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terça-feira, 29 de julho de 2014

Secretary III - Capítulo 5

Reencontros, recaídas e resultados 
(Música geral do capítulo: Secrets do OneRepublic. Você pode escutar durante todas as cenas ou apenas nas que preferir.)



Nada melhor para distrair a mente do que uma paisagem simples, porém relaxante como aquela. Ao longe eu assistia Jamie simplesmente vagar pelo Hyde Park como se estivesse brincando de ser um detetive em uma missão super secreta. Provavelmente era consequência da convivência com Scarlett naqueles dias. Sorri sozinha com esse pensamento idiota e olhei para Matthew deitado em seu carrinho, ele estava com os olhos bem abertos e encarava o céu, depois as árvores e ficava movendo o rosto em diversas direções, provavelmente questionando a si mesmo "Mas o que será que é tudo isso, afinal?". 
Permaneci imóvel, apenas relaxando meu corpo no banco e olhando o visor do iPhone para checar se alguma novidade me esperava. Nada além de uma simples mensagem de Joseph me dizendo que estava para explodir em uma reunião, e me lembrando de que estaria em casa mais cedo naquele dia. Quando preparei meus dedos para digitar uma resposta qualquer, Jamie veio correndo e apontando para uma direção ao longe. O dia permitia que óculos de sol fossem usados, então abaixei os meus e procurei pelo que meu filho tanto tentava mostrar. Não era uma cena chocante, mas um tanto quanto curiosa. Tive que piscar os olhos algumas vezes para ter certeza de que não estava confundindo, mas, assim como eu me lembrava, minha visão permanecia perfeita. 
Um casal caminhava despreocupado e de mãos dadas pela extensão do parque, em uma região próxima de um lago. A mulher se vestia como uma boneca; um vestido acinturado cuja saia alargava e se tornava rodada. As pontas de seus cabelos negros eram enroladas, e isso fazia parecer um penteado que as mulheres usavam antigamente. Em uma de suas mãos, algumas sacolas. O homem, também de óculos escuros, parecia aéreo a tudo ao seu redor, de vez em quando apenas abaixava um pouco o rosto para comentar algo com a parceira. Ele era tão alto quanto eu me lembrava. 
Cameron
Seu corpo parecia menos musculoso do que antes, e eu tinha certeza de que isso aconteceu devido ao acidente que tinha sofrido há algum tempo. Os cabelos curtos, bem curtos, como sempre. E o velho estilo clássico de se vestir: uma camisa social com outra de mangas longas - mas que permaneciam dobradas até seus cotovelos - por baixo, jeans e sapatos que não consegui reparar. 
Me senti patética após fazer essa análise e Jamie ergueu seu braço, acenando loucamente para os dois. Não demorou para seus rostos se virarem em nossa direção. Ambos abaixaram os óculos e se entreolharam por um momento, voltando a olhar para nós. A mulher, Lexi - eu me lembrava de seu nome como se tivesse visto a dita cuja no dia anterior -, sorriu abertamente e puxou a mão deCameron, praticamente o arrastando até nós. O homem continuava sério. 
E o momento finalmente aconteceu: ficamos todos cara a cara. 
- Ah, meu Deus! Demetria, é você? - tive me levantar rapidamente e dois braços envolveram meu corpo antes que eu tivesse o direito de respirar outra vez. Sorri surpresa e abaixei o olhar, fitando Jamie que estava conversando animadamente com um Cameron que se abaixou para ficar a altura do garoto. 
- Lexi! Quando tempo! Como vai? - sorri mais abertamente do que deveria, provavelmente ainda pega de surpresa. A mulher tentou responder, mas seus olhos se arregalaram quando ela os colocou na direção do carrinho de bebê. 
Cam, Cam, olha isso! - ela quase se jogou na frente de meu filho Matthew e não hesitou antes de levar a mão até o rostinho do mesmo, fazendo um carinho. Cameron levantou-se e nós trocamos o primeiro olhar. 
Demetria. 
Cameron. 
Foi estranho, não tenho o direito de negar. Diferente de como eu me lembrava, não apenas um dos cantos de seus lábios se ergueu, mas sim os dois. Eu fiz o mesmo e nós nos cumprimentamos apenas com acenos desajeitados de cabeça. Qual era o problema? 
Deixei que Lexi pegasse Matt no colo e ela se sentou no banco, completamente maravilhada. Jamie sentou-se ao seu lado e olhava sorridente para todos nós, como se fôssemos uma grande família feliz. 
Cam olhou para Matthew pela primeira vez naquele dia e finalmente mostrou seus dentes de branco impecável, um sorriso de verdade. Ele adiou o máximo que pôde o momento em que seus olhos se desgrudaram de meu filho. 
- Veja só como o mundo dá voltas, Demetria. Você tem um filho agora! - ri de leve, negando com a cabeça. 
- Não apenas um, mas dois. Jamie, se lembra? Nós o adotamos. 
Nós? - ele ergueu uma sobrancelha, indagando como se realmente não se recordasse de Joseph. Mentira. 
- Eu e Joseph, obviamente. 
- Claro! Eu acho que ainda estou dormindo e nem tive a capacidade de me lembrar do Joseph. Como vocês estão? - aquela estava sendo a conversa mais mecânica que eu já tive em toda a minha vida. 
- Estamos bem! - decidi dar uma resposta rápida, ele não estava pedindo um histórico de todos os problemas que andavam rondando minha vida e a de meu marido. Voltei a olhar para Lexi com o bebê e depois para o rosto desenhado com as marcas do passado de Joseph. Eles eram um casal. - E vocês dois também devem estar, pelo que vejo... - apontei um dedo para cada um, ainda sorrindo feito uma idiota. Sabe quando você torce mentalmente para certo momento acabar? Estava sendo constrangedor! 
Poderia parar de ter uma atitude infantil como aquela, mas não dava para evitar. Não com aquele homem me olhando como se quisesse fazer um raio X de tudo que vivi enquanto ele não esteve por perto. 
Wolfe pareceu notar que sua análise estava me deixando encabulada, então se aproximou de Matthew para brincar com o pequeno. A estátua denominada "Demetria" permaneceu do mesmo jeito, apenas olhando para toda aquela cena. 
- Já sei! - Lexi se ergueu rapidamente e colocou Matthew cuidadosamente em meu colo, ajeitando seus cabelos e apoiando um braço no ombro largo de Cam. - Você e seu marido podem vir jantar no meu apartamento hoje! Estamos só de passagem, mas acho que não tem problema, não é, Cameron? - um silêncio pairou pelo ambiente, exceto pelo vento que se rompia em nossos rostos. 
Era uma boa ideia? É claro... Que não
- Ótimo... - Cam sorriu fechado, eu percebi que estava tenso. - Faz tempo que não nos reunimos com velhos amigos
Concordei duvidosamente com a cabeça e Jamie me olhou balançando a sua em um sinal super positivo. 
- Não posso prometer nada ainda, tenho que falar com o Joe primeiro. Mas você pode me passar seu endereço ou telefone e entrarei em contato independente da decisão. 
Assim como começou, terminou. Um breve e estranho momento. Estava feito. Depois que trocamos telefones e o endereço do apartamento de Lexi estava anotado em algum lugar que eu já não me lembrava, os dois se despediram de mim e dos meninos e seguiram seu caminho. Desviei o olhar do casal e voltei a me focar em minha vida, meus filhos. Matthew não queria saber de ficar deitado em meu colo que manteve parado, queria passear por toda aquela região. Então voltei a colocá-lo no carrinho e Jamie se pôs ao meu lado, estranhamente agitado. Caminhamos em círculos por um tempo, até o momento em que percebi que precisava voltar correndo para casa e decidir o que fazer. Mas antes disso eu me ajoelhei à altura de Jamie para ajeitar seu uniforme e o deixei na escola, ficando sozinha com Matt no carro e dirigindo mais rápido que o recomendado. 


Completamente aliviada, coloquei meus pés exaustos e cobertos por saltos dentro de casa. Um Matthew dorminhoco foi colocado em seu berço e eu voltei para o andar de baixo, terrivelmente faminta. Assim que cheguei até a cozinha, ouvindo barulho de louças e esperando encontrar Nancy, encontrei Scarlett sentada - lê-se: jogada - sobre a bancada. Um pote de sorvete estava em seu colo e ela parecia determinada a devorá-lo antes que alguém pudesse surgir e roubá-lo. A expressão em seu rosto era esquisita. Dei passos calmos até a geladeira e comecei a caçar algo para preparar e satisfazer minha fome, foi então que ouvi a morena respirar profundamente. Desisti de meu estômago e me concentrei nela. Algo estava errada com aquela mulher. 
- Scarlett, olhe para mim. - ela não obedeceu. - O que foi? Não adianta você ficar se atormentando com sorvete sendo que pode procurar o Caleb e resolver tudo isso de uma vez por todas! 
- Não estou a fim de uma Demetria sensata zumbindo em meus ouvidos. - Scarlett disse preguiçosa, voltando a enfiar outra colher cheia de sorvete na boca. Só não me ofendi, porque a preocupação falava mais alto. Aproximei-me dela e logo estava sentada ao seu lado na bancada. Respirei fundo e me preparei para falar. 
- Certo, eu não vou ficar lhe dizendo o que fazer com seu relacionamento. Então, tenho outra sugestão! - sorri feliz por ter uma ideia repentina e que talvez melhorasse um pouco seu humor. 
- Vamos brincar de guerra e decapitar os primeiros idiotas que surgirem pelo caminho? - ela me olhou de repente animada e com uma sobrancelha arqueada. Meus olhos rolaram e voltei para o chão, tirando o sorvete de suas mãos e a obrigando a descer também. 
- Vá tirar esse pijama e coloque uma roupa mais apresentável. 
- Onde nós vamos? - seu corpo mole tombou para um lado. - Eu aceitaria viajar para a Califórnia agora mesmo e pegar uma corzinha. Olhe só para isso! - puxou a manga da blusa de pano leve que usava para me mostrar seu braço, depois apontou para o próprio rosto. - Cara, onde foi parar meu bronzeado? Estou pálida, de volta a minha estúpida cor natural. Sinto tanta falta das praias, dos caras molhados e malhados surfando, da facilidade em apenas ser uma agente secreta, sabe como é. - Scarlett realmente parecia pálida, quase não se parecia mais com a mulher que conheci quando minha vida era mergulhada em desgraças. 
- Ok, Scar, já entendi. Caleb adoraria ouvir tudo isso. 
- Não diga esse nome! - Scarlett apontou para mim com um olhar ameaçador. - Faço questão de evitar qualquer assunto que seja destinado a você-sabe-quem. 
Não controlei uma risada espontânea. 
- Por acaso Jamie te fez assistir Harry Potter
- Gata, diga logo onde você vai me levar antes que eu acabe com todo o sorvete do planeta. E, acredite, eu posso fazer isso. Se eu posso prender um grandalhão de cento e cinquenta quilos com uma perna ferida, posso fazer qualquer porcaria que eu quiser. 
- Tudo bem, sem mais rodeios! - balancei os braços a sua frente para que ela ficasse quieta. - Não quero parecer fútil, mas o melhor a fazer quando as coisas aparentemente não apresentam progresso, é mudar! Repaginar, me entende? 
Scarlett não teve tempo de tentar entender o que eu estava falando, eu praticamente a empurrei cozinha a fora e a fiz vestir a primeira roupa que encontramos. Nancy se divertia com nosso jeito afobado e disse que um belo almoço estaria nos esperando quando voltássemos. E lá estava eu tentando ocupar a cabeça com qualquer coisa que tirasse a imagem do casal de mais cedo de minha cabeça. E, principalmente, os calafrios que eu sentia quando fazia questão de imaginar a cara que Joseph faria quando eu contasse sobre o amigável convite para jantar que havíamos recebido. 
O rosto da mulher ao meu lado adquiriu uma expressão enojada quando ela constatou onde meu carro tinha estacionado. Saí, dando a volta e enlaçando nossos braços. 
- Você está brincando seriamente comigo, Demetria. 
- Anda logo, não vai doer! - dei-lhe uma piscadela e puxei seu braço. Em breve estávamos dentro um dos salões de beleza do centro de Londres. Um dos cabeleireiros mais requisitos do lugar veio rápido em nossa direção, abanando estranhamente suas mãos e se colocando atrás de Scarlett, que pareceu pronta para atacá-lo com um chute, ou um soco. O homem cuja sexualidade era duvidosa se deu a liberdade de encostar os dedos nos cabelos negros e um pouco mal cuidados dela e levou o corpo de Scar até um espelho, sorrindo malignamente ao lançar um olhar para mim como se fôssemos cúmplices de algum grande plano. 
- Querida, sente-se ali e logo cuidarei de você. Não se importa se sua amiga for minha primeira vítima, certo? - neguei com a cabeça, ignorando as ameaças que Scarlett tentava me fazer e me aconcheguei em um canto qualquer do salão, prestando atenção em tudo que acontecia ao meu redor. 
Tempos depois, quando eu já me encontrava distraída com uma revista, ergui o rosto ao tomar um susto com um grito de Scarlett, todos a olharam abismados. Sua mão segurava uma longa mecha de cabelo e ela parecia prestes a soltar fogo pela boca feito um dragão. 
- Olhe aqui, meu querido... - ela afinou a voz para imitá-lo, mostrando inconformada a mecha de cabelo que já não fazia mais parte de sua cabeça. - Pense em um jeito de colocar isso de volta no lugar ou vou ser mais faminta que você e arrancar muito mais do que cabelo do seu corpo! - o cabeleireiro se desmanchou em risadas e a empurrou para sentar-se no lugar onde estava novamente. 
- Podemos algemá-la enquanto o milagre é feito, minha querida. Não tem problema se você curtir algo mais intenso. - continuei a me divertir enquanto todo um processo foi feito. 
Depois de um pouco mais de duas horas, o serviço estava terminado. E eu estava mais calma a respeito do jantar. Meu cabelo não sofreu grandes modificações, apenas pedi ao cabeleireiro para que brincasse um pouco com o tom, o clareando de maneira sutil e eliminando apenas as pontas, mexendo minimamente no cumprimento. Depois os escovou. Eu não tinha permissão para ousar muito, não poderia esquecer. 
Mas em compensação, Scarlett... 
- O QUE VOCÊ FEZ COMIGO? - ela veio andando rápido com passos largos e olhando assustada para os enormes espelhos. Não vi todo o processo de sua transformação, então também acabei por me surpreender. Os fios longos ficaram para trás, apesar dela procurá-los desesperada com as mãos como se os mesmos estivessem invisíveis. Um corte chanel fora feito, mas foi tomado cuidado para que não ficasse muito sem volume, então alguns dos fios se enrolavam, realçando seu rosto nem muito fino e nem muito largo. Talvez o que mais tenha assustado Scarlett fora a cor que tingiu impecavelmente seus fios: vermelho.
Assim que ela virou-se para mim, a olhei sorridente, admirando seu novo visual. Tinha ficado muito bom, ela logo enxergaria isso. 
- Eu sou um gênio ou não sou? - o cabeleireiro se gabou, dando língua para Scarlett, que olhava de diversos ângulos para seu reflexo como se tentasse achar algum benefício naquele novo corte e cor. Logo ela entortou os lábios e parecia mais calma. 
- Posso me acostumar com isso! - puxou meu braço, determinado a sair logo dali. - Agora vamos para outro lugar antes que a figura interessante queira cortar mais ou pintar de azul, quem é que vai saber. 

Durante o caminho, ela me fez parar o carro. A olhei espantada e percebi que a ruiva - seria estranho deixar o "morena" de lado - procurava por algum tipo de ajuda em meu olhar, prestes a ter um colapso. Estacionei devidamente e prestei atenção no que ela tinha a dizer. 
Demetria, eu juro que só aceitei tudo isso porque preciso ter outra coisa em mente. Caso contrário, irei surtar. - Scarlett ou estava respirando com dificuldade ou nervosa demais para se dar ao luxo de controlar a respiração. - Surtar mesmo! Me tornar um Carter Stone sem pênis. 
- E por que você surtaria? - Scar começou a roer compulsivamente uma unha de sua mão e eu me irritei, puxando seu braço e a obrigando a largá-la. - Chega, ok? Eu vou levar você até a casa do Caleb e isso vai acabar. - quando tentei ligar o carro, ela estapeou meu braço e doeu. Doeu de verdade. A olhei em fúria e logo as pessoas se questionariam porque duas mulheres brigavam dentro de um veículo em pleno dia. - Essa deve ser a única explicação para o seu estado, Scarlett, então... 
- MINHA MENSTRUAÇÃO ESTÁ ATRASADA! - berrou de maneira veloz. Seus olhos se fecharam fortemente e ela juntou os lábios o máximo que pôde, como se quisesse grudá-los de vez. Congelei e tentei ter certeza de que tinha mesmo escutado o que pensei ter escutado. Os olhos de Scarlett se abriram e procuraram pelos meus novamente. 
- Você... Você acha que... - apontei para ela. Sorrindo apenas por dentro, é claro. Ela nunca poderia saber que eu estava feliz com aquela possível notícia, já que esse não era o seu estado também.
- Não! Eu não posso! NÃO POSSO! Isso não está acontecendo... É um sonho, um pesadelo muito cruel que eu estou tendo. Um pesadelo em forma de castigo por ter rejeitado o você-sabe-quem. 
Castigo, Scarlett? - ri inconformada. - Olhe bem para o Matthew e me responda: você acha que é um castigo? 
- Compare a sua vida com a minha, porra! - ela abriu a porta do carro e foi para a calçada, andando em círculos e mexendo descontroladamente nos cabelos recentemente renovados. Suas mudanças repentinas de humor começavam a me tirar do sério, mas eu tinha de ser compreensiva. 
- Por enquanto nós só descobriremos de um jeito. - meus olhos felizes avistaram uma farmácia. 
- Não, não e não... Espera! 
Scar tentou me impedir enquanto eu já atravessava a rua. Um veículo em alta velocidade buzinou enfurecido para nós, assim como vários outros. 
- Pegue. 
Minutos depois, coloquei um teste de gravidez em suas mãos, pronta para colocar aquele carro para funcionar e solucionar o mais novo mistério de uma vez por todas. A boa nostalgia veio até mim. Lembrei-me imediatamente do dia em que descobri que estava grávida de Matthew. A vontade de sair correndo e dizer isso a todos, a vontade de não tirar da barriga a mão que a acariciava diversas e diversas vezes. A esperança de um futuro melhor que viria em forma de um pedacinho de vida que cada dia ficaria mais forte em meu interior. 
Gostaria que ela pensasse daquele jeito também. 

Já em casa, eu e Nancy ficamos paradas em frente à porta do banheiro que permanecia fechada há torturantes cinco minutos. Nenhum som saía através dela e nós olhamos uma para a outra, começando a adquirir preocupação. 
- Scarlett? - dei uma leve batidinha na porta. - Você está viva? 
Empurrei meu corpo para trás quando a porta violentamente se abriu e uma Scarlett mais pálida do que nunca surgiu, ignorando nossa presença e atravessando o corredor. Corri em sua direção na intenção de segui-la e puxei seu braço. 
- Isso está melhor que os finais de temporada das séries da HBO! - Nancy comentou baixinho e eu consegui ouvir, rindo disfarçadamente. Meus olhos voltaram a se arregalar quando ela estendeu um dos braços e revelou o teste que era segurado com força pelos seus dedos trêmulos. Olhei com calma, prestando atenção no importantíssimo detalhe. O detalhe que pode mudar a vida de uma mulher para sempre. 
- Ah, meu Deus... - levei as mãos até a boca, sentindo os olhos marejarem. - Temos um bebê nerd a caminho! - comemorei, assim como Nancy. Scarlett respirou fundo e nos ignorou, jogando o teste no chão e largando o corpo em um dos sofás da sala de estar. Fui até ela, passando um braço pelo seu ombro. 
- Eu não estou grávida. Esses testes podem apontar falsos resultados, até eu sei disso! 
- Mas existe a possibilidade desse resultado não ser falso. 
- Merda, por que eu me esqueci de que tenho útero, ovários, vagina ou qualquer outra porcaria de mulher? 
- E, o mais importante: esqueceu-se de que é fértil. - segurei um risinho com o comentário de Nancy e Scarlett fingiu não ouvi-la. Inquieta, ela se afastou de mim e encostou os cotovelos nos joelhos, cobrindo o rosto com as mãos. Suspeitei que estivesse chorando. 
A campainha tocou. 
Nancy foi atender e quando meu rosto se virou para a porta, tapei minha boca mais uma vez antes que o nome escapasse. Deixei a mulher que permanecia imóvel ao meu lado e levantei lentamente, sem fazer barulho. Fui até a porta e olhei o homem parado de cima a baixo. 
Caleb
Eu e minha empregada nos entreolhamos como se estivéssemos sendo descobertas na cena de um crime, em seguida fiz sinal para que Caleb ainda não dissesse nada. Talvez pela tensão do momento, só fui reparar depois em suas vestes. Parecia um delinqüente. Jaqueta de couro, jeans surrados e, para a minha surpresa, uma motocicleta reluzente estacionada na entrada da casa. O que diabos estava acontecendo com meus amigos? 
- O que você está fazendo aqui? - disse em um sussurro, colocando meu corpo para fora. 
- O que você acha, Demetria? Eu não vou desistir dela. 
- Por que está vestido assim? Caleb, não é uma roupa que vai fazer com que você consiga colocar um anel no dedo dela! 
- Não ligue para a minha roupa. Posso entrar? Eu preciso consertar a burrada que fiz. 
Respirei derrotada e dei passagem para ele entrar, o seguindo. Enquanto ele se aproximava do sofá e se perguntava se aqueles cabelos vermelhos e curtos realmente pertenciam a sua namorada, chamei o nome de Scarlett para enfim prepará-la, para que não levasse um susto ainda maior. 
- Me deixe em paz, Demetria! Ainda tento processar a ideia de que posso estar grávida... 
Caleb deu fim aos seus passos. Nancy abriu a boca em sinal de choque e eu apenas olhei para a cena estática, só esperando o próximo ato daquela confusão. Scarlett pareceu estranhar o silêncio repentino e ergueu seu rosto, revelando olhos vermelhos. Sua expressão congelou quando seu olhar se encontrou com o de Caleb, logo ela obrigou a si mesma a desviar. Por aquilo, definitivamente, o homem estagnado no meio da sala não esperava. Quase tomei a atitude de encostar um dedo em seu ombro para ver se ainda estava vivo ou caía duro no chão de uma vez. 
- Scar... - Caleb disse pausadamente, piscando os olhos de um jeito rápido, com medo de se aproximar mais. A recentemente ruiva levantou-se e cruzou os braços, ficando de frente para ele. - Isso é verdade? - o homem não mudou seu semblante, mas eu sentia que ele queria sorrir. Apenas não fazia isso, pois tinha medo da reação dela. 
- Não, porque o teste está errado. - ela respondeu friamente, pronta para dar meia volta e subir as escadas. Eu e Nancy assistíamos de uma distância segura, petrificadas. 
- E se não estiver? 
- ELE ESTÁ! - gritou, arrependendo-se em seguida. Seus olhos voltaram a marejar. - Vai embora, por favor. Eu não posso lidar com isso agora, eu não posso lidar com nada agora! - Caleb apenas ouvia seu desabafo, imóvel. - Eu já matei pessoas, explodi lugares, roubei o que já tinha sido roubado e muito mais. O que estou fazendo agora é fingir que posso ter uma vida comum. Mas, adivinhe... Não posso! Vai embora! - Scarlett esbarrou o ombro dos dois e saiu correndo, subindo as escadas na velocidade da luz. Ela tinha sorte por ter tanta agilidade, sempre conseguia fugir antes que qualquer coisa pudesse ter a infelicidade de tentar impedi-la. 
Minha próxima reação foi ir para perto de Caleb e tentar confortá-lo. Abatido, ele ainda parecia não acreditar no que tinha escutado. Nancy trouxe-lhe algo para beber e espantar as mãos trêmulas. 
- Ela está muito assustada com tudo isso, eu não a culpo. - comentei com cuidado. 
- E você acha que eu não estou? Ela pode estar grávida, Demetria! Eu? Ser pai? Importa-se se eu desmaiar no seu tapete? 
- Respire, vá para sua casa e volte mais tarde. Vocês vão dar um jeito em tudo, eu sei que sim. Caso ela realmente esteja grávida, é apenas questão de tempo até que aceite. 
- Estamos falando da Scarlett, esqueceu? 
- Sim. Scarlett, um ser humano como qualquer outro. 
Caleb seguiu meu conselho e foi embora em sua motocicleta, me fazendo estranhar toda aquela produção novamente. Fechei a porta e larguei meu corpo no sofá. 
Tantos problemas, tantos contratempos... Tantas surpresas. Boas e ruins. Infelizmente as boas não me pertenciam até aquele breve momento.

/Demetria's P.O.V


Enquanto o resto das crianças brincava e fingia que suas identidades secretas eram as de super-heróis, espiões ou qualquer coisa que suas mentes férteis fantasiavam, Jamie e Olivia preferiam ficar sentados naquele velho banco de madeira. Tímidos, completamente tímidos. A menina tinha duas tranças feitas no cabelo e escolhia manter o rosto abaixado, olhando algumas flores pequeninas que cresciam no meio da grama. Jamie estava com as duas mãos juntas, sobre suas pernas. Olhava para qualquer canto que não fosse o rosto dela. Mas, tendo um impulso que surpreendeu até ele mesmo, abaixou-se e puxou com certa força a delicada flor que se separou de suas companheiras. Jamie se virou lentamente e se atreveu a colocá-la entre a orelha e o cabelo da menina, que encolheu um pouco o corpo e deixou os cantos de seus lábios erguidos. Olivia o olhou e abriu um sorriso de alguns dentes tortos, fazendo com que até as sardas de Jamie adquirissem um tom avermelhado. 
Os dois voltaram a desviar o olhar. 
Um vento tímido assim como ambos passou, fazendo apenas uma carícia mínima em seus corpos ainda jovens demais. A mão de Jamie que estava apoiada na madeira do banco chocou-se repentinamente com a de Olivia. A menina não sabia se saia correndo ou se voltava a olhar para ele. Em um dos cantos de uma quadra de esportes, de onde os dois conseguiam enxergar, dois conhecidos professores abraçavam-se e compartilhavam um beijo. 
- É nojento! - Jamie comentou torcendo os lábios e se esquecendo por um instante da vergonha que sentia. 
- Você acha? - Olivia perguntou. Os olhos claros cruzaram com os dele, perdendo-se no azul. - Se fosse nojento, os adultos não fariam isso o tempo todo. 
- Poderíamos tentar, e se fosse mesmo nojento, nunca mais tocaríamos no assunto. - o garoto virou o corpo na direção dela e passou a sussurrar. 
- Por mim, tudo bem! 
Com receio, Jamie se aproximou e fechou os olhos, fazendo com que seus lábios formassem um bico. Olivia tentou imitá-lo, mas gargalhou alto ao vê-lo daquele jeito. Os dois estavam rindo. Dois minutos depois, decidiram tentar novamente. 
O toque foi sutil e despretensioso. Inocente. Os lábios dos dois se desgrudaram segundos depois e cada um se virou para uma direção. Petrificados e ao mesmo tempo elétricos com a nova descoberta. Olivia retirou a flor de sua orelha e passou a encará-la, sentindo o rosto queimar. Jamie chocava um dedo indicador com o outro, não sabendo o que fazer. 
- Agora podemos dizer que já tivemos um primeiro beijo, certo? - a loira perguntou, visivelmente feliz pela novidade. 
- Sim. - Jamie respondeu sábio, compartilhando aquele ainda desconhecido sentimento. 
Uma professora surgiu e disse a Olivia que seu pai, Julian, estava lá para buscá-la. Pediu à menina que fosse até sua classe pegar seus pertences. Jamie a seguiu, ajudando Olivia e depois caminhou com ela até onde o homem estava. Julian parecia muito preocupado com algo, deixava transparecer na maneira como olhava para as duas crianças. 
- Tchau, Jamie. - a loira disse simplesmente dando um aceno com a mão e Jamie apenas a correspondeu, sorrindo sem mostrar os dentes e voltando para onde deveria estar. 

Agradecido por ter sua filha segura dentro do carro, Julian esperou que o celular tocasse mais uma vez para atender. A princípio ninguém disse nada do outro lado da linha, mas segundos mais tarde a voz se manifestou, causando arrepios de pavor no homem. - Me deixe em paz, eu nunca fiz nada para você! Não sei de onde me conhece, mas precisa parar com isso! - ele pedia desesperado. - Eu tenho uma filha para criar, por favor... 
Por que o pânico, Julian? Tudo que farei vai apenas deixar não apenas a sua vida, mas a de sua filha, melhor. Mas você precisa viajar e cumprir com o combinado.
- Combinado? - ele franziu o cenho e olhou para trás, encenando um sorriso para não preocupar Olivia. - Não tenho combinado algum com você! - impulsivo, finalizou a chamada e desligou o celular. 
- Papai, por que tem um desenho no seu braço? - Olivia perguntou do banco de trás, fitando curiosa uma imagem recém criada que era coberta por um leve plástico transparente no braço de seu pai. Julian engoliu em seco, olhando para o mesmo ponto e se perguntando o que tinha na cabeça para ter cometido tal loucura. Era um rosto tatuado, o rosto de uma mulher. 
É a sua mãe. - respondeu de qualquer jeito, sentindo alívio quando a menina apenas deu um sorrisinho de canto e virou o rosto para observar a paisagem que mudava através da janela. Transtornado, o homem dirigiu rápido até sua casa. 


Demetria's P.O.V

A porta do quarto pareceu se abrir em câmera lenta. Juntei ainda mais minhas pernas em forma de ansiedade e fingi não prestar atenção em Joseph, que tinha acabado de chegar. Eu já havia tomado banho, estava apenas de roupão e pantufas, uma toalha enrolada na cabeça. Primeiramente ele desfez o nó de sua gravata e a jogou em qualquer lugar, livrando-se também de seu casaco e abrindo os três primeiros botões da camisa. Cocei minha nuca, ainda evitando ao máximo o momento em que teríamos de ter certa conversa. Joseph não quis saber de papo e foi direto para o banheiro, voltando segundos depois. 
- Por que você nunca me espera para tomar banho? - o tom divertido de sua voz escondeu o cansaço que seu rosto entregava. - Acho que tomarei esse banho e depois pretendo cair na cama, apenas isso. Hoje foi um dia cansativo demais! Tinha um cara que não parava de falar e falar e falar... Sério, Demi, minha cabeça vai explodir! - Joe parecia se divertir com a própria desgraçada, puxando os fios de seu cabelo e esperando que eu o respondesse. Levei meu olhar até uma parede no canto do quarto, prendendo minha atenção em um quadro que parecia esquecido, escondido. Ninguém fazia muita questão de notá-lo. O quadro que Cameron me deu de presente há um bom tempo. 
Em um impulso eu levantei da cama e fiquei de frente para Joseph. 
- Se eu fosse você, esqueceria esses planos. 
- Por quê? - ele parou de me dar atenção e colocou o corpo para dentro do banheiro novamente, tirando sua camisa. O segui, antes que ele decidisse começar seu banho. 
- Tem algo que quero te contar. 
- Qual é o segredo dessa vez, meu amor? - ele sorriu maroto e ficou de costas para mim. Observei suas costas largas por um instante e respirei fundo. 
- Temos um convite para um jantar. Hoje. 
- Ah é? De quem? - Joe não parecia muito interessado, preferia lidar com uma rala barba que já começava a crescer em seu rosto. 
Eu deveria enrolar ou soltar as palavras de uma vez? Eis a grande questão. 
Cameron e Lexi. Eu encontrei os dois hoje de manhã enquanto estava no Hyde Park com os meninos. Parece que o casal repentinamente voltou à Londres. - escolhi parar com os detalhes e fechei a boca, assistindo Joseph se virar e me encarar com um ponto de interrogação na face. Ainda bem que ele não começou a ficar vermelho, não fechou as mãos em punhos e nem travou a mandíbula. 
- Não entendi. - disse sussurrando e dando um risinho confuso, como se ninguém mais pudesse ter noção de que aquela conversa estava acontecendo de fato. Esfreguei uma mão na outra e tirei a toalha do cabelo, voltando para o quarto. Foi ele quem passou a me seguir. 
- A Lexi, namorada do Cameron, disse que gostaria de nos ter em seu apartamento hoje. Para um jantar, só isso. 
Não. - Joseph respondeu como se fosse óbvio demais e eu o olhei com as sobrancelhas erguidas. 
- Não? Apenas não? - abri a palma das duas mãos e ergui os braços, como quem diz "Essa é sua simples solução?" - Estou devendo um telefonema para eles, confirmando ou cancelando, não sei. 
Demi... 
- Eu pensei por um breve momento que certas coisas poderiam ficar para trás, Joe. Você precisava ver como eles se encantaram com o Matt! É uma coisa totalmente normal, um jantar de velhos amigos. - expliquei para ele como se fosse um assunto delicado sendo explicado a uma criança. 
- Em qual parte do filme eu fui dopado e esqueci que tinha uma amizade com o Wolfe? - olhei para ele com os lábios em linha reta e um olhar morto, dando de ombros em sinal de desistência. Já estava pronta para sair do quarto atrás do telefone e dizer ao casal que deveríamos deixar para uma próxima vez. 
- Tudo bem, podemos ficar em casa olhando um para a cara do outro. - passei por ele, mas, como sempre, ele tinha o dom de me impedir de executar uma próxima ação. Meu braço foi segurado.
Demetria, você gostaria de ir? 
Nem eu sabia qual resposta era mais apropriada. Mas gostaria mesmo de tentar levar as coisas a diante, deixar o que passou para trás. Cameron não era uma pessoa ruim, muito menos sua namorada. Caso Joseph tivesse a chance de ter uma primeira conversa pacifica e sem cruéis pretensões com ele, poderíamos chegar a algum lugar. 
- Não irei me sentir confortável proporcionando momentos tensos a você. Então, se não quer mesmo ir, nós não vamos! - Joseph me soltou e olhou para o chão, pensativo. Ele soltou o ar com pesar pela boca e me olhou desistente. 
- Tudo bem. Vamos tentar e ver o que acontece. Mas, um aviso: se eu acertar a cara dele, não venha me culpar depois. Já é um costume meu. - respirei aliviada, pois quando ele terminou aquela frase, apenas riu e me deu um selinho, trancando-se no banheiro. 
Olhei para o quadro mais uma vez, me perguntando o que aquela noite estaria reservando para todos nós. 


Não foi difícil encontrar o apartamento de Lexi. Apenas poucos minutos depois que saímos de casa, já estávamos pegando o elevador. Não era um prédio muito alto, contava com poucos andares. Mas sua arquitetura era bem preservada e aconchegante. Joseph estava tão quieto naquela noite que não fez questão de reparar em minha roupa. E ele sempre tinha algo a dizer quando avistava algo vermelho em meu corpo. Jamie estava conosco também, assim como Matthew. Já que Lexi adorou os meninos, achei que lhe agradaria vê-los novamente. 
Quando as portas do elevador se abriram no andar cinco, praticamente demos de cara com a porta do apartamento dela. Toquei a campainha e olhei para meu marido, tentando dizer-lhe com o olhar que estava tudo bem. Que tudo seria diferente naquela vez. 
Lexi abriu prontamente a porta, sorrindo largo ao nos ver. Depois de cumprimentar Joe com um aperto de mão e beijar a bochecha de Jamie, ela estendeu seus braços para segurar meu filho novamente. Não discordei e permaneci de mãos dadas com Joseph enquanto entrávamos. Ele só poderia estar destinado a quebrar os ossos de minha mão, tamanha era a força que usava para segurá-la. 
- Fiquem a vontade! Podem colocar os casacos aqui. - ela apontou para um cabideiro enquanto tentava se equilibrar com Matthew em seu colo. - Não reparem na bagunça, e também no tamanho. Não é nada muito luxuoso, mas podemos dar um jeito, não é? - depois que me questionei mentalmente onde ela estava vendo bagunça, seguimos até a sala. Bem espaçosa, com um tapete preto e fofo que cobria todo o chão. Os sofás eram roxos e diversos quadros estavam espalhados pelas paredes pintadas de azul. Um deles me lembrou o que eu tinha em meu quarto, então só poderia ter sido pintado por uma pessoa. 
Percebi que Joseph tentava seu máximo para parecer descontraído, até se deixou manter uma conversa amigável comigo e com Lexi enquanto o outro homem presente naquele apartamento não dava as caras. 
Mas foi só eu pensar nisso e então ele surgiu. Seu perfume como sempre exagerado cobriu toda a sala. 
Imediatamente, Joseph soltou minha mão e levantou o rosto, totalmente pronto para cumprimentá-lo. 
- Ainda bem que vocês decidiram vir! - Cameron comentou simpático, primeiro se inclinando para trocarmos beijos no rosto. - Demetria! - eu também disse seu nome e sorri de um jeito leve. - Joseph!
Aquele momento precisava ser registrado. Os dois trocaram apertos de mão! 
- Olá, Cameron, como vai? - a voz de Joe soou calma e pareceu penetrar meus ouvidos com mais afinco. Mas por que eu estava chocada com tudo aquilo? As coisas estavam funcionando bem! 
- Vou bem, muito bem. - Cam se sentou ao lado de Lexi e esticou seu braço na parte superior do sofá, como se estivesse abraçando a namorada, que só tinha olhos para o bebê. 
Segundos agonizantes de silêncio foram convidados para aquele jantar também. 
Acabamos por manter uma conversa calma sem precisar de esforço. Raramente os homens presentes olhavam nos olhos e compartilhavam de algum assunto sozinhos, isolando-se do que eu tratava com Lexi. Cameron não se deixava impressionar, tinha suas feições relaxadas e não olhava para Joseph com o deboche de antigamente. 
- Lexi, quer ajuda com algo na cozinha? - me ofereci, sentindo a necessidade de esticar as pernas. 
- De maneira alguma, Demi! Já cuidamos de tudo, não é? - colocou uma das mãos na coxa de Cameron, que se fingiu de modesto ao concordar. Joe se virou e nós trocamos um olhar. Ele ergueu os cantos dos lábios para mim e acariciou uma de minhas mãos. 
Mais assuntos surgiram, e então chegou a hora do jantar. Cruzamos o restante da sala e passamos por uma porta de vidro até chegar a uma sala de jantar também repleta de quadros. Alguns deles com rostos de atores conhecidos e lendários. 
Exigi a Jamie que tirasse os cotovelos da mesa e inclinei o pescoço para ter certeza de que Matthew estava dormindo em uma espécie de sofá localizada naquela sala. Logo começamos a comer tranquilamente, fazendo diversas pausas para voltar a conversar. 
Inevitavelmente, o assunto chegou até o acidente de carro de Cameron. 
- Passou, hoje eu vejo aquilo apenas como uma lembrança ruim que não merece ser lembrada. - Cam comentou enquanto bebia seu vinho. - Agora nós temos cicatrizes em comum na costela,Demetria! - concordei com a cabeça, não enxergando nada de exagerado naquela comparação. 
Mas Joseph enxergou imediatamente. 
- Na verdade, Wolfe... - ele começou calmamente e depois ergueu um pouco a voz rouca. - A cicatriz de Demetria sumiu quase que completamente. Eu garanto a você, mate
Minha única reação foi chutar sua canela por baixo da mesa, fazendo o corpo de Joseph ficar tenso rapidamente. Ele me olhou com tremenda seriedade e bebeu seu vinho, fingindo que nada daquilo estava acontecendo. Lexi riu despreocupada e Cam abaixou o olhar, continuando a comer. 
O som estridente de um telefone surgiu vindo da outra sala e Cam se ofereceu para atender. Como uma coincidência detestável, uma estranha tontura me abateu. Disse aos três restantes na mesa que estava tudo bem, que eu precisava apenas me refrescar no banheiro. 
Procurei confusa pelo banheiro até finalmente encontrá-lo e me trancar ali. Era só o que faltava. Depois de toda a situação com a provável gravidez de Scarlett, eu é quem estava tendo sintomas de grávida? Bom, eu sabia que não se tratava disso. Meu ciclo menstrual estava totalmente em ordem, deveria ser outra coisa. Provavelmente a ansiedade. 
Ao sair do banheiro, quase trombei com Cameron que havia se livrado do telefone e pretendia voltar para o jantar. Nos olhamos sérios por um momento, depois nossos ombros tensos murcharam. 
- Então... - ele começou, encostando-se brevemente à parede. - Eu sinceramente pensei que ele fosse me matar! - não segurei uma risada calma que veio em resposta àquele comentário e a uma careta assustada que ele fez. 
Joseph mudou. Mudou muito! Todos mudam, não é? - olhando para toda aquela situação e analisando fatos passados, eu só conseguia chegar a conclusão de que fomos completos tolos, adolescentes inconseqüentes no passado. Que todas as situações as quais nos submetemos foram impulsivas e desnecessárias. Olhando de longe, finalmente parecíamos adultos naquele momento. Conscientes, regados de bom senso e... Amigos. Por que não? - E aí, o que faz em Londres? Eu pensei que uma volta ao mundo estivesse nos planos de vocês dois. 
- E estava, mas meu pai ficou doente e os planos mudaram. Como sempre acontece na vida. 
Uma terceira pessoal se fez presente naquele corredor, parando seus passos assim que notou a nós dois. Joseph segurava seu celular e parecia pronto para atender uma ligação importante. Ele não disse nada, apenas passou por nós e atendeu. Eu e o homem de olhos divertidos voltamos para a mesa sem mais conversa. 


Joseph's P.O.V

Onde estava com a cabeça quando aceitei participar daquele jantar? Eu sempre tentava fazer de tudo para agradar minha esposa, até mesmo me submeter a um compromisso tenso como aquele. Quem estava querendo enganar? Nunca seria capaz de ver aquele homem como um amigo. Eu tentava, tentava mesmo apagar certas coisas da memória, mas cada vez que o esforço crescia, a chance de obter sucesso diminuía. O ciúme que eu estava sentindo era quase que incontrolável, principalmente depois de ver os dois conversando no corredor. Era óbvio, Demetria não estava fazendo nada, eu sabia disso perfeitamente bem devido aos olhares que ela me lançou a noite toda, tentando me acalmar. 
Depois que finalizei aquela chamada com um dos empregados da empresa, achei necessário procurar por ar livre. Tateei por algo nos bolsos do casaco e encontrei um velho maço de cigarros. Olhando ao redor, subi dois lances de escadas até encontrar uma pequena cobertura, mas serviria. 
Eu não deveria estar acendendo aquele cigarro, muito menos o tragando. Não precisava daquilo. Demetria, apesar de ter fumado no passado, detestava com todas as suas forças aquele cheiro. Tive de pensar rápido em uma desculpa para dar à ela, pois sabia que o cheiro permaneceria impregnado em minhas roupas. Olhei desatento para as luzes da cidade, me irritando com nada e jogando o cigarro pela metade em um canto qualquer, percebendo que não estava sozinho. Por que Demi se arriscou a subir ali? 
Para o meu azar, não era ela. Era o Wolfe. 
- Velhos hábitos nunca mudam, certo? - disse de qualquer jeito, não parecia querer me irritar. Não respondi e virei o rosto, torcendo para que ele fosse logo embora. - Algum problema, Joseph? 
- Não, nenhum. 
- Tem certeza? 
- Volte para o apartamento e me deixe em paz, Wolfe! Você tem mais o que aproveitar lá dentro do que aqui fora. - fechei os olhos quando percebi que tinha falado demais. Cameron voltou a se aproximar e negava com a cabeça, totalmente descontente. 
- Qual é o seu problema? - repentinamente ele se mostrou irritado comigo. - Não há mais nada para enxergar entre mim e sua esposa. - ao ouvi-lo mencionar Demetria, virei o corpo e criei um contato visual. - Finalmente eu tenho o que realmente é meu, eu tenho a Lexi. E ela é uma pessoa incrível! Demetria é incrível também, não posso negar. - meu sangue ferveu sem que eu pudesse evitar. Gostaria de não ter tanto ciúme daquela mulher, mas era completamente e amargamente impossível. - Eu acho que nós dois somos sortudos, se quer saber. E digo mais: Você ainda pode me odiar, mas eu não faço questão de me preocupar em odiá-lo de volta. Se você me dissesse "Hey, vamos deixar o passado de lado e recomeçar!" eu apertaria sua mão e nós seguiríamos em frente. Mas, que pena, eu estou falando isso para Joseph Jonas, e ele nunca, nunca deixa o orgulho de lado. 
- Quer aplausos pelo notável discurso? - ironizei, decepcionado comigo mesmo. Toda aquela raiva e ironia não eram necessárias. Não mesmo. 
- Quero que você pare de desconfiar de sua esposa. Ela não fez nada de errado, e não vai fazer nada de errado. Se magoá-la por nada com esse ciúme desnecessário, só vai provar a si mesmo que não foi capaz de mudar. 
- Meus sinceros parabéns pela formação em psicologia. - minha paciência para seu jeito sensato de ser era nula.
- Poderia ficar aqui mantendo essa conversa inútil, mas um de nós não é mais adolescente, então... 
Cameron se afastou, voltando para a parte de baixo. 
Meu celular tocou. O número no visor era desconhecido, então atendi sem pensar. Uma voz feminina surgiu, embrulhando meu estômago repleto apenas de vinho. Onde ela tinha conseguido meu número? 
Olá, Joseph! Lembra-se de mim? Valerie, do baile. Não desligue, precisamos conversar.
- Diga, Valerie. - olhei para trás para ter certeza de que estava sozinho e dei a oportunidade daquela mulher continuar a falar. Se eu me arrependeria depois? Talvez

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