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domingo, 10 de agosto de 2014

Secretary III - Capítulo 8

Universo paralelo
(Músicas do capítulo: Do You Wanna Touch Me? da Joan Jett e Let's Get Ugly do The Wanted. Deixe ambas carregando e coloque para tocar quando um aviso surgir.)



O barulho provocado pelos saltos das botas de Demetria de encontro ao chão alertou a todos - que permaneciam do lado de dentro do estúdio - que ela se aproximava. Enquanto cruzava o corredor, a mulher cantarolava uma música qualquer e vez ou outra parava para comentar algo com os outros três homens que a acompanhavam. Os três vestiam preto, jaquetas de couro. A roupa dela era comportada naquele dia, comparada com outras que gostava de usar. Mesmo assim, a meia calça não conseguia ocultar totalmente a tatuagem de uma corrente de rosas que tinha em sua coxa esquerda. Suas unhas eram pintadas de preto, os olhos fortemente maquiados. Os cabelos totalmente lisos e escuros com alguns pontos mais avermelhados. 
Quando ela enfim adentrou a parte importante do estúdio, sorriu amigável para um dos responsáveis pelo local. Aquele seria, sem sombra de duvidas, um dia muito bom! Finalmente, depois de muitas tentativas, sua banda conseguiu a oportunidade de gravar uma demo. Coisa que, se feita de maneira certa, seria o impulso que os levaria para longe. Para a fama. Demetria não conseguia esconder a felicidade, pois realizava um grande sonho de infância. 
Enquanto esperava os caras arrumarem os instrumentos, ela se sentou em um banquinho de madeira e sacou seu celular. Discou alguns números com pressa, irritada com a falta de responsabilidade de seu namorado. Ele sabia perfeitamente bem que naquele dia a banda dela passaria por uma das fases mais importantes. O que custava estar presente? 
Pega de surpresa, Demetria levantou-se em um pulo e sorriu largo quando percebeu que o dito cujo acabara de chegar ao estúdio. Sem esperar, ela correu e se atirou nos braços dele, beijando-lhe como nunca antes. Observou seus cabelos levemente compridos, a camiseta maltratada, uma jaqueta de couro e calças jeans rasgadas nos joelhos. 
- Até que enfim, Cameron! Eu pensei que fosse me deixar na mão... - ela comentou tristonha. 
- Você sabe que eu nunca te deixo na mão, gata! - ele respondeu, o olhar sempre tão sedutor e largado ao mesmo tempo. Um caso perdido. E seu perfume? Nulo. Apenas o cheiro de uma marca qualquer de cigarros era notado. Demetria animou-se ainda mais quando percebeu que o namorado rebelde tinha lhe trazido companhia. 
- Carter! - gritou, abrindo os braços o máximo que pôde de encontro ao seu meio-irmão. Ele sorriu feliz, a pegando em seus braços e girando a mulher no ar. Os dois eram extremamente grudados. 
Demetria, não me diga que você fez outra tatuagem... - o homem de olhos verdes começou, apontando para as pernas da irmã. Carter era muito, muito conservador. Não necessariamente conservador, mas detestava a ideia de ver sua irmã marcando o corpo daquela maneira. 
- Por que você implica tanto com isso? O Cam adora as minhas tatuagens! - ela voltou a se agarrar com o namorado, cuja mão foi direto ao encontro de suas nádegas. 
- Ei, ei, ei... Vocês dois! - Carter tentou separá-los. Comportava-se como se fosse o irmão mais velho de Demetria, mas na verdade eles tinham praticamente a mesma idade. 
Demetria, está pronta? - um de seus colegas de banda a chamou e ela se distanciou dos dois homens ao seu lado, caminhando animada até uma cabine de vidro. Lá a mágica aconteceria. Lá os sonhos começariam a se tornar realidade. A demo que gravariam era um cover, na verdade, mas seria mais seguro mostrarem seu talento a algumas gravadoras daquele jeito. Demetria tinha várias músicas escritas e com a parte instrumental pronta, mas não se preocupava com isso. Após mandar um beijo no ar, lançar um olhar malicioso para Cameron e rir da expressão de Carter, ela colocou os grandes fones de ouvido e posicionou-se com sua guitarra vermelha de frente para o microfone, verificando se seus colegas de banda tinham algo a acrescentar e se comunicando com eles através de gestos positivos com os dedos. 
Assim que a parte instrumentou teve seu início e o som potente de uma guitarra soou como a mais prazerosa das melodias aos seus ouvidos, Demetria fechou os olhos e começou a cantar no mesmo ritmo. 
(Coloque a primeira música para tocar!)

We've been here too long
Tryin' to get along
Pretendin' that you're oh so shy
I'm a natural ma'am
Doin' all I can
My temperature is runnin' high.


Ela cantou com força nos pulmões, sorrindo para o baixista e o guitarrista que faziam as vozes de apoio. Seus quadris se movimentavam de acordo com as batidas, ela nunca tinha se sentido tão viva! Os dedos habilidosos faziam um belo trabalho no instrumento que segurava. Era algo agressivo, porém extremamente bonito de se ver. 

Cry at night
No one in sight
An' we got so much to share
Talking's fine
If you got the time
But I ain't got the time to spare
Yeah!


Aquela, definitivamente, fora a vida que sempre desejou. Ali, dentro daquele importante estúdio de Nova York, ela não pensava em manter uma vida normal. Não conseguia se ver casada comCameron, e muito menos se tornando mãe. Talvez seu espírito fosse rebelde demais para toda essa normalidade da vida humana. Queria cantar, viajar pelo mundo, atrair multidões. Não era convencida, mas já escutara diversas vozes importantes afirmarem que ela iria longe se lutasse pela causa. 

Do you wanna touch (yeah)
Do you wanna touch (yeah)
Do you wanna touch me there, where
Do you wanna touch (yeah)
Do you wanna touch (yeah)
Do you wanna touch me there, where
There, yeah!

Yeah, oh yeah, oh yeah!


Demetria tinha, sim, medo da fama. Já assistiu diversos astros da música simplesmente destruírem sua vida por simples pressão e depressão. Aquele mundo em que entrava era insano, violento e cruel. Principalmente porque ela não se contentava em ser uma cantora de pop ou gêneros mais saldáveis que o bom e velho rock 'n' roll. Aquela era a escolha... Custe o que custar. 

Every girl an' boy
Needs a little joy
All you do is sit an' stare
Beggin' on my knees
Baby, won't you please
Run your fingers through my hair.

My, my, my
Whiskey and rye
Don't it make you feel so fine
Right or wrong
Don't it turn you on
Can't you see we're wastin' time, yeah!


A cada trecho que cantava, sua garganta parecia mais confortável e sua voz mais impressionante. Seu corpo não parava, ela dançava empolgada, mostrando aos responsáveis que o entrosamento entre vocalista, guitarrista, baixista e baterista era épico. 

Do you wanna touch (yeah)
Do you wanna touch (yeah)
Do you wanna touch me there, where
Do you wanna touch (yeah)
Do you wanna touch (yeah)
Do you wanna touch me there, where
There, yeah!


Fechou os olhos com força, a respiração tão ofegante como nunca antes. Suor se mostrava presente em sua testa, assim como em outras partes do corpo. Sentindo calor, ela sorriu para os aplausos que recebeu e procurou por um cigarro. Estava feito. Restava apenas esperar para ver o resultado. E as gravações não estavam encerradas, pelo contrário, eles gravariam mais algumas músicas. Precisavam apenas de um breve intervalo. 


Os corredores do hospital eram movimentados, assim como em todos os outros dias; não importava a hora ou o dia da semana. Uma rotina estressante para aqueles que assumiram a profissão com tanta dedicação e amor. E, no meio de toda aquela correria, um homem de jaleco branco - assim como o restante de suas roupas -, cabelos penteados de maneira impecável para trás e com um perfume irresistível transitava com os olhos atentos. Joseph precisava ter muito cuidado, os olhos verdes intensos procuravam atentos por qualquer detalhe importante, qualquer emergência e, principalmente: qualquer mísera ordem. Finalmente havia conseguido seu diploma, formando-se em medicina. O seu sonho de infância. Após decidir que preferia seguir a carreira nos Estados Unidos, ele rapidamente mudou-se para Nova York e não demorou até se tornar residente em um bom hospital da região. Quase não tinha tempo para nada, dificilmente procurava por diversão, até mesmo durante as raríssimas folgas, mas estava de bom tamanho para ele. Era o que tanto queria. 
Doutor! Hey, Doutor Joseph! - uma enfermeira veio correndo, na tentativa de alcançá-lo. 
- Sim? - perguntou, se preparando para a loucura que começaria em instantes. 
- Andar 4, paciente com possíveis sinais de uma grave intoxicação alimentar... E o Doutor Albert quer vê-lo depois, mas não disse sobre o que se trata. - um pouco confuso, Joseph concordou com a cabeça e respirou fundo, entrando de supetão no primeiro elevador que encontrou. Era hora de salvar vidas, pensou ele. Não podia perder tempo.

Ainda era cedo, principalmente quando ele chegava a conclusão de que seu plantão duraria exaustantes quarenta e oito horas. Conformado, ele mordeu de qualquer jeito o sanduíche, a primeira refeição que teve tempo de fazer naquele dia além dos vários copos de café frio. Percebeu que conhecia uma moça loira que se aproximava. Ela apertou o passo e sorriu feliz quando o encontrou. Ele jogou o resto de seu lanche em uma lixeira e recebeu um abraço rápido de Erin Fields. Seus cabelos agora eram longos, um loiro mais vivo. Não usava mais óculos e se vestia como uma mulher elegante, de certo modo. Usava uma saia de pano leve e florida, uma simples blusa rosada sem mangas e uma sapatilha nos pés. Tornou-se uma professora. 
- Até que enfim, Joe! - ela brincou, feliz por finalmente ter um momentinho com ele. - Essa profissão te sugou completamente para fora do mundo! Sinto falta de quando saíamos juntos para fazer absolutamente nada. 
- Eu sei, eu sei... Mas veja bem, Erin... - ele fez gestos com as mãos que indicavam o hospital. - Isso aqui é a minha vida agora. E eu amo! 
- Pois é. E somente por causa disso tudo ser um grande sonho de infância, que irei te perdoar. 
- Você me ama. - Joseph zombou, rindo em seguida. Os dois riram. Erin era apaixonada por ele, tentava de qualquer maneira conseguir ter algo a mais com o médico, mas ele não permitia. Não queria magoá-la, pois nunca conseguiria vê-la de fato como uma mulher para amar daquele jeito. 
- Você é quem me ama, bonitinho! - brincou com o estetoscópio pendurado no pescoço dele, mordendo o lábio inferior. - Vamos nos casar ainda, anote isso. 
Ele pensou em responder, mas já estava sendo chamado outra vez. Despediu-se apressado de Erin e correu, sumindo pelos vários corredores brancos. 


Uma mulher de saltos impressionantemente altos caminhava de um lado para o outro da calçada, enquanto falava desesperadamente no celular. Seus olhos eram cobertos por óculos escuros caros e os cabelos eram segurados apenas por uma tiara da mesma cor de sua blusa roxa. Usava uma saia de tecido preto e meia-calça também preta. Agarrava uma bolsa como se a mesma fosse a responsável por sua vida. Ela encostou-se ao próprio carro devidamente estacionado e fitou com os olhos aflitos as vitrines das lojas ao redor. Em certo momento, simplesmente fechou os olhos e respirou fundo. Sentir o ar de Nova York era o melhor calmante do mundo! 
- Ok, Tessa, ok! Mas, pelo amor de Deus, faça-me um favor: jogue tudo que você tem da Chanel fora, principalmente aquele vestido que até mesmo a minha falecida avó se recusaria a usar. - falava alto, sem parar, atraindo a atenção das pessoas ao redor. Uma das mãos gesticulava. - Não me peça para ficar calma, querida. Eu tenho quase certeza de que o Evan vai me pedir em noivado... Lembra daquela caixinha da Tiffany's que encontrei dentro da maleta dele? Pois então! - retirou os óculos, rolando os olhos. - Marc Jacobs, é claro, tem uma loja aqui ao lado, já vou dar um jeito nisso! A propósito, não pense em usar nada Gucci ou Prada, as gêmeas do Bradford devem ganhar tickets de desconto nessas lojas, porque é somente o que usam! - ela gargalhou com desdém. - Sem pânico, amiga, falo com você mais tarde. Tchau! 
Finalizando a chamada, ela apenas teve tempo de respirar mais uma vez quando o barulho alto de algo se chocando contra seu carro surgiu. Arregalando os olhos e deixando sua bolsa cair no meio da calçada, ela encolheu o corpo e olhou abestalhada para uma mulher loira que dirigia o outro veículo que acabara com a traseira do seu. 
- Qual é o seu problema, sua maluca? - esbravejou. 
Um executivo enfurecido saiu de dentro de um dos inúmeros taxis amarelos e gritou pelo polícia, apontando diversas vezes para aquele carro. 
Para a felicidade e infelicidade de todos eles, um carro de polícia logo se aproximou. De dentro, um homem alto e magro surgiu, não dando a oportunidade de ninguém fitar seus olhos, pois os cobria com óculos escuros. Vestia um sobretudo preto e parecia imponente ao extremo, frio de maneira que não sorria nem para uma adorável criança. 
- Vai ficar olhando? Essa mulher roubou o meu carro! - o executivo colocou-se a frente do policial, que o olhava indiferente e fez uma breve pausa para acender um cigarro. Assim que foi até a porta do carro roubado, obrigou a loira a sair dali. Ela usava um gorro velho na cabeça, e suas vestes lembravam as de um morador de rua. Como teve coragem de roubar um carro, sendo que se mostrava tão frágil diante de um policial? 
- Qual é o seu nome? Anda, diz logo! - ele a obrigou a permanecer encostada em sua viatura, procurando suas algemas na mesmo instante. A morena pegou sua bolsa do chão e trocou um olhar tedioso com o loiro. 
- Cassie... Cassie Smith. - a ladra respondeu com os lábios trêmulos, lágrimas caindo dos olhos. - Mas esse infeliz quase me atropelou e ainda ficou me xingando enquanto eu tentava sair da frente dessa droga de carro! 
- E só por isso você roubou o veículo? Interessante. 
- Escute, policial... - a outra mulher se manifestou, erguendo um dedo. - Policial...? - queria saber seu nome. 
- Caleb. 
- Certo, policial Caleb, me diga uma coisa: COMO É QUE EU VOU FAZER O QUE TENHO QUE FAZER COM O MEU CARRO NESSE ESTADO? - gritou, assustando o loiro que voltou a se intrometer. 
- Cale a boca você, eu estou perdendo uma reunião importantíssima, sabia? 
- Quem é você para me mandar calar a boca? 
O policial Caleb colocou-se ao lado dos dois, que se entreolharam e depois diminuíram o tom de suas vozes. 
- Que maravilha, parece que hoje vou prender três. Digam-me seus nomes, jovens. 
- Karlie Russell. - a mulher respondeu indiferente, notando em seguida o que estava prestes a acontecer e recuando um pouco. Olhava de certo modo apavorada para o policial. - Você vai me prender? - repentinamente os olhos lacrimejaram. - Não faça isso, por favor, estou prestes a receber um pedido de noivado! 
- Jared McDowell... Mas que diferença isso faz? - o homem loiro, por sua vez, apenas respondeu ao desabafo de Karlie com um rolar de olhos e ajeitou a gravata preta que fazia parte de seu visual tão elegante. 
Quando Caleb pensou em responder, Cassie aproveitou a distração de todos para fugir. Após quase ser atropelada novamente, ela sumiu por entre o transito caótico, fazendo com que o policial deixasse as outras duas pessoas de lado e entrasse as pressas em seu carro, disparando a sirene. 
Karlie e Jared bufaram e, ambos sem carro, saíram caminhando para lados opostos. 


Demetria comemorava por finalmente ter finalizado a gravações das músicas. Depois que passou um tempo bebendo e conversando despreocupadamente com sua banda, irmão e namorado, voltou correndo para seu apartamento bagunçado no Brooklyn, juntamente com Carter, que se ofereceu para ajudá-la com a mudança que ainda tentava organizar. Ninguém poderia contar com Cameron para atividades como aquela. 
Enquanto tentava organizar seus discos de vinil em uma estante alta de metal, manteve o corpo equilibrado em uma brilha de livros velhos e grossos. A poeira irritava seu olfato, estava prestes a sair gritando de raiva pelos cômodos. Como era possível uma futura estrela do rock viver naquela bagunça? 
Totalmente irritada, ela deu um passo em falso e acabou deixando seu corpo desabar, caindo de um jeito desajeitado no chão. Pior foi perceber que uma dor intensa se instalou em seu pé. E só piorava, piorava cada vez mais. Ela gritou de dor, chamando pelo irmão. Lágrimas começaram a se formar em seus olhos. 
- Eu quebrei, Carter, eu quebrei... Dói muito! - ela resmungou encostando a cabeça no ombro dele, que a olhava preocupado. 
- Vem, irmãzinha, vamos para um hospital. Mas que droga! - xingando sua própria memória por não se lembrar onde tinha deixado as chaves do carro, pegou Demetria em seus braços e se ergueu, dizendo a ela que logo a dor passaria. A mulher mais parecia uma criança quando ralava o joelho ou coisa parecida. 
Finalmente encontrando as chaves do carro, ele desceu com ela ainda em seu colo pelo elevador e caminhou com pressa até o carro. Como acidentes como aqueles podem acontecer de maneira tão repentina? Carter dirigiu rápido até o hospital, lembrando que só conhecia um que ficava próximo da gravadora em que estavam mais cedo. Não gostava de dirigir em alta velocidade, nem de ultrapassar sinais vermelhos, mas sua irmã parecia ficar mais inquieta a cada instante que se passava. 
Passando pela parte da emergência, Carter pediu em voz alta por ajuda. Um médico que circulava por um corredor próximo veio e rapidamente pegou uma cadeira de rodas em um dos cantos. 
- Não consegue mesmo andar? - Demetria o olhou incrédula e largou o corpo na cadeira, sendo levada para o consultório mais próximo. 
- Mas é claro que consigo! Vou até fazer uma dança sensual para você. - Carter a repreendeu com o olhar pela falta de educação. Chegando a um consultório, a mulher rapidamente foi colocada sobre uma maca e o médico logo retornou. Seu semblante era cansado, conseqüência de quase vinte e quatro horas sem praticamente nenhum descanso. 
- Qual é o seu nome? - deixando esse cansaço de lado e totalmente dedicado ao seu trabalho, ele quis saber, já examinando toda a extensão da perna dela. Segurou e apertou com cuidado o tornozelo de Demetria, que soltou um gemido profundo de dor. Ele tentava comprovar se o osso estava de fato quebrado, ou não. 
- Meu nome é Demetria com dor... Demetria com muita, muita dor! 
- Muito prazer, Demetria com muita dor, meu nome é Joseph que vai curar sua dor. - ele sorriu de qualquer jeito e voltou a examiná-la. 
- Você está me cantando? 
- É claro que não! - Joseph foi até uma mesa e retirou dali uma receita médica e uma caneta, anotando algo na velocidade da luz. Pediu um momento e saiu da sala outra vez, voltando cerca de cinco minutos depois com uma tala própria para aquele tipo de torção. Após colocá-la devidamente no local, sem querer acabou deixando que seus dedos acidentalmente acariciassem uma parte da perna dela, que o olhou com as sobrancelhas erguidas. Procurou desconversar e afastar-se um pouco, é claro. - Nenhum osso quebrado aparentemente, só uma torção. Mas vou pedir que você vá até a área de raio-X e faça uma radiografia da região de seu tornozelo. Depois tome um desses comprimidos de 8 em 8 horas... - entregou para ela um frasquinho alaranjado com vários comprimidos pequenos dentro, juntamente com uma receita médica e um papel solicitando a radiografia. - E essa solução local receitada é recomendável que use o mais rápido que puder. Vai desaparecer com a sua dor, Demetria. 
- Só isso? - a testa de Demetria se enrugou, ela soltou um risinho irônico e piscou os olhos de maneira rápida. Joseph não quis olhar muito para aquele rosto, por razões óbvias. Bem, pelo menos eram bem óbvias em sua mente. Era um médico, sim... Mas continuava a ser um homem. 
- Sim, só isso. - Joseph segurou uma de suas mãos e, surpreendendo totalmente a mulher, a pegou em seu colo. O perfume dele era tão maravilhoso, que ela se sentiu tonta. Tão tonta que quase desmaiou de verdade. Apoiou a cabeça em seu ombro e segundos depois deixou que o olhar dos dois se encontrasse. Quando foi sentada novamente em uma cadeira de rodas, procurou com os olhos pelo irmão. 
- Doutor! - ela chamou por Joseph. - Obrigada por... Quase nada. - coçou a nuca. - Até nunca mais. - disse-lhe, virando as rodas sozinha para enfim conseguir mudar de direção. 
- Até nunca mais para você também. - ele simplesmente respondeu, dando um sorrisinho de canto ao voltar para o seu trabalho. 


1 mês depois...

Mais badalados que os dias de Nova York, certamente eram as noites de Nova York. O trânsito como sempre quilométrico, a beleza da Times Square presenteando qualquer um que quisesse apenas olhar. A mistura de todas aquelas pessoas completamente diferentes uma das outras reinava por qualquer mísero canto, até mesmo dentro dos becos escondidos por trás do luxo de tudo aquilo. A mulher de passos provocantes cruzou toda a longa fila de uma boate, deixando que um dos responsáveis pelos nomes na lista de assinaturas enxergasse apenas o seu rosto, a deixando passar segundos depois. Aquele era apenas um dos muitos privilégios de ser quase, bem quase, uma cantora famosa.
Demetria sentiu seu sangue ser bombeado com mais afinco quando contemplou toda a parte interior da boate. Seus olhos brilhavam mais de todas aquelas luzes, seu corpo clamava por uma bebida, uma dança e alguém para simplesmente se divertir. A roupa de certo modo ousada que moldava seu corpo era notada frequentemente pelos olhos de diversos seres do sexo masculino, até mesmo aqueles que já possuíam dona. Demetria dirigiu-se até o bar e pediu ao barman uma vodka tônica. Sentando-se em um dos bancos de madeira para esperar, ela virou-se para a multidão na pista e parecia procurar por algo interessante. Tinha a sensação de que algo muito bom estava para acontecer... Muito, muito bom.
O tempo passou, a lotação na boate era evidente, e a única coisa que mudava na vida daquela mulher era a quantidade de bebidas que pedia ao barman. Olhando distraída para o sapato preto em seu pé direito, ela notou alguém sentar ao seu lado. Reconheceu o perfume.
Manteve alguns segundos de pura indiferença, apenas para não parecer uma desesperada e então encarou o homem ao seu lado. Era ele! O doutor... Ela se esforçava para conseguir lembrar seu nome. Então, brincando com a própria sorte, prendeu o canudo vermelho de sua bebida com os dentes e sugou um pouco do líquido, apenas para molhar a garganta e se preparar para falar.
- E aí, Doutor! - disse alto devido a música ainda mais alta. Joseph a olhou de qualquer jeito e depois procurou por algo em seu rosto. Pacientes demais para lidar; era um tremendo sacrifício conseguir lembrar perfeitamente do rosto de algum em especial. - Que triste, você não se lembra de mim. - a mulher fez um bico fingido.
- Espere, espere... Você é aquela rebelde que torceu o tornozelo? - ele arriscou, arrancando um sorriso dos lábios perfeitamente pintados de batom de Demetria.
- Memória excelente! - finalizou sua bebida. - Mas me explique uma coisa... Como um médico consegue ter tempo para frequentar uma boate?
- Boa pergunta, não? Queria saber respondê-la. - Joseph pegou seu simples whisky puro e deu um gole, olhando para qualquer região com os olhos verdes distraídos. Demetria gostava de ficar encarando aquela criatura. Tinha algo de muito misterioso e instigante ali, ela só não sabia dizer o quê. - Digamos que eu lembrei que ainda tenho atividade cerebral, ar nos pulmões e batimentos cardíacos. Resumindo: ainda estou vivo e vou enlouquecer se passar mais 24 horas naquele hospital. Felizmente consegui essa folga.
- Você esqueceu-se de mencionar que ainda tem ereção... Ou será que não tem? - ela gargalhou.
- Cuidado com as palavras, mulher, muito cuidado! - ele avisou com um tom de voz totalmente rouco, capaz de deixar qualquer mulher do planeta desconcertada.
- Parabéns para o Doutor, ele tem ereção! - Demetria provocou batendo palminhas, erguendo seu copo vazio e fingindo propor um brinde. - Mas vai aproveitar todos os seus ótimos sinais vitais sozinho?
- Você realmente acha que um médico pode se dedicar a um relacionamento? Sendo ele sério ou não?
- Acho. - respondeu sincera. - Sempre achei excitante a ideia de namorar um médico. Não sei... Ele conhece todo o corpo humano, certo?
- Obviamente.
- Sabe trabalhar bem com as mãos, consegue encontrar as zonas erógenas de uma mulher até mesmo de olhos fechados.
Joseph ergueu apenas uma de suas sobrancelhas e deixou um sorrisinho de canto surgir. Demetria fingia-se de inocente, evitando olhá-lo nos olhos.
- Então você acha que médicos são bons de sexo? - riu de sua própria dedução.
- Não sei... Nunca estive com um.
- Mas um namorado não-médico você tem, aposto! - o homem comentou tristemente, olhando para os lados como se procurasse o namorado de Demetria. Ela era bonita demais para estar solteira. Seria um pecado uma mulher como aquela solteira. Um pecado que ele adoraria presenciar, é claro.
- Hm... Não. Terminei com o meu há algumas semanas. Sabe quando você não aguenta mais olhar para a cara de uma pessoa?
- Sei. Pior é quando você até gosta de olhar, mas se acostuma tanto com isso que faz de tudo para ficar longe, talvez na esperança de conseguir sentir falta. Mas, infelizmente, não sente.
- Está falando de alguma namorada?
- Não, ela nunca seria minha namorada. Digo, ela gosta de mim, deixa isso sempre bem claro... Mas não vejo motivos para querer tê-la. Para despertar o meu interesse, uma mulher precisa saber fascinar, me deixar desnorteado.
- Acredite se quiser, essa é a conversa mais agradável que tenho em semanas. - Demetria torceu os lábios e controlou a vontade de pedir algum drink.
- Essa é a primeira conversa de verdade que tenho em semanas.
- Deve ser muito bom salvar vidas... Você tem sorte. Agora, se existe uma profissão que eu não aceitaria exercer por nada no mundo, é a de secretária!
- Por quê? Secretárias são gostosas... Às vezes. - ela sentiu liberdade para dar um tapa em seu braço coberto pela camisa social vermelha cujas mangas permaneciam dobradas até a altura de seus cotovelos. Vestia também uma simples calça jeans escura e sapatos convencionais. Ele era lindo!
- Mais respeito, você não está falando com o cara que dividiu o quarto durante a faculdade, meu amor.
O fato de ambos não lembrarem os nomes um do outro não importava, porque a conversa fluía tão naturalmente, que chegava a ser estranho. Por vezes trocavam olhares que mais funcionavam como algum tipo de comunicação mental. Como se realmente tivessem trocado mais experiências juntos do que apenas o maçante dia no hospital em que Joseph trabalhava.
- Ei, vamos dançar! - ele se colocou de pé assim que a música mudou.
- Não vou dançar com um cara que desconheço o nome.
- Olá, meu nome é Joseph Jonas. Sou um médico... Residente, digamos assim. Meu fraco são mulheres vestidas de vermelho... Mas te perdôo por usar preto, apenas dessa vez. E, se você não dançar comigo, vai se arrepender disso pelo resto da vida.
- Olá, meu nome é Demetria Lovato. Sou a vocalista de uma banda prestes a atingir o sucesso, digamos assim. Meu fraco são homens que tentam impressionar mulheres ao dizer coisas como as que você acabou de dizer. - Demetria mordeu o lábio inferior e deixou que ele a conduzisse até a pista de dança.

(Coloque a segunda música para tocar!)
Os dois se separaram; Demetria já começava a movimentar os quadris, segurar os próprios cabelos e fechar os olhos para aproveitar melhor a música. Joseph, por sua vez, permanecia incerto do que fazer, já que nunca fora muito bom em pistas de dança. Demetria foi se aproximando os poucos, erguendo os braços no ar e dando uma volta com seu corpo. Joseph olhou interessado para uma tatuagem de borboleta que surgiu no final de suas costas quando sua blusa se ergueu juntamente com o resto de seu tronco. Ainda de costas para ele, ela virou apenas o pescoço e lhe mandou uma piscadela, deslizando uma das mãos pela própria cintura. Determinado a tocá-la, ele tomou a decisão de chegar mais perto, estendendo suas mãos como um pedido desesperado para tocar aquela cintura. Demetria não estava com vontade de se fazer de difícil, queria curar certas mágoas de sua vida. E que jeito melhor para conseguir isso senão dançando com um homem tão bonito e sedutor como ele?
Demetria segurou as duas mãos de Joseph e deixou que elas abraçassem sua cintura, aproximando totalmente os corpos dos dois. Segurou um dos braços dele e continuou a movimentar o corpo do jeito que sabia, deixando a música entrar por seus ouvidos e relaxar seus músculos, levar embora sua timidez.

Will the angel or the devil
Die in ecstasy
There's something coming over you, come over me
Falling in love is never easy
'Cause they're so good, I'm so bad, so let's get ugly.


- Medo de me tocar como se deve, Doutor? - ela provocou ao notar que ele parecia receoso em aprofundar o contato. Ele a deixaria provocá-lo o quanto quisesse. Mas somente para ter a oportunidade de dar o troco depois. Mais tarde.
- Sabe o que eu acho? Que em outra vida você foi loucamente apaixonada por mim. - soprou próximo de seus lábios, provocando arrepios que começaram na nuca e desceram por toda a espinha deDemetria.
- Então você deveria ter aproveitado melhor nessa tal outra vida, Joseph. - afastando as mãos dele de si, ela virou o corpo e chocou suas costas contra o peito dele, dobrando lentamente seus joelhos e levando o corpo para baixo, roçando-se completamente nele. Subindo novamente em seguida, ela se afastou novamente e dançou com mais vontade. Ele a seguiu, dessa vez prendendo o corpo dela contra o seu da maneira que quis. Os narizes se grudaram, as bocas ansiavam pelo momento que lutariam, o momento em que os lábios deslizariam um pelo outro. O momento em que as línguas juntas levariam o resto do mundo embora.
- Demetria, Demetria... Você deveria saber que é perigoso provocar quem não conhece. - avisou em um sussurro próximo de seu ouvido, feliz ao notar o arrepio que fora instantâneo.
- Você entende de corações também, não é? - ele apenas concordou, acompanhando com os olhos o movimento que o quadril dela fazia de um lado para o outro. - O meu está batendo tão forte!
- Geralmente médicos amenizam problemas, mas hoje eu irei agravar o seu.
Sem paciência para atrasar ainda mais aquele momento, a puxou para um beijo cheio de fogo. Ela agarrou os cabelos de sua nuca com toda a força, enquanto ele parecia querer fundir os dois corpos. O gosto do beijo dela era diferente de tudo que ele já tinha provado. O gosto do beijo dele era viciante demais para ela querer largar.
Os dois, completamente sem fôlego, afastaram as bocas e agarraram-se um ao outro, trocando olhares mais do que furtivos.
- Banheiro? - foi tudo que ela perguntou, se sentindo excitada ao extremo. Joseph concordou com um aceno de cabeça bem sacana, segurando o lábio inferior com os dentes impecavelmente brancos. - Tem certeza que isso vai dar certo, Doutor?
- Eu sou médico, sei lidar com qualquer situação. Confie em mim.
Aos risinhos, os dois sumiram pela pista de dança, isolando-se de toda aquela gente. 

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