proximidade segura. Eu vou morrer, eu vou morrer, eu vou morrer, eu... Eu estou viva!, era a única coisa plausível que piscava em minha mente como uma espécie de alerta. 
Ao mesmo tempo em que pensava em morrer, que a morte era de fato assegurada, me sentia mais viva do que nunca. Meu corpo vibrava em consequência da adrenalina que corria por minhas veias em maior velocidade do que a em que eu voava pelos céus. Em momentos assim você percebe o quando é bom viver, sente uma gratidão infinita por continuar a respirar. 
O paraquedas vermelho e branco abriu. 
Nossos corpos foram puxados para cima e a velocidade da queda diminuiu. 
Agora não era mais um vento cruel que tentava me ferir, mas sim uma brisa confortável que me acariciava, proporcionado um gostoso friozinho na barriga. Continuei com meus braços abertos, sobrevoando a região que meus olhos apreciavam com gosto. Joseph estava um pouco abaixo de mim, mas gritava coisas que, devido a emoção do momento, não pude ouvir com clareza. Sorri quando lembrei que toda aquela loucura havia sido registrada por fotos e vídeos, que, de forma que me esforcei para descobrir, ficaram por conta dos instrutores. Como eles eram capazes de segurar uma câmera enquanto estavam sendo devorados pelo céu? 
Lamentei quando o solo entrou em evidência, altamente próximo. Sim, lamentei. Avistei meu marido já caminhando a passos tortos pela área e outros dois homens correrem em nossa direção para segurar e desfazer o paraquedas. Senti meus pés tocarem o chão em um solavanco desconfortável que me impulsionou para trás. A sensação de pisar em terra firme era estranha, minhas pernas pareciam dormentes e desacostumadas com aquilo. 
Já livre de uma parte dos equipamentos, sorri abertamente quando Joe acenou e me chamou. Uma vontade insana de sair saltitando pela área enquanto tentava controlar um surto de adrenalina se apossou de mim, e foi exatamente o que escolhi fazer. Inquieta, sem conseguir engolir gritinhos empolgados que subiam por minha garganta, movimentei minhas pernas que ainda se acostumavam com a firmeza do chão e corri até Joseph, abrindo os braços e me jogando contra ele, tendo o corpo segurado, erguido e girado. Ele me colocou no chão e, um pouco desequilibrados, acabamos perdendo o pouco da coordenação motora que nos restava e desabamos no chão, rindo loucamente. Não sabia dizer se o brilho era maior em seus olhos ou nos meus. 
Demi... - o homem teve que tomar fôlego para continuar, ainda ofegante. - Você está bem? 
- Eu estou... ÓTIMA! - comemorei parecendo uma garotinha que foi na montanha russa pela primeira vez. - Quero de novo! - ergui os braços e depois bati palmas como se fosse exatamente uma.Joseph se divertiu com minha vivacidade tão perceptível. - Será que ainda estamos vivos? - perguntei distraída com minha própria alegria, vendo-o sorrir. 
- Existe um jeito de descobrir. 
Não poderíamos ter riscado um item daquela lista de forma melhor. 


Apoiei meu pé já sustentado por saltos sobre o acento de uma cadeira e fui subindo a meia-calça nude lentamente, até deixar minhas pernas devidamente vestidas. Olhei de frente e de costas no espelho de corpo inteiro presente em um canto do quarto, checando meu vestidopenteado e maquiagem. Tateei por um colar de pérolas que havia deixado sobre a penteadeira e o coloquei, procurando então pelo batom vermelho deixado próximo ao colar. Retoquei meus lábios e removi qualquer borrado com o dedo indicador, achando minha aparência um pouco exagerada. 
- Tudo isso só para poder me beijar mais durante a noite? - porém, quando um homem surgiu no recinto, percebi que minha arrumação fazia jus a sua. Joseph levava habilidosamente um chapéu fedora preto até sua cabeça, colocando-o ali com maestria, arrancando um sorriso de meus lábios pintados em vermelho. Seu corpo era coberto por um elegante terno escuro que não parecia pertencer àquela época, ele usava até suspensórios pretos que se destacavam sobre a camisa vermelha. Peguei minha pequena bolsa preta sobre a cama e luvas em seda branca, colocando-as e vendo-as cobrirem minha mão até acima do pulso. - Me acompanha, madame? - Joe se desfez da distância entre nós e me ofereceu seu braço, promovendo um enlace perfeito de ambos quando, em troca, ofereci o meu. 
- Até onde você quiser que eu vá. - falei em um sussurro e nós saímos pela porta, logo chegando a saída do hotel, onde um reluzente táxi preto já nos aguardava. Aquela, definitivamente, seria uma noite diferente.

(Coloque a sexta música para tocar!)
Longos minutos depois, recebi auxílio para sair do táxi e apoiei meu pé direito sobre o chão ainda úmido pela chuva que caira pouco antes. Às margens do local, eram visíveis vários conjuntos de luzes, árvores, veículos e pessoas. Alguns homens próximos de onde eu e meu marido estávamos fumavam charutos, o que não fugiu de minha análise. Realmente, os convidados daquele clube, ou casa noturna, eu não sabia definir muito bem, levavam ao pé da letra as instruções: agir de acordo com a época retratada. Um vento amigável fez uma carícia na pele descoberta de meus braços e eu elevei meu rosto para ver um letreiro charmoso destacando o título do lugar. 
40s
Entrar ali seria como mergulhar nos anos 40, provavelmente. E antes mesmo de entrar, era inevitável me sentir dentro do filme Casablanca
Quando finalmente adentramos, a primeira visão que tive fora de uma fonte de champagne; taças empilhadas sobre taças enquanto uma espécie de cascata fazia o champagne ser despejado sobre todas. Uma música de melodia envolvente preenchia o local infestado por chapéus e luvas de cetim; mulheres com vestidos e jóias brilhosas, de costas nuas e decotes misteriosos, que incitavam os olhos e mentes dos cavalheiros que não se importavam em olhar, divididos em panelinhas espalhadas pelo clube. Os cabelos dos homens que não possuíam chapéus eram penteados com esmero, uma quantidade elevada de suspensórios e gravatas borboletas facilmente notada por qualquer uma das regiões examinadas. Sem dúvidas, parecíamos todos fazer parte de um grande filme de época onde Joseph e eu éramos os turistas apaixonados procurando por diversão noturna. Pegamos duas rasas taças de champagne e brindamos. 
Tim-tim! - proferi assim que brindamos. Demos continuidade a caminhada pelo local, ainda de braços dados pela extensa área com mesas, quatro cadeiras pretas em cada uma. Um pequeno conjunto com dez degraus levava até a parte mais elevada, onde havia uma extensa sacada e várias mesas semelhantes as da parte inferior. Um piano preto reluzente ao lado de um jeitoso palco em madeira escura, com um único pedestal ao meio e ladeado por cortinas douradas. Provavelmente alguém se apresentaria ali naquela noite. Até mesmo o ar que eu respirava parecia mais sofisticado, a mistura de perfumes diversos, chuva e fumaça de charuto que rodeava o clube parecia animar ainda mais todos os presentes. Burburinhos em francês identificados por todos os lados. E, obviamente, o charme inglês de Joseph se destacava em meio a todos aqueles franceses. 
Joe recolheu minha taça e deixou ambas de lado em um canto qualquer, apontando para uma região ao centro onde alguns casais dançavam. 
(Coloque a sétima música para tocar e, se possível, adiante para 3:00)
- Será que essa honorável dama me concederia uma dança? - sorri pela descoberta de que ele havia mesmo aderido ao jeito de se portar da época, e concordei rapidamente em um aceno, sendo conduzida até a pista agora já mais cheia. A canção anterior fora finalizada, elevando o som das conversas, mas apenas para que outra fosse iniciada. Passei meu braço pelo ombro de Joseph e ele fez o mesmo com minha cintura, enquanto os dedos de nossas mãos livres se entrelaçaram. Ele me olhava com o já conhecido fascínio, por mais que algo de novo brilhasse por suas íris. Dançamos desimpedidos, em silêncio, apenas mantendo os movimentos harmoniosos de nossos corpos de um lado para o outro da pista. Não existiam palavras para que eu pudesse expressar o quanto adorava dançar com ele, o quanto considerava momentos como aquele especiais e mágicos. 

Ah! Réponds,
Réponds à ma tendresse
Verse-moi, verse-moi l'ivresse
Réponds à ma tendresse
Réponds à ma tendresse
Ah! Verse-moi l'ivresse.


- Eu sinto que vai dar certo. - sussurrei ao pé de seu ouvido, sentindo seu corpo fazer uma breve pausa para prestar mais atenção ao que dizia. Olhou-me em dúvida e eu me dispus a explicar. - Acho que estamos a um passo de conseguir... Você sabe. - abaixei meus olhos como se quisesse destacar minha barriga ainda sem qualquer sinal de protuberância. 
- Tem certeza? - ele perguntou como se eu já tivesse dito que estava grávida, então neguei com a cabeça e ri minimamente. 
- Não, ainda não, mas estamos muito perto. Não sei explicar, mas algo dentro de mim está praticamente gritando isso agora. - sem precisar dizer mais nada, apenas adotando feições jubilosas, ele apertou minha cintura com mais força, trazendo-me para mais perto. - Eu amo quando você demonstra sua possessividade desse jeito, mas estamos em público. - lembrei a ele, recebendo um dar de ombros como se o homem não se importasse a mínima com o fato mencionado, muito pelo contrário, isso o fez me envolver com ainda mais afinco. 
- Posso esvaziar esse lugar em segundos se você quiser. - ele me fez rodopiar e brevemente fiquei a sua frente outra vez, comprimindo os lábios e pensando na hipótese. 
- Ah, é? E como faria isso? - solta de seu enlace, cruzei meus braços, mesmo que ainda mantivesse certos passos de dança. 
- Diria que está pegando fogo. - Joseph explicou brevemente e arqueou as sobrancelhas, o chapéu em sua cabeça estrategicamente pendendo para um lado, o deixando insuportavelmente sedutor. Minimamente espantada, olhei ao redor para procurar indícios de fogo, mas não obtive sucesso. Ainda bem. 
- Mas não está. - eu disse baixinho, voltando a juntar nossos corpos, roçando ambos como se eu sentisse medo de que algum incêndio pudesse ser iniciado a qualquer momento. Tola, eu sei. 
- Aqui, entre você e eu... Não enxerga o fogo? - Joseph sugeriu de forma inteligível, os lábios se curvando em um sorriso ultra malicioso. Imitei seu gesto, abrindo um sorriso ainda maior e concordei com a cabeça. Minutos depois que se estenderam na continuação de nossa dança, vi o homem ao meu lado olhar preocupado para o lado de fora do clube, como se tivesse visto algo. Expressão deveras semelhante a de quando ele disse ter enxergado um rosto conhecido pelas ruas de Paris. Passei meus dedos por seu rosto de pele lisa, sem resquícios de barba, e tentei atrair sua atenção, descobrir o que se passava. Um pouco incerto da explicação que escolheria para usar, o homem removeu o braço de minha cintura e me deixou desprotegida sem seu toque, recuando um passo enquanto continuava a fitar firmemente a região onde alguns homens conversavam e fumavam seus caros charutos. 
Joseph, me diga o que está acontecendo! - pedi de forma audível, já sentindo a sua inquietação passar a ser minha também. 
- Fique aqui. - ele segurou meus dois ombros e curvou-se um pouco para que seu olhar ficasse rente ao meu. Era uma espécie de alerta. - Eu já volto! 
- Mas... - tentei, porém Joseph já estava a vários passos de distância, contornando as pessoas que ainda dançavam para conseguir chegar até aquela porta. Optei por sair da pista após o estranho desaparecimento de Joseph e fui me sentar em uma das mesas livres, erguendo o rosto esporadicamente para checar se meu marido retornava. Esfreguei meus braços sentindo um pouco de frio e beberiquei o restante de champagne presente em minha taça. Distrai-me com casais que dançavam Jazz, rindo vez ou outra de seu entusiasmo. Mesmo sem olhar, eu sabia que alguém havia parado atrás de mim naquele exato momento. Permaneci com a coluna ereta, corpo imóvel e feições sérias, sentindo que o indivíduo adiantou-se a falar: 
- Está sozinha? - a pergunta perfurou minha audição, mostrando que seu dono contava com uma voz rouca, o tipo de rouquidão que revela uma idade já mais elevada. 
- Não. - respondi sem hesitar, tentando esconder meu súbito pavor enquanto procurava disfarçadamente por meu marido ainda desaparecido na multidão. 
- Você é casada, certo? - meus dedos seguraram com firmeza a taça já vazia, esperando por uma mísera tentativa de aproximação do ser que permanecia atrás de mim. Olhei para o material cristalino do objeto em minhas mãos e consegui enxergar a imagem do homem refletida, mas seu rosto era parcialmente coberto pela sombra que o chapéu em sua cabeça fazia. 
- Sim. - respondi em um sopro, tentando relaxar meus ombros. Ele riu. 
- Onde está seu marido? Acho que eu o conheço, mas pode ser só impressão. 
- Não sei se você o conhece, mas ele está bem ali! - apontei para uma região, torcendo para que ele acreditasse que de fato Joe estivesse por ali. Algo não me deixava olhar para trás e procurar por intenções em seus olhos. Eu me sentia incomodada, prestes a asfixiar em nervosismo se continuasse naquela mesa que adquiriu uma atmosfera tão pesada. 
- Tenha uma boa noite, minha jovem. - o homem disse simplesmente e senti o ar gelado voltar a se chocar com minhas costas, indicando que ninguém mais permanecia impedindo-o de chegar até elas. Recebendo um calafrio malévolo, olhei para o lado em que o homem desaparecia aos poucos e me levantei, seguindo sua direção oposta, procurando dedicada por Joseph com os olhos, arrancando as luvas de minhas mãos em um sinal de nervosismo. 
Talvez eu não tivesse motivos para me deixar levar por aquela onda de pânico, talvez se tratasse apenas de um homem solitário planejando se aproveitar de uma mulher aparentemente desacompanhada. Com o coração batendo forte no peito, encarei o chão, e segundos depois senti meu corpo se chocar com o de alguém. Elevei meu olhar e respirei aliviada quando identifiquei meu marido ali, parado a minha frente como se nada tivesse acontecido. Determinado, ele me puxou para um canto e apontou para a direção do outro lado, onde a cor branca de uma porta se destacava devido a cor azul escuro das paredes. 
- Onde você estava? - perguntei apressada por uma explicação, mas tudo que ele fez fora negar com a cabeça e continuar com o mistério. Certamente era perturbação de minha cabeça, ele provavelmente fora apenas tomar um ar ou telefonar para alguém. Talvez mais uma surpresa, pensei. 
- Não importa, mulher! - falou alto, tentando me convencer a desistir de tentar entender de uma vez por todas. - Apenas espere dez minutos e depois adentre aquela porta. - explicou, já pronto para recuar mais uma vez. 
- Você me assustou! - insisti. 
- Minha intenção era outra. - explicou-se, segurando na aba do chapéu e levando-o para trás para revelar um pouco mais de seu rosto. 
- O que aconteceu? Não desapareça assim. - pedi com a voz fraca. 
- Nada aconteceu. - Joseph deu de ombros. 
- Minta outra vez. - desafiei com um sorriso esperto nos lábios. Ele concordou com a cabeça e pensou por um instante, apontando para o meu vestido. 
- Eu não quero aniquilar esse vestido. Satisfeita? - cruzei meus braços na altura do peito e mantive os lábios em linha reta, sendo obrigada a desistir e deixar que, seja lá o que ele planejava, acontecesse. 
- Vamos, vamos, você não tinha uma surpresa? - ele pareceu lembrar-se disso naquele instante. Joseph tinha a paz do paraíso nos olhos e o calor do inferno nas intenções, o que subitamente levou minha inquietação embora, sentimento que fora substituído por um misto de ansiedade com calor. 
Assisti-o desaparecer outra vez e olhei sugestivamente para a porta mencionada. Passamos os dez minutos que meu marido pediu, impulsionei meu corpo para frente e pensei comigo mesma que já estava na hora de descobrir a tal surpresa. Cruzei o salão, adentrando uma parte mais afastada da agitação e olhei para cima. Era uma alta porta dupla e na cor branca. Puxei-a sorrateiramente e notei que abria caminho para um extenso corredor com tapete vermelho no chão, a pouca iluminação voltando a me deixar inquieta. Continha apenas uma solitária porta também na cor branca ao seu fim. O que acabei por descobrir fora que aquele clube pertencia a um conhecido de Joseph, e que, naquela noite, nós dois tínhamos livre acesso àquela área reservada, aparentemente secreta. Mas o que será que me aguardava atrás daquela porta? 
(Coloque a oitava música para tocar e boa sorte... hehe)
Aproveitando um frio gostoso na boca de meu estômago, segurei a maçaneta da porta e aos poucos meus olhos examinavam uma parcial escuridão do outro lado. Com medo de que meu marido não estivesse ali e eu acabasse me trancando do lado de dentro, impedi que a porta se fechasse e escolhi mantê-la aberta com o auxílio de minha mão. O piso era preto e lustroso, refletia a pouca luz do corredor que meus pés deixaram completamente. Coloquei meu corpo para dentro e encostei-me à parede, uma leve quantidade de suor presente em meu pescoço e mãos devido a ansiedade do momento. Fechei os olhos firmemente e me encolhi mais quando uma luz fraca fora acessa por uma vela em um dos cantos, revelando um homem de chapéu ao lado de um piano. Seu perfume amadeirado já preenchia todo o recinto, tornando simplesmente fácil reconhecer de quem se tratava. Sem coragem de me mover, eu esperei que Joseph completasse o trajeto até mim feito em passos lentos, porém determinados. Suas duas mãos tocaram minha cintura e desceram apenas para uma breve provocação. Senti a aba de seu chapéu tocar rapidamente a pele de minha bochecha e então seus lábios quentes se colocaram abaixo de meus ouvidos. 
- Eu vou te beijar até que você implore por fôlego. Te abraçar até que implore por liberdade. Te amar até que não seja mais possível acreditar em qualquer coisa. - soltei o ar pesadamente ao ouvir tudo aquilo, sentindo sua mão repousada sobre meu peito - como se quisesse sentir as batidas de meu coração - subir lentamente, indo parar em meu rosto. Seu dedo indicador sobre a bochecha e o restante deles em meu pescoço. A sintonia de nossos olhares foi certeira, senti meu peito aquecido quando seus dentes branquíssimos deram o ar de sua graça em um sorriso esfuziante. Eu não precisava sonhar durante a noite, aquele homem se encarregava de fazer minha realidade ser incomparável até mesmo ao mais bonito dos sonhos que eu pudesse ter. 
- O que você quer para me levar até as estrelas? - foi a minha vez de ousar e apelar para um tom sedutor na voz. Assisti o homem de chapéu afastar-se de mim por instantes e trancar a porta em um empurrão rápido, proporcionando um barulho que me fez rir. Sem esperar por ele, caminhei até o piano ao canto e deslizei meus dedos pelas teclas brancas, observando algumas taças vazias e outros objetos de provável decoração do clube repousando sobre a tábua harmônica que permanecia fechada. 
Quero você. - mãos firmes enlaçaram a região abaixo de meu busto e aquela voz irrompeu de seus lábios em meio a parcial escuridão. Dois candelabros colocados estrategicamente nos cantos do ambiente projetavam a sombra de corpos unidos na parede a nossa frente. 
- Parece justo. - sussurrei, enxergando o vulto de Joseph passar a minha frente e, impressionantemente, se livrar de tudo que estava sobre o piano. Sem optar por gestos pacíficos, ele jogou os enfeites e taças em direção ao chão, fazendo com que algumas se quebrassem antes mesmo de concluir seu amargo trajeto. Seu gesto, apesar de violento, fora considerado sexy por mim, que já sentia o corpo mais quente do que de costume. Eu gargalhei e aplaudi, vendo-o fazer algo semelhante a uma reverência, como se agradecesse. Com a mesma intensidade que liberou espaço no piano, as mãos de meu marido me envolveram e me levaram até o mesmo, me impulsionando para cima para que eu conseguisse ficar sentada sobre a tábua, com as pernas entreabertas para que ele pudesse colocar o corpo ali. Enquanto distribuía um caminho de beijos por meu queixo, pescoço e colo, encontrou uma de minhas mãos que repousava sobre meu colo, entrelaçando os dedos de ambas, segurando-a firmemente, distribuindo um carinho singelo na região entre meu polegar e dedo indicador. Mesmo durante um momento de selvageria, ele encontrava oportunidade para reforçar nossa cumplicidade e amor. 
Livrei-me de seu chapéu e o joguei longe; não queria nada escondendo aquele rosto e, principalmente, os olhos de excessiva intensidade. Arfei quando seus dentes começaram a mordiscar o lóbulo de minha orelha, enquanto sua mão livre procurava determinada pela alça de meu vestido, deslizando-a para baixo, começando a me despir. Aumentei mais o espaço entre minhas pernas no intuito de trazê-lo para mais perto. Esfomeada, puxei-o pela nuca e grudei nossos lábios, sentindo os meus sendo mordiscados por seus dentes. Nossas línguas brigavam por espaço enquanto nossos corpos queriam eliminá-lo a qualquer custo. Em consequência de um elevado frenesi resultante de nosso beijo, pude senti-lo espalmar meus quadris, sorrindo contra seus lábios e lentamente deitando meu tronco, deixando-o esticado sobre a tábua harmônica. Sentia-me já úmida e quente, um calor crescente por entre minhas pernas. Ele ergueu-se a minha frente e deslizou as mãos por meu tronco, tocando meus seios ainda cobertos pelo tecido do vestido. Debruçou-se até ficar com o rosto próximo, insinuando tocar meus lábios novamente, mas não o fez. Sua rigidez já evidente roçando-se contra mim, próxima de minha região pélvica. Meus olhos capturados pelos seus transbordavam a insinuante ingenuidade, seu corpo em atrito com o meu queimava em malícia. 
- A melhor parte em estar com você desse jeito é que eu consigo fazer com que a sua pele se arrepie como se estivesse te tocando pela primeira vez. - sua voz máscula irrompeu de sua boca colada em meu colo quase nu. - Como se você estivesse se entregando a mim pela primeira vez, entregando a vontade de se deixar ser descoberta. Eu simplesmente enlouqueço com isso, mulher, enlouqueço! 
Joseph... - pedi já resfolegando, sentindo seu dedo indicador tocar meu lábio e me impedir de continuar o protesto. 
- O que você faz para conseguir esse efeito sobre mim todas as malditas vezes? - elevou sua voz e roçou sua ereção agora ainda mais firme contra minha intimidade. - Ou melhor dizendo... Cada vez tornando o efeito mais abundante e enlouquecedor? - forcei nossas bocas a colidir, usufruindo de meus sentidos aguçados que em harmonia despertavam conjuntos de sensações por todo o meu corpo. O toque de sua pele sobre a minha, seu gosto, seu cheiro, o som de seus gemidos em satisfação contra a minha boca e a visão paralisante de um olhar que tentava me devorar. 
Em seguida tive outra visão privilegiada quando ele voltou a ficar com a coluna ereta e ferozmente se livrou de seu terno, abaixando os suspensórios para que a retirada de sua camisa e calça fosse mais facilitada, logo me possibilitando ver seu tronco nu. Atordoada e irritada por enxergá-lo tão longe, gemi em uma súplica desesperada por seus toques tão ansiados por meu ser. Uma súplica desesperada para um perfeito encaixe. 
- Você disse que me faria ver estrelas. E eu realmente quero vê-las, então... Mostre-me, agora! - fiz soar como uma ordem, arrancando um sorriso repleto de intenções obscuras de seus lábios já avermelhados em consequência dos beijos que trocávamos. Quando estávamos juntos, o restante simplesmente não importava. Quando se está em um momento como esse com a pessoa que mexe com suas estruturas, você simplesmente se esquece dos motivos racionais que tentam brecar seus instintos mais primitivos e até mesmo da própria morte. Era exatamente dessa forma que eu me sentia em seus braços seguros e quentes, braços esses que se esticaram em minha direção e passaram a tentar de todas as formas livrar meu corpo do vestido. Arqueei minha coluna para permitir que ele encontrasse o zíper, então senti minha pele arrepiar gradativamente ao passar do tempo em que o tecido deslizava por todo o meu tronco até passar por meus pés e ser jogado no chão. O homem abaixou-se e segurou as duas alças de minha rendada calcinha branca com as mãos, puxando-as para baixo enquanto seus lábios deslizavam por minha virilha. Joseph preferiu manter as meias 7/8 - que cobriam minhas pernas até certo ponto - e os sapatos em meus pés, alegando que era sexy. Fora isso, apenas um colar de pérolas em meu pescoço. Inclinei minha cabeça para trás, os cabelos já bagunçados, pele com suor e minha boca entreaberta por onde gemidos escapavam com pressa de minha garganta e se espalhavam pelo ar, atacando a audição deJoseph e fazendo com que seus toques sobre minha nudez se intensificassem. Abri as pernas para recebê-lo e ele sorriu em resposta a minha flexibilidade. Trocamos um olhar apaixonado e um sorriso mal intencionado, depois tive apenas tempo de respirar mais uma vez até que o homem habilmente livrou-se de suas calças e boxer, não querendo mais adiar o momento em que o encaixe entre nossos corpos seria realizado. Sua carne em contato com a minha, da forma mais intensa possível, da forma mais certa possível. Prendi a respiração quando suas mãos grandes e fortes seguraram minha cintura e puxaram meu corpo para baixo, ato que tornava a penetração que se iniciava vagarosamente mais fácil de acontecer. Soltei o ar quando sua glande já se escondia dentro de mim, a extensão de seu pênis aos poucos fazendo o mesmo, deslizando perfeitamente para o meu interior graças a lubrificação natural. Já totalmente preenchida por Joseph e gemendo de forma baixa e inconsciente, toquei meus seios e fechei meus dedos sobre eles, segurando-os com firmeza, abrindo os olhos lentamente e olhando o homem sedento a minha frente com um sorriso pecaminoso. Suspirei pesadamente e minha língua atravessou o espaço entre os dentes, acariciando meus lábios, umedecendo-os provocantemente enquanto eu sentia Joseph determinar os movimentos de vai e vem de meus quadris, sem se importar com o piano que poderia não resistir ao peso de nossos corpos. E eu torcia para que resistisse. Eram identificadas melodias incoerentes produzidas pelas teclas do piano quando pressionadas acidentalmente por meus pés apoiados sobre o mesmo, ou pelos impulsos do corpo de Joseph. A combinação de perfume e suor do homem já me entorpecia aos poucos, aguçando meu olfato. Eu sugava o ar com mais afinco, como se assim pudesse sentir melhor o cheiro. Ele também se deliciava com o cheiro que emanava de minha pele e de meu sexo, segurando os lábios com força para controlar os gemidos que não aguentaria reprimir por muito tempo. Meus seios acompanhavam delicadamente os movimentos de meus quadris, se balançando, sendo apreciados pelos olhos verdes em chamas a minha frente. Joseph saia e voltava a se colocar dentro de mim, repetindo os movimentos. Repetindo e repetindo. Uma vez lentamente e outra furiosamente, intercalando e me deixando à beira da total e bela loucura. A loucura que irradiava liberdade, a sensação de que daquele momento em diante nada mais seria impossível. Ele me possibilitava sentir que a vida era estonteante, levava uma onda de felicidade a se apoderar de mim. Ensinavámos um ao outro as diversas e delirantes maneiras de se enlouquecer. 
- Continue, meu amor, continue assim... - estimulei-o e gemi alucinadamente, sem nem mesmo tempo para respirar entre uma investida e outra. Ambos éramos capturados e entorpecidos pelo deleite mútuo que escapava por nossos poros, misturando-se e tornando-se um só. Nossos gemidos em sincronia. Os meus aumentando gradativamente, enquanto os dele permaneciam roucos e estimulantes, apesar de baixos. Joseph voltou a se debruçar e, sem interromper a penetração frenética, colou o máximo que pode seu tronco sobre o meu, seus gemidos e urros agora mais constantes soando ao pé de meu ouvido, como se em uma busca por infinitas formas de me estimular. Suas coxas torneadas, masculinamente grossas, chocando-se contra as minhas; os pêlos de suas pernas roçando-se contra a maciez das minhas. Em meio a uma descompassada respiração, ele falou: 
- O quão longe você acha que eu consigo ir? - lançou a pergunta, me acompanhando em outro delirante espasmo. - Quais os limites que você acredita que sou capaz de ultrapassar para te levar a loucura? - segurei meus lábios antes de pensar em responder, arranhando suas costas com gosto, recebendo uma investida ainda mais forte em resposta, sinal de vingança. - Sabe por que você não me responde? Porque sabe que para mim não existem limites. Não quando se trata de nós. Você e eu acontece assim. - a firmeza em sua voz me forçou a repetir os arranhões, deixando-o dividido entre a dor e o prazer. - Me provoque, continue provocando desse jeito, continue brincando com a minha sanidade e eu não vou te deixar sair desse lugar tão cedo. - eu me deleitava com suas ameaças, não sendo mais capaz de distinguir se permanecia na escuridão ou na claridade. Na terra ou no céu. - Demetria... - ele exclamou quando intensifiquei o movimento de meus quadris, apenas para prová-lo e conseguir um pouco mais de prazer. - Oh... Isso, Demi! 
- Eu quero mais! Quero que você se esforce o máximo que consegue! Vamos, eu ainda não estou vendo estrelas... - minha intenção era deixá-lo cada vez mais determinado a não parar. Ouvi uma espécie de rosnado escapar por seus lábios que se fixaram na pele de meus seios e começaram a chupá-los, um de cada vez, a fim de explorar a sensibilidade da área tão bem estimulada. Pequenas gotículas de suor repousavam em seus bíceps volumosos devido aos músculos que se contraíam durante seu gesto de segurar firme no piano para manter os movimentos vertiginosos. As veias que subiam de suas mãos para seus braços, alteradas, algo extremamente sedutor. 
- É assim que você quer? - ele voltou a se erguer, revelando sua virilidade à flor da pele juntamente com um sorriso adoravelmente perverso. O corpo másculo a minha frente coberto pelo suor e sua razão inundada pela iniciativa de me deixar com as pernas bambas naquela noite. - Responda! - gritei em resposta, ensandecida com sua rigidez quente e pulsante fazendo maravilhas por cada mísero canto que tocava. Deleite, muito deleite. Era tanto que eu precisava gritar seu nome por entre gemidos para que ele soubesse o quanto eu me deliciava com o seu sexo enlouquecedor e apaixonante, totalmente inexplicável e desenfreado. - Quer saber? Não precisa dizer nada. Vem mais perto, vem! - Joseph agarrou minhas coxas e me puxou em sua direção outra vez, investindo contra mim. Sua força já resultava em rasgos na meia 7/8 que aos poucos ia se desfiando, seus dedos já conseguiam penetrar o material e ele fincava suas unhas curtas na região, tendo consciência de que deixaria marcas pelo local. Talvez por estar fora de mim, a ideia de ter marcas deixadas por ele em meu corpo pareceu algo totalmente irresistível e necessário
- Oh, meu Deus! Você... - tentei, sentindo o suor escorrer em abundância de seu corpo e entrar em contato com o meu. Nossos movimentos eram realizados com tanta frequência e furor que eu temia passar a sentir os músculos de minhas pernas dormentes. - Se você soubesse o que causa em mim quando age dessa forma, Joseph! Oh, mon amour, venha ver as estrelas comigo, eu garanto que você não irá se arrepender. - convidei-o com uma voz amorosa, possuída pelo ápice da paixão. Caminhávamos juntos por uma estrada de prazer sem hora para mudar de direção, buscando pela hora da culminância, quando ambos os corpos seriam dominados por uma arrebatadora onda de felicidade. 
- Uma vez eu disse que iria até o inferior se você me pedisse, e não vou mudar de ideia, meu amor, não vou. - com seu apetite sexual insaciável que não o deixava cessar as investidas, ele prometeu, e eu sabia que podia acreditar, sabia que ele não mediria esforços por mim. Assim como eu não mediria por ele. 
Éramos mais do que simplesmente um casal apaixonado, éramos almas unidas, os amantes pela eternidade que, juntos, faziam aquele incessante passeio pelas nuvens do paraíso que cobriam cada pedacinho de nossos corpos prestes a entrar em combustão. Os movimentos que Joseph fazia sobre mim eram sobrenaturalmente delirantes, eu já não sabia mais como lidar com tamanha determinação em me deixar desconcertada, me fazer perder a razão, perder a capacidade de diferir o certo do errado, corromper minha decência e incitar minha malícia. Impulsionei meus quadris para frente em busca de ainda mais. Ele estava empenhado em me satisfazer, da forma mais formidável que seria capaz. Era como se naquele momento seu corpo funcionasse para o meu benefício, exclusivamente. E o meu para o dele. Fechei os olhos, permanecendo com a boca entreaberta e a respiração ruidosa enquanto uma ideia brilhante passava por minha mente entorpecida. Prendi firmemente minhas pernas em volta de seu quadril e esperei pela investida seguinte, que fez um gemido involuntário irromper por meus lábios. Encolhi minha barriga o máximo que pude e, com isso, senti a musculatura de minha vagina contrair, mantendo seu pênis preso dentro de mim. A expressão no rosto de Joseph foi de total aprovação, tanta que ele segurou com força minhas pernas e mordeu ferozmente o lábio inferior para reprimir o gemido que queria deixar escapar, insaciável. Respirei fundo e desfiz aquela prisão, sentindo seu membro rígido me deixar, porém retornou tempo insuficiente para pensar em qualquer coisa. Como se em um agradecimento pela sensação que lhe proporcionei, permitiu que eu o sentisse tão fundo que era impossível controlar os espasmos de meus músculos e a satisfação explícita pelos gemidos descontrolados. Divertia-me em meio a provocações, divertia-me com suas feições enlouquecidas quando eu ousava me movimentar mais lentamente. Era maravilhoso. O calor úmido por entre minhas pernas aumentava de forma surpreendente. Segurei seus ombros com força e olhei fundo em seus olhos, dizendo-lhe que era o momento. Estimulei Joseph o máximo que pude, fosse com músculos contraídos, gemidos profundos ou movimentos lentos com a parte inferior de meu tronco, quantas vezes meu corpo já cansado permitia. E o resultado fora recompensador: seu ápice, a explosão de prazer que parecia ser transferida de um corpo para o outro. Seu tronco banhado pelo suor se deitou sobre o meu, enquanto eu sentia mãos quentes e curiosas massageando meus seios. Inclinei minha cabeça para trás ao sentir sua boca tocar a pele e sua língua rodear a aréola, alcançando o bico e prendendo os lábios em volta ele, mordendo, sugando e lambendo de forma firme, porém cuidadosa ainda assim. Embrenhei meus dedos em seus cabelos molhados, puxando com determinada força enquanto ele continuava a se movimentar dentro de mim e a estimular meus seios daquela forma faminta. Alternava de um para o outro; enquanto segurava o direito e fechava a palma da mão em uma carícia excitante, abocanhava o esquerdo e se deliciava. Uma de suas mãos, então livre, escorreu por minha barriga e se perdeu por entre minhas pernas tensas, seus dedos atrevidos desenhando círculos rápidos em meu clitóris, me forçando a depositar ainda mais força nos dedos que seguravam seus curtos fios de cabelo. Ele grunhiu perto de meu ouvido, demonstrando a dor conjunta com o prazer que sentia, arrancando um sorriso satisfeito de meus lábios já inchados e dormentes de tão segurados por dentes. Então, subitamente, o distinto conjunto de sensações veio. O apogeu. Endorfina sendo liberada para a corrente sanguínea, poros se eriçando um de cada vez, músculos contraídos na mais pura degustação de um orgasmo que durou valiosos segundos. O efeito espalhou-se, do topo de minha cabeça até as pontas dos dedos de meus pés; estava por toda a parte. Uma combinação de aromas que emanava de nossas peles estava solta pelo ar. Cheiro de suor e perfumes misturados. Cheiro de desejo, cheiro de sexo. Uma cumplicidade de sussurros que antecedeu um confortável silêncio; o silêncio que utilizamos para desfrutar do bem estar e lidar com a intensidade que mais uma vez excedera seus limites entre nós, como tantas outras vezes. Como sempre seria. Um efeito gostoso de relaxamento envolvia minha musculatura antes tensa. 
Senti seu pênis me deixar aos poucos, escorregando por minhas sensíveis paredes vaginais, arrancando alguns curtos suspiros até que não estávamos mais encaixados, a notável sensação de vazio quando, de repente, não fazíamos mais parte um do outro. Notei algo quente atingir minha barriga e ergui a cabeça para olhar, observando o esperma - que tanto me alegrei ao ver - ainda sendo liberado, uma pouca quantidade caindo sobre a pele abaixo de meu umbigo, lambuzando minimamente o local. A sensação quente e molhada me fez deitar a cabeça novamente, fechar os olhos e sorrir feliz. Joseph se aproximou e abraçou minha cintura, deixando nossos corpos alinhados. Encostou seu nariz no meu antes de fechar os olhos e cobrir meus lábios com os seus, calando a sequência de gemidos que aos poucos se acalmava e perdia a força. Deixei-me ser vencida e me entreguei àquele beijo, por mais que estivesse cansada, o gosto dele era sempre a segunda melhor parte de momentos como aquele. 
- Acho que... - puxei o ar para meus pulmões assim que sua boca largou a minha, tentando falar sem muito sucesso. Minha voz fraca falhou. - Acho que depois disso verei estrelas por um bom tempo. - relaxei minhas pernas cobertas por uma sensação de torpor e senti Joseph depositar um beijo em minha testa ao fixar as mãos em minhas costas e tentar me puxar para cima, mantendo nossos corpos em um abraço afável. 
- Se depender de mim, você as verá para sempre. - já sentada sobre o piano e com as pernas enlaçadas nas suas, espalmei minha mão em seu peitoral e beijei a região de seu queixo, sorrindo com o que acabara de ouvir. 
- Não preciso disso, desde que eu possa ver você. - afirmei, sentindo movimentos circulares sendo feitos por suas mãos que repousavam em minhas costas. - Acha que vamos conseguir sair daqui? - perguntei aos risinhos, virando o rosto para observar a bagunça ao redor. Joseph deu de ombros e abaixou a cabeça para tocar os lábios entreabertos em uma de minhas clavículas, o ar que escapava por eles atingia minha pele e desencadeava um gostoso arrepio. 
- Você não consegue correr agora, consegue? E andar? - uma risada foi identificava por minha audição, como se ele já soubesse que minha resposta seria negativa. Puxei os cabelos de sua nuca para erguer sua cabeça e deixei nossos rostos frente a frente. Olhei em seus olhos e depois mordi meus lábios, negando com a cabeça, sem conseguir evitar em achar graça de meu probleminhapassageiro. Um preço justo a pagar por um incomparável clímax. 
- Digamos que não sinto muito bem as minhas pernas... - admiti, estapeando seu braço quando ele demonstrou estar prestes a rir outra vez. 
- Não tem problema, eu vou te carregar. - e fora o que ele fez, colocando-se para o lado e passando um braço por debaixo de meus joelhos, assim como o outro por minhas costas, tomando impulso antes de me erguer no ar. Abracei seus ombros e apoiei minha cabeça em seu peitoral suado, gostando do cheiro que emanava da região. 
- Algo me diz que você se esqueceu de que não podemos sair daqui assim, Jonas. - gargalhei explicitando nossa nudez. Joe fingiu-se de impressionado pelo próprio descuido e deu meia volta, abaixando-se para me sentar em uma área do chão livre de objetos quebrados enquanto ia pegar nossas roupas. Obviamente eu conseguia andar, apesar de realmente sentir minhas pernas dormentes e um pouco doloridas, mas ele não precisava saber disso. Seu colo era um lugar incrível para se estar. Sem mencionar o fato de que deveria estar muito orgulhoso de si por aquele feito: deixar a esposa esgotada ao ponto de não conseguir andar. 
Vestimo-nos em tempo recorde e, em um gesto de cavalheirismo, Joe voltou a me pegar como se eu fosse leve feito uma pluma. Abriu a porta e saiu pelo corredor sem hesitar, sem pensar no que diriam ao ver um casal ofegante, de peles revestidas com suor, cabelos bagunçados e roupas amassadas transitando por ali. 
- O que é que estão olhando? - Joseph perguntou em um alto tom de voz para algumas pessoas ainda sentadas nas mesas, sem nem mesmo saber se elas compreendiam seu inglês. Provavelmente não, visto a forma interrogatória que olhavam para nós. - Sim, meus caros, nós acabamos de fazer sexo! Algum problema? - sua ousadia fez meu rosto queimar, então tentei escondê-lo em seu peito e controlar uma risada alta que quis subir por minha garganta. - Se vocês não podem desfrutar de algo tão bom, não me olhem com inveja, a culpa não é minha... Bom, é isso. Au revoir! - o homem que me carregava sorriu abertamente após falar tudo de maneira natural, piscando sedutoramente para mim. Seus cabelos bagunçados e o jeito oblíquo de sorrir que insistia em manter diminuíam sua idade e o faziam parecer um adolescente que não se importa com o que é politicamente correto ou não. 
Já dentro do táxi, eu assistia distraidamente as paisagens iluminadas passando diante de mim, até que senti uma mão tocar a minha que repousava sobre o banco. Tomei o chapéu de Joseph de sua cabeça e coloquei-o na minha, recebendo um arquear de sobrancelhas em aprovação. Os olhos verdes dele despencaram de meu rosto e foram parar em minha barriga coberta pelo tecido amarrotado do vestido. Segui a direção de seu olhar e toquei a região, adivinhando exatamente o que rondava sua mente. 
- É bom que você já esteja começando a se formar aí dentro, pessoinha. - falou em tom de alerta com minha barriga, erguendo os olhos na direção de meu rosto logo após. - E, convenhamos,Demi... Com tudo que acabamos de fazer, é praticamente impossível que um bebê não apareça. - Joe gesticulava enquanto falava, abria bem os olhos e erguia a voz para dar mais consistência em suas palavras. - Aliás, eu acho que você já está grávida. - deduziu, dotado de convicção, como se tivesse a capacidade de identificar algo assim antes mesmo de mim. 
- Você acha? - questionando um pouco surpresa, fitei-o e inconscientemente acariciei a região de meu ventre, enxergando um brilho genuíno e duradouro em suas íris. 
- Sim, eu acho. Confio nos meus dotes. - explicou ele, presunçosamente brincalhão. E, para evitar lhe dar outro tapa por ser tão cheio de si, puxei-o pelo colarinho da camisa para juntar nossos lábios, calando meu marido e dando algo de mais importância para sua boca se preocupar em fazer.


Dois dias depois...

Medo. Lágrimas. Sensação de impotência. 
Nossa viagem por Paris fora encurtada por uma péssima notícia: Matthew, meu bebê, estava doente. Eu não sabia muito bem o que estava acontecendo, conseguia apenas me lembrar de minha mãe me ligando durante a madrugada aos prantos, dizendo que não sabia mais o que fazer, pois o pequeno de uma hora para a outra começou a chorar desesperadamente, não queria comer nada e alegava sentir dor. Talvez não fosse nada grave, um simples resfriado, mas como dizer isso a mim mesma? Como tentar acalmar meu coração que durante a viagem de volta a Londres batia dolorosamente? Matt sempre foi um bebê saudável. As vezes em que tivemos de levá-lo com urgência para um hospital foram poucas, tão poucas que sumiram parcialmente de nossa memória. E na maioria dos casos em que algo o abatia, era um simples resfriado. 
- Ei, não se preocupe... Fique calma, Demi. - ouvi a voz de Joseph tentando me confortar. Uma mão tocou ternamente a minha, que permanecia apoiada sobre o braço da poltrona do avião prestes a pousar. Fechei meus olhos com força e soltei o ar com calma, não acreditando que Joseph tinha pedido isso. Ele me pediu calma. Calma. Como eu poderia ter calma quando não sabia o que se passava com a pessoa mais importante de minha vida? 
- Eu não estou com ele... - comecei a falar pausadamente, sem coragem de fitá-lo para não acabar me exaltando ainda mais. Não seria justo, obviamente, meu marido também estava preocupado, só tentava se fazer de forte para eu ter em quem me apoiar. - Não posso tê-lo em meus braços agora e me certificar de que está bem... - aos poucos fui elevando meu tom de voz, fazendo-o tirar sua mão de cima da minha. - Então, sim, Joseph, eu vou ficar muito preocupada! Vou ficar preocupada o quanto eu quiser ficar! - após minhas palavras rudes, foi impossível segurar as lágrimas, mas eu rejeitei um abraço desajeitado que Joseph tentou oferecer e encolhi meu corpo na poltrona, avistando o aeroporto pela janelinha. 
Realmente não me importei em calcular o tempo que levou até sair do aeroporto e chegar em casa. As ruas escuras e o clima frio só faziam minha angústia crescer. O táxi estacionou em frente a nossa casa, cujas luzes permaneciam acessas. Saí primeiro que Joseph e fui andando - praticamente correndo - até o portão, sem me importar com nossas malas e com nada mais. Assim que o homem parou ao meu lado, alegando que o taxista ajudaria a levar nossas malas para dentro, olhei firme em seus olhos e funguei. 
- Desculpe-me pelo que eu disse. É que... - tentei, já sentindo a vontade de chorar retornando. Cruzamos a passos rápidos o jardim. 
- Eu sei, Demetria, eu sei. Não peça desculpas, vamos só cuidar do nosso filho e esquecer isso. - concordei com um aceno e logo já havia conseguido adentrar a casa, encontrando a parte de baixo vazia. Desesperei-me e comecei a pedir por minha mãe, Jamie e até mesmo Matthew, conseguindo ouvir seu chorinho vindo do andar de cima. Com o aperto presente em meu peito, subi as escadas com uma velocidade excessiva, mal me importando que pudesse cair, percebendo que Joseph imitava meus movimentos e vinha logo atrás de mim. A porta de um dos quartos estava entreaberta e minha mãe surgiu prontamente, os olhos inchados como se tivesse chorado. Trocamos apenas um olhar e, sem dizer nada, abri toda a porta e adentrei o cômodo, encontrando Jamie sobre a cama ao lado do corpo deitado de meu bebê. Ajoelhei-me ao seu lado e toquei seu rosto, assustando-me quando pude comprovar o quanto sua temperatura estava elevada. Queimava em febre. Tentei falar com ele e pedir para que abrisse os olhos, mas meu filho não tinha muita força para isso, sua pele estava pálida e suas mãozinhas e pezinhos permaneciam gelados, seus lábios trêmulos. 
- Ele passou o dia todo chorando, não conseguia comer e mesmo assim dizia ter fome. Eu o levei até o hospital quando ele começou a se queixar de dor na garganta e nos ouvidos, mas o médico simplesmente disse que se tratava de uma inflamação, nos mandando para casa depois que receitou um remédio. Só que o Matt pareceu piorar depois que saímos de lá, filha. - mamãe tentava se explicar como se sentisse culpa, e é claro que a culpa não era dela. Crianças, assim como qualquer um, ficam doentes... Eu só precisava aprender a aceitar e lidar com isso. 
- Oi, meu amor. A mamãe está aqui, viu? Nada vai te acontecer. Agora diz para mim onde está doendo. - pedi carinhosamente, acariciando sua bochecha.
Dodói, mamãe... - Matt esforçou-se para erguer o bracinho e o levou até a direção lateral de seu pescoço, onde, ao tocar, identifiquei uma elevação na pele. O pequeno se mexeu desconfortável e resmungou, pude ver lágrimas brotando em seus olhinhos. O pedacinho de mim sofrendo. Olhei um pouco atordoada para Joseph, que logo sumiu, alegando que ia procurar as chaves do carro para que pudéssemos levar nosso bebê ao médico.
- Fique tranquila, mãe, a culpa não é sua. - levantei-me rapidamente e fui abraçá-la, fazendo o mesmo logo após com um Jamie apreensivo que ainda não tinha dito nada. Fui a passos rápidos até o quarto ao lado que pertencia ao bebê, pegando uma touquinha e um agasalho. Retornei ao outro quarto e me sentei na cama a sua frente para arrumá-lo, tentando não aquecê-lo muito para não elevar a febre, mas ainda assim deixá-lo protegido do frio rigoroso do lado de fora. Peguei-o em meu colo depois de beijar sua testa quente, pedindo a minha mãe que separasse uma bolsa com roupas para ele e outras coisas que eu costumava levar quando saíamos de casa. - Vamos sarar esse dodói, meu ursinho. - ignorei uma grande sonolência e tentei me fazer de forte o tempo todo, porque é isso que um filho precisa ver em sua mãe: força. Mas por dentro eu temia o desconhecido, temia a remota possibilidade de ser algo grave. 

O Rei Leão era transmitido em uma televisão presa à parede azul daquele quarto localizado na ala pediátrica do hospital. Eu e meu marido permanecíamos com Matthew, esperando o resultado de alguns exames de sangue. Pouco tempo antes, a médica de plantão apresentou-se para atendê-lo. Primeiro examinou suas amígdalas, procurando por sinais de vermelhidão e inflamação, depois apalpou o maxilar de meu filho em busca de gânglios linfáticos possivelmente inchados, sem deixar de brincar e conversar com ele enquanto fazia seu trabalho. A pediatra não demorou a reconhecer todos os sintomas de uma provável amigdalite, mas ainda assim solicitou que alguns exames fossem realizados em meu bebê, para eliminar qualquer dúvida. Decidiu também que seria propício colocá-lo para tomar soro na veia, para reidratá-lo e ajudar a aliviar seu mal estar. Porém, preciso admitir que vê-lo aos prantos quando a agulha fora injetada em sua veia partiu meu coração. A dor dele parecia triplicar em mim. Felizmente Matt se esqueceu logo do incômodo, já sonolento. 
Após ter sido medicado para a febre e dor, o bebê permanecera deitado sobre a cama do quarto, com sua chupeta vermelha na boca e aqueles olhinhos tristes que alternavam entre olhar para a televisão e a decoração infantilmente colorida do quarto, me fazendo sentir vontade de chorar a cada mísera fração de segundo em que eu ousava olhá-lo. Abracei meu próprio corpo ao sentir frio e depois percebi que Joe havia tirado seu casaco de couro para colocar sobre mim. O bebê, já mais calmo, coçava os olhinhos e pedia por mim, estendendo os bracinhos em minha direção, pedindo colo. Mesmo sabendo que eu não poderia pegá-lo no momento, prontamente fui em sua direção e passei meus braços ao seu redor, encostando a área de meus lábios em sua testa, aliviada pela febre, mesmo ainda presente, ter baixado um pouco. E isso me fez chorar baixinho de alívio, escondendo e segurando as lágrimas, para que Joseph não visse o tipo de mãe sensível que eu era. 
Cerca de meia hora depois, a doutora Amber, pediatra, adentrou o quarto com alguns papéis em mãos. 
Examinando seu semblante, me permiti soltar o ar com mais calma. Aqueles eram os resultados dos exames de sangue realizados em meu filho. Estavam normais, totalmente normais para a condição em que ele se encontrava. A médica assegurou que a prostração do bebê era devido ao fato de que passou um dia inteiro praticamente sem se alimentar e ingerir líquidos, já que sentia dor quando tentava comer ou beber. Então, estava comprovado: era uma amigdalite. Doutora Amber retirou um receituário do bolso de seu jaleco branco e agilmente receitou o antibiótico específico para a enfermidade, juntamente com a dosagem recomendada. Senti como se uma tonelada estivesse sendo retirada de minhas costas quando soube que meu filho estava perfeitamente saudável, e que aquela amigdalite logo o deixaria em paz. Depois liguei para mamãe e Jamie no intuito de acalmá-los. 
- Viu só? Eu disse que você não tinha motivos para se preocupar, Matt é um garoto forte. - Joseph começou quando eu voltei a me sentar em uma das poltronas após agradecer a médica, que já havia liberado Matthew. - Não é para menos, certo? Veja de quem ele é filho. - Joe apontou para mim e não consegui evitar de sorrir, mesmo que ainda estivesse um pouco abalada. Queria eliminar todos aqueles pensamentos nocivos de minha mente, mas acho que você não pode ser considerada uma mãe se não tê-los pelo menos uma vez. O importante é que Matthew estava bem, fora de perigo. Ele havia pegado no sono enquanto conversávamos, dormindo tranquilamente, seu peito subindo e descendo normalmente. Voltei a levar minha mão até sua testa e toquei a região de forma delicada para não acordá-lo. Cada vez que eu checava a região, ela parecia menos quente. 
Mesmo com os pensamentos a mil e a atenção voltada para o pequenino, pude notar a forma peculiar como meu marido se portava, totalmente à vontade naquele clima hospitalar. Preocupado com o filho, sim, mas também se mostrando interessado e observando tudo ao redor. E lá estava mais uma prova do óbvio
- Primeiro grande susto pós-nascimento: confere. - falei com bom humor para Joseph, que respirou fundo em resposta e também se aproximou do filho, segurando sua mão não mais gelada. Trocamos um olhar que transmitia um misto de emoções, e várias delas consistiam em nosso sonho, o sonho de ter mais um filho. Esperaríamos o passar dos dias, então, torcendo para que amágica de Paris tenha surtido seus efeitos. 
Durante aquele momento, eu não sabia dizer se eram os olhos dele ou os meus que irradiavam mais esperança. 
Nosso silêncio confortável fora arruinado graças a uma agitação que se instalou pelo corredor. Levantei-me e fui até a porta para olhar, enxergando primeiramente uma maca sendo empurrada por médicos e enfermeiros afobados que gritavam uns com os outros como se a situação fosse desesperadora. E de fato era. Consegui captar as ordens apressadas dadas pelo médico a frente - o que tentava comandar a situação. Quando a maca passou ao meu lado, tive a visão de um pequeno corpo desacordado sobre ela, uma garotinha entubada. 
- Rápido, pessoal, rápido! - o médico esbravejou enquanto limpava o suor da testa. - Precisamos de um helicóptero agora, solicite um helicóptero agora! - ele apontou - quase aos gritos - para uma das enfermeiras. - E você, peça que entrem em contato com o Saving Grace Children's Hospital. Não temos condições de mantê-la viva dessa forma, essa criança precisa ser operada agora mesmo e infelizmente não há ninguém aqui hábil para isso. Ela precisa do doutor Philip Wright!
Meu corpo congelou mediante as palavras que ouvi. Saving Grace era o hospital que entrou em contato comigo algum tempo antes, alegando que metade dele havia sido deixada para mim como herança. 
Naquele momento, após descobrir que o lugar de fato ainda existia, tudo pareceu mais real. 

Traduções:
Salut, mon amour - Olá, meu amor.
Bienvenue en France - Bem vindo à França.
Oui, monsieur - Sim, senhor.
Bonjour, mon homme - Bom dia, meu homem.
Bonjour, ma belle femme - Bom dia, minha linda mulher.
Mon Dieu - Meu Deus.
Madame - Senhora.
Au revoir - Adeus.

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