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terça-feira, 29 de julho de 2014

Secretary III - Capítulo 4

Memórias de possibilidades 
(Músicas do capítulo: Echo do Jason Walker e Heaven Forbid do The Fray. Espere os avisos para colocá-las para tocar.)



Sabe aquela sensação de não ter certeza do que foi real e do que não foi? 
Depois de uma noite como aquela, era mais do que óbvio que Joseph e eu não conseguiríamos simplesmente fechar os olhos e dormir em nossa cama. Ele tinha me prometido que poderíamos passar toda a noite conversando, mas nenhum som saía pelos nossos lábios. Quando os meninos já estavam em sono profundo, eu decidi que não queria tentar dormir, não queria continuar olhando para o teto em busca de palavras. Então tomei um banho bem quentinho, depois coloquei uma longa camisola branca de pano leve e um robe também branco e longo por cima, fazendo um coque em meu cabelo. Desci até a cozinha e peguei um cacho de uvas para ver se meu estômago parava de reclamar e sentei em uma área coberta do jardim, deixando meu olhar se perder na água da piscina que ainda tentava se recuperar da breve chuva que escolheu dar trégua rapidamente. O típico vento úmido jogava os fios soltos de meu cabelo para trás e o cheiro de terra molhada era gostoso de sentir. Eu simplesmente era apaixonada pelo clima que se instalava por toda a parte depois de uma chuva. O pano frágil da parte de baixo de minha camisola ia de um lado para o outro, enquanto eu esfregava os olhos com sono, terminava de comer as uvas e me perguntava em que parte da casa Joseph estaria. 
Não escondi a fatídica situação com Cassie, não poupei Joe de nenhum detalhe. Ele parecia fortemente aborrecido quando terminei, provavelmente tão decepcionado quanto a mim. Porque, apesar da raiva, ainda estava doendo. Quantos tempo convivi com aquela mulher acreditando que sempre poderia contar com ela? Que passaríamos anos e mais anos juntas, saindo para fazer compras, cuidar juntas de nossos filhos, planejar noites apenas de garotas, passar horas tendo conversas sem sentido... Sendo amigas. 
Respirei fundo, totalmente entristecida. Será que eu não tinha uma amiga realmente verdadeira? Não sabia se Scarlett me via como uma, já que ela tinha todo aquele jeito complicado de ser. Eu sabia que Joseph era o meu melhor amigo, sim, isso jamais mudaria, não depois de tudo que passamos... Mas mulheres precisam de outras por perto. Minha mãe não estava comigo em Londres... Com quem eu desabaria quando fosse necessário? Quem me diria para ir correndo trocar de roupa, porque a que escolhi era horrível? Quem viria correndo pedir minha ajuda e eu tentaria o meu melhor para ajudar? 
Tentei parar de pensar naquilo e me lembrei das palavras de Joseph sobre a mulher que tentou seduzi-lo. Meu marido também quis manter um jogo aberto, me contando com detalhes a conversa que os dois tiveram. Seu nome era Valerie. 
Eu estaria mentindo se dissesse que não me importava com isso. 
Sim, eu confiava em Joseph. Mesmo. Mas confiança é gerada a partir de muitos fatores. Fatores que às vezes eu simplesmente perdia o controle e não sabia mais onde encontrá-los. A parte insensível do meu subconsciente ficava repetindo "Pessoas traem, mesmo quando amam. Às vezes, pecam ao ponto de promover uma traição física, mas isso não leva embora a gravidade de uma traição psicológica. Não adianta negar, você sabe muito bem disso, afinal, é uma prova viva!
A confusa noite que tive com Cameron Wolfe era uma lembrança que nunca seria totalmente apagada, uma marca eterna. Felizmente eu sabia lidar com ela muito bem. 
Joseph sentou-se ao meu lado, apenas sorrindo sem mostrar os dentes. Ele também havia se livrado de suas roupas formais, mas não estava com roupas de dormir. Apenas uma calça jeans comum e uma blusa de mangas longas. A briga de mais cedo não passava de uma memória inútil, algo que não faríamos mais questão de falar sobre. Então por que eu não estava com vontade de tentar manter uma conversa com ele? Tudo que fiz foi encostar minha cabeça em seu ombro e continuar olhando para um ponto vago do jardim, sentindo os dedos de minha mão direita sendo acariciados pelos dele.
Ainda era cedo, eu poderia arriscar dizer que às onze da noite ainda passavam longe no relógio. Uma movimentação estranha no portão atraiu a nossa atenção e eu me desencostei de Joe, que se levantou e esperou que o mesmo se abrisse. 
Scarlett estava ensopada! 
A mulher vinha caminhando cabisbaixa e com os braços cruzados, não dando a mínima pelo fato de poder pegar uma pneumonia a qualquer instante. Ela parou bem ao nosso lado sem conseguir dizer nada. Joseph me olhou incerto e eu decidi ir até ela e puxá-la para dentro da casa, antes que realmente ficasse doente. Quando passei um dos meus braços sobre seu ombro, a testa de uma Scarlett ainda em silêncio se enrugou e ela tentou esconder o rosto, olhando para cima e abanando os próprios olhos, como se quisesse evitar um choro. Assim que entramos, eu separei uma roupa quente e toalhas, entregando e mandando que ela fosse logo se livrar daquele vestido molhado para tomar um banho quente. 
- Acho que eu sei o que aconteceu. - comentei com Joe, que parecia distraído. - Caleb deve ter tentado pedi-la em casamento. Bem, parece que não deu certo... - ele me olhou mais interessado, se aproximando. 
- Como ele foi pedi-la em casamento sem antes conversar comigo e pedir dicas? - Joseph se fez de ofendido. - Aposto que não soube fazer isso. Porque, você sabe... - ele aproveitou que eu estava sentada no sofá e se ajoelhou a minha frente, segurou minhas duas mãos e olhou fundo em meus olhos. Não entendi o motivo, mas os pêlos dos meus braços se arrepiaram. - Ele teria que ter olhado fundo nos olhos dela, tão fundo que ela certamente ficaria sem ar. - por que eu pensei estar ficando sem ar? - E segurado as mãos dela de um jeito que deixasse claro que ela não teria a oportunidade de fugir. Deixá-la sem saber o que fazer e depois tomá-la em seus braços. - me senti tonta, e ele me presenteava com um sorriso sacana. - Viu? É disso que estou falando. 
Pisquei os olhos algumas vezes e voltei a realidade. 
- Por acaso você está tentando me pedir em casamento? - soltei minhas mãos, dando risinhos. 
- Você aceitaria por uma terceira vez, Demi? - seu sorriso lindo se manifestou e os olhos verdes cintilaram. 
Quando tentei responder, o telefone tocou. O peguei e atendi prontamente, unindo as sobrancelhas e quase rindo do que uma voz masculina estava me dizendo. Primeiro perguntou se eu conhecia Caleb Austin, depois perguntou se eu tinha contato com algum familiar dele, já que tinha sido preso quinze minutos atrás. Arregalei os olhos e voltei a olhar para Joseph. Eu disse que daríamos um jeito e finalizei a chamada, tapando a boca com uma das mãos, perplexa. 
- O Caleb foi preso. 
- O quê? - Joseph disse alto, começando a rir. - Isso é impossível! 
- Parece que é totalmente possível. Mas o que será que ele fez? 
Pouco tempo depois, passos foram identificados pela minha audição. Passos furiosos. Scarlett. 
Demetria, por que você me deu essa roupa? Olha como isso fica em mim! - Scar surgiu resmungando na sala novamente, calando a Joseph e a mim. Como contaríamos a ela? - Ok, quem morreu? Foi a Cassie? - ela juntou as palmas das duas mãos, sorrindo esperançosa. Levantei-me e Joseph se afastou, deixando a pior parte para mim. A morena passou a me olhar desconfiada e depois deu um passo em minha direção. Engoli em seco, brincando com um fio do meu cabelo e procurando a melhor explicação. 
- Scar... - comecei tentando parecer despreocupada. - Aconteceu algo entre você e o Caleb naquela festa? - seus ombros murcharam, assim como seus olhos que se desviaram dos meus. De novo ela parecia frágil. E era tão esquisito ver aquele lado de seu ser. 
- Não... Sim... Ok, aconteceu uma coisa. 
- Na verdade, aconteceram duas. - revelei. - Acabaram de me ligar de uma delegacia, parece que ouve um desentendimento e ele foi preso. - falei depressa, sem ligar para fôlego. Como se fosse um curativo sendo tirado de maneira bem rápida para evitar a dor. 
Sua primeira reação foi rir feito uma hiena. 
Assim que constatou ser um fato real, jogou-se no sofá ao meu lado e tentou ajeitar as roupas em seu corpo, mexendo nervosamente nos cabelos molhados. Procurei por Joseph com os olhos e o chamei com uma das mãos. Ele se colocou ao meu lado e nós dois ficamos olhando para Scarlett, que aos poucos percebeu que aquela situação não era engraçada de fato. 
- Eu vou buscá-lo. Demetria, você fica aqui com a Scarlett? - Joe me perguntou rapidamente e eu concordei. Ele foi em direção a porta e disse a Scar com os olhos que tudo ficaria bem. 
- Espere aí, garoto inglês! - Joseph parou de andar e só então eu percebi que Scarlett tinha algo nas mãos. Uma caixinha de veludo. - Entregue isso a ele e diga que o papel de vilão na história é meu, que não estou a fim de trocar. 
- Tudo bem, mas... - Joe olhou incerto para a caixinha. Até que era bom - não o fato da briga dos dois e a prisão de Caleb, claro - estar envolvida em uma situação que não envolvesse Joseph e eu no centro. Digo, estava estampado em nossos rostos que os choques daquela noite ainda eram bem reais e sentidos, mas eu, assim como meu marido - que já parecia totalmente envolvido no resgate de seu amigo -, precisava de uma pausa de nossas próprias vidas. Mesmo que fosse totalmente breve. - Eu também vou dizer para ele tentar novamente. - Joe sorriu presunçoso para ela, que o olhou como se cometer um homicídio estivesse no topo de sua lista de desejos mais cobiçados.
Demetria, mande seu marido calar a boca ou ele vai perder a língua. Os beijos de vocês e outras coisinhas mais... - ela fazia gestos de desimportância com as mãos, divertindo a nós dois. - Vão perder totalmente a graça! - Scarlett ameaçou calmamente enquanto olhava para mim sorridente. 
Joseph a mandou para o inferno de maneira brincalhona e saiu, entrando no carro que havia pegado emprestado e indo em busca de Caleb. Ele aproveitaria para ir pegar seu Rolls Royce também, então eu e Scarlett teríamos uma noite longa. 
Virei-me, encarando seu rosto sério e tendo uma ideia. 
- Então... Noite das garotas?


Joseph's P.O.V

Não foi fácil entrar naquela delegacia, principalmente porque constantemente eu continuava a ter lembranças relacionadas àquele lugar. Mas felizmente eu podia respirar com alívio por saber que logo conseguiria tirar Caleb de seus problemas e colocar os pés para fora dali. Um dos policiais me indicou a cela dele e eu tive que pagar uma pequena fiança, mas nada de grande importância. Me levaram até sua cela e tudo que eu fiz ao encontrá-lo sentado no chão em um dos cantos foi rir e negar com a cabeça. Caleb Austin era um santo. E naquela situação eu me sentia como um pai indo livrar seu filho de uma encrenca qualquer. Ainda bem que Matthew ainda era um bebê e Jamie já era mais inteligente que alguns homens que possuíam idade suficiente para ficar atrás das grades. 
Ele levantou o rosto e me olhou com raiva, me mandando calar a boca. Assim que sua cela se abriu, ele levantou em um pulo e saiu com os ombros tensos, uma expressão desconhecida. Era outro homem, definitivamente. Eu dei de ombros, caminhando em direção a saída. Se ele não queria conversa, não teria conversa. 
- Como eu pude fazer isso? - ele disse enquanto entrávamos no carro. Seu carro não estava por perto, nem toquei no assunto. 
- Afinal de contas, o que diabos você fez, Caleb? Roubou um refrigerante de uma loja de conveniência? - voltei a zombar, pelo menos estávamos na frente de uma delegacia e, se ele tivesse uma arma escondida, não poderia usar ela contra mim. 
- Eu estava dirigindo em alta velocidade, então a polícia me parou... Eu me encontrava exaltado, mandei os dois para o inferno... Só que de uma maneira bem mais agressiva, se é que me entende. Não era eu, Joseph! 
- Ah, era sim. - comentei, ligando a carro. - Eu sei o que aconteceu. Scarlett surgiu lá em casa, está sob os cuidados da Demetria agora. - Caleb negou com a cabeça, erguendo as sobrancelhas e fingindo que não se importava. Quem ele estava tentando enganar? 
- Não aconteceu nada, ela só me humilhou. Eu me ajoelhei, sabe? Achei que seria muito romântico, que isso amoleceria o coração de pedra daquela criatura. Que ela diria sim sem pensar. Eu tentei o meu melhor, mas acho que não foi o suficiente para ela. Olhe só para mim... Ah, claro, Caleb, como você pôde se esquecer do fato de ser um idiota e de que ela é um homem no corpo de uma mulher? Estúpido! 
- Você sabe que essa última parte do seu desabafo soou totalmente estranha, não é? - fixei meus olhos no caminho, determinado a não rir mais. Ele era meu amigo, precisava de ajuda. 
- E isso importa? O que importa é que ela não sente nada por mim. 
- Cara, pare de exagerar! - aproveitei um sinal vermelho e retirei a pequena caixa de dentro do bolso do meu casado, entregando de qualquer jeito. Caleb não quis ficar segurando aquilo, então o largou no chão do carro e ficou quieto. - Vamos! - eu disse animado e ele me olhou negando com a cabeça. 
- Eu não quero ver ela agora. 
- Eu sei. Nós vamos para um pub qualquer, beber cervejas e falar de mulheres. Dois homens completamente normais. 
- Melhor que levar um fora da garota que você pensa amar. - se ele já estava confessando coisas como aquela, sóbrio, eu conseguia imaginar o que diria depois de alguns goles. Talvez eu também precisasse apenas de bebida e conversar com um velho amigo por um tempo. Esfriar a cabeça é sempre bom. 

Nós brindamos com aquelas duas cervejas, por mais que não houvesse motivo concreto para um brinde. Eu tentava me colocar em seu lugar, fazer parecer que entendia muito de relacionamentos para, quem sabe, arranjar algum conselho que serviria de grande ajuda. Mas eu não era tão experiente assim, não do jeito certo. A única mulher que realmente me proporcionou um relacionamento bom foi Demetria. E talvez eu ainda fosse inexperiente sobre algumas coisas, talvez não soubesse o que falar em certos momentos. Felizmente ela sempre estava por perto para me ajudar. 
Aquele orgulho estranho no peito surgiu, eu estava feliz por saber que tinha uma mulher como ela me esperando em casa, apesar de todo o inferno que já havia se alastrado sobre nossas vidas. Fiz aquela sensação ir embora ao dar outro gole na cerveja e me preparei para bancar um bom conselheiro. Joseph Jonas conselheiro. Onde é que o mundo iria parar? 
- Primeiro, eu acho que o seu gesto foi precipitado. - comecei, optando por ser sincero. 
- E você esperou quantas décadas para pedir a Demetria em casamento? 
- Eu a pedi em casamento durante uma briga. Às vezes funciona. - dei de ombros, orgulhoso. Ele voltou a beber, não se importava. Pediu mais uma cerveja e me deixou com cara de idiota sentado no banco do balcão ao seu lado. - Eu não te trouxe aqui para assisti-lo beber feito um condenado. 
- Eu odeio mulheres. Odeio! 
- Você odeia a cabeça das mulheres, só isso, porque o resto é impossível odiar... - cobri a boca, voltando a segurar o riso. Ele estava prestes a tentar me matar. 
- Cara, por que elas pensam que gritar "Não!" - Caleb estendeu as duas mãos e entoou uma voz aguda, na tentativa de imitar uma mulher. - Vai fazer com que a nossa vontade de tê-las aumente? 
- Porque é um fato comprovado...
- Faz sentido. 
Voltamos a brincar conformados com nosso destino. 
- Como ela é com você? - arrisquei, ainda com receio das minhas palavras. - Porque quando outras pessoas estão por perto ela é dura na queda. Mas e entre quatro paredes? - bebi mais um pouco, erguendo as sobrancelhas. - É em momentos como esse que você pode definir o que elas querem. - era engraçado comentar aquilo, já que eu adorava a maneira tímida e ao mesmo tempo atiçada que Demetria tinha quando ninguém estava por perto de nós. 
- Ela é normal
- Normal? - arregalei os olhos, pronto para começar a fazer piada de novo. - Normal, Austin? Você não disse isso! - quase considerei um caso perdido depois de ouvir aquela palavra tão... Desanimadora. 
- Tudo bem... Ela é incrível. Ela diz que gosta de nós juntos, diz que o meu jeito calmo de ser a atrai. E que pelo fato dela ser explosiva, nossos mundos se... 
Colidem? - franzi o cenho, apoiando os braços no balcão e olhando para um relógio. Aquela noite seria longa. 
- Por falta de definição melhor, ficamos com "colidem". - fez aspas com os dedos. 
- É o seguinte... Mulheres gostam de nos dominar sempre. Mas elas também gostam de perder o controle da situação, só não se deixam admitir. O que você precisa fazer é deixá-la ver que está disposto a tê-la a qualquer custo, que você a quer de qualquer jeito e, por favor, demonstre isso do jeito que vier a cabeça. Mesmo que pareça idiota, ou que ela dê um soco na sua cara, não importa! - Caleb parecia prestes a pedir um bloco de anotações para um garçom que passava por perto para anotar o que eu lhe dizia. - Ela é uma mulher durona? Sim, ela é. Mas continua sendo uma mulher. Ela quer que você assuma o controle das coisas às vezes. Caleb, elas não podem ficar sempre por cima
- Eu sei... - ele comentou aparentemente sem graça, desviando o olhar. 
- Elas gostam de pisar em nós, mas não podemos negar que adoramos e que a vontade de pegá-las nos braços e mandar o mundo para o inferno quando isso acontece é muito grande. E depois de uma briga nós parecemos idiotas, porque olhar a expressão no rosto delas é pior que levar uma facada. E, acredite, eu já lavei algumas! - paramos para rir e beber, como se nossas vidas dependesse apenas disso. - A única diferença na sua situação em um geral, é que a Scarlett passou por coisas que a maioria das outras mulheres não passou. 
- Sim, eu sei. Ela não é acostumada com isso... Ela nunca nem disse o que sente por mim, só demonstra com ações. 
- Eu vou dar um soco em você se me disser que não gosta disso. 
- Eu gosto, mas acho que é preciso demonstrar. Você não pensa que é certo elogiar sua garota e dizer que adorou o vestido dela, ou simplesmente dizer que ela está linda e que você quer levá-la para passear em algum lugar, ou ficar em casa vendo filmes? Ou fazendo sexo, eu não sei... Eu gosto disso. 
- Acredite, mate, eu penso desse jeito também. - quando me dei conta, já estava sorrindo sozinho. Eu sabia do que ele estava falando, sabia o que era me sentir feliz ao simplesmente olhar paraDemetria. Era uma sensação boa demais. - Porra, só digo uma coisa: estamos presos à elas e isso nunca vai mudar! - concordamos. - Mas voltando ao assunto principal! Comece a definir bem os papéis entre vocês dois. Deixe-a maluca, provoque mesmo, a irrite e depois faça com que ela venha até você... 
- Você tem certeza disso? 
- Claro! Provavelmente a Demi está conversando com ela agora e as duas estão tendo uma conversa parecida, mas sem cerveja. O que eu quero dizer, Caleb, é que você deve pegar leve nesse assunto de casamento. Ela vai aceitar, mas em seu tempo certo, quando achar que está pronta. 
Joe, eu não vou tentar de novo tão cedo. Ainda estou apreciando o gosto da humilhação de hoje, não preciso de outra. 
Dei tapas amigáveis em seu ombro e nós bebemos mais um pouco. Aproveitei para pegar meu outro carro e ele se dispôs a me ajudar, então cada um retornou em um veículo. 
Perguntei como quem não queria nada se Caleb gostaria de ir até a minha casa e conversar com Scarlett, mas ele negou e preferiu seguir até a sua casa, alegando que me entregava o carro no dia seguinte. 
- Obrigado pelos conselhos, cara, e obrigado por não rir muito da minha vida idiota. 
- De nada? - eu disse incerto e voltei para a minha casa, imaginando o que estaria acontecendo por lá. 

/Joseph's P.O.V


Tornava-se impossível adquirir concentração para qualquer coisa, já que Scarlett não conseguia parar quieta. Primeiro sugeri que fôssemos fazer algo para comer, mas mantê-la longe de facas era um ato inteligente. Sugeri que preparássemos martinis, mas assim que ela começou a tomar seu terceiro eu percebi que não saberia lidar com uma mulher como ela bêbada. Tive que cavar mais fundo em meu baú de ideias, e até a sugestão de fingir que estávamos em um SPA foi pensada, mas ela alegou que não gostava do cheiro dos meus produtos próprios para uma sessão relaxante de SPA em casa. 
Eu estava sentada de qualquer jeito em minha cama, tentando ler um livro qualquer enquanto a ouvia brigar com um ser imaginário. Levantei os olhos e Scarlett socava uma almofada, realmente se sentia como se estivesse em um importante torneio. 
- O que foi que você disse, Cassie? Ah, não quer que eu quebre uma de suas costelas? Tudo bem, Barbie, eu quebro o seu nariz! - o pobre do travesseiro sofreu novamente com a fúria daquela mulher, até que ela se deu por vencida e largou o corpo no chão. Comecei a me preocupar com o sono de meus meninos, porque ela não sabia muito bem como ser discreta e silenciosa em suas ações. 
- Quer assistir alguma coisa? - perguntei-lhe largando meu livro e me ajeitando na cama. 
- Depende. 
- Bom, podemos ver One Tree HillFriendsSex And The City... - enumerei com meus dedos, mas ela estendeu um braço, fazendo cara de nojo. - Ou podemos procurar o box de Mad Men que oJoseph tem, se você quiser ver algo mais sério, digamos assim. 
Ew! Onde estão as explosões, os tiros, os caras sem roupa brigando entre si... - bufei, indo até ela e a fazendo se levantar. Segurei seus dois ombros e o balancei levemente. Ela não tentaria me nocautear como estava fazendo com o travesseiro, certo? 
De repente eu estava feliz, feliz porque sentia que uma amiga estava comigo ali naquele momento. Alguém que, apesar de reclamar de tudo, continuava por perto. Scarlett não era nem de longe uma mulher delicada, se sentava de qualquer jeito e se divertia mais jogando vídeo game do que experimentando roupas ou fazendo maquiagens e arrumando os cabelos, mas eu gostava muito dela, apreciava sua companhia e seu jeito divertido de ser. 
- Nada de explosões, tiros ou qualquer coisa do gênero. Vem! - a puxei e nós sentamos na cama. 
- Por que eu tenho que me sentar onde você e o Joseph "mandam ver"? - tapei sua boca, disparando a rir e ela tentou me impedir, acabando por rir também. Logo estávamos deitadas e olhando para o teto. Fiquei em silêncio, dando a oportunidade de ela dizer o que quisesse. Eu tentaria ajudar. Joseph deveria estar tentando fazer o mesmo com Caleb. 
Naquela noite nós éramos os cúpidos. 
Depois de respirar fundo e adquirir uma expressão de donzela em perigo, ela virou o corpo na cama e se mostrou pronta para desabafar.
- Meus relacionamentos sempre foram... Estranhos. - Scarlett torceu os lábios, como se estivesse decepcionada com ela mesma. - Veja bem, gata, primeiro teve o Evan, quando meu nome ainda era Karlie... E o que ele fez? Mandou a pobre Karlie para um lugar horrível juntamente com o idiota do pai. Depois... Carter Stone. Desse eu não preciso falar nada. - sorri desconfortável, erguendo um pouco meu tronco e como em um reflexo meu corpo ficou alerta ao ouvir aquele nome. Um efeito de Carter que ainda permanecia em mim, infelizmente. - E agora o Caleb... Que aparentemente não é tão bom moço assim. Cassie deve me invejar também, aposto! - rimos novamente. 
- É claro que ele é um bom moço, só está tentando fazer algumas loucuras. - Scar me olhou sem entender, depois revirou os olhos. - Você não pode fazer pouco caso de tudo que eu digo, sabia? Quero ajudar! 
- Eu sei, Demetria. Mas... Tem tanta coisa acontecendo ultimamente. - ela estava mais séria do que nunca. 
- Estou aqui para ouvir. - voltei a relaxar meu corpo na cama e ela riu do jeito despreocupado que eu me deitei, fazendo o mesmo. 
- Seria muito esquisito e impossível se eu descobrisse que meu passado pode voltar? 
- Não, porque passados voltam. Eu descobri isso de uma maneira bem amarga. 
- Bom, você sabe que eu era filha de um homem podre de rico e que provavelmente matei um cara enquanto atendia pelo nome de Karlie... Que o seu... - ela decidiu que usar "pai" não era recomendável. - Que o desgraçado do Arthur me salvou e fez parecer que Karlie estava morta e tudo o mais. Então... Eu ando recebendo umas ligações, e o autor delas conhece o meu passado. Ele disse que eu posso recuperar o que tinha quando meu pai ainda era vivo e... Porra, você entende? Eu não sei se quero aquela vida de novo. E então surge o Caleb com um anel, ajoelhado... Não, cara, eu não posso lidar com isso! Minha cabeça vai explodir! - ela segurou a cabeça com desespero, fechando os olhos e virando o corpo para afundar o rosto em um travesseiro. 
- Você tem mais medo de recuperar seu passado ou de se permitir ser feliz com o Caleb? 
- Quem é que garante que eu vou ser feliz? - exaltada, ela gesticulava muito com as mãos, eu tive que segurar uma antes que viesse parar em meu rosto. 
- Bom, garantir é impossível, mas você vai estar com um homem que te am... 
- Calada! Você tem mais sotaque britânico que o Caleb, isso me deixa agoniada. 
- Com um homem que te ama! - falei rápido demais para ela tentar me impedir, parecíamos duas adolescentes. 
- Ele não me ama, por favor! Nem sabe o que é isso. 
- Ah, e você sabe? - a desafiei com o olhar e Scarlett novamente se mostrou insegura. 
- Nunca tive a obrigação de saber. 
- Scar, se você tem alguém que te ama e que você também ama por perto, o resto pode ser superado. Não seja tão dura com o Caleb, ele está tentando fazer o melhor que pode. Ainda é cedo para se casar com ele? Talvez sim, mas não o afaste de sua vida, porque eu sei que não é isso que você quer. Não faça coisas que sabe que vai se arrepender depois. 
- Droga, gata, por que você é sempre tão certa com suas palavras? - ela me olhou desconfiada e depois jogou os braços ao meu redor. Nos abraçamos e voltamos a rir feito idiotas. - Obrigada... A Karlie teria se dado muito bem com você. 
- A Scarlett também... Aliás, ela já está se dando bem comigo. 
O tempo passou e nós continuamos a falar besteira, amaldiçoar Cassie - só Scarlett fez isso, eu apenas assistia - e acabamos vendo um filme de ação e romance misturados que passava na televisão, o que agradou a ambas. Mais tarde ela se dirigiu até um quarto de hóspedes e Joseph chegou, me contando o que havia acontecido com Caleb. Nós rimos um pouco e Matthew acordou, mas não estava com fome e nem com qualquer outro problema, só queria dengo. A noite passou rapidamente. 

/Demetria's P.O.V


O batom de um vermelho berrante tornou os lábios da mulher mais cheios, assim como seus olhos sempre atentos a tudo ao seu redor. Ela estava sentada em uma penteadeira de frente para um espelho, penteando lentamente seus cabelos de um loiro dourado. As roupas em seu corpo eram impecáveis. O blazer era branco e a saia até o joelho preta, pois usava apenas essas duas cores. Um contraste perfeito que não estava apenas em seu modo de se vestir, mas também em seu jeito de ser. Os olhos por vezes infantis representavam o branco, o jeito que ela tinha para se fazer de boa moça. As reais intenções predominantes em sua mente representavam o preto. 
Valerie levantou-se e checou sua produção apenas mais uma vez, resolvendo fazer um coque alto e sem qualquer sinal de desarrumação em seu cabelo. Pegou uma bolsa que combinava com suas vestes e mandou um beijo no ar para um porta retrato colocado ao lado de sua enorme cama. Mas ela não gostava de olhar para aquele rosto, apesar de tudo. 
Desceu as escadas e cruzou o pequeno caminho até o lugar onde sabia que seu irmão mais novo já estava, provavelmente se entupindo com porcarias matinais. Assim que se revelou e sentou seu corpo em um dos cantos da enorme mesa retangular de vidro repleta com as mais apetitosas guloseimas, sucos, pães, etc, recebeu um olhar vazio de Sean. Ele tinha apenas vinte e três anos, mas suas sobrancelhas expressivas e seus olhos de um azul acinzentado e misterioso contribuíam para que mais idade fosse notada. Os cabelos castanhos penteados impecavelmente para trás o deixavam charmoso, mas as roupas em seu corpo ainda pareciam as de um adolescente. Uma camisa azul polo e uma bermuda cinza, com all star nos pés. Valerie colocou os dois cotovelos sobre a mesa e depois de um tempo despejou um suco de cor vermelha intensa em um copo, degustando com sede. Os dois irmãos permaneceram apenas trocando olhares sugestivos. 
- Sean, querido Sean, eu ainda não adquiri o poder de ler a mente humana, então desembuche. - ralhou Valerie, segurando um jornal que estava dobrado no canto da mesa e fingindo que se importava com as notícias. 
- Ele ligou de novo. - a voz grossa e ao mesmo tempo despreocupada de Sean soou pelo amplo ambiente. Valerie ergueu uma de suas sobrancelhas perfeitamente desenhadas e escondeu um sorriso. 
Arthur Sheppard
- Sim. 
- O que eu lhe disse, Sean? Ele não vai desistir. Eu já deixei claro como água que vou cuidar de Romeu e Julieta, mas ele continua tentando interferir. E qual é o problema daquele velho? AmeaçarJoseph Jonas através de seu grande legado? Me poupe, as pessoas perderam a noção do que é vingança hoje em dia. E para completar a idiota da Cassie estragou tudo... Por que o maldito do Arthur teve que ligar para ela durante o baile? Francamente... 
Sean riu e fez um gesto de quem não se importa com os ombros, divertindo-se com as comparações esquisitas da irmã. 
- Romeu e Julieta? 
Joseph e Demetria Jonas, tanto faz. Os dois vão acabar se matando um pelo outro no final mesmo... - Valerie deu de ombros, mordendo uma torrada com geléia. 
- Você nem conhece essas pessoas. 
- Verdade, mas Joseph eu pretendo conhecer a fundo. - seu olhar furtivo brilhou mais intensamente. Lembrou-se do homem na noite anterior, tão determinado a manter-se longe dela. Gargalhou por dentro... Logo ele seria mais uma conquista. - E você vai cuidar da adorável Demetria... Onde está seu violão? Já falou com o tio Rusty a respeito do espaço que ele pode ceder em sua gravadora? 
- Você sabe que eu não concordo muito com isso, Bloody Mary
- Por que me chama assim, garoto? 
- Esqueceu de que esse era seu apelido na escola? - os dois sorriram cúmplices, tendo diversas memórias compartilhadas. 
- Não vamos perder tempo com diversões de adolescentes quando o mundo adulto é tão mais interessante. - a mulher se levantou e cruzou a mesa, colocando uma das mãos sobre o ombro do irmão que rolou os olhos. - Vou cuidar do Sheppard e você pense em um jeito de atrair a futura cantora. Mais trabalho, meu irmão, mais trabalho e a recompensa virá. 
- Valerie, você está fazendo tudo isso apenas para conseguir dormir com o Jonas? Sabia que é completamente patética? 
- Sabia que eu não me importo com a sua opinião? 
Sean se levantou também e tomou uma direção diferente de sua irmã, subindo as escadas correndo. Provavelmente pegaria seu violão. Valerie saiu de casa logo depois, sacando o celular e construindo alguns planos práticos em sua mente, agradecendo com um amigável aceno de cabeça o motorista que lhe abriu a porta do carro. 
Valerie discou os números e esperou pacientemente, prestando atenção na paisagem ao seu redor. 
- Olá, meu querido. - disse abrindo um largo sorriso. - O que acha de se aposentar e ir jogar golfe em Hamptons? Você está velho demais para aventuras como essa. Esqueça que sua filha o detesta e saia do jogo, eu cuido da situação geral da Empire e do Joseph... Com muito prazer. 


Demetria's P.O.V

Era uma manhã de temperatura amena. Scarlett estava na sala de televisão jogando vídeo game com Jamie, vez ou outra eu conseguia ouvir os dois discutindo ou gritando um com o outro. Eu estava em meu quarto, determinada a encontrar algumas coisas para relembrar momentos bons. Uma caixa branca e funda estava sobre a cama e eu já segurava outra para colocar as duas juntas. Após abrir as tampas, sorri sozinha. Meus dois vestidos de noiva. Um vermelho e o outro branco com detalhes em creme. Antes de pensar em experimentar qualquer um deles, voltei para dentro do closet e aos fundos de algumas caixas com pertences antigos tanto meus como de Joseph, encontrei alguns livros que chamaram muito minha atenção. Livros de medicina. Vários deles. Ignorando a camada de pó que se encontrava sobre sua superfície, eu retirei apenas um e fiquei folheando as páginas, pensando há quando tempo meu marido os guardava ali. A sensação de aperto no peito me tomou... Meu Deus, ele queria tanto se tornar médico! Mas por que não poderia correr atrás desse sonho? Eu o apoiaria de qualquer maneira. 
Decidi que não queria ficar olhando para aqueles livros, porque eles me entristeciam, então voltei a concentrar toda a minha atenção nos vestidos. Retirei o branco de sua caixa cuidadosamente e o segurei com as duas mãos, deixando todo o seu cumprimento se estender e tocar o chão. Tentada a vesti-lo e vislumbrar minha imagem no espelho, eu tratei de arrancar a camisola que estava usando e com um pouco de dificuldade consegui por fim moldá-lo ao meu corpo. A área do tronco ficava levemente larga, afinal, quando o usei pela primeira vez estava no quarto mês da gestação de Matthew. Mas mesmo assim caminhei até o espelho de corpo inteiro e fiquei deslizando minhas mãos por ele, ignorando minha cara de sono e cabelo bagunçado. 
Não tive tempo de correr ou tentar arrancar o vestido quando a porta rapidamente se abriu. Joseph surpreendeu-se ao me ver daquele jeito e arregalou os olhos, mas depois tudo que conseguiu fazer foi sorrir. 
- Quando é o casamento, Demetria? - ele perguntou de bom humor e sentou-se na cama. 
- Toda essa coisa da Scarlett e do Caleb me fez sentir saudades dos nossos casamentos. Viu só? O branco ainda me serve! Mas acho que o vermelho fica apertado... - resmunguei para a minha própria imagem no espelho. 
- Mas quem foi que disse que o fato do vestido ficar apertado é um problema? - revirei os olhos e me virei para ele, que estendeu sua mão para que eu a segurasse e me puxou para mais perto. Eu detestava com todas as forças do mundo a minha tensão pré-menstrual, porque em um dia queria chorar até morrer, no outro sentia vontade de matar a primeira pessoa que me olhasse torto e no seguinte ficava toda emotiva e nostálgica. Se Joseph me propusesse em casamento por uma terceira vez, eu acabaria até aceitando. 
- Acho que não aproveitei como deveria certos momentos de nossa vida, Joe. - confessei olhando para baixo e ele segurou meu queixo, o erguendo. Afastei um pouco a saia do vestido do caminho e me sentei ao seu lado. 
- Você fala como se nossa vida estivesse no fim. Demi, nenhum de nós sequer chegou aos 30 anos ainda... Temos muita coisa para viver. 
- Não precisa me lembrar que estou perto dos trinta, Jonas. - cruzei os braços emburrada e ele me olhou como se dissesse que detestava meus momentos de mulher exagerada. Até eu os detestava. - Joseph, você acha que eu sou exagerada demais? Dramática demais? E que adoro usar toda uma lista de outros defeitos em demasia... - ele me cortou. 
- Sim, você é exagerada. Sim, você é dramática. Sim, você tem muitos defeitos como qualquer outra pessoa. E, sim, eu posso lidar com tudo isso por uma eternidade. Não me importo... - Joseph beijou minha mão. - Porque nós sempre acabamos em momentos como esse... Relembrando coisas e tendo conversas simples. E, pode acreditar, eu não me canso disso e... 
It's not always rainbows and butterflies, it's compromise that moves us along... - o interrompi em forma de vingança e ele me olhou abismado, fechando a cara e unindo as sobrancelhas. 
- Você me interrompeu para cantar Maroon 5
- Olha só, você conhece a letra de uma música deles! 
- Como é que não vou conhecer? Você ouvia essa banda em excesso quando éramos namorados. 
Quando eu pensava em me sentir insegura e com medo do que aquela mulher chamada Valerie poderia tentar fazer com meu marido, ele vinha de supetão com todas aquelas declarações e eu perdia o chão. Sentia medo. Mas um medo bom, aquela coisa estranha no estômago. 
- Bom, eu vou parar de ficar reclamando das coisas... Como você disse, ainda não temos 30 anos, o mundo ainda é nosso. - eu lhe disse e me levantei, livrando-me do vestido antes que pudesse estragá-lo de alguma forma. Não sabia como Scarlett ou Jamie ainda não tinham dado um jeito de invadir o quarto. 
- Somos jovens, ainda podemos fazer loucuras! 
- Não se empolgue tanto... - o alertei, me perguntando o que aquele ser aventureiro ainda pensaria em fazer com nossas vidas. Joseph poderia a qualquer momento determinar que iríamos viajar para algum lugar com montanhas e depois pular de bungee jump. Ou coisas piores, tive até medo de seguir aquela linha de pensamento. 
- Você está melhor? Digo, todo aquele assunto com a Cassie... - ele atraiu minha atenção e eu terminei de vestir minha calça jeans e uma blusa simples de mangas longas distraidamente, pensando em uma resposta. 
- Acho que sim, talvez a ficha ainda não tenha caído, mas o que é que eu posso fazer? Não quero que ela volte a se aproximar de nós! - determinei. Jamie me gritou dizendo que alguém estava na porta e queria muito falar comigo. Joseph e eu nos entreolhamos confusos e saíamos do quarto, indo até a entrada da casa. 
- Morre! Morre! Morre! Jamie, pare de fazer isso... É roubo! - Scar e Jamie continuavam seu jogo e eu os escutei enquanto ia até a porta, onde Nancy me esperava juntamente com um homem alto de cabelos loiros e... Dois bebês. Um estava em seu colo e o outro em um carrinho de cor azul. Meu semblante se fechou e eu encarei a expressão preocupada de Dwayne. Irmão mais velho de Cassie. Sem pensar duas vezes chamei Dianna com as mãos para que ela viesse em meu colo, e a pequena rapidamente se soltou de seu tio para vir em meus braços. Acariciei seus cabelos loiros e beijei o topo de sua cabeça, dando espaço para Dwayne entrar assim que tirou o outro gêmeo do carrinho. Joseph olhou para nós dois preocupado e se curvou um pouco para brincar com Dianna, que não podia vê-lo que já começava a sorrir. Dimitri estava incerto sobre dormir ou não. Joseph se ofereceu para segurá-lo. 
- O que houve, Dwayne? - arrisquei perguntar, mesmo que já conseguisse formular uma hipótese. Mas não era possível, ela não teria sido capaz de fazer isso. 
Cassie desapareceu. - ele lançou sem esperar, afundando o rosto nas palmas das mãos. Olhei de Dianna para o meu marido e um pânico sem tamanho cresceu dentro de mim. Assim como raiva. 
- E deixou os bebês sozinhos? - Joe perguntou perplexo, distraindo Dimitri. 
- Ela me ligou ontem à noite, já era de madrugada... Disse que eu precisava ir até a casa dela, pois era urgente. Quando cheguei, tive que abrir a porta a força e encontrei a empregada trancada em um dos quartos com os bebês. A mulher estava apavorada, mas ainda conseguia se lembrar que Cassie tinha deixado um bilhete para mim. 
- E o que estava escrito no bilhete? - Dianna se divertia brincando com os dedos de minhas mãos, querendo colocá-los na boca. Eu tentava segurar a vontade de chorar, mas a cada fração de segundo que imaginava a coragem que uma mãe teria de abandonar um filho ficava mais e mais impossível. Joseph permanecia quieto ao meu lado, ele entendia o que era ser abandonado. 
- Cassie disse que não poderia mais suportar uma vida assim... Que esperava que eu e o resto da família pudéssemos cuidar dos gêmeos. Eu tentei entrar em contato com ela a madrugada toda, mas ela não quer me atender. Falei com a nossa mãe e ela disse para esperar, para levar os dois até Bolton e simplesmente esperar. Ela tem fé que Cassie vai se arrepender e acabar aparecendo lá uma hora ou outra. Afinal, ela tem que aparecer, não é? Não pode abandonar os filhos assim! 
- Quando você vai levá-los? - senti uma lágrima escorrer pela minha bochecha. Dianna pareceu notar minha tristeza e começou a resmungar também. Segurei-a com mais cuidado, encostando sua cabeça em meu ombro e tentando acalmá-la. 
- Hoje mesmo. 
Joe e eu trocamos olhares inconformados. Como aquela desgraçada pôde fazer isso? 
- Me desculpe, Dwayne, mas eu ainda não estou conseguindo processar essa informação. Permaneci com a Cassie durante toda a gravidez e ela parecia tão... Tão... 
- Sim, eu sei. Também estou revoltado, a ponto de varrer o mundo atrás dela e tentar entender qual é o problema que aquela garota tem na cabeça. Mas confesso que, parando para pensar, isso não deveria me surpreender tanto. Cassie sempre quis tudo, mas nunca foi atrás de conquistar o que me almejava. Lutar, entende? Sempre queria tudo do jeito mais fácil. E quando não conseguia, acabava desistindo ou apelando para soluções rápidas. 
Dwayne alegou que precisava ir logo, então eu e Joe o ajudamos a levar os bebês até a casa de Cassie. Me despedi dos gêmeos com pesar, sussurrando em seus pequenos ouvidos que tudo ficaria bem. 
- Cuide deles, por favor. - pedi ao homem. 
- Vamos cuidar, eles permanecem com a família, não é? Se a mãe não der valor, nós daremos. Não tem porque cresceram de maneira incorreta. Não vamos deixar isso acontecer. - o homem entrou na casa e sumiu de nossa visão, assim como Dianna e Dimitri. Estava frio e meus olhos lacrimejaram. 
- Por que ela fez isso, Joseph, por quê? - ele tentava me confortar, abraçando-me pela cintura. Deixei que lágrimas caíssem. - O Jared não merece estar vendo tudo isso... Essas duas crianças precisam dos pais! Que droga! - solucei. - Se aos menos ele estivesse vivo... Nunca deixaria algo assim acontecer, tenho certeza que estaria cuidando com todo o carinho do mundo dos dois nesse momento e... 
- Ei, Demi, fique calma! Você não vive dizendo que vai ficar tudo bem? Não duvide de suas próprias palavras agora. Além do mais, eu tive a infelicidade de receber um telefonema de minha tia Karen, lembra dela? Ela nos quer em sua casa hoje à tarde. Assuntos da Empire. - Joseph limpou uma lágrima em meu rosto e enlaçou nossos braços, tomando a direção de nossa casa novamente. Outro dia cheio em minha vida... Que novidade, não? 


Coloquei o sobretudo preto por cima do vestido e depois ajeitei minha meia-calça também preta com sapatos vermelhos de salto. Olhei-me no espelho para garantir que a tia de Joseph não teria o prazer de me chamar de menina novamente. É, acho que eu estava parecendo com uma mulher naqueles trajes. Deixei o cabelo solto sem nenhum detalhe adicional e fui para o andar de baixo da casa. O inverno estava começando a dar vários índices de sua chegada, o tempo do lado de fora era fechado e nuvens acinzentadas e carregadas só tornavam aquela tarde ainda mais sem vida. Pensei em levar Jamie e Matthew comigo, mas o primeiro não quis, alegou que preferia ficar atormentando Scarlett, que ainda continuava em nossa casa. E por que Caleb ainda não tinha dado sinal de vida? Eu deveria ter ligado para ele e dado um empurrãozinho. Mas ainda era cedo, então eu tinha muito tempo ainda para pensar em um jeito de juntar os dois. Em uma mão eu segurava minha bolsa simples e na outra uma maior, com algumas coisas para Matthew. 
Joe estava me esperando em frente ao carro, com o bebê em seus braços. Parecia distraído, apontando para alguma coisa à frente. Avisei os dois de minha presença e arrumei uma das bolsas dentro do carro, pegando Matthew em meus braços para que Joseph pudesse dirigir. 
- Nervoso? - perguntei, ajeitando ele na cadeirinha especial no banco de trás. 
- Nervoso por que provavelmente vou sentir vontade de arrancar a cabeça dela ou por que vocês não merecem passar por um encontro como esse? - Joseph não ousava dar um mísero sorriso sequer. Como sempre o contato com aquela parte de sua família não era apreciado. Ele dirigiu rápido, sem puxar grandes conversas comigo. Assim que chegamos à casa de Karen, não esperei que ele abrisse a porta para mim, saí imediatamente e peguei Matt, o envolvendo com uma manta devido ao clima ruim do lado de fora. Karen estava parada no jardim, com os braços cruzados a nossa espera. Ela ergueu as sobrancelhas quando me viu com Matthew e abaixou os óculos escuros. Eu gostaria de saber onde ela estava enxergando sol para usá-los. 
Assim que Joseph se aproximou, um cão de cor caramelo surgiu e foi direto ao seu encontro. Olhei sem entender para a cena enquanto Matt esticava os bracinhos como se pudesse segurar o animal.Joe se abaixou e passou uma das mãos pela cabeça do cão, que parecia feliz ao vê-lo. Karen soltou um risinho insignificante e balançou a cabeça negativamente. Logo meu marido estava ao meu lado, fingindo uma felicidade invisível ao olhar para sua tia. 
- Gostei do cão, e o Matthew também! - comentei e ele sorriu. 
- Fazia tempo que eu não o via, mas ele se lembrou de mim. O curioso é saber que Karen teve sensibilidade o suficiente para continuar a criá-lo mesmo depois de tudo. 
- É uma honra ter a sua companhia hoje também, Joseph, agora entrem, está frio demais aqui fora. - ela deu as costas para nós e entrou toda pomposa em sua casa, não parando momento algum para trocar alguma palavra. Nos guiou até sua sala de estar e lá nós nos sentamos. Eu estava desconfortável, e Matthew parecia incomodado com alguma coisa também. 
- E então, por que nos chamou? - Joe quis ser direto. Olhei ao redor, avistando algumas empregadas transitarem por um corredor que levava até outras partes da casa. A sala onde estávamos era repleta de tons de marrom e azul escuro, uma decoração bem luxuosa e exagerada. Karen era rica também. 
- Deixe de ser apressado, garoto! E, você, Demetria, vejo que finalmente está vestida como uma mulher! - Karen fingiu simpatia e se aproximou mais de mim, segurando uma das mãozinhas de Matthew, que escondeu seu rosto em meu peito e começou a resmungar. Joseph riu com isso e a mulher fingiu que nada estava acontecendo. Permaneci imóvel, mas rindo por dentro também. 
Os dois começaram a conversar e eu realmente não conseguia manter meu foco naqueles assuntos, sempre acabava me distraindo ou tendo que dar atenção ao meu filho, que continuava inquieto. Karen parava diversas vezes sua discussão com Joseph para me repreender com o olhar, mas eu fingia que nada estava vendo. Em um momento qualquer ela desistiu e se irritou de verdade. Uma empregada adentrou a sala com uma bandeja prateada, pires e xícaras de porcelana estavam sobre ela. Pelo cheiro, era algum tipo de chá. 
- Hey, meu amor, tudo bem. Fique calmo! - eu tentava acalmar Matthew, sem sucesso. 
Demetria, pelo amor de Deus, dê um jeito nessa criança! - Karen ralhou e meu marido a olhou com raiva, não controlando o impulso de falar o que ela merecia ouvir. 
- O que te faz pensar que tem o direito de falar desse jeito com ela, Karen? 
- Não se preocupe, Joe, o Matthew é mais fácil de acalmar do que certas pessoas. - eu disse indiferente, finalmente conseguindo ajeitar o bebê em meu colo de um jeito que ele pareceu ficar mais calmo. Meu marido voltou a soltar um risinho discreto e Karen se deixou abater novamente. Ela pensava que eu ficaria quieta? 
- Muita classe tem sua esposa. 
- Obrigada, Karen. Eu aprecio seus elogios, de verdade. - troquei um olhar cúmplice com Joseph, que voltou a manter uma conversa tensa com a mulher. Logo o assunto se distorceu, fugindo completamente da área de negócios, indo parar naquela família, nas situações conturbadas e, consequentemente, no pai de Joseph. Depois de um tempo, Karen achou melhor desviar o assunto e me perguntou sobre Jamie. 
- Eu admiro sua capacidade de se importar com os filhos dos outros, mas não me diga que olha para esse bebê e para o garoto adotado da mesma maneira. - Joe cobriu o rosto com as mãos e respirou fundo. Eu me perguntava onde aquele ser humano de saia tinha adquirido tanta destreza com a capacidade de ser desprezível. Felizmente naquela tarde eu tinha respostas na ponta da língua. 
- Não sei se você é capaz de me entender, Karen, mas isso vai muito além de laços sanguíneos. Muito além. Jamie é um garoto incrível... E, sim, ele é meu filho. - dei ênfase nas últimas duas palavras. - Não importa o que tentem dizer, nada vai mudar isso. 
- Provavelmente a tia Karen sente falta da época em que se preocupava com os outros, por isso está te atacando dessa maneira, Demi. - Joe me alertou, insinuando coisas que começavam a me deixar curiosa. 
- Tem razão, Joseph, fui uma pessoa boa para você quando ninguém mais fazia questão de ser. Aposto que se esqueceu desse detalhe durante todos esses anos. 
- Eu fiz questão de esquecer, pois foi graças a você que eu cometi tantos erros. - Joseph rosnou as palavras, me fazendo olhá-lo sem entender nada. Parecia que estávamos prestes a entrar em uma máquina do tempo novamente, eu conseguia sentir o passado se alastrando por toda aquela sala. 
- Por que diz isso, querido? Só porque avisei ao seu pai quando você estava determinado a fugir para estudar medicina? Desculpe-me, mas não posso voltar atrás. Você sabe que aquilo teria sido um erro, provavelmente seria um ninguém agora. Sem diploma... Sem esposa, sem filhos, sem nada. 
Minha boca se abriu involuntariamente. 
Então Joseph já havia tentado mesmo estudar medicina? Por que será que ele nunca se sentiu a vontade para compartilhar essa memória comigo? Só a possibilidade de imaginá-lo realizando um sonho de infância me deixava feliz. 
O homem ao lado não falou mais nada, permaneceu apenas encarando o chão de piso perfeito, coberto por lembranças. 

/Demetria's P.O.V

Flashback
(Coloque a primeira música para tocar!)

Joseph observava a entrega dos diplomas de longe. Era o fim do colegial. O fim de um período tão turbulento e escuro em sua vida. O garoto completara seus dezoito anos recentemente, mas continuava a se vestir como o típico adolescente rebelde. A jaqueta de couro, o jeans surrado e o all star nos pés. Cabelos levemente crescidos e um cigarro por entre seus dedos. Pensava no que estava acontecendo com sua vida, no que estava se tornando. Erin, sua melhor amiga, continuava desaparecida. Margo, a garota que teve a coragem de chamar de namorada também não dava sinal de vida. E tantos outros rostos que tornavam seus dias mais miseráveis também fizeram questão de sumir. Talvez ele finalmente estivesse conquistando a chance de começar de novo. 
Joseph sabia muito bem o que queria, sempre soube, na verdade. Mesmo que se deixasse levar por pensamentos errados, a ideia de realizar um sonho de infância sempre permaneceu viva em seu interior. 
Ele deu as costas àquela escola e a seu passado indefinido. 
Tinha um destino certo em mente, só precisava passar brevemente em sua casa e avisar sua tia Karen de que não seria mais visto. Pelo menos não até ter um importantíssimo diploma em mãos, assim como um jaleco branco vestido em seu corpo e a habilidade de salvar vidas. A irmã de seu pai era a única que aparentemente mostrava alguma preocupação com ele. Joseph se lembrava vagamente das vezes em que a mulher ainda jovem fazia questão de passar na casa em que era obrigado a viver com seu pai, só para deixar a vida do garoto um pouco melhor, para que ele pudesse desabafar sobre seus medos, raivas e tristezas. 
Seu carro estacionou de qualquer jeito e ele saltou para fora, correndo e entrando como um vulto. Subiu as escadas sorrindo sozinho e se trancou em seu quarto, pegando o celular e discando o número de sua tia. Enquanto esperava ser atendido, pegou uma mochila e a primeira mala que encontrou. Seus preciosos livros de medicina que fazia questão de ler um pouco toda dia foram despejados na mochila de qualquer jeito, assim como roupas que ele nem fazia questão de notar, na mala. Karen atendeu ao telefone. 
- Tia Karen? É o Joe! - a mulher do outro lado da linha estranhou a felicidade que cobria a voz do sobrinho. - Lembra quando eu disse que sairia dessa vida? Eu vou fazer isso agora! - ele continuava a correr de um lado para o outro do quarto, rindo sozinho. Finalmente, depois de muito, muito tempo, estava conseguindo sentir-se feliz. Livre da vida fria e asfixiante em que seu pai fazia questão de mantê-lo preso. - Não me importa como, mas eu vou me esforçar ao máximo. Estou pensando em ir para outra cidade e me preparar, posso pegar algum dinheiro sem que meu pai desconfie... - Joseph estava tão empolgado que Karen ainda não sabia o que dizer. - Você acha que eu tenho chance se tentar Cambridge ou Oxford? Eu sei que é muito difícil e arriscado, mas irei me dedicar mesmo e... 
Joe, acalme-se! - Karen pediu, receosa. - Você tem certeza de que quer isso?
- Mas é claro! Não venha me dizer que é errado querer fugir, você vivia me dizendo para fazer isso quando uma oportunidade surgisse. Tia Karen, eu estou prestes a conseguir! Serei um médico e... Foda-se toda essa merda de vida que eu tenho! 
Controle sua boca, querido.
- Certo, me desculpe. - o garoto jogou a mochila em um ombro e segurou sua mala, sem se dar a oportunidade de olhar aquele quarto por uma última vez. 
Foi até o escritório correndo e procurou pelo cofre cujo sabia perfeitamente a combinação. 
- Muito obrigado, de verdade. Você sempre me apoiou e agora eu farei a coisa certa... - com o cofre aberto, Joseph pegou alguns maços de dinheiro e alguns outros objetos de valor que encontrou, enfiando dentro de um dos bolsos laterais de sua mochila. - Nunca vou me esquecer disso. Espero te encontrar um dia... Espero poder ter uma esposa e filhos para te apresentar. Obrigado, obrigado... Tchau! 
Joseph! - ela tentou, mas a ligação havia sido encerrada pelo garoto. 
Karen sabia que era errado o que ele estava fazendo, que toda a possibilidade de conseguir alcançar seu sonho daquele jeito era uma mera ilusão. Antes que pudesse impedir a si mesma, já discava uma sequência de números. Seu irmão atendeu com a voz impune de sempre. Karen não pensou duas vezes antes de entregar os planos de Joseph, deixando seu pai enfurecido. 

I'm out on the edge and I'm screaming my name
Like a fool at the top of my lungs
Sometimes when I close my eyes I pretend I'm alright
But it's never enough
Cause my echo, echo
Is the only voice coming back
My shadow, shadow
Is the only friend that I have.


O veículo já cruzada os limites da cidade. Joseph cantava em alto e bom som alguma música cuja letra falava sobre liberdade. Permanecia com os óculos escuros, olhando para trás diversas vezes para ter a certeza de que não estava sendo seguido. O vento que entrava pela janela do carro bagunçava seus cabelos já bagunçados e vez ou outra ele ainda se pegava rindo sozinho. 
- Cardiologista? Neurologista? Clínico geral... Posso ser cirurgião também... Porra, são escolhas demais! - disse a si mesmo, divertindo-se com todas as suposições que fazia. Um novo Joseph Jonas estava prestes a nascer. 
A sirene de um carro de polícia congelou sua atenção e Joseph sentiu seu estômago dar uma volta completa. Os lábios trêmulos assim como as mãos permaneceram imóveis e ele pensou em acelerar, mas o outro veículo já estava perto demais. Ele teve que parar e sair do carro. 
Atrás dos policiais que já revistavam suas coisas, enquanto ele permanecia imóvel ao lado do carro, um homem surgiu com passos pesados e uma expressão dura. As mãos do garoto se fecharam em punhos e ele engoliu a vontade de chorar. Era isso, seu pai tinha conseguido mais uma vez. Estragaria sua vida mais uma vez
- Quando é que você vai crescer, Joseph? Achou mesmo que conseguiria fugir assim? - Joseph disse e um dos policiais que encontrou o que o garoto tinha roubado do cofre se aproximou, mostrando os pertences a Joseph. O homem apenas fingiu-se de triste e se aproximou mais, o segurando por um dos ombros com violência. Joseph olhou com fúria para o pai e depois fechou os olhos com força.
- Você não vai... Você não vai estragar a minha vida de novo! 
- Eu não estou estragando sua vida, você é quem se encarrega de fazer isso todos os dias. O que farei com você? Os policiais encontraram o que roubou de mim, posso deixar que o levem para a cadeia agora ou você pode desistir dessa idiotice de ser médico e vir comigo. A Empire está clamando pelo meu herdeiro
- Que se foda você e a Empire, eu não quero... - o garoto teve que parar de falar quando outro policial saiu de dentro do carro, pronto para prendê-lo. 
- Vamos logo, garoto. E me lembre de agradecer sua tia pelo aviso, felizmente ela sabe fazer algo de útil na vida. 
Joseph viu seu sonho despedaçado antes mesmo de se concretizar. Assistiu seu destino escurecer assim como seus olhos, que adquiriram um aspecto frio e calculista. O que veio a seguir fora apenas o resultado de anos sendo obrigado a conviver no meio de um mundo cruel como aquele. Ele se tornou alguém cruel também. 

Fim do flashback

Demetria's P.O.V

Matthew havia pegado no sono em meus braços e Joseph não parecia mais do que um garoto assustado depois daquela curta visita a um passado que já não fazia mais parte de seu ser. Karen também estava em silêncio, provavelmente se remoendo pelo que fez. 
Sonhos que temos quando crianças... Todos se vão¹. - ela disse por fim, levantando-se e deixando claro que meu marido e eu poderíamos ir embora caso fosse de nossa vontade. 
Logo já estávamos no carro novamente, voltando para casa. Joseph não tentou dizer uma palavra o caminho todo, e eu o deixei mergulhado em seu silencio, suas reflexões e a tristeza que ele ainda sentia constantemente. Afinal, aquele homem carregava muitas lamúrias que ainda não eram de meu conhecimento. Do que mais eu teria que ser capaz de fazer para, enfim, curar todas as suas feridas? 


(Coloque a segunda música para tocar)
Joseph estacionou o carro e eu corri para dentro com Matthew, o entregando para Nancy para que pudesse guardar as bolsas. Quando retornei à sala, percebi que meu marido ainda estava estagnado no jardim, com as mãos nos bolsos da calça, olhando para o nada. Ignorando o frio e o fim de tarde, coloquei meu corpo para fora e caminhei até ele, parando ao seu lado. Ficamos aproveitando o silêncio um do outro por um tempo. 
- Gostou de ouvir mais uma das muitas histórias maravilhosas da minha vida, Demetria? - ele tinha um tom triste de ironia em sua voz. Permaneci muda, apenas passando um braço pelo seu ombro e encostando minha cabeça em seu ombro. 
- Se as coisas tivessem acontecido de outro jeito, provavelmente agora você estaria exercendo a profissão mais bonita do mundo. 
- Sim, e não teria conhecido você. 
Ele virou o pescoço e se abaixou um pouco para encostar os lábios nos meus. O vento pressionava seu perfume contra minhas narinas. Nos beijamos levemente, sem mostrar interesse por uma aproximação mais intensa. 
- Mas eu sei que isso machuca. Ela estragou sua última chance de conseguir o que queria... 
- O que foi que você disse? - ele semicerrou seus olhos verdes e eu mordi a língua, percebendo o erro em minha frase. - E o que te faz pensar que eu não tenho o que quero? - seus olhos correram pelo meu corpo, nunca perdendo a oportunidade de me atingir com sua malicia. - Só que às vezes os malditos resquícios da vida inútil que eu levava se mostram presentes. Demi, eu sou um homem feliz... Apenas estou triste agora. Não se preocupe comigo. 
Concordei com um aceno e ameacei me afastar dele e voltar para dentro, mas sua mão segurou meu braço e eu congelei o corpo, sorrindo sem que ele tivesse a oportunidade de ver. Nossos corpos voltaram a ficar próximos e eu apoiei minhas duas mãos em sua peitoral, deixando nossos narizes se encostarem. 
- Pensei que estivesse triste. - provoquei. 
- E estou. Mas você sabe melhor do que ninguém o que eu gosto de fazer quando estou triste... - Joe mordeu o lábio inferior e olhou ao redor com uma expressão malandra. - Afogar a tristeza
Dei um passo para trás, encolhi meu corpo e fechei os olhos com força, esperando o que me aguardava. Tentei gritar quando senti Joseph segurar meu corpo e me erguer no ar, correndo até a piscina. Eu implorei para que ele não fizesse o que estava pensando, rindo loucamente de nervoso ao imaginar como aquela água deveria estar gelada. Porém, nossos corpos foram jogados na piscina e afundaram. Procurei desesperada pela superfície e ele me acompanhou. Nos dois olhamos um para a cara do outro, completamente ensopados e roxos de frio. Disparamos a rir.
- Essa água está muito gelada, eu não consigo mais sentir meu corpo. Joseph, eu te odeio! - tentei sair pela beirada, mas ele me puxou pela saia do vestido e grudou nossos corpos, passando seus braços por mim. 
- Vem aqui, vou fazer você senti-lo de novo... - comecei a estapear seu braço. 
- Não, pare, vamos sair daqui! Agora! - ao tentar brigar com ele, tudo que eu conseguia fazer de melhor era gargalhar. 
Scarlett e Jamie saíram pela porta e se aproximaram lentamente da piscina, olhando para nós como se tivéssemos algum tipo de problema. 
- Depois nós é que somos as crianças. - Jamie brincou, sorrindo convencido. 
- Mas você é uma criança, garoto! - Scarlett o empurrou pelo ombro e os dois começaram a discutir novamente. Por um instante me esqueci de todo o frio e fiquei apenas observando todos aqueles conjuntos de cenas. 
Mais uma vez realizei que não precisava de muito para ficar feliz. O grande problema, como sempre, era descobrir até quando aquela felicidade repentina duraria. 

Heaven forbid you end up alone and don't know why...
Hold on tight, wait for tomorrow, you'll be alright.


¹ - Trecho traduzido da música Don't Know Why da banda McFly. Que, para mim, é o retrato perfeito da relação do protagonista com seu pai.

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