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terça-feira, 5 de agosto de 2014

Secretary III - Capítulo 7

Oportunidades
(Músicas do capítulo: All We Ever Do Is Say Goodbye do John Mayer e Rumour Has It da Adele. Deixe ambas carregando e coloque para tocar quando cada uma de suas letras surgir.)



Uma luz intensa e brilhante pairou sobre mim. Levantei o rosto para poder observá-la melhor e desviei o olhar, sentindo que meus dedos apertavam com força um microfone negro preso a um pedestal. Um pouco insegura, senti os pêlos de meus braços descobertos se arrepiarem quando aplausos que surgiram de todas as direções invadiram minha audição sem piedade. Ergui os olhos, sentindo o perfume delicado e agradável que emanava do meu cabelo feito em um penteado elegante, com ondulações e mais curto do que realmente era. Bem mais curto. O vestido preto também foi notado por mim, e talvez isso tenha contribuído para que mais e mais daquela multidão a minha frente clamasse pela minha voz. Era o que eles pediam enfurecidamente.
"Cante para nós, cante!"
Sem saída e com o coração acelerado, atendi o desejo deles. Abri a boca e uma voz melodiosa e extremamente afinada escapou pelos meus lábios. Homens e mulheres vestidos elegantemente observavam maravilhados minha simples performance, sentados nas inúmeras poltronas de um vermelho gritante. Pronta para ousar, arrisquei um passo para o lado e levei o pedestal comigo, sentindo os saltos finos de encontro a madeira que revestia o palco. Cortinas também vermelhas estavam amarradas nas laterais e as luzes continuaram sobre mim.

Hope you don't mind
I hope you don't mind
That I put down in words
How wonderful life is
Now you're in the world.


Uma felicidade imensa dominou meu interior quando, ao finalizar a bonita canção, todos se levantaram extasiados para aplaudir. O som era tão alto e poderoso que tive que sorrir sem jeito e balançar as mãos para que parassem, ou eu acabaria tendo uma tontura e caindo no chão. Arruinando tudo.
Quando todos se sentaram, olhei para o centro do corredor que dividia os dois lados da platéia. Ao longe, bem ao fundo, um homem estava parado, de pé. Não tinha me aplaudido, tampouco fazia questão de sorrir ou demonstrar algum sentimento. Era o único sem felicidade estampada em seu bonito rosto. Ele apenas me olhava nos olhos, mais sério do que eu me lembrava jamais tê-lo visto. Joseph começou a dar passos rápidos, violentos. Sua testa levemente enrugada, os olhos verdes de uma intensidade sufocante. Toda a sua roupa era preta, e o cabelo era todo penteado para trás. Os arrepios voltaram a tomar conta do meu corpo.
E então, tudo perdeu sua cor. Estávamos todos em um angustiante preto e branco.
Uma música tristonha tocada em um piano surgiu, atraindo consigo uma mulher que correu atrás de Joseph e o segurou com firmeza por um de seus braços. Rapidamente ele se virou para olhá-la. Bastou um piscar de olhos para que os dois surgissem ao meu lado no palco.
- Agora estou feliz, meu querido. Mais feliz do que nunca, porque você finalmente é meu.
- Apenas seu, Valerie.
Ao reconhecer aquele rosto feminino, tive apenas tempo de sentir um aperto de desgosto no peito. Os lábios dos dois se juntaram e um beijo apaixonado se iniciou. Os holofotes me abandonaram, dando importância apenas ao casal que mais me apavorava ver. Um choro da mais profunda tristeza e humilhação se formou em minha garganta, o preto e branco dando aquele ar tão melancólico. Eu me sentia a vítima em um daqueles filmes antigos que mamãe adorava assistir quando eu era bem mais nova.
De repente, o microfone que eu ainda segurava transformou-se em um revolver. Era a única coisa que parecia ter vida e reluzia no meio de tudo aquilo.
Assim que a platéia parou de aplaudir, os olhares se voltaram para mim novamente. Eu era a estrela novamente. Não apenas uma estrela, mas também uma... Assassina.
E como eu descobri isso? Provavelmente quando pingos quentes do sangue de Joseph se chocaram contra o meu rosto, juntamente com o som de um grito estridente daquela que ele passou a chamar de sua. Mas ele morreria antes de pensar em ter outra como a dona de seu insolente coração... E de fato ele estava morto.
Deliciei-me com a cena, voltando-me para a platéia e estendendo minhas mãos vermelhas de sangue, oferecendo-lhes uma educada reverência em forma de agradecimento.
Aplausos mais eufóricos do que nunca me fizeram gargalhar como a mais insana das mulheres.
 

Despertei aos gritos, com suor presente na testa. O coração tão acelerado que cada mísera batida doía em meu peito. O corpo inteiro tremendo. Talvez por frio, talvez por medo. Ou pelos dois. O amanhecer ainda estava em seu caminho, percebi quando olhei para a janela de vidro coberta por cortinas claras e nenhuma luz foi identificada. Ergui um pouco meu corpo, ainda atordoada demais com aquele pesadelo, e olhei para o chão a minha volta. O tecido vermelho permanecia espalhado, tão morto como da última vez que eu o vi. Ergui um pouco a cabeça e percebi que a televisão estava desligada... 
Mas eu não me lembrava de ter desligado a televisão. 
Voltei a largar meu corpo trêmulo na cama e soltei um longo suspiro, abrindo os dois braços para tomar completamente a cama vazia. Porém, senti meu braço se chocar com alguma coisa que, definitivamente, não era o colchão ou travesseiro. Olhei abismada para o lado e tive que erguer meu tronco novamente, em choque. Um homem dormia tranquilamente ao meu lado, seu sono não sofreu em nada com os meus gritos desesperados. Tão típico dele. 
Joseph estava deitado ao meu lado. Os cabelos bagunçados, a expressão infantil que se formava em seu rosto apenas enquanto dormia, o peito que subia e descia suavemente e o tom rosada em sua pele. Eu poderia ficar maravilhada com o presente que meus olhos receberam, mas não fazia sentido algum! Ele me deixou na noite anterior, ele disse que estava indo seja lá para onde fosse com aquela mulher. Então, deveria ser um sonho. Sim, eu tinha aquela habilidade de ficar correndo de um sonho para o outro quando algum deles não me agradava. 
Quando o corpo de Joseph se mexeu, eu encolhi o meu e me coloquei para fora da cama, ainda olhando estranhamente para ele. Abaixei-me rapidamente para pegar os retalhos do vestido e fiquei andando de um lado para o outro do quarto. Sonhos não duram tanto assim. 
Por fim, ele resolveu acordar. 
Permaneci estática em um dos lados de nosso quarto, apenas esperando que ele me notasse e começasse a se explicar. Mas ele era lento demais até estar completamente acordado. Seus olhos se abriam e se fechavam algumas vezes, até que por fim ele ergueu um pouco seu tronco e me olhou sem muita emoção. Assim que seus olhos desceram pelo meu corpo e observaram o vestido vermelho, o semblante triste apresentou-se. 
- Por favor, me diga que você comprou um cão de grande porte e ele estraçalhou esse vestido. - era uma péssima combinação de palavras, mas foi o que saiu pelos meus lábios antes que eu pudesse impedir. A felicidade por estar vendo ele novamente travava uma luta impactante com a raiva por saber que ele brincava comigo do jeito que bem queria. Dizia o que queria dizer, ia embora e... Surgia como se nada tivesse acontecido em nossa cama. 
Desgraçado! 
Demi... - Joseph sentou-se na cama e esfregou os olhos, provavelmente pensando no que dizer. 
- Tudo aquilo realmente aconteceu, certo? 
- Primeiro de tudo, Demetria, saiba de uma coisa: eu não te traí. - ele afirmou com convicção, ficando de pé. Logo tentava se aproximar de mim, e eu nada fiz. Nem coragem de falar alguma coisa estava conseguindo ter. 
- Como é que eu vou saber se é verdade ou não? - questionei, os olhos ainda secos. Quando eu finalmente conseguiria chorar? Talvez aquela sensação de agonia em meu peito aliviasse. 
- Onde está a confiança que tem em mim? - as imagens da noite anterior chegavam juntamente com suas palavras. Joseph, mesmo depois de tudo, ainda queria ser o dono da razão. Provavelmente me chamaria de impulsiva, diria que eu não tinha motivos para ficar na defensiva durante aquela conversa. Mas, como eu me lembrava bem de ter prometido a mim mesma na noite anterior, eu não deixaria que ele me dominasse novamente. Não por enquanto. 
- Como eu posso ter confiança em um homem que me abandona e abandona os filhos no meio da noite? - elevei um pouco minha voz e larguei o vestido no chão novamente. Não conseguiríamos manter o nível pacífico daquela conversa, era evidente. 
- Eu posso te contar tudo ou você vai me interromper? 
- Contar o quê? - desanimada, cruzei os braços e esperei. 
- Vou contar por que fiz aquilo ontem, e o que eu consegui com isso. 
- Estou ouvindo. 

Flashback
(Narrativa em terceira pessoa.)

Joseph estacionou o carro em frente a uma luxuosa casa. Sabia que tinha acabado de cometer uma terrível burrada, mas não tinha mais jeito de voltar atrás, então seria melhor prosseguir com o plano. Sem dizer nada, ele seguiu Valerie pelo jardim, até que por fim os dois entraram na casa até então escura. Ela lhe disse para ficar a vontade e foi subindo as escadas, chamando Joseph quando percebeu que ele não demonstrava interesse algum em realizar aquele percurso. 
Mas o homem logo fingiu estar animado e começou a subir os degraus, repassando diversas coisas em sua mente. Quando chegaram a um quarto enorme, Valerie desabotoou os primeiros botões do blazer preto que usava, indo até uma escrivaninha de madeira escura. Retirou de lá uma pasta preta e a colocou nas mãos de Joseph, que analisou os papéis e documentos por um instante. 
Bingo. 
Algumas das coisas que precisava para salvar sua empresa e sua família estavam ali. Um endereço chamou sua atenção, e a vontade de pegar um avião naquele exato momento para Nova York falou tão alto que ele sorriu. Deixando que a mulher notasse aquele sorriso. Animando-se completamente, ela retirou a pasta das mãos do homem e deslizou suas mãos pelos ombros dele, correndo pelos seus braços até chegar em suas mãos, segurando-as. A pouca iluminação do quarto permitia que Valerie enxergasse de uma maneira muito sedutora o rosto de Joseph, que no momento era coberto por uma malícia desconhecida. Afastando-se, a mulher abriu o restante dos botões do blazer e por fim o tirou, o colocando para fazer companhia ao chão. Joseph fitou seu busto coberto apenas por um sutiã também na cor preta e subiu o olhar, fitando os olhos da mulher que só faltava se jogar em seus braços. 
- Bom, agora que você tem o que quer... Seja bonzinho e me dê a recompensa. 
O pulso de Joseph acelerou ao pensar em Demetria, pensar nas palavras duras que ela lhe disse mais cedo. Um sorriso ainda mais tentador repuxou pelos seus lábios novamente, deixando Valerie nas alturas. Ela ansiava pelo seu toque, desejava muito aquele homem. Joseph brincou com os botões de sua camisa de maneira lenta, dando passos vagarosos e erguendo uma das sobrancelhas. A mulher recuava, ficando cada vez mais próxima da cama. O quarto pegava fogo. 
Fogo repleto do mais puro ódio. 
O homem aumentou a intensidade de seus passos até conseguir segurar os dois braços de Valerie e empurrá-la na cama com violência. Sem esperar por nada mais, colocou seu corpo por cima do dela, sentindo os pontos nus de sua pele. Ela soltou um gemido, seguido por um sorrisinho de canto. Os lábios se prepararam para um beijo que começaria em segundos, porém... 
Me escute muito bem, sua vadia... - Joseph rosnou próximo de seu ouvido, apoiando as duas mãos na cama para finalmente conseguir se livrar daquele contato corporal. A intensidade que os olhosverdes transmitiam chegava a assustar uma Valerie que não sabia o que fazer. - Não pense nem por um segundo que você tem algum tipo de controle sobre mim. Não pense que vai me ameaçar e então eu vou correr para cumprir qualquer mísera ordem sua. - apertou um dos pulsos dela com força, percebendo que a imagem de Demetria e de seus filhos era a única coisa em sua mente. Fazia tudo aquilo por eles. - Ótimo saber que você se lembra do homem desprezível que fui há alguns anos... Pois você acabou de despertá-lo. Então, um conselho: fique longe da minha família. Se vocêtentar acabar comigo... Eu acabo com você. 
Ao finalizar aquelas palavras, Joseph instantaneamente saiu de cima dela e tomou o máximo de distância que pôde da cama. Arrumou suas roupas e segurou a pasta preta com força. Valerie levantou-se ofegante, a raiva nunca fez tanta parte de seu corpo magro como naquele momento. 
- Seu... Seu desgraçado... Eu vou acabar com a sua vida! 
- Boa sorte! Se quer comprar uma guerra, podemos acertar o valor agora mesmo. E só mais uma coisa: diga ao Arthur que em breve ele vai se ajoelhar e me pedir perdão. 
Joseph, aquele de anos atrás, aquele que sempre conseguia o que queria e a qualquer custo, saiu pela porta. Tinha apenas um destino em mente: sua casa. 
Valerie fora enganada, tola em acreditar que conseguiria uma noite de prazeres com aquele homem. Amaldiçoou sua capacidade de ser tão fiel a Demetria, de fazer qualquer coisa por ela. Mas não estava terminado... Uma guerra foi comprada, seu valor era altíssimo, um investimento que afetaria a vida de muitas pessoas. Talvez ela não soubesse com quem estava lidando, mas ele também não sabia. 

Aliviado por finalmente colocar os pés no único lugar do mundo que já foi capaz de chamar de lar, ele subiu silenciosamente as escadas. Temia a reação que sua Demetria poderia ter, torcia para ela simplesmente estar dormindo. Então, querendo evitar esse momento, dirigiu-se até os quartos de seus filhos. Desculpou-se com os dois, mesmo que estivessem perdidos demais no mundo dos sonhos para ouvir. E quando chegou ao quarto que dividia com sua mulher, tudo que encontrou fora uma Demetria adormecida. O corpo da mulher jogado na cama, ela nem mesmo se deu ao trabalho de cobri-lo. Ainda vestia a mesma roupa de antes, mas os cabelos foram soltos, alguns fios caíam pelo seu rosto. Joseph fitou também a televisão ligada, aproximando-se para desligá-la. Quando tentou dar passos até a cama, seus olhos se abaixaram e ele estranhou todo aquele tecido vermelho e rasgado. Não precisou pensar muito para constatar de que se tratava do vestido vermelho de casamento, e seu estômago deu uma volta completa, a angústia falou mais alto. Até aquele momento ela não tinha noção do estrago que havia causado naquela mulher. 
Aproximou-se dela, deixando de lado aquele vestido, pouco se importava com isso, era apenas um tecido. O que ele realmente queria recuperar estava naquela cama, com uma expressão que por vezes parecia inquieta. 
Joseph... Não, Joe, por favor... Não! - a mulher falava mesmo com os olhos fechando, se mexendo um pouco. O homem apenas acariciou seu rosto e desistiu de continuar a tocá-la, livrando-se de algumas de suas roupas e colocando outras após um rápido banho frio. Depois que deitou seu corpo, fitou a pasta ao longe mais uma vez. Nem tudo estava perdido. 

Fim do flashback.

(Coloque a primeira música para tocar!)
Eu estava boquiaberta, não sabia o que dizer ou o que pensar. Por dentro, admirei seu ato, pois tentei acreditar que sua real intenção realmente fora proteger o que pertencia a ele, e se vingar de certa forma. Mas não conseguia, não conseguia eliminar a raiva plantada em meu interior. Era um pouco tarde. 
- Pronto, expliquei o que tinha para explicar. Eu precisava fazer com que a Valerie acreditasse em tudo aquilo. Ela tinha que pensar que eu estava mesmo disposto a tudo para conseguir me vingar do Arthur... Até mesmo dormir com ela. - Joseph fitou-me pela primeira vez desde que começou a contar tudo aquilo. Não sabia se sustentava o contato ou se desviava. 
- E também precisava me humilhar na frente dela, não é? - eu quis saber, ainda inconformada com aquele detalhe. - Porque não me ligou antes e disse "Demetria, vou fingir que estou te traindo, mas não fique aborrecida, por favor!" - Joseph fechou os olhos e bufou, bagunçando seus cabelos. - Quando eu quase me deixei levar com Cameron, a primeira coisa que pensei foi que você precisava saber, não importava o que aconteceria a seguir... 
- DROGA, EU NÃO TE TRAÍ! - exaltado, ele se aproximou mais um pouco. Desejar tê-lo em meus braços nunca fora tão inevitável. 
- Mas nós estamos falando de cumplicidade, Joseph. Compartilhar tudo um com o outro... Eu não quero brigar com você por qualquer coisa que surgir no nosso caminho, mas não posso aceitar tudo de cabeça baixa. 
- Nós só estamos brigando porque você insiste em não acreditar em mim! - ele deu passos rápidos até uma escrivaninha e pegou uma pasta estranha aos meus olhos, voltando para perto e praticamente a jogando em minhas mãos. - Nunca pensei ter a família que tenho agora, e eu faço qualquer coisa por ela. Me desculpe se não penso direito antes de fazer as coisas, mas quando você aceitou ficar ao meu lado, tinha conhecimento disso... 
- Mas nós não estamos brigando. Isso não é uma briga. - de maneira contraditória, expliquei a ele com uma expressão calma, que oscilava entre a triste. - São apenas palavras de uma mulher desapontada com o homem que tanto ama. 
Joseph me olhou tristemente. 
- Vem aqui, meu amor... Eu vou te fazer esquecer tudo isso bem rápido! - quando ele tentou me segurar, dei um passo para trás e encolhi o corpo, deixando claro que não queria nada disso naquele momento. 
- Pare! - alertei seriamente. 
O sol começava a nascer. 
- O que eu preciso fazer para você ver que eu só tento manter o que foi tão difícil de conseguir? - com lágrimas prestes a surgir em seus olhos, Joseph apenas segurou uma de minhas mãos, tão fria quanto o meu estado de espírito naquele início de manhã. 
- Eu aprisionei aquela Demetria frágil que cedia a qualquer uma das suas vontades, não importasse o que você tinha feito. - contei-lhe, como quem conta uma história. - E a chave dessa prisão? Bem, a chave está com você. Se esforce para conseguir libertá-la novamente. Mas, por favor, não tente hoje. - larguei a maldita pasta na cama e, quando estava pronta para me trancar no banheiro e passar muito tempo sozinha na banheira, ele insistiu em consertar seu erro. Sim, porque foi um erro, ninguém poderia negar. 
Demi... Você sabe que não adianta me dizer o que fazer. Não quando se trata disso. 
Virei-me, determinada a fazer algo que, sem dúvidas, partiria meu coração. 
- Saia daqui. - pedi em alto e bom som, ele quase arregalou os olhos. Não moveu um músculo sequer. - Saia ou eu sairei... Com meus filhos. Ainda tenho aquela outra casa, lembra? 
- São meus filhos também! - seu tom não tinha mais nada de compreensivo, era alto e aborrecido. 
- Oh, agora você se lembra disso? Que oportuno! - ele tinha me explicado por que nos largou na noite anterior, mas o ferimento em meu orgulho não queria cicatrizar. Eu temia não existir algum remédio poderoso ao ponto de conseguir aquele feito tão facilmente. 
Demetria, eu preciso de você agora, não me peça para sair dessa casa... - como ele ousava falar daquela forma tão romântica? 
- Ótimo, mas só isso não é mais o suficiente para mim. Você precisa parar de brincar com os meus sentimentos, de me envolver nos acordos que faz, de me usar para enganar seus inimigos. - falei de uma vez, finalmente confessando a ele a maneira como eu me sentia. Talvez tenha provocado uma ferida em meu marido também, mas se ele gostava de me causar dor, precisava aprender a aceitá-la também. - Eu não gosto disso, me machuca muito. Será que não aprendeu com os erros do passado? Eu realmente, realmente pensei que não te veria indo embora daquela maneira novamente. 
- Mas eu estou aqui. - o tom de voz de Joseph foi tão baixo e desolado que quase senti uma lágrima brotar no canto de um dos meus olhos. Parecia um garotinho descontente com o mundo, perdido de tudo que mais apreciava, tudo que mais precisava. 
- Sim, você está. 
Impulsivamente, eu praticamente corri em sua direção e larguei meu corpo em seus braços, sentindo suas mãos agarrarem minha cintura. Com aquele abraço iniciado, inspirei seu cheiro e o fiz acreditar que estava tudo bem. Mas em seguida o fiz me soltar. Obtive minha dose diária de Joseph Jonas, a quantidade que me faria sobreviver ao dia. Então não tínhamos mais nada para conversar.
- Agora saia. 
Sem questionar, ele apenas me deu as costas, pegou uma roupa que não me importei em identificar e bateu a porta. 


Raiva me motivava a realmente fazer as coisas, me motivava a não ficar parada. Naquela manhã eu mais parecia um furacão enquanto andava pela casa, até ajudei Nancy com o café da manhã. Após vestir a primeira roupa apresentável que encontrei e prender o cabelo sem nenhum pingo de dedicação, acordei Jamie para ir à escola e fui cuidar de Matthew. Assim que servi o café para meu filho mais velho e forrei meu estômago com qualquer coisa, o levei até a porta e assisti o carro da mãe de um colega seu se afastar. O que foi uma pena, porque sair daquela casa era o que eu realmente estava precisando. 
Tempos depois, com Matthew dormindo em meu colo, fiquei pensando em Joseph. Onde deveria estar? Provavelmente na Empire, com os cabelos bagunçados e olheiras abaixo dos olhos, consolando sua raiva com café. Ou com pensamentos depressivos. Ou simplesmente adotando sua pose de durão e fingindo que nada acontecia ao redor. Assim que o pequeno parecia totalmente envolvido em seu sono, o coloquei confortável ao meu lado na cama e perguntei a mim mesma se gostaria de ver aquelas fotos. Bem, o álbum já estava sobre a cama, implorando que eu o abrisse, então procurei não hesitar mais. As fotos eram uma de qualidade incrível, bem feitas. Um fotógrafo amigo de Joseph fora o responsável. Aquele era o álbum que registrava os estágios da minha gravidez. As primeiras fotos, onde eu me encontrava com uma barriga levemente avantajada e um sorriso maior ainda, eram em preto e branco. Ao passar do tempo, quando Matthew crescia mais e mais dentro de mim, a coloração das fotografias foi se tornando azulada. Em uma delas, Jamie e Joseph estavam sorridentes ao meu lado. Eu acariciava aquelas imagens como se pudesse obter algum conforto. Por fim, as últimas imagens eram coloridas. Eram coloridas porque Matthew já se encontrava em meus braços de mãe coruja. 
Ao fechá-lo, escutei Nancy me informar que uma mulher me esperava no andar de baixo. Desci rápido e dei de cara com... Lexi. A morena de covinhas e rosto de boneca sorriu imediatamente quando me viu, colocando uma forma pequena e jeitosa nas mãos de Nancy, que se equilibrou para não deixá-la cair, tamanha era a rapidez de Lexi. Ela me abraçou, sem que eu pudesse questioná-la antes. Mas resolvi corresponder, colocando um sorriso no rosto. 
- Bom, já que vocês não provaram minha torta de maçã quando foram jantar lá no apartamento, eu fiz outra e trouxe! 
- Ah, obrigada! - respondi de qualquer jeito, pedindo a ela com um gesto de mão para que se sentasse ao meu lado no sofá. Era estranho ela estar ali, nós não éramos as melhores amigas. Eu nem sabia se éramos simplesmente amigas. 
- Problemas no paraíso? - Lexi me perguntou complacente. Algo naquele semblante sereno e amigável me fez sentir vontade de transformar minha vida em um livro aberto. Vi nela uma amiga que estava realmente precisando. Alguém confiável. 
Finalmente, quando a última palavra escapou pelos meus lábios, ela olhou ao redor, como se procurasse um conselho escondido atrás de algum dos móveis da sala e voltou a sorrir. 
- Eu não sei o motivo de ter te contado tudo isso... Nós não somos amigas. 
- Quem disse? - Lexi fingiu-se de magoada e ajeitou o cabelo. - É claro que nós somos amigas. - a olhei meio sem graça, talvez pelo fato dela ser namorada de Cameron. Talvez pelo fato de me perguntar se ela sabia de certos fatos que envolviam aquele homem e a mim. - Não me olhe com essa cara de culpado perante o júri... - ela riu. - Cameron me contou tudo. 
- Tudo? 
- Sim, tudo. Tudo que preciso saber. Acredite, eu não sou de guardar mágoa. Ele me disse a pessoa incrível que você é, que luta por quem ama... E eu sou aquele tipo de mulher que sempre acredita que coisas absurdas podem acontecer, que tudo pode ficar fora do controle e... - Lexi torceu os lábios, as bochechas ficando vermelhas aos poucos. - Lexi Fitzgerald, pare de atormentar os outros com seus conceitos bizarros, agora mesmo! - disse a si mesma, divertindo-se um pouco. - De qualquer maneira, Demetria, passei aqui também para ver aquele lindinho do Matthew e te convidar para dar uma volta comigo. Não se preocupe, Cameron está ocupado com outras coisas. Seremos só nós, mulheres. - a morena ao meu lado ajeitou sua jaqueta azul de couro e olhou cúmplice para Nancy, que concordava com a cabeça, insinuando que eu deveria espairecer um pouco. 
- Para onde nós vamos? - perguntei já me levantando. Minha roupa estava boa para sair, eu só precisava saber se meu bebê estava bem e pegar uma bolsa. 
- Fiquei sabendo que a coleção nova da Victoria's Secret já está disponível na loja daqui. Venha comigo. - Lexi lançou-me um olhar malicioso, o típico olhar de uma viciada em compras e comemorou sozinha, erguendo os braços. Que figura. 
- Por que eu compraria lingeries agora? - franzi o cenho. Ela com certeza parecia uma adolescente, enquanto eu lembrava uma senhora de sessenta e poucos anos que vivia com dúzias de gatos. Mas era errado estar deprimida? 
- Porque a senhora Jonas não vai ficar brigada com o marido para sempre! E, antes que você me assemelhe a uma versão britânica da Becky Bloom, digo que comprar lingeries provocantes é melhor que terapia em grupo, sabia? Além disso, podemos caçar uns bons pares de Louboutin também. - ela agarrou meu braço, obrigando-me a rir. Talvez amizades nascessem daquela maneira mesmo... Repentinas. 
Depois que subimos e ela babou um pouco em Matt, saímos de casa. Era tudo que eu precisava. 


Quando me dei conta, já olhava abobada para aquela casa. Com uma alegre Lexi ao meu lado, parei para pensar no motivo de ter aceitado acompanhá-la em uma reunião como aquela. Depois que passamos por várias lojas e compramos de fato algumas coisas, eu disse que precisava voltar para casa, mas ela foi clara e objetiva: disse que tinha uma espécie de encontro com alguns amigos artistas e gostaria que eu a acompanhasse, já que Cameron não poderia ir. E para tentar me convencer mesmo, alegou que sentia falta desses amigos, mas que era longe demais para ir sozinha. Disse que tinha medo. E, bom, seus amigos artistas não eram realmente artistas, mas sim alguns escritores que tentavam publicar seus livros, cantores que procuravam gravar sua primeira demo, entre tantos outros talentos. Lexi assegurou-me que aquilo, sem sombra de duvidas, me distrairia. 
Confesso que minha consciência pesava muito naquele momento. Encontrava-me a mais de uma hora de distância de casa, não sabia como andava minha situação com Joseph e meus filhos provavelmente sentiriam minha falta. Mas lá estava eu, sendo puxada pela mão mais uma vez, caminhando por todo aquele lindo jardim. Na verdade, mais parecia uma festa do que uma simples reunião. Avistei até crianças correndo por entre as árvores. Eu deveria ter levado Jamie. 
Quando finalmente terminamos de subir todas aquelas escadas, ela olhou para a minha roupa e fez um sinal positivo com os dois polegares. Talvez eu tivesse exagerado, mas minha cabeça andava tão distraída que coloquei a primeira peça de roupa que surgiu pelo caminho. Felizmente meu busto não era tão farto, então não ficou vulgar. 
- Sean! - Lexi gritou, correndo loucamente e pulando nos braços de um homem alto, levemente magro e com feições joviais. - Que saudades! - disse e me chamou com o olhar. - Essa é minha amiga,Demetria Jonas. 
Tive a impressão de que o homem de cabelos castanhos claros quis arregalar os olhos. Mas sorri simpática e o cumprimentei com um aperto de mão. 
- Mas você sabe que para estar aqui é necessário ter algum talento especial, não é? - ele disse, sua voz não era tão rouca. Eu pensei no que dizer, mas Lexi foi mais rápida. 
- Ela canta! - exclamou, desculpando-se com o olhar segundos depois. 
- Uh, interessante. Veremos hoje o que sabe fazer, novata. Mas ok, garotas, vamos entrar agora. 

Não conhecia ninguém ali a não ser Lexi, e por mais que alguns assuntos da conversa me interessassem, sempre acabava me pegando distraída olhando para o lado de fora da casa, pensativa. A salaonde estávamos era incrível, todo o exterior da propriedade poderia ser visto. Alguns dos convidados falavam sobre música, sobre escrita, sobre atuação, pintura, desenho... Eu deveria mostrar mais interesse, sabia que sim. Cantar era, definitivamente, uma das paixões da minha vida. Não me imaginava mais sem me pegar cantando loucamente pela casa, divertindo a Joseph. 
- Então, Demetria, me fale de você... - Sean sentou-se ao meu lado, o corpo praticamente largado em um dos confortáveis sofás. Ele era mais novo do que eu, isso era uma certeza clara. - Realmente sabe cantar? 
- Sei, eu acho. - concordei, olhando em seus olhos. O tal Sean parecia interessado. 
- Prove. - ergueu uma sobrancelha. 
- Ah, não, você não vai me pedir para cantar aqui! - torci para que ele concordasse que era uma péssima ideia. 
- Por que não pedir? Seria muito bom encontrar algum talento. Principalmente agora que a gravadora do meu tio está buscando alguns para algo... Especial. 
A curiosidade me dominou, eu quis saber mais. 
- Que tipo de talentos? 
- Você sabe tocar piano? 
- Sei... 
- Prove! 
- Você precisa parar de exigir provas das coisas. - ele riu de minha falsa irritação. Olhei para o lado, e Lexi conversava animadamente com uma mulher extremamente alta e de cabelos curtos em um tom de loiro. O som da animação dos filhos de algumas daquelas pessoas continuava do lado de fora. Por um momento, voltei a me esquecer de Sean, mesmo que continuasse a ouvir sua voz que não cessava. 
Meus pensamentos voaram afoitos até minha fraqueza: Joseph. 
Se eu o conhecia bem, deveria estar com o corpo largado em alguma poltrona, uma das mãos segurando o típico copo com apenas um resto de whisky exageradamente envelhecido, do jeito que mais apreciava. Provavelmente ouvindo Metallica ou Muse, evitando ao máximo pensar em fumar, pois sabia que eu detestava sentir aquele cheiro terrível em suas roupas e pele. O ambiente escuro, tenho certeza, os olhos verdes presos em algum canto insignificante, sua mente voando para lugares que não o agradavam. Ele provavelmente afrouxaria sua gravata, ou melhor, a jogaria longe e levantaria o corpo, desesperado, não conseguindo mais controlar a vontade de fumar. Seus olhos fitariam a janela e ele observaria a movimentação da cidade como se uma solução para seus problemas fosse surgir a partir dali. Uma das mãos correria solta pelos curtos fios de cabelo, os bagunçando. Nesse momento, seu perfume másculo já dominaria por completo toda a sala. Ele abaixaria o olhar, notando uma foto minha em sua mesa... Um sorriso malicioso repuxaria pelos seus irresistíveis lábios e depois se transformaria em apenas uma linha reta. Desapontado. Com o cigarro já acesso, ele o tragaria lentamente, não se intimidando de maneira alguma com a fumaça, a soltaria sedutoramente pela boca, não tendo um pingo de noção de que até mesmo suas atitudes mais banais conseguiriam seduzir a qualquer mortal. Principalmente a mim. Arrependendo-se logo depois, se livraria do cigarro e sairia pela porta... Ao meu encontro. 
Esse era o meu marido, esse era o meu Joseph Jonas. O príncipe charmoso, o vilão amargurado. 


Joseph's P.O.V

Mal humorado pelo fim do whisky, continuei naquela mesma posição. Só podia ser brincadeira. Depois de tudo que eu fiz para manter aquela mulher a salvo, ela me mandou embora de casa? Muita petulância! Mas o que eu poderia fazer? Demetria com o orgulho ferido era uma das coisas mais complicadas do mundo. E eu não tinha forças para me impor, para obrigá-la a enxergar a verdade. Ela sabia, mesmo que negasse, que eu nunca seria capaz de pensar em ter outra mulher enquanto estivesse com ela. Eu era homem de apenas uma mulher, apenas uma me controlaria, me deixaria louco, me amaria. Ela era a minha escolhida. Eu realmente precisava provar mais alguma coisa? 
Olhando sua foto em minha mesa, foi inevitável sorrir. Se ela soubesse que me faz desejá-la até quanto está irritada comigo... Levantei de supetão, ajeitando minha gravata e pronto para fazer algo. Porém, a porta abriu antes que eu pensasse em abri-la. Meu sorriso se desfez, minhas mãos se fecharam em punhos. 
O que diabos Cameron Wolfe fazia ali? 
- Olá, mate. - ele disse de maneira irônica. Perguntei-me quem tinha permitido que aquele ser entrasse ali e continuei imóvel, incrédulo demais para ameaçá-lo com os olhos. Wolfe largou o corpo na minha poltrona e negou com a cabeça, rindo de algo que eu nunca encontraria a real graça. 
- O que diabos você faz aqui? - perguntei em voz alta. 
- Primeiro: você é um babaca. - ele pedia por um soco, sim, ele pedia. Descontar a minha raiva era o que mais viria a calhar naquele momento. - Segundo: venha comigo. 
Foi a minha vez de rir. 
- Por que eu faria isso? - cruzei os braços, e depois voltei a despejar whisky dentro do copo. Não me dei ao trabalho de oferecer para ele. 
- Porque eu sei onde sua esposa está. 
Se Wolfe queria capturar minha atenção, infelizmente conseguiu. O olhei mais atento, deixando a bebida de lado. Ele levantou-se da poltrona e passou pela porta, voltando e me chamando com um gesto de cabeça. 
- Espera... Como é que você sabe? 
- Da sua briga com ela? Minha namorada me contou, elas estão juntas agora mesmo. - antes de tentar me impedir, eu já o seguia. - Anda logo, Jonas, é um longo caminho. 
Frustrante foi perceber que eu realmente fui parar dentro de um carro que era dirigido pelo Wolfe. Homens são completos idiotas, homens não vivem sem mulheres. Eu era um fraco. 
Mas pelo menos a veria e teria uma chance. 


Demetria's P.O.V

Perdendo a noção do tempo, continuei com aquelas pessoas enquanto permanecíamos sentados no jardim. Algumas seguraram e tocavam violões, outras faziam caricaturas das outras ao redor rapidamente, outros fingiam encenar alguma peça... Outros apenas olhavam, e aquele era o meu caso. Eu queria ir embora, não fazia mais sentido algum permanecer no meio daquelas pessoas. Não tinha paciência para compartilhar o talento que todos exigiam de mim. Queria simplesmente voltar para minha casa, cuidar dos meus filhos e lamentar em paz. Deitar em minha cama, aproveitar o silêncio e ficar pensando na vida. Demetria Jonas, como sempre, divertindo-se com sua própria desgraça. Percebi quando o celular de Lexi tocou e ela me olhou com os olhos arregalados, escondendo um risinho e cochichando algo com uma mulher ao seu lado. Levantando-se, ela correu em direção à saída do jardim. Cerca de dois minutos depois, retornou mais sorridente do que nunca. E não estava sozinha. 
Cameron caminhava até nós... Juntamente com Joseph
Notei como Sean parecia surpreso ao olhar para Joseph, reação semelhante à de quando me viu mais cedo naquele dia. Mas sem ligar para isso, rapidamente eu levantei meu corpo. Troquei apenas um aceno de cabeça com Cameron. O homem ainda um pouco afastado do resto de nós não fez questão de se apresentar, ele deixou totalmente claro com aquele olhar que estava ali única e exclusivamente por minha causa. 
Era estranho, era muito estranho olhar para ele. Parecia que não nos víamos há muito tempo. De certo modo, senti muito falta dele. Não apenas de seu ser, mas de seu corpo. De ter o calor do seu corpo perto de mim. Uma saudade que tentei controlar o máximo que pude, é claro. No entanto, enquanto minha cabeça dizia para desprezá-lo até que ele começasse a chorar, meu corpo dizia ainda mais alto: vá até aquele homem e o faça perder o ar
Mas quem acabou perdendo o ar fui eu, quando, repentinamente, ele apenas deu um aceno de cabeça para os outros e veio em minha direção, passando seu braço pela minha cintura. Não quis andar, mas precisava. Ele me guiou para um lugar que não prestei atenção, mas era reservado. Andamos em silêncio por alguns minutos. 
O único som ao nosso redor era o dos pássaros e os gritos animados de crianças ao longe. 
Os olhos verdes de Joseph fitaram intensamente a região do meu busto, meus seios levemente revelados. Primeiro ele mordeu os lábios, depois soltou um risinho inconformado e olhou para os arredores, soltando o ar com força. 
- O que te faz pensar que pode mostrar, a quem quiser ver, o que pertence a mim? - ele deu um passo. Era insignificante, ainda continuávamos mantendo uma distância segura, mas cada pêlo do meu corpo se arrepiou. Eu mandava apenas na minha cabeça... Porém não em meu corpo. Meu corpo pertencia a ele, respondia aos comandos dele. 
Eu ri ironicamente. 
- Claro, Joseph, o que te pertence. Pena que você não sabe cuidar do que é seu. - e isso bastou. Aquela simples e frágil provocação bastou para ele quebrasse toda a distância entre nós, obrigando meu corpo a se encostar a uma das resistências da casa, deixando que nossas pélvis se roçassem. Droga, por que o tecido de minha roupa tinha que ser tão fino? Eu consegui senti-lo
Ele aproximou os lábios quentes de meu ouvido, arrepiando-me mais uma vez. 
- Seu meio-irmão me odiava e seu pai me odeia! - por que escolheu comentar sobre coisas tão amargas? - Mas você... Você me ama. - Joseph sorriu convencido, tão seguro de si. - E, se me permite dizer, você fica estonteante quando finge não se importar comigo. - sua mão que segurava minha cintura deslizou para baixo, senti seus dedos atrevidos apreciarem meu quadril. 
Joseph... - tentei pedir. Travava uma luta interna comigo mesma. Uma parte de mim queria rolar naquele jardim com ele, mas a outra queria distância, ainda estava machucada. 
- Eu conheço cada pedaço do seu corpo. - os dedos de sua outra mão brincavam com minha coxa. E ele a puxou para cima, dobrando meu joelho e colocando a coxa na altura de seu quadril. Seus lábios roçaram em meu pescoço e ele arriscou permitir que eu sentisse sua língua. Desejei mais do que tudo que aquele dia quente acabasse logo. Calor não faz bem as pessoas... Não faz. - Eu sei do que você gosta... - tive que fechar os olhos com força e travar bem meus lábios quando senti seus dedos fazendo movimentos circulares pela região abaixo do meu umbigo, perto demais do ponto responsável por fazer despencar todo o controle que eu tentava manter. Meu corpo já respondia muito bem àqueles toques... Bem até demais. Ele olhou bem para os bicos escondidos, porém eretos dos meus seios e passou a língua pelos lábios. - Gosta assim, não é? Bem lentamente. - droga, eu queria beijá-lo! Queria arrancar suas roupas, queria deixá-lo ofegante, suado, louco. Merda! - Se você soubesse como eu sinto vontade de... - Joseph parou de falar e abaixou um pouco sua cabeça, deslizando seus lábios e língua pela região dos meus seios. Feliz por encontrar pele exposta, ele continuou a provocar. - Sentir o seu gosto agora. 
Tive forças para segurar seu rosto com as duas mãos. 
- Pare ou eu vou gritar. - ergui as sobrancelhas e mordi o lábio, o deixando totalmente confuso. Não sabia se estava conseguindo me agradar ou não. 
- Vai gritar mesmo, Demetria... - ele tentou me beijar. - Vai gritar meu nome até perder a voz. 
Joseph! - o repreendi, com medo das crianças nos encontrarem. Não seria muito... Educativo. Mas seus olhos brilhavam tanto, que era quase impossível resistir. O brilho de um diamante seria insignificante se comparado àquilo. E aquele jeito de falar... Aquele jeito de falar que só ele sabia, que deixava minhas pernas bambas. Aliás, bambas era um amigável eufemismo. 
- Não desperdice isso que nós temos. - sua voz era baixa e rouca, soou quase como uma ameaça. 
- Você já fez isso. 
- Eu faço qualquer coisa para você desistir disso e vir para casa comigo. Não vai se arrepender. 
- Deveria ter feito antes. 
- Porra, mulher! - gritou, assustando-me por um instante e arrependendo-se em seguida. Suas mãos agarraram minha cintura e eu apertei seus dois braços o máximo que pude. - Vai continuar fingindo toda essa indiferença? Isso não me convence! 
- Solte-me, estou mandando, Jonas! 
- Você não quer que eu te solte. 
- Quero sim. 
- Então por que suas mãos seguram os meus braços desse jeito tão possessivo? - Joseph voltou a sussurrar em meu ouvido. - Eu adoro quando você fica possessiva... Me enlouquece. 
Tentei evitar, tentei me controlar. Mas a sede pela provocação me dominou. Eu o obriguei a largar meu corpo e dei um tapa em seu rosto. Não forte o suficiente para provocar dor e machucá-lo, mas forte o suficiente para deixá-lo sem reação, lançando-me em seguida um olhar que conseguia dizer "Você vai me pagar muito caro, mulher!". 
Só então consegui me recuperar e voltar correndo para o outro lado da casa. Virei meu pescoço durante o caminho, deixando que ele visse meu sorriso malicioso. 
Ah, a vingança de Joseph seria cruel. Prazerosamente cruel. E a minha metade sedenta por ele mal podia esperar por isso. 

Quando cheguei perto de uma grande porta de vidro, Sean surgiu e quase me fez cair para trás de susto. Ele arregalou os olhos ao notar meu estado caótico e riu. 
- Uau, cantora sem voz, o que houve com você? - que tipo de apelido idiota era aquele? Eu o faria mudá-lo naquele momento. 
- Eu estava brincando com as... - fiz uma pausa, totalmente ofegante. Um garotinho passou correndo por mim. - Crianças. 
- Ah, sei. - Sean concordou de má vontade. - Em todo o caso, acho que chegou a hora de você cantar. Todos aqui já demonstraram seu talento hoje. 
Quando olhei para trás, Joseph se aproximava. 
Meu Deus! Eu precisava provocá-lo mais, eu queria deixá-lo a beira da loucura, clamando feito louco por mim. Uma risada maliciosa soou apenas por dentro e eu sorri presunçosa para Sean, que pareceu entender o que estava acontecendo. 
- Sean... - o chamei em voz alta, tendo a certeza de que Joseph poderia escutar. - Onde está o piano dessa casa? 
- Siga-me! - com um último olhar em chamas que lancei para meu marido, acompanhei o outro homem. 
Minha pequena platéia se instalou ao redor de um piano branco que se encontrava em uma sala ampla e clara, com três portas em sua frente. Eu conseguia enxergar Joseph através de uma delas, estagnado no meio do jardim. Cameron se aproximou dele e pareceu dizer algo que o irritou. Sean perguntou se eu tinha noção do que pretendia cantar. E, sim, eu tinha. Não sabia muito bem reproduzir aquela melodia nas teclas do piano, mas daria um jeito. 
Meus dedos deslizaram, decididos. Quando impulsionaram algumas das teclas para baixo, a mágica simplesmente começou. Era só ouvir a música, e a vontade de cantar me invadia. Todos permaneceram em silêncio, e o silêncio de Joseph era tão intenso, a sensação que seu olhar me transmitia era palpável. 

(Coloque a segunda música para tocar!)
She, she ain't real. She ain't gonna be able to love you like I will... She is a stranger. You and I have history, or don't you remember? - cantei com empenho, deixando meu marido incapacitado de desviar seus olhos dos meus lábios ou corpo. Meus olhos fitaram os seus, e todos ao redor poderiam sumir. Aquelas palavras eu dirigia apenas para ele. Se aquilo em que ambos estávamos envolvidos era uma vingança de minha parte, bem... Funcionava perfeitamente. O homem mostrou-se incomodado ao relacionar a letra da música com a nossa situação. - Sure, she's got it all. But, baby, is that really what you want? - finalizei aquela nota no piano e me preparei para as seguintes, mais intensas, que necessitavam de mais atenção. Sorri tímida para minha platéia, percebendo que eles gostavam de minha voz. - Bless your soul, you've got you're head in the clouds. She made a fool out of you, and, boy, she's bringing you down. She made your heart melt, but you're cold to the core... Now rumour has it she ain't got your love anymore. - animada, eu levantei meu corpo, o mantendo inclinado para tocar. Aquela voz que saía pelos meus lábios conseguia me surpreender. Era afinada, potente e ao mesmo tempo feminina, delicada. 
Pedi que alguns de meus companheiros cantassem o refrão, enquanto eu me tornava apenas a pianista. 

Rumour has it, ooh
Rumour has it, ooh
Rumour has it, ooh
(...)


She is half your age, but I'm guessing that's the reason that you strayed. I heard you've been missing me, you've been telling people things that you shouldn't be. Like when we creep out and she ain't around. Haven't you heard the rumours? - eu movimentava meu corpo no ritmo da música, de vez em quando fazendo charme com os cabelos ou balançando os quadris. Joseph parecia mais perto daquele cômodo, permanecendo com o semblante fechado, apenas absorvendo todas as minhas provocações. Jogando do jogo que lhe foi apresentado. - But rumour has it I'm the one you're leaving her for... 
Já mais habituada com aquele piano, toquei mais algumas letras e o deixei de lado, pegando impulso ao me sentar em cima dele assim que Sean assumiu minha posição. Enquanto ele manteve o som animado e agradável, eu balançava minhas pernas e continuava a sorrir. Sentia-me uma artista. Quando Sean retirou seus dedos das teclas, ergueu os olhos e me olhou sugestivamente, dando um sorrisinho de canto. Aproveitei o silêncio para ousar mais do que nunca na parte mais importante da canção. 
All of these words whispered in my ear. Tell a story that I cannot bear to hear... Just 'cause I said it, it don't mean that I meant it. People say crazy things... - um pouco insegura com o agudo que fiz, fechei os olhos para evitar os dos outros. - Just 'cause I said it, don't mean that I meant it... Just 'cause you heard it. 

Rumour has it, ooh
Rumour has it, ooh
Rumour has it, ooh.
(...)


But rumour has it he's the one I'm leaving you for... - saltei do piano e me coloquei sentada mais uma vez ao lado de Sean, o ajudando a finalizar a música. Quando terminamos de dividir o instrumento, meus ouvidos identificaram aplausos. Aplausos altos e empolgados. Senti meu rosto corar e arder. - Obrigada! 
- Querida, você é uma cantora profissional? Diga que sim! - uma das amigas de Lexi perguntou sorridente. 
- Infelizmente, não. - respondi sem graça. 
Por enquanto, não. - a voz masculina soou pela ambiente, me fazendo virar o rosto com pressa. O dono dela era Joseph. 

O silêncio angustiante se instalou novamente, mas só até que gritos estridentes de crianças ficassem cada vez mais próximos. Uma delas, uma garotinha com cachos ruivos, veio correndo e parou na porta. Sua expressão era de puro pânico. 
- Tia Marion, o Richard se machucou feio! - a pequena levou as mãos até a boca, lágrimas eram quase visíveis em seus olhos. 
Todos saíram rápido da sala, dividindo-se por várias direções do jardim. Eu segui Sean e Lexi e nós descemos rapidamente a pequena inclinação do jardim, ficando próximos de um lago. Um amontoado de outras crianças parecia estar em volta de uma outra de cabelos loiros, que passava a mão diversas e diversas vezes por um dos braços. O sangue visível, quase pingando. Esse garoto, Richard, tinha sofrido um corte um pouco extenso e levemente profundo, e fora graças a um escorregão ao passar correndo pela região do lago. Conseqüentemente, deixou seu braço chocar-se com uma das pontas que fazia parte da decoração feita com estatuas de louça nas beiradas dali. 
- Chamem uma ambulância! - a mulher que só podia ser sua mãe disse aos gritos, apavorada. Um homem passou rápido por mim, espalhando seu perfume, me fazendo absorvê-lo. Consegui ver apenas as costas de Joseph. E logo ele estava ajoelhado diante do lago, mergulhando seus dois braços na intenção de lavá-los. Depois, virou-se para Richard, que chorava, chorava e chorava. 
- Acalme-se! Você tem alguma maleta de primeiros socorros? - ele falava alto e rápido com a mulher, que concordou e disparou a correr jardim acima. Assim que ela retornou, meus olhos permaneceram presos em toda aquela cena. - Ei, garotão, não assopre! Não faça isso! - Joseph alertava o menino - que tentava de algum modo amenizar sua dor -, segurando seu braço pálido com determinação e mesmo assim cuidado, abrindo a caixa branca de primeiros socorros. - E não fique com medo, acho que não vai ser necessário você ir até um hospital. 
Eu não sabia se começava a sorrir feito uma boba ou se chorava. Mas ele nunca pareceu tanto com um médico como naquele momento. Cuidou com uma maestria impecável do ferimento, não se esquecendo de detalhe algum. 
- Está doendo! - a voz chorosa de Richard soou baixinha. Joe segurava um tipo de spray. - Não! - o menor tentou puxar seu braço. - Vai doer muito! 
- Richard, você tem namorada, certo? 
- Não. 
- Tem sim. 
- Não tenho, não! - ele começava a se irritar, esquecendo-se totalmente de seu ferimento. As bochechas corando-se. Era ainda muito pequeno para pensar em namoradas. 
- Claro que tem, eu vi você com ela hoje. - assisti que discretamente Joseph posicionou o spray no braço de Richard, sem que o mesmo pudesse notar, pois permaneceu distraído com a questão de sua namoradinha inexistente. - Vou contar para sua mãe, hein? 
- Não! - resmungou, olhando com os olhos arregalados para o rosto de Joseph. 
Pronto. - meu marido sorriu, afastando o frasco. - Doeu? - Richard negou com a cabeça, soltando um risinho aliviado. - Marion, dê um Anti-inflamatório a ele. E caso note que o ferimento não apresenta melhora, não hesite em procurar um médico. - sábias palavras. Aquele homem sabia, realmente, o que fazia. Assim que a mãe de Richard foi para mais perto e com ajuda levou o filho para dentro, as pessoas começaram a questionar Joseph. 
Ele trocou um olhar comigo, completamente diferente dos anteriores. Nada de malicioso, selvagem ou vingativo presente ali. Era um olhar vazio. Mas eu não consegui evitar que ele percebesse o meu sorriso. Que soubesse o orgulho que eu sentia naquele momento. 
- Você é médico? - alguém perguntou, porém, atônita demais, não fiz questão de procurar pelo responsável. 
- Infelizmente, não. - foi tudo que Joe respondeu. 
Por enquanto, não. - deixei que todos ouvissem minha voz, afirmando com a cabeça. 
Então ele sorriu... Apenas para mim. 

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