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terça-feira, 29 de julho de 2014

Secretary III - Capítulo 3 (Parte 2)

Parte II 
Era uma vez...
(Ouça as músicas da Lana Del Rey de acordo com a cena que cada uma antecede.)



Flashes de câmeras que rodeavam o jardim do que me parecia ser um Château quase me deixavam cega. Caminhando com Joe ao meu lado sobre um tapete vermelho, eu pude perceber que alguns deles dirigiam-se para nós dois. Agarrei seu braço com mais força, agradecendo mentalmente pela enorme entrada estar se aproximando. Muitas socialites e até pessoas mais conhecidas estavam ao redor, e eu demorei para descobrir que se tratava de um evento beneficente. Até teríamos a participação de uma cantora, mesmo que seu nome ainda não tivesse sido revelado. Eu e Joseph passamos pelas duas pilastras que se encontravam no centro da entrada e entregamos o convite para uma pessoa encarregada. Discretamente eu abraçava meu próprio corpo, sentindo frio. Meu vestido era de um pano leve, e só o casaquinho curto de mesma cor que eu coloquei por cima não fazia muita diferença. Equilibrei-me com maestria naqueles saltos altos e prateados, segurando a trança embutida e a deixando colocada sobre um dos meus ombros. Joseph sorriu e me estendeu seu braço, que foi segurado em seguida. Eu encarei seu rosto coberto pela simples máscara preta que cobria apenas seus olhos e senti vontade de rir. A minha máscara era bem mais extravagante, coberta com alguns brilhos e detalhes, e era exatamente da cor do vestido. Meu marido realmente parecia um príncipe naquelas vestes. Uma camisa branca coberta por um colete marrom e um elegante terno preto de aparência clássica. Calças sociais que combinavam e sapatos elegantes também. Um príncipe moderno, totalmente viril e lindo. 
Mais pessoas mascaradas passaram por nós, e realmente éramos conhecidos em toda aquela área. Tive de cumprimentar pessoas que nunca havia visto na vida. Quando entramos na parte onde a recepção dos convidados acontecia, me deparei com algo um tanto quando questionador: as roupas das mulheres - que circulavam pela luxuosa área, subiam as escadas ou passavam por uma porta nos fundos - eram mais clássicas, seus vestidos eram mais cheios, realmente como os das princesas que eu me lembrava. Por um instante me senti a única tão... Simples. 
- Você está linda. - Joseph sussurrou em meu ouvido, reconfortando-me. Senti uma mão puxar meu braço e ao virar bruscamente o rosto constatei que era Cassie. Seu vestido era como o de todas aquelas outras mulheres, volumoso. Ela olhou para mim de cima a baixo e, empolgada como sempre, disse a Joe que ele teria que se virar para achar o centro da festa e ficar sem sua mulher por um tempo. De má vontade ele concordou e caminhou para longe de nós. Cassie esperou que ele se afastasse e sorriu para mim. 
- Seu vestido é incrível, diga se eu tenho bom gosto ou não! - eu não estava interessada naquela espécie de baile quando Cassie comentou sobre ele, então disse que ela poderia até escolher minha roupa se quisesse. Qual era o propósito em me deixar diferente das outras pessoas? 
A loira, cujo vestido era vinho e contava até com espartilho, segurou meu braço e conduziu-me pelo resto do enorme recinto. De uma decoração antiga e refinada, clara e aconchegante, realmente fazia parecer que tínhamos nos transportado para outra época. Exceto pelo meu vestido que contrastava com o resto da atmosfera, mas não me importei tanto com isso. Ignorando o resto dos convidados e andando por ali distribuindo ordens como se fosse uma rainha, Cass abriu a porta de um cômodo muito gracioso, pedindo que eu entrasse com um gesto exagerado. A obedeci e encontrei uma Scarlett sem máscara e mergulhada em desventura no canto, sentada em um sofá ao estilo chaise, entupindo-se com todos aqueles aperitivos que pareciam bonitos demais para serem mastigados e engolidos. Sua roupa não era chamativa como a das outras, mas ainda assim era mais sofisticada que a minha. Eu realmente não deveria ficar pensando nisso de cinco em cinco segundos, mas algo estava errado. 
Sentei-me ao lado de Scarlett e peguei uma taça de champagne na mesa farta ao nosso lado. Coloquei a mão em seu ombro e só então ela pareceu se dar conta de minha presença. 
- Hey você. Até que enfim! - animou-se de repente. - Eu estava quase jogando a Cassie escada a baixo. E você viu como aquelas escadas são cheias de frescura? Morrer ao cair daquilo deve ser gratificante para certas. - Cassie fingiu que não estava ouvindo e lhe deu língua, dizendo que precisava correr para outro canto da festa, mas que logo voltava. Eu e Scar decidimos que ficar ali comendo não seria muito bom, então levantamos e fomos procurar o centro da festa juntas, com os braços entrelaçados. 
- Onde está o Caleb? - perguntei de um jeito significativo. 
- Quem é Caleb? - ela me respondeu com apatia. Seu vestido azul parecia incomodá-la, assim como os saltos. - Como alguém pode se submeter a situações absurdas para fazer parte de coisas como essa? Cara, o que eu não daria por um par de tênis agora! - comentou, demonstrando cansaço. Eu ri e mandei que ele se controlasse, continuando a procurar pelo nosso destino. 

O tilintar de taças dizia que estávamos perto. Em um gesto de cavalheirismo, um homem trajado de maneira antiquada abriu uma gigante porta branca para nós. Lá estava o lugar onde o núcleo da festa reinava, onde as coisas realmente aconteciam. 
- Pelo menos tem bebida aqui! - Scarlett comemorou, me soltando e indo atrás de algo para beber. 
Procurei por Joseph com os olhos, fingindo não notar os burburinhos que me cercavam, assim como olhares curiosos e incertos que me analisavam. Bufei, percebendo que a área se estendia para um dos lados, onde um palco infestado de instrumentos musicais estava, assim como várias outras fileiras de mesas. Caminhei até uma das enormes janelas com cortinas, observando a noite do lado de fora. Não me sentia a vontade ali. 
Meus olhos capturaram Joseph, que se encontrava sentado em um bar montado em um dos cantos, cujo balcão era de vidro. Ele parecia perdido em pensamentos, segurando um copo que só podia conter whisky. Me preparei para caminhar até ele, talvez juntos aquele lugar não parecesse tão entediante.


Joseph's P.O.V

Tantos anos sendo forçado a participar de eventos como aquele e ainda assim eu não conseguia me sentir a vontade. Nunca achei que fizesse parte daquele mundo. A riqueza estava em evidência por ali, todos pareciam tão felizes simplesmente por beberem de uma bebida cara, ou talvez por um fotógrafo idiota tirar uma foto que mais tarde não faria diferença algumas em quem eram. Percebi que Demetria estava se aproximando e virei o corpo de whisky, só para que ela não tivesse que me ver bebendo. Eu não gostava que ela me visse em momentos como aquele, pois sempre achava que algo estava acontecendo. E talvez estivesse. 
Demetria não era uma mulher exigente, quando podia ficava em casa de pijamas quase o dia todo. Nós nos divertíamos mais juntos quando estávamos fazendo coisas simples do que em festas como aquela. E isso dava para notar, já que nem lado a lado estávamos naquele momento. Mas talvez, se eu perdesse tudo, ela enxergaria que eu poderia não ser tão interessante. Talvez ela não fizesse questão de dinheiro porque sabia que o tinha. Eu deveria bater minha cabeça na parede por pensar isso dela, da minha mulher, mulher que eu amava. Mas, infortunadamente, era inevitável. 
E o jeito que ela me olhou revelou que sentia que algo estava acontecendo comigo. Por que diabos eu nunca conseguia esconder nada dela? 
- Bebendo sozinho por quê? - ela perguntou, sentando-se ao meu lado e estendendo a mão para um barman que não parecia um barman, já que suas roupas eram formais demais. Depois de pedir whisky puro também, ela apoiou os braços no vidro e ficou me olhando. Eu mordi o lábio e tentei desviar. 
- Eu não queria separar você de suas amigas. - disse de qualquer jeito. Demetria tirou sua máscara e eu a imitei, colocando a minha ao lado. Nós dois apenas nos olhamos mais uma vez, ela provavelmente tentava descobrir o que estava acontecendo comigo com sua própria mente. Ela tinha essas manias. Às vezes eu amava, mas quando resolvia odiar... 
- Por que está emburrado? - encorajou-me a explicar, eu dei de ombros. 
- Você acha que vai conseguir ser tão boa para mim depois que dinheiro não fizer parte da minha lista de qualidades? - eu a olhei sorridente e suas sobrancelhas se ergueram. Ela nunca se mostrava ofendida logo de cara, eu teria de repetir a pergunta.
- Como é que é? - seu whisky chegou e Demetria deu um longo gole. 
- Tem consciência de que podemos perder tudo isso em breve, não tem? Eu queria saber se as coisas continuariam as mesmas entre nós. 
- Por que, Jonas, você duvida disso? - ela replicou, me desafiando com os olhos. Eu não sabia se era toda a iluminação exagerada daquele lugar, mas seus olhos pareciam mais vivos e seu rosto mais bonito. Talvez eu enxergasse isso apenas por ser um pobre homem apaixonado. Apaixonado e idiota. O arrependimento por dizer aquilo veio, e veio doloroso. 
- Quem é que vai saber, Demetria. Quem é que vai saber. - não olhei mais para ela, fiquei olhando um ponto qualquer do restante da festa. 
- Não entendo por que começou com isso agora, e entendo menos ainda por que não está mais feliz, você parecia radiante quando chegamos aqui. Mas então olha tudo isso como se fosse uma maneira de castigo. 
- Só estou aqui porque você está, nada mais me segura. 
- Se quiser ir embora, não sou eu que impedirei. 
- Não quero ir. 
Detestava quando começávamos a conversar daquele jeito indiferente, como se ninguém realmente ligasse para a resposta do outro. 
Demetria voltou a beber e deixou o corpo mais largado no banco, abrindo a boca para dizer algo. Eu continuei do mesmo jeito. Estava feito. Ela tentaria de todas as maneiras que conseguisse me provar que eu estava errado. Porque era isso que ela adorava fazer, provar que eu me equivocava e sempre agia por impulso, quando na verdade a impulsiva era ela. E se aquela não fosse Demetria minha esposa, minha salvadora, amor da minha vida, certamente um "Cale-se, pelo amor de Deus!" sairia sem escrúpulos. 
Todo dia eu descubro algo novo sobre você. - sua voz arrastada soou baixa e eu tive que me aproximar disfarçadamente para conseguir ouvir melhor. Ela não me olhava, parecia desinteressada em tudo, exatamente como eu. - E redescubro a cada momento o que faz com que eu queira sempre poder olhar nos seus olhos, rir das suas piadas, aceitar os seus defeitos. É porque eu te amo. Eu perdi uma parte do meu ser, e até poderia me sentir mal sabendo que nunca vou recuperá-la, mas não me sinto. - Demetria tomou fôlego e acabou com seu whisky. Eu já estava sorrindo feito idiota. Idiota. - Pois ela está com você, e não há lugar melhor. "Até que a morte nos separe"? Quem foi o estúpido que inventou isso? Eu ainda espero te encontrar por muitas outras vidas, e ser amada por você em todas elas, dos jeitos mais loucos e apaixonantes que só você consegue amar
Quando ela terminou de falar, não resisti em olhá-la nos olhos e respirar fundo. 
- Uma parte dos seus votos no nosso segundo casamento. 
- Pelo menos você se lembra. - ela apoiou as duas mãos no vidro e se levantou, decidida. - Se quiser ficar aí fingindo que eu sou uma vadia qualquer que só liga para o seu dinheiro, faça isso e beba mais um pouco. Mas você sabe o que é real. Você sabe a verdade. - piscou para mim, voltando a colocar sua máscara. Desgraçada, como conseguia ficar mais linda a cada desgraçado segundo? - Não vou esfregá-la na sua cara. 
Demetria já estava longe, juntando-se novamente àquela festa. Sendo parte dela. 
Eu deveria ir atrás daquela mulher, mas continuei parado ali. Meus olhos subiram até uma sacada onde uma mulher desconhecida e mascarada escorava o corpo no parapeito. Era evidente que olhava para mim, e isso me deixou desconfortável. Fingi não ter enxergado, mas meus olhos impulsivos subiram em sua direção novamente. Seu dedo indicar se movimentou, ela estava me chamando. Ignorei mais uma vez, procurando minha esposa com os olhos. A misteriosa continuava tentando capturar minha atenção. Dessa vez, seu dedo indicar apontou para longe, indicando algo no meio de todos aqueles convidados. Pensei ter entendido se tratar de Demetria, então fiquei tenso. A mulher levou a mão até a altura de seu pescoço e imitou o gesto de uma faca que cortava o local. 
Minha única reação foi levantar e procurar um jeito de descobrir o que ela estava insinuando. 

/Joseph's P.O.V


Perdi Scarlett de vista, assim como Cassie. Então fiquei andando perdida por qualquer lugar, hora bebendo algo, hora parando para pensar nas palavras de Joseph. Ele só podia estar bêbado para pensar que as coisas mudariam em nossa relação por causa do maldito dinheiro. Eu não me importava com isso... Se importasse, não me olhariam com repreensão ao constatar meu puro olhar de tédio. 
As luzes ficaram mais fracas, o local adquiriu um ar denso. O palco permanecia mais iluminado e pessoas ao redor comentavam que a convidada musical havia chegado. Aplausos estridentes invadiram minha audição assim que uma mulher subiu lentamente na estrutura que fora montada exclusivamente para ela. Seu vestido era preto e longo com mangas compridas, sem decote, mas elegante e ajustava perfeitamente suas curvas. O cabelo solto penteado para trás, que parecia contrastar com um colar de brilhantes em forma de flores que marcava bem a região de seu pescoço. Mãos de unhas longas seguraram um pedestal, mas ela queria tirar o microfone dali, conseguindo o feito rapidamente. Seus lábios pintados com um batom forte se abriram em um sorriso levemente tímido, delicado assim como ela: Lana Del Rey
- Olá. Sou a única sem máscara por aqui? Isso é ruim? - ela colocou uma mão em sua cintura, fingindo-se de aborrecida e todos responderam com risinhos. 
Eu sorri, sorri porque não esperava que tivesse a oportunidade de finalmente poder vê-la cantar. Já me considerava fã de seu trabalho. Lana tinha música de verdade, letras profundas. 
O som de uma mistura de instrumentos foi iniciado, as luzes diminuíram um pouco mais. 
Blue jeans, white shirt, walked into the room, you know you made my eyes burn... - passou a entoar um canto leve, com uma voz fina e delicada, realizando alguns agudos e depois mudando seu tom, engrossando-a, contrastando a nota daquela incrível música com seu interessante jeito de compartilhar a bela voz que tinha. A música era Blue Jeans. Fiquei apenas apreciando, balançando meu corpo no ritmo, desejando que Joseph estivesse ali para dançarmos sem qualquer problema, sem qualquer obstáculo. 

/Demetria's P.O.V

Darling, darling, doesn't have a problem
Lying to herself cause her liquour's top shelf
It's alarming honestly how charming she can be
Fooling everyone, telling how she's having fun


Lana Del Rey agrada ao seu público enquanto cantava CarmenDemetria permanecia de frente para o palco, deixando-se distrair, esquecendo-se de tudo ao seu redor. Sua mente havia se transformado novamente em um turbilhão de imagens, das mais felizes até as mais questionáveis. Seus olhos olharam para o segundo andar, fixando-se em uma porta com detalhes dourados que estava fechada. Ela mal poderia imaginar o que se passava ali dentro... 


Joseph's P.O.V

Não sei o que me motivou a seguir aquela mulher, mas quando percebi já a enxergava fechar a porta de um dos cômodos que ficavam em uma área reservada. Ao segui-la, tive de subir escadas e aguentar o suspense que ela queria fazer, escondendo-se de mim. Disse que tínhamos assuntos para tratar, assuntos sérios. Negócios. E ela sabia o nome de minha esposa, foi apenas por isso que eu estava ali, enxergando-a caminhar para perto de mim. Ainda continuava com a máscara, seus quadris balançavam insinuantes enquanto ela caminhava. Desviei, fitando a noite através da janela. 
- Olá, Joseph. É um prazer te conhecer. - dizendo isso, recuei ao notar que seu corpo estava parado ao meu lado. Seus lábios eram mordidos incessantes vezes, ela parecia querer me devorar a qualquer momento.
- Quem é você? O que quer? 
Faça o que eu quero, ou farei o que você não quer. - arregalei os olhos, reconhecendo de imediato aquela frase. A ameaça que recebi. Aquela era a autora da ameaça. 
- Foi você quem me ameaçou? - rosnei irritado e ela riu, estendendo sua mão coberta por uma luva branca para mim. - Negócios depois, apresentações primeiro. Meu nome é Valerie Blanchett e eu mudarei sua vida. - a mulher disse convencida, arrancando uma risada debochada de mim. Dei alguns passos, me afastando, mas ela me seguia. 
- Pode parar com a palhaçada, seu nome não me interessa. 
- Oh, interessa sim. 
- Diga logo o que você quer comigo! 
- Eu quero muitas coisas, só não sei a qual delas devo dar mais prioridade. Diga-me, Joseph, você já traiu sua esposa Demetria? Ela já lhe traiu
Enchi o peito, totalmente pronto para responder com toda a satisfação do mundo que não, mas infelizmente não pude. Algo me impediu, talvez fosse a raiva.
Meus lábios estavam trêmulos. Minhas mãos suaram frio e eu as fechei em punhos, controlando a vontade de bagunçar meus cabelos e esfregar as mãos no rosto. Estava com o estômago revirando, tanto pela bebida como por aquela situação. 
- Pare. - exigi. Ela só parecia ficar mais tentada a me provocar. 
- Você já se imaginou com outra mulher em seus braços? Uma mulher melhor, quem sabe. Uma que faça o que sua Demetria não faz. Ou será que ela faz de tudo? 
- Pare! - quase gritei, me controlando para não empurrá-la e sair dali. 
- Ela poderia salvar sua vida? Seu dinheiro? Porque, você sabe, amor é uma porcaria que pode ser comprada assim como qualquer outra. - exaltado, eu dei às costas à ela, farto de todas as palavras sem sentido. Passei pela porta, mas sua voz voltou a me fazer parar. - Ela é muito bonita, acha que engana a todos com o sorriso tímido e as atitudes de uma moça comportada. Mas, você também deve saber que as vontades de uma mulher são um enigma, elas são devastadoras. Vocês homens são meros escravos de nós. Onde eu quero chegar? Simples. Se você continuar rico, ela vai continuar com você. Se falir... - sua mão se ergueu e ela simulou um adeus. - Adeus, Joseph. - riu mais uma vez, zombando. - Eu posso te ajudar... Fiz ameaças a sua empresa? Não. Mas sei quem fez... Eu posso salvar a Empire. Mas eu quero coisinhas em troca. 
Ri com escárnio. 
- Eu sei bem que o que você quer. E não vai conseguir... Eu posso reerguer minha empresa de outras maneiras, não preciso me humilhar e ser submetido a algo tão desagradável. 
Outch, essa doeu. - sua voz soou provocante. - Você vai pensar no que eu disse, tenho certeza. 
- Como você sabia que estaríamos aqui? 
- Eu sei de tudo, meu querido. Sei também que em breve vai olhar com culpa para sua esposa, mas ao se lembrar do que viveu comigo... A culpa vai queimar no inferno. 
Engoli em seco. Não por acreditar no que ela me dizia, mas por ter medo do que poderia fazer caso eu não fizesse o que ela queria. Não conhecia Valerie, não sabia como e por que decidiu entrar em meu caminho daquele jeito... Mas voltei a me preocupar, a típica preocupação que tira o sono. A preocupação que não sentia há muito tempo. 
Quando saí completamente daquele cômodo, ela correu até mim e tentou segurar meu braço e depois meu ombro, mas eu não dei chances à ela. Após sentir um flash de câmera bem próximo, desci as escadas correndo e fui ao encontro da única mulher que me importava. 

/Joseph's P.O.V


Kiss me hard before you go
Summertime sadness
I just wanted you to know
That baby you're the best.


Summertime Sadness até o momento era a música que mais tinha despertado emoções em todos. Demetria prestava tremenda atenção na letra, divertindo-se por dentro ao notar o trecho em que um vestido vermelho era mencionado, já começava a sentir saudades de Joseph, o procurando desesperadamente com os olhos alertas. Queria mesmo dançar. 

Scarlett respirou aliviada quando encontrou os fundos do Château. Olhou em dúvida para o visor de seu celular, assustando-se quando alguém envolveu as mãos em seus ombros, depositando um beijo em sua nuca. Virando-se ela deu de cara com Caleb. Nunca admitiria em voz alta, mas ele estava muito bonito. Também desprezava o uso da máscara, tinha o rosto livre para ser apreciado. O celular na mão de Scarlett vibrou e ela tentou sorrir amigável para o homem. Sabia que momento era aquele. Um dos que mais temia... Então, precisava fugir. 
- Scar, eu... - Caleb começou, mas ela o colou com um selinho rápido e fez menção de se afastar, mas seu braço foi segurado com força. - Não, dessa vez você tem que ouvir. - em questão de segundos, conseguindo se soltar e frustrando seu namorado, ela recuou. 
- Agora não, por favor. 
- Sim, agora. 
- Caleb, não... 
A mão do homem entrou no bolso de seu paletó, trazendo de dentro uma caixinha quadrada de veludo preto. Scarlett sentiu como se recebesse um belo soco no estômago e permaneceu estagnada a frente de Caleb, que soltou uma de suas pernas, assim como a outra e ajoelhou-se no chão. Puxou uma das mãos dela, olhando fundo em seus olhos. 
- Se fizer isso eu vou te matar. - alertou a ele, ainda com os olhos arregalados. O celular por vezes prendia sua atenção, ela estava desesperada para atendê-lo. Mas como? 
- Scarlett Meredith, Karlie Russell, ou seja lá quem você for... Quer se casar comigo? - o pedido soou carregado de cavalheirismo pelos lábios de Caleb. Nunca havia se sentindo tão romântico em toda a sua vida. Finalmente era um homem corajoso, alguém que merecia estar ao lado daquela mulher tão desafiadora. A dita cuja mordeu o lábio inferior e sentiu os olhos marejarem. "Sim, sim, sim, sua idiota, sim! Anda, diga logo... SIM!

- Não! - exclamou e livrou sua mão do toque dele, virando as costas e correndo para o mais longe que pudesse. As lágrimas já escapavam de seus olhos, não queria pensar em como estaria a expressão de Caleb, provavelmente sentindo-se humilhado. Ela se escondeu atrás de uma árvore, fechando os olhos com força e engolindo as lágrimas. Olhou para o celular e finalmente atendeu. 
Finalmente, Karlie. - a voz que já havia escutado uma vez a recebeu, carregada de intenções desconhecidas. 
- Você acabou de estragar a única coisa boa que eu já tive na vida, então diga logo qual é a porra da situação! - falou alto, mas olhando os arredores para certificar-se de que ninguém estava por perto. - Se é um filho da puta que quer acabar comigo, poupe toda essa ladainha e venha ao meu encontro, eu não tenho medo. 
Acabar com você? Mas é claro que não! Muito pelo contrário... Eu quero ajudá-la. 
- Explique-se melhor. 
Sou alguém de seu passado, mais precisamente do passado de seu pai. Sebastian Russell. Ainda se lembra dele? - Scarlett sentiu seu coração bater acelerado e doer, pois se lembrava todos os dias do homem que fora arrancado de sua vida de maneira tão cruel. - Muitas coisas ficaram escondidas, me custou muito tempo e dinheiro para finalmente encontrar a herdeira Russell. Mas eis minha proposta: gostaria de recuperar tudo que perdeu? Inclusive sua identidade? 
- Você e eu sabemos que não é possível. 
Mas é claro que é possível! Todos os bens de seu pai estão congelados, parece que alguém conseguiu livrá-los das mãos de Bill e Evan, os dois homens que arruinaram sua vida. Você ainda é uma garota rica, Karlie. Se quiser retornar agora mesmo para uma vida de confortos e dinheiro, eu vou ajudar. 
- Karlie matou um homem. - confessou incerta, talvez devesse medir melhor suas palavras. 
Sim, mas eu aposto que foi na mais pura legítima defesa. 
- Cale a boca, você é um inútil qualquer que está tentando me arrastar para algum crime ou algo sujo. Eu sempre soube que nunca ficaria livre da vida que levava até um tempo... 
Você pode ficar livre dela. Você vai ficar. 
- Quer saber? - Scarlett olhou para a saída onde estava minutos antes, e Caleb não estava mais ali. Ela caminhou de volta, se abaixando a pegando a caixinha com o anel jogada no chão. - Eu não me importo. Na verdade não me importo com mais nada. 


Demetria's P.O.V

Lana já se mostrava mais solta no palco, sorrindo mais, arriscando mais com sua voz. Fazendo uma breve pausa, ela desceu do palco e posou para fotos com algumas pessoas, indo até o bar e pegando algo para beber. Enquanto isso, eu senti alguém segurar meus ombros e levei um susto, sentindo um perfume diferente. Doce demais. Mas quando me virei, avistei Joseph. 
Aquele, definitivamente, não era o seu perfume. 
Sem tocar nesse assunto, eu apenas sorri, colocando as mãos na cintura. Percebi que ele parecia diferente, eu diria até que feliz demais. Parecia extremamente animado, louco para enlaçar minha cintura e nos conduzir pela pista de dança, mas eu tive que olhar bem para seu rosto por um momento, começando a me irritar com aquele aroma estranho. O rosto de Joseph estava levemente corado e seus olhos eram brilhantes, mas suas mãos pareciam trêmulas. Lana voltou a subir no palco e anunciou sua próxima música: Million Dollar Man.
- Tem algo de errado? - perguntei baixinho, resmungando ao senti-lo me puxar pelo braço com força. 
- Não, mas terá se você não dançar comigo agora. - aquela ordem soou poderosa através de seus lábios, e ele me olhou com uma mistura de paixão e raiva. Eu não entendia o motivo da raiva... Será que ainda estava aborrecido pelo diálogo de mais cedo? Quando voltei a prestar atenção ao meu redor, já estava praticamente no meio da pista, tendo a cintura fortemente segurada. 
Apertei minhas mãos em seus ombros, tentando procurar algo de errado em seus olhos, mas ele não me olhava. 

You said I was the most exotic flower
Hold me tight in our final hour.

I don't know how you convince them and get them, but;
I don't know what you do, it's unbelievable
I don't know how you get over, get over
Someone as dangerous, tainted and flawed as you.


Não tinha qualquer sinal de carinho entre nós naquele momento, o cavalheirismo em seus atos era completamente nulo. De repente me senti no passado, dançando com um inimigo. Um inimigo que só me via como objeto de desejo. Nada mais do que isso. Soltei uma mão de seu ombro e o obriguei a me olhar, segurando seu queixo, mas ele se livrou de meu toque, pedindo com os olhos para que eu parasse com aquilo. Joseph me fez rodopiar, deixando-me tonta e pegando-me em seus braços novamente, dessa vez deixando que seus olhos penetrassem fundo até minha alma. 
- Eu detesto ter que dizer isso, mas você está quase conseguindo me assustar. - avisei, sorrindo nervosa. 
- Ótimo. 
- Ótimo? O que você bebeu? - seus lábios se abriram em um sorriso sacana. O que, afinal de contas, tinha feito uma lavagem cerebral naquele homem para que ele estivesse agindo daquela maneira? Meu corpo voltou a ser segurado com força, e eu quase gemi de dor... Se não estivesse em duvida sobre gostar ou não do jeito que ele mordia os lábios ao olhar para o meu busto. 
- Lembra da conversa que tivemos mais cedo? - concordei com a cabeça. - É o seguinte: não importa. Eu posso falir, posso perder todas essas porcarias, mas não vou deixar que você se afaste.Você é minha, sempre vai ser. 
- Possessivo. - soprei contra seus lábios, segurando um sorriso. Ele juntou nossos lábios, controlando o balanço dos meus quadris com suas mãos. 

One for the money, two for the show
I love you honey. I'm ready, I'm ready to go
How did you get that way? I don't know...
You're screwed up, and brilliant
Look like a million dollar man
So why is my heart broke?


- Com você eu sou mesmo. Nunca pedi que me provocasse tanto. Agora é definitivamente muito tarde para me deixar. - passei a ficar aborrecida com seu estranho jeito de agir, encostando minha cabeça em seu ombro e fugindo de seu olhar. 
- Eu não vou te deixar. - prometi a ele, acariciando suas costas. 
- Eu não preciso de mais nada, você é a única para mim. A única, a única, a... 
- EI! - espalmei seu peitoral, pedindo que falasse baixo. Nós éramos o único casal na pista que não se movia. Mas a música continuou a servir de trilha sonora. Os olhos de Joseph marejaram brevemente, mas ele fingiu que nada estava o importunando e olhou para cima, escondendo as lágrimas. Suas mãos que antes me apertavam, passaram a apenas manterem-se encostadas em meu corpo. - Joe, não lembro de você nervoso assim desde muito tempo. Recebeu outra ameaça? 
- Não... - a resposta veio evasiva. Um som de raiva escapou por sua garganta, como um grunhido e ele me fez girar novamente, dessa vez de maneira mais rápida, capturando meu corpo quando minha volta foi completa e inclinando-se comigo, mantendo meu tronco inclinado, a mercê de seus braços. Se ele me soltasse, eu estava no chão. 

You've got the world, but baby at what price?
Something so strange, hard to define.


Já atraíamos a atenção de algumas pessoas, assim como dos flashes dos poucos fotógrafos que tinham permissão para ficar ali dentro. 
Eu entendia meu marido. Ele estava inseguro, assim como eu. A insegurança consegue causar reações inesperadas... Eu temia acabar sendo vítima de uma, caso ele continuasse a se portar daquele jeito tão bipolar. Poderíamos enganar ao mundo e fingir que aquilo se tratava apenas de uma dança, mas tinha algo a mais. 
- Eu nunca mais vou fazer com que você fique triste por minha causa, nunca farei nada para te ferir. Eu prometo, meu amor, eu prometo! 
Meu corpo congelou. O arrependimento em seu olhar brilhou como os lustres de cristal acima de nós. 

It isn't that hard boy, to like you or love you
I'd follow you down, down, down
You're unbelievable
If you're going crazy just grab me, take me
I would follow you down, down, down. Anywhere, anywhere.


Não quis mais ficar perto dele, a situação já me intrigava demais. Ele precisava de um tempo sozinho para esfriar a cabeça, apenas isso. Eu estava entendendo suas palavras e seu arrependimento de um jeito errado. O fiz largar meu corpo e corri pelo salão ao avistar Cassie subir uma das escadas correndo, enquanto falava em um celular e olhava atenta para todos os lados. Ao me avistar, ela desviou e aumentou seus passos, entrando em uma das enormes portas do corredor da parte superior, encostando-a. Diminui meus passos, encostando-me à essa porta, com o sentido da audição mais aguçado que todos os outros. De cima, olhei para Joseph mais uma vez, totalmente perdido naquela pista, com as mãos escondidos nos bolsos do paletó, procurando uma saída daquela situação, daquele lugar. Só ignorei a vontade de chorar que tive, pois sabia que estava em um período complicado do mês. Tudo, absolutamente tudo, mexia comigo. 

I don't know
You're screwed up, and brilliant
Look like a million dollar man
So why is my heart broke?


Lana encerrou a música, saindo outra vez do palco, pude notar. Ignorei para onde ela estava indo e me concentrei na porta que escondia Cassie, que ainda parecia falar ao celular. Quase me deixei distrair, mas ao identificar meu nome sendo mencionado em sua conversa, permaneci atenta. Apoiei meu corpo na parede cuja pintura era detalhada, olhando para baixo e torcendo para que ninguém me notasse ali. O que escutei em seguida me pegou de surpresa. Um soco no estômago. 
Eu consegui trazer os dois para esse baile, o que mais você queria que eu fizesse? - Cassie estava irritada. - Já lhe servi de agenda, informando todos os lugares em que poderia encontrá-los, te dei detalhes que só sei porque trabalhei naquela empresa. Se o caminho está fácil, você me deve muito por isso. - ela soltou um risinho debochado, zombando seja lá de quem estava do outro lado da linha. - Sim, só estou fazendo isso por causa do dinheiro, querido. E porque não aguento mais ver a felicidade abundante daqueles dois. 
Minhas mãos se fecharam em punhos, eu já estava pronta para empurrar aquela porta. Ainda tinha um fundo de esperança, algo em meu interior que tentava me fazer acreditar que não era Cassie que de fato estava ali dentro. Mas uma coisa eu aprendi durante o tempo em que minha vida estava mergulhada na escuridão: acreditar no bem de toda a humanidade foi o pior erro que eu cometi. 
Não que isso vá te interessar, mas além de todo o seu plano para derrubar a Empire, eu consegui algo que vai deixar Demetria de cabelos em pé, que vai fazê-la pensar duas vezes ao gritar para Deus e o mundo "Meu marido me ama, me idolatra, ele só tem olhos para mim!" Eu estou falando sério... Acabei de te enviar uma foto, me diga o que acha.
Segundos de silêncio fizeram meu coração bater descompassado, a fúria correndo livre pelas veias. 
É exatamente quem você está pensando, a Valerie. Exatamente. Isso não é bom? Sim, eu sei quem é. Até logo, nos veremos em breve e não se esqueça que você me deve um cheque bem generoso.
Em um ato impulsivo, minha mão empurrou a porta e meu corpo invadiu o recinto, fazendo Cassie se assustar com o barulho repentino e virar o corpo com rapidez, arregalando os olhos por segundos e depois fingindo que nada estava acontecendo. Eu não via meu rosto, mas sabia que estava sombrio, conseguia assustá-la. 
- Por favor, por tudo que é mais sagrado, Cassie, diga que eu não ouvi o que pensei que ouvi. - ela não me respondia, apenas olhava estática nos meus olhos, apertando o celular com força. - Abra a porra da sua boca e me diga que não está por trás das ameaças à Empire! - ela encolheu o corpo devido ao meu alto e furioso tom de voz. Dei um passo à frente, tremendo. Ela recuou. 
Seu medo evaporou-se tão rápido quando a velocidade da luz. Ela cruzou os braços e ergueu uma sobrancelha loira. 
- Desculpe, não posso. Mas eu não sou responsável pelas ameaças, eu só dei o que o autor delas queria. 
- POR CAUSA DE DINHEIRO? - coloquei nossos corpos a uma distância insignificante, ela já devia estar esperando que eu agarrasse seu corpo e a jogasse no chão, mas permaneci parada, erguendo um dos cantos dos lábios. - Se o grande problema era dinheiro, por que não pediu para nós? SEUS AMIGOS? 
- Vá para o inferno com suas crises de superioridade, com quem acha que está gritando? - Cassie pensou que eu recuaria, mas se arrependeu ao tentar dar um passo a minha frente para deixar o cômodo. Bloqueei seu caminho, imitando sua posição e cruzando os braços. Ela não precisava saber que eu estava devastada por dentro. Aquela era minha grande amiga, não era? 
Parecia que não mais. 
- Tudo está ligado, não é? Você me fez vir a esse baile vestida de maneira inferior aos outros para que todos pensassem que Joseph realmente está perdendo tudo. Mas essa é apenas uma das muitas táticas superficiais que você deve estar usando, sabe-se lá há quanto tempo. Estou certa? 
- Está. - respondeu indiferente, olhando para as próprias unhas. 
- Por quê? - ela não me respondeu. - POR QUÊ? 
- Porque não é justo você ter tudo e eu não ter nada. Não é justo você nadar em dinheiro enquanto eu tenho que passar por situações como essa para conseguir vestir algo de valor. Não é justo o homem que eu amava estar morto enquanto o seu te coloca cada dia em um pedestal mais alto. 
Eu estava mais do que enojava, implorando aos céus que meus olhos parassem de enxergar aquela cena. Era doloroso descobrir o que tanto as pessoas ao redor do mundo gostavam de afirmar: a humanidade, pelo menos uma boa parte, estava decadente. Decadente de princípios, de bom senso. De massa cefálica. Mergulhada em uma inveja que só as derrubaria. 
- Quando é que você vai deixar de ser estúpida e entender que não tem nada para ser invejado na minha vida? Você pode construir a sua, não vai ganhar nada com isso, Cassie. - e eu ainda tentava remediar a situação, que bela idiota estava sendo. 
- Minha conta bancária discorda de você, Demi. - meu apelido foi dito com escárnio. - E eu... 
- Quer saber? Eu não quero ouvir! Você é quem vai me ouvir agora: - voltei a fixar meus olhos nos dela, deixando que faíscas saíssem. Faíscas das mais negativas que meu interior era capaz de produzir. - Tente mais alguma coisa contra a minha família e eu mesma vou me encarregar para que você sinta o que é estar no fundo do poço. Eu enfrentei muitos vilões em minha vida, Cass... - o escárnio agora escapava pelos meus lábios ao dizer seu apelido. - Você não parou para pensar que posso ter roubado características deles? - a mulher loira a minha frente continuava se fazendo de injustiçada, com medo de manter um contato visual muito demorado. - Se você soubesse como o Joseph ficou... Como ele temeu pela nossa família! Como você teve a petulância de se meter com isso? Eu sinto muito, mas muito mesmo pelos seus filhos! Por Jared que agora deve estar se revirando de desgosto em seu túmulo. Espero que aqueles dois anjinhos fiquem livres das suas garras, que realmente encontrem uma família de verdade. Mas você? Você pode desaparecer da minha frente agora, eu chamarei pessoas para obrigá-la a fazer isso. 
Cassie riu. Voltei a me sentir mal, não conseguia reconhecer minha própria voz. De onde vinham todas aquelas ameaças? 
Joseph temeu pela família, Demetria, é mesmo? - ela procurou por algo no visor de seu celular. Depois o estendeu para mim e com receio eu olhei a foto. Travei a mandíbula, sentindo minhas mãos suarem frio. - Ele deve estar temendo ser descoberto agora. - mais risos. - Pelo visto me equivoquei, sua vida não é tão perfeita assim.
Na foto de qualidade regular e levemente tremida, Joseph estava com uma mulher que parecia abraçá-lo pelos ombros. Era naquele local, naquela festa. Provavelmente o perfume que senti quando ele se aproximou era dela. Provavelmente seu jeito estranho de agir enquanto dançávamos realmente sustentasse uma mentira. 
Quis sumir. 
Mas a raiva assumiu o lugar da tristeza, eu estava pronta para cometer uma loucura e partir para cima da mulher que um dia tive a infelicidade de chamar de amiga. 
Mas uma voz cortou meus pensamentos. 
Virei-me e Scarlett estava parada na porta, olhando de Cassie para mim. Colocou seu corpo para dentro, me ignorando e passando reto. Mediu Cassie de cima a baixo, sorrindo abertamente. Era só o que me faltava! As duas eram cúmplices? 
Demetria... - a morena me chamou de maneira amigável. - Qual osso do corpo dela você acha que eu devo quebrar primeiro? - Cassie encostou-se à parede, preparada para o pior. 
Scarlett tinha escutado tudo. E pela expressão em seu rosto, aquela não estava sendo uma noite muito agradável para ela também. 
- Scarlett, não perca seu tempo com isso. - respondi baixo, a voz fria. Devastada. 
- Perder tempo com o quê? Uma Barbie falsa? Ah, eu detestava quando era uma pobre garota rica e esses pedaços de plástico falsificados surgiam no meu caminho. Minha única vontade era pisar em cima, gata. - riu sozinha de sua própria comparação, pronta para atacar, caso fosse necessário. - Veja como as coisas estão incríveis hoje! Somos príncipes e princesas desencantados
Apesar de nunca ter concordado tanto com algo que ela disse, eu não queria mais assistir aquilo, só queria correr e me isolar do mundo. E foi o que eu fiz. Deixei as duas de lado e saí em desespero pela porta, tentando ao máximo segurar as lágrimas. Desci as escadas, esbarrando em algumas pessoas e sentindo meus pés latejarem por causa dos saltos. 

Don't make me sad, don't make me cry
Sometimes love is not enough
And the road gets though
I don't know why.


A última música que Lana Del Rey escolheu para cantar não poderia ser mais oportuna. Born To Die
Joseph ainda estava no bar, e eu senti vontade de socar alguma coisa quando nossos olhares se encontraram. Não pensei que poderia sentir nojo dele, nem que tudo aquilo poderia não ser real, ou pelo menos ter uma explicação convincente, só deixei que ele visse minhas lágrimas, meu estado deplorável e me afastei, contando os segundos para chegar até a porta, entrar em algum carro e ir embora. 
Alguém estava correndo atrás de mim quando cheguei ao estacionamento. 
Era ele, é claro. 
Quando avistei seu carro, já sentindo falta de ar pelo choro e pela corrida, encostei-me ao mesmo, olhando para baixo, fazendo de tudo para evitar um confronto que era mais do que certo. Joseph parou de correr, ficando a alguns poucos metros de distância. 
Misteriosamente o estacionamento estava vazio. 
Ele fez menção de se aproximar, mas eu levantei meu rosto encharcado pelas lágrimas e ergui um braço com a mão aberta, deixando claro que ele não deveria. 
- Eu não quero saber o que você tem para dizer. Eu não quero saber de nada! - ele me olhou confuso, mas depois piscou os olhos e mostrou-se surpreso, bagunçando os cabelos e respirando profundamente. Após socar o tronco de uma árvore, aproximou-se tão rápido que minha única reação foi dar a volta no carro e me encolher do outro lado. 
Demi... Me deixe explicar. Não é o que parece, por favor, eu... 
- EU NÃO QUERO ESCUTAR! - tapei meus ouvidos, chorando mais. Queria ser mais compreensiva, dar uma chance, mas minhas estruturas estavam abaladas demais. Não conseguia. 
- VOCÊ TEM QUE ESCUTAR, PRECISA ESCUTAR! - rebateu gritando também. Meu coração poderia explodir a qualquer momento. 
- Eu estou louca de ciúmes, então realmente não quero conversar com você agora. Pouco me importa a explicação que vai dar... Eu vi a foto, eu sei o que estava nela. Eu senti o perfume feminino em sua roupa. - não aguentei continuar a falar, os soluços do choro cortaram minha voz e eu tive que me esforçar para conseguir respirar direito. - Faço qualquer coisa para descobrir que isso é um pesadelo. Você não pode ter me traído... Não pode, não pode, não pode! 
- PORRA, DEMETRIA, PARE DE AGIR COMO SE ESSA DÚVIDASSE ESTIVESSE PAIRANDO ENTRE NÓS PELA PRIMEIRA VEZ! - ele conseguiu me assustar de verdade. Meu choro perdeu seu som e meus olhos se ergueram, de encontro aos dele. Joseph estava totalmente em fúria. - Eu te escutei quando disse que quase me traiu, eu lhe dei uma chance, eu esperei e... 
- Cale a boca! Por que você acha que pode justificar o seu erro com o meu? Será que eu vou ter de explicar de novo o lixo que me senti naquela época, graças aos acontecimentos com Cameron? - perdi a capacidade de controlar o que poderia ser dito ou não. O que vinha na mente era eliminado através dos lábios. - Isso só prova que eu estou certa, você realmente estava com outra. 
- Não, não prova nada! Mas quando a situação era inversa, quando existiu desconfiança entre nós, te dei espaço porque eu te amava e... 
- Amava? 
Amo. Então converse comigo, Demi. Agora! 
- Não quero, pare! - implorei, abraçando meus próprios braços e fingindo que o frio não existia. A dor já era muito para lidar. 
- Não aja como criança... Olhe para mim! 
- NÃO QUERO! Será que você não vê que depois disso eu estou sem palavras, sem reação, sem defesa... Ando tão insegura esses dias, mas não deixei que você notasse porque não tinha importância, não até agora. 
- INSEGURA? - Joseph abriu os braços no ar, inconformado e rindo com pesar. Virou o corpo, indo para trás e depois retornando, controlando a vontade de voltar a socar aquela mesma árvore. - Estava insegura enquanto fazia aquele sexo incrível comigo há poucos dias? Se sim, você sabe fingir muito bem, Demetria, meus parabéns. 
- Vai escolher me ferir agora? - ele não respondeu. - Quer saber? Eu estou farta dessa noite, quando saí de casa não imaginei que tudo poderia se transformar nesse grande caos, então só me deixe em paz. Só me deixe sair daqui... Não quero te ver, não quero escutar sua voz agora. Você não é o homem que eu amo. 
- Então quem eu sou? - seus olhos marejaram, depois Joseph retirou um pequeno molho de chaves de seu bolso e o jogou para mim. - Pegue o carro, vá embora então. - ele havia desistido de consertar um erro que eu nem sabia se havia sido cometido de fato. 
- Volte para dentro, Joseph. - abri a carro, entrando de supetão, batendo a porta. Aproveitei a janela aberta para dizer mais. - Coloque sua máscara e aproveite o resto da festa! 
Minhas mãos seguraram o volante com força e eu pisei no acelerador, arrancando sem olhar para trás, quase batendo nos veículos do outro lado. O que eu poderia fazer para riscar aquela noite da minha vida? 

O rádio do carro estava ligado em uma estação qualquer, já estava assim quando entrei nele. A estrada era escura, vazia, mas eu não tinha a opção de ficar assustada. A mistura de arrependimento, fraqueza e humilhação conseguia mascarar qualquer outra sensação. Eu apenas mantinha meus olhos fixos no que vinha pela frente, tentando não pensar em Joseph nem em nada. Era um especial com músicas tristes que parecia estar tocando naquela rádio. Eu xinguei alto a combinação de palavrões que veio em minha mente quando Here Without You do 3 Doors Down começou a tocar. A letra me causou arrepios, e antes que eu pudesse controlar aquele gesto, já estava contando junto. Minha voz estava falha, desafinada, desanimada. Poderia parecer uma cena cômica, pois quando a mocinha chora e berra alguma música triste em seu carro durante um filme, tudo que conseguimos fazer é rir. Mas o sentimento negativo que eu estava sentindo era real, nada de engraçado poderia ser extraído daquele momento. 
E por que diabos a droga daquela música tinha que ser tão depressiva? Por que os acordes daquela guitarra tinham que entrar pelos meus ouvidos e fazer meu coração acelerar, assim como meu estômago revirar? 
Nunca, nunca havia experimentado a sensação de que poderia estar sendo trocada enquanto estive com Joseph, pelo menos não até aquele momento. Minha auto-estima era inferior a nada, eu queria chorar, chorar e chorar por pensar que não deveria mais ser suficiente para ele. 
- Por favor, seu desgraçado, venha atrás de mim com uma droga de carro e diga que está tudo bem! - falei para o nada, olhando diversas vezes para trás na esperança de que algum carro se aproximasse, mas eu estava sozinha. Minha única companhia era aquela música que eu continuei a cantar loucamente. 
O veículo foi perdendo sua velocidade, até que parou. Era ou não era o meu dia de sorte? 
Soquei o volante, abrindo a porta e me colocando no meio da rua, sentindo o vento bagunçar o que já estava completamente bagunçado em meu corpo. Cobri meu rosto com as duas mãos, encostando-me na lateral do Rolls Royce e voltando a chorar, enquanto esperava por algum milagre, por alguma salvação. 
Faróis me iluminaram e pensei em ignorar para não chamar atenção, mas quando levantei o rosto, conheci a pessoa que saía daquele carro. Joe estava incerto sobre se aproximar, e me olhava com um misto de arrependimento e ternura, provavelmente comovido com meu estado. 
- Eu odeio seu carro mais do que odeio você. - disse-lhe em meio a lágrimas, minha cabeça já estava doendo. - Por que está aqui? 
Porque um príncipe sempre salva sua princesa. É foi nisso que nós nos transformamos hoje, não é? 
Joseph, por favor... - tentei, mas ele cortou minha voz com a sua. Parecia mais calmo, com a cabeça finalmente no lugar. 
- Não, me escute, mulher! Não precisa falar comigo agora se essa não for sua vontade, mas me deixe te levar para casa. E lá eu juro que nós conversaremos. Podemos deitar na cama, ou armar a barraca, ou até mesmo ficar sobre o tapete da sala, olhando para o teto e permanecer desse jeito a noite inteira, exatamente como você gosta. Podemos conversar a noite toda. Eu posso ficar acordado a noite toda só para convencê-la do quanto eu me arrependo por ter permitido que você pensasse que eu estava com outra, por deixar você pegar essa droga de carro e ir embora sozinha. 
Ele me disse que o Rolls Royce poderia ficar ali, já que estava com o carro que me alegou ser de um amigo. Eu estava cansada, queria mais do que tudo me livrar daqueles sapatos e daquele vestido que me deixava tremendo com a baixa temperatura, então fui fraca e logo já estava dentro do outro carro. 
- Me leve para casa, por favor. É só isso que eu peço. - encolhi meu corpo no banco, evitando deixar que ele visse meu rosto borrado. Fiquei olhando para a paisagem morta através da janela. 
Joseph obedeceu e ligou o carro, sem dizer nada. Aquele sem sombra de duvidas não era o silêncio que pessoas gostam de chamar de confortável. Desfiz a trança e cobri o pescoço e ombros com meu cabelo, limpando os resquícios de lágrimas dos olhos e respirando ainda com um pouco de dificuldade. O rádio daquele carro também estava ligado, e parecia estar na mesma estação que eu ouvia antes. I Don't Wanna Miss a Thing do Aerosmith tocava. 
Joe sorriu sutilmente. 
- Tem ideia de como é estranho e errado essa música estar tocando e você não se atrever a cantar um trecho? Esse não é o mundo que eu conheço, Demetria, não é o mundo em que quero estar. - ele estava certo. Eu gostava de cantar aquela música, era uma das minhas favoritas na hora de segurar o violão e sentar na varanda para passar o tempo. 
- Você pode se contentar com a voz do Steven Tyler, não precisa da minha. 
Joseph concordou com a cabeça, parecendo desistir de tentar algum progresso e dirigiu quieto pelo resto do caminho. 


Sonolenta, eu saí do carro e fui o mais rápido que meu corpo fraco permitiu até a porta, esperando de má vontade Joseph para abri-la. Assim que ele o fez, eu entrei com passos firmes e avistei Nancy dormindo no sofá. Ela se assustou com a nossa chegada e eu lhe disse que poderia subir para seu quarto e dormir melhor. Nancy quase tentou questionar minha aparência, mas por escolha própria ela deixou para lá, subindo as escadas. Arranquei meus sapatos e deixei em qualquer lugar, sem mostrar interesse por Joseph nem pelas luzes que continuavam apagadas. Quando terminei de subir as escadas, a porta do quarto de Jamie se abriu e ele me olhou assustado. Ajoelhei-me de frente para ele e fiz um cafuné em seus cabelos bagunçados, a vontade de chorar voltou. 
- Por que está acordado, meu amor? - ele enxergou a lágrima que se libertou de um dos meus olhos e a limpou com seu polegar. 
- Eu queria estar acordado quando vocês chegassem, a Nancy não sabe contar histórias interessantes como você. 
- Amanhã eu conto uma história bem interessante, ok? Prometo! - me levantei e segurei sua mão, o conduzindo de volta para o quarto, mas o menino travou suas pernas, mantendo o rosto erguido para me olhar. 
- Você não está bem. 
- Estou sim. - menti. 
- Não está. Não me deixa preocupado, ok? Eu não te chamo de mãe, mas você é a minha mãe e eu te amo muito. 
Tive que exigir o máximo de mim para não chorar desesperadamente depois de ouvir aquilo. 
Coloquei Jamie na cama e beijei sua testa, dizendo que eu também o amava muito e que o dia seguinte seria melhor, eu tinha essa esperança. 
Sem paciência para tomar banho, eu apenas tirei aquele vestido e coloquei um blusão preto que era de Joseph, sendo coberta pelo cheiro dele. Não me faria bem, mas também não me importei com isso. Fui até o quarto de Matthew e o tirei de seu berço delicadamente, o ajeitando em meus braços e caminhando com passos vagarosos até minha cama. Era o que eu estava desejando profundamente durante todo aquele percurso: pegar meu bebê, abraçá-lo e me confortar com seu calor. Deitei meu corpo na cama, mantendo Matt ao lado, com a cabecinha escorada em meu peito. Fazia bem olhar para ele, como se tudo fizesse sentido novamente. O bebê respirava calmamente, mal se movia. Os cantinhos de seus lábios subiam um pouco às vezes, quase formando um sorriso. Estava tendo bons sonhos. 
A luz do quarto não foi ligada, mas eu sabia que ele estava entrando. Um peso na cama foi notado e então um corpo quente se aconchegou ao lado do meu. Joseph não me tocou, só começou a dizer o que eu tanto queria ouvir: 
- A mulher que você viu comigo sabe quem está me ameaçando, e talvez ela esteja envolvida. Ela tentou me seduzir, tentou fazer chantagem, mas eu prefiro cair em profunda ruína a desrespeitar você. Me desculpe, me desculpe por comparar nossas situações, eu sei que essa comparação é incabível. Naquela época você achou que tinha me perdido, mas agora eu sei que não te perdi. 
Prestei atenção em suas palavras e senti sua mão quente se apoiar em meu ombro. A segurei, fazendo um carinho singelo com meus dedos. E daquele jeito nós permanecemos. 
Era uma vez... Um momento, um único e simples momento, que eu queria congelar e me sentir aliviada toda vez que o recordasse. 

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