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sexta-feira, 18 de julho de 2014

Secretary III - Capítulo 2

 Laços desconhecidos
(Música do capítulo: Violet Hill do Coldplay. Coloque para tocar quando o aviso surgir!)



So you lost your trust, and you never should have, you never should have... But don't break your back, if you ever see this, don't answer that. - tentei fazer com que as palavras escapassem afinadas pelos meus lábios, controlando meu tom de voz para que não fosse alto o suficiente para acordar os dois seres deitados na cama. Com as pernas cruzadas em posição de índio, continuei a tocar See You Soon do Coldplay, segurando o violão com familiaridade, dedilhando suavemente meus dedos pelas cordas. Eu sempre voltava a me sentir como uma menina quando colocava as mãos naquele violão. Trazia-me lembranças. Lembranças simples como a primeira vez que se coloca os pés na água do mar e um tremendo frio faz com que você retorne depressa para a praia, ou a lembrança de algum momento que foi capaz de arrancar muitos risos ou lágrimas. Quando você pensa nos felizes, chora de saudade; quando pensa nos tristes, ri de alívio. Eu gostava de enxergar algo a mais, gostava de enxergar algo escondido na simplicidade das coisas. 
Jamie e Matthew dormiam serenamente, cada um ocupando um lado da cama. Aquela foi a maneira que encontrei para fingir que nada estava acontecendo, e felizmente consegui acalmá-los bastante quando comecei a cantar. Apesar do som do violão, eu conseguia ouvir o chuveiro que permanecia ligado dentro do banheiro. Tentei me convencer de que não era nada de mais, que talvez Joseph apenas não estivesse se sentindo bem. Ele não tinha a obrigação de estar sempre feliz e sorrindo, certo? Ninguém tinha. Mas então surgia outra questão: se ele não estava feliz, o que andava provocando sua infelicidade? Voltei a cantar e balançar a cabeça levemente, me livrando de alguns pensamentos depressivos. Mas aquelas duas palavras martelavam dentro de minha mente, bloqueando qualquer outra que tentasse intervir e me acalmar: relação desgastada. Não, eu não sentia que nossa relação se encontrava naquele estado, mas como poderia saber o que se passava na mente daquele homem? Joseph continuava sendo um mistério mesmo quando permitia que eu lhe conhecesse totalmente. Já estávamos juntos há quase dois anos, tempo o suficiente para que muitos momentos fossem compartilhados. Muitas rotinas recicladas. Então, talvez... 
Jamie se mexeu um pouco na cama e isso fez meu foco se distanciar daquele assunto, felizmente. Eu precisava me lembrar de não assistir mais filmes como Blue ValentineLast Night, entre outros. Eles conseguiam colocar pensamentos tortuosos e pessimistas na cabeça de quem os assistia. 
Parei totalmente de tocar, apenas observando meus meninos em seu sono tão inocente e tranquilo. A porta do banheiro se abriu e eu não me virei, continuei de costas para a mesma. Não sabia como reagir depois de vê-lo atormentado daquela maneira. Certa vez tentei arrancar verdades a qualquer custo de Joseph, e isso acabou resultando em consequências severas. 
Quando achei seguro virar meu rosto, lá estava ele. Os cabelos molhados, sendo secados por uma toalha branca. Vestia calças largas e apenas uma camiseta branca que não ficava nem justa e nem larga. Hesitando um pouco, levantei os cantos dos lábios em um sorriso tímido e movimentei o violão, atraindo sua atenção para ele. 
- Se quiser, eu posso continuar a tocar a música para você... - cinco segundos de silêncio se passaram. 
- Continue. - foi tudo que Joseph escolheu dizer e eu não pensei duas vezes antes de atender seu pedido. 
In a bullet proof vest with the windows all closed, I'll be doing my best, I'll see you soon. In a telescope lens and when all you want is friends, I'll see you soon... I'll see you soon. - toquei e cantei aquela parte sem olhá-lo, me focando em qualquer outra coisa que não fosse a sensação de estar sendo observada. Quando o olhei novamente, ele sorriu sem mostrar os dentes - um sorriso fraco - e se aproximou da cama, pegando Jamie no colo. 
- Vem, vamos levar nossos meninos até seus quartos. - tentada a questionar porque sua voz era tão fria, apenas concordei com a cabeça e peguei Matthew com todo o cuidado do mundo no colo, depois de envolver seu corpo em uma manta quentinha. Joseph me esperava na porta e deu um beijo na testa de Matt, depois eu fiz o mesmo com Jamie e nós tomamos direções diferentes. Ao retornarmos para nosso quarto, fitei seu olhar pensativo. 
- Acho que vou dormir também. - comentei, já puxando o edredom da cama, mas Joe me impediu de cumprir aquele plano monótono. 
- Não, Demetria, espere! - quando percebi, sua mão já segurava a minha, impedindo que eu fosse a qualquer outro lugar. Secretamente eu respirei aliviada, já que sua voz fria e seus atos mecânicos não estavam mais ali. O brilho dos olhos estava de volta. Bipolares, frustrantes e encantadores. - Vamos fazer uma coisa. 
- Fazer o quê? 
- Vem comigo. - ele me soltou e sumiu do quarto. Depois de franzir o cenho, por fim o segui. Tentei achá-lo no andar de baixo que era coberto pela escuridão da noite, mas só conseguia ouvir seus passos e o som de algumas coisas sendo reviradas. A porta principal da casa foi aberta e eu enxerguei o jardim, assim como o corpo dele. Segui a luz, e não era um paraíso que me esperava do outro lado. A única coisa que me recebeu fora um vento frio que me fez encolher o corpo. Tive que me segurar para não rir quando notei que Joseph estava no meio do gramado, próximo a piscina e armava nada mais nada menos que uma barraca. Joseph estava louco e acreditava que estávamos no meio de uma floresta, ou próximos de um lado. Até mesmo nas montanhas. Ele levantou o rosto para me olhar e riu ao me ver rir. Na verdade, eu já estava gargalhando. Não me contive e saí da cobertura da porta, indo para o meio do jardim com ele, deixando o vento frio bagunçar meus cabelos. Me abaixei e tentei ajudá-lo com aquela loucura. Minutos depois, tínhamos uma barraca pronta. 
- E a piscina seria um lago? Onde está a fogueira e os marshmallows? - questionei de bom humor e ele deu de ombros, entrando na armação mediana que havíamos usado apenas uma vez, durante uma viagem ao campo. Voltei a rir feito louca ao segui-lo. Assim que coloquei completamente meu corpo para dentro da barraca, Joe puxou o zíper da mesma, acendendo uma lanterna. Uma expressão séria só conseguia arrancar mais e mais risadas minhas. 
- Pare de rir! Pare, Demi! - ele tentava me conter, mas eu larguei meu corpo ao seu, quase o derrubando, finalmente conseguindo fazer ele rir de verdade também. 
- Nós vamos acampar no quintal? Viramos crianças novamente ou... - sua mão tampou minha boca e eu me segurei para não mordê-la. 
- Agora nós estamos isolados dos problemas do mundo. 
Joe, nossos filhos estão lá dentro e... 
- Shhh, eles vão ficar bem! 
- Por Deus, me deixe terminar uma frase ou... - não me segurei e mordi sua mão, que foi para longe de minha boca. Sorri vitoriosa e tomei a lanterna dele, segurando-a de qualquer jeito. 
- Qual é o problema se eu quiser me sentir como uma criança novamente? Nunca sentiu essa vontade? - concordei com a cabeça. Quem nunca havia sentido aquela vontade? A nostalgia da infância. 
Deitei-me, encolhendo um pouco as pernas e pedi com um olhar que ele fizesse o mesmo. Ficamos com os pés apontados para direções contrárias, com os rostos lado a lado. Sua boca na altura dos meus olhos e vice-versa. Não dissemos nada por um tempo, olhando distraídos para o teto de um tecido resistente e de cor acinzentada. 
- Geralmente, quando eu fazia isso na infância, parecia mais emocionante... - as palavras escaparam e ele virou um pouco o rosto para me repreender com o olhar. 
- Fique calada, pense em uma resposta. 
- Resposta para o quê? 
- Para a pergunta que eu vou fazer. - e desligados do resto do mundo, como se apenas aquele momento existisse, eu fechei meus olhos e apenas esperei que ele fizesse a tal pergunta. - Se você pudesse, mudaria quem é e começaria tudo de novo? Ou quase tudo... - confesso que não entendi de imediato. Eu esperava por uma pergunta mais simples, algo que necessitasse apenas de um sim ou não. E voltei a me apavorar, porque meus pensamentos sobre relações desgastadas voltaram a surgir. Ele estava falando sobre recomeçar... Tive razão para sentir meu coração acelerado no peito. 
- Não. - saiu sem que eu pensasse direito. 
- Por que não? 
- Quem garante que irei gostar da nova vida? Essa que tenho está de bom tamanho. Já me derrubou muitas vezes, mas se eu passasse vinte e quatro horas por dia reclamando, seria uma mal agradecida. 
- Mas e se você fosse obrigada a correr atrás de outra vida? - o tom de voz de Joseph era suplicante, como se implorasse por uma resposta mais elaborada de minha parte. Levantei-me e em seguida ele me imitou. Puxei sua mão e a segurei com as minhas duas, olhando fundo em seus olhos. Já estava cansada de segurar a vontade de saber o que se passava dentro de sua mente. 
- O que está acontecendo, Joe? Não desvie seu olhar do meu! - ordenei, com a voz firme. Ele me obedeceu, mas eu não sabia se ter de encarar as íris outra vez tristes era uma coisa que agradava. 
- Eu nunca vou conseguir mentir para você, não é? 
- Não, e acho isso ótimo. - Joseph puxou sua mão de volta e se afastou um pouco, ficando no canto. Não me aproximei. Ele piscou os olhos rapidamente algumas vezes, como se tentasse manter a calma. Depois levou os dedos até os cabelos ainda molhados e os bagunçou do jeito que fazia desde que eu o conheci. - Me parte o coração te olhar e saber que tem algo te incomodando, que você não está bem. E hoje foi exatamente isso que eu vi, claramente. Pode confiar em mim para qualquer coisa nesse mundo, eu estou com você. - eu tinha em mente que um pedaço daquela declaração não era necessário, mas não custava nada reforçar certas coisas. 
- Eu sei, eu sei, exagerei hoje. Me desculpe. Não deveria ter dado aquele susto em vocês, mas... Entrei em choque, Demi. E talvez isso tenha acontecido porque levou muito tempo para algo de ruim voltar a acontecer. - permaneci olhando atenta a cada mudança de expressão, com uma sobrancelha erguida. Algo ruim? Que ótimo... 
Joseph Jonas, me diga o que está acontecendo. Agora! 
- Calma, Demetria, não precisa ficar apreensiva e... 
- Eu já estou apreensiva! - o cortei, elevando um pouco a voz. - Você me conhece melhor do que ninguém. Eu sou impulsiva, infelizmente herdei algo que não deveria e de quem não deveria, mas sou assim. Vou morrer assim. Daqui alguns instantes vou começar a enlouquecer aos poucos se você não me contar, começarei a pensar coisas horríveis e... 
Tudo que senti em seguida foram seus lábios colados aos meus. 
- Droga, eu odeio esses seus ataques! - Joseph riu levemente. 
- Por favor, me diga. - ele balançou a cabeça negativamente e suspirou. As batidas do meu coração decidiam se aumentavam ou não, eu já conseguia senti-lo perfeitamente no peito. 
- Eu recebi uma ameaça hoje. - Joseph jogou as cartas na mesa, me olhando nos olhos ao dizer as palavras. Mortalmente sério... Não era uma seriedade triste, mas fria. - Tudo que eu pensei foi em você e nos meninos, que eu tinha que sair daquele lugar e correr para cá, porque não sabia o grau de verdade nas palavras que aquela pessoa me disse ao telefone. Mas quando coloquei os pés aqui, eu tive aquele surto e a primeira coisa que decidi fazer foi esconder, tentar fazer parecer que nada estava acontecendo. Mas você nunca deixa nada passar, então... 
Sim, eu estava quase chorando, mas não o fiz. 
- Que ameaça foi essa? - perguntei aflita. 
Demi, tem alguém querendo derrubar a Empire. Os hotéis e tudo que faz parte dela. Eu não sei quem é, não conseguiram rastrear o número... Mas as palavras foram claras e eu não consigo esquecer a ameaça final: faça o que eu quero, ou farei o que você não quer. 
- Mas, mas... Por que alguém faria isso? Você tem inimigos poderosos o suficiente? 
- Você não sabe com quem se casou, por acaso? Eu me livrei da pior marca do meu passado, mas nunca vai ser possível mudar quem eu fui. Demetria, com certeza eu deixei muitas pessoas furiosas, fiz muitas coisas erradas... E, não, não se trata apenas de drogas e porcarias desse gênero. Coisas realmente sérias. Talvez alguém esteja atrás de vingança agora, eu não sei... - Joseph tomou fôlego e se aproximou um pouco, lançando-me um olhar estranhamente confiante. - Mas não importa, eu estou disposto a largar isso se for necessário. Essa casa é nossa, eu tenho uma boa quantia em dinheiro guardada e algumas outras coisas. Se a Empire tiver que afundar, deixaremos que afunde, ou que queime, eu não me importo! 
Joe, respire, pense devagar... - segurei seu rosto quente com as duas mãos. - Você não pode esconder isso, precisa procurar por ajuda, ok? 
- Eu não vou perder vocês! Eu não vou, Demetria! Não se esqueça do que eu lhe disse depois que nos livramos do seu pai há algum tempo... - ele engrossou a voz, da maneira que me causava arrepios. - Não permitirei que mais nada te machuque, e as consequências podem ir para o inferno. 
Não sabia o que dizer a ele, então apenas puxei seu corpo para se deitar junto ao mundo e uni os dois o máximo que pude, deslizando meus dedos por partes do seu rosto e beijando seus lábios algumas vezes. Ele embrenhou as mãos em meus cabelos e mordeu o lábio em um sinal de inquietação. 
- Tudo vai ficar bem. Nós já passamos por coisas piores, muito piores. 
- Sim, eu sei. 
And oh you lost your trust, and oh you lost your trust, and oh don't lose your trust... - sussurrei de maneira melodiosa em seu ouvido. Surpreendentemente, nós passamos a noite fria dentro daquela barraca como duas crianças realmente teriam feito. 

/Demetria's P.O.V


Verona, Itália

Pela enorme janela de um quarto de hotel, a mulher observava atentamente as construções antigas que lhe enchiam os olhos. Aquele lugar tinha um ar romântico, era algo extremamente notável. Ela voltou a prestar atenção ao interior do quarto e fitou as paredes de cores claras, examinando as diversas pinturas nas mesmas. Era uma decoração simples, mas de muito bom gosto. 
- O que faremos hoje, Alexandra Fitzgerald? - ela revirou os olhos e arrancou a boina roxa de sua cabeça, a jogando de qualquer jeito na cama e depois fez o mesmo com seu corpo, que se deitou desajeitado. 
- Não me chame assim, faz parecer que você é meu pai! O que houve com o "Eu adoro te chamar de Lexi. Lexi para cá, Lexi para lá..." - disparou a falar, fingindo-se de emburrada. Logo o homem de cabelos bem curtos, suéter e um sorriso no canto dos lábios se aproximou, a puxando pela mão para que se levantasse. 
- Me desculpe, Lexi. Eu não tinha ideia do quanto temperamental você se encontra... - Lexi riu e o empurrou sutilmente. Cameron se levantou da cama e ajeitou a gola da camisa branca que estava por baixo, também se perdendo na vista magnífica que era proporcionada através da janela. Respirou fundou e olhou para a namorada que ainda estava na cama. - Sabe, já que aparentemente você não quer sair, nós deveríamos trabalhar naquele antigo projeto. - deixou-se sorrir maldosamente, os olhos carregados das mais variadas intenções. Desde as puras, até as proibidas para o horário. Por hábito, às vezes Cam levava os dedos até um pouco abaixo de sua costela, os apertando pelo local para se certificar de que realmente não sentia mais aquela dor desconfortável. Felizmente estava totalmente recuperado do acidente que teve em Londres, quando tentou as pressas escapar daquele lugar. 
Cameron Wolfe, nós estamos na cidade de Romeu e Julieta, e não no navio Titanic. - Lexi ergueu um dedo, tentando esconder que suas bochechas estavam levemente coradas. - Pare de ficar insistindo nisso, você não vai me desenhar, pintar ou seja lá o que for nua. Não sou a Rose, e você não é o Jack! - concluiu sabiamente, brincando com os fios do próprio cabelo. 
- Mas nós deveríamos ser! - ele voltou a se sentar na cama. - E eu seria um Jack mais autoritário. Digo, é óbvio que eu não te deixaria ficar sozinha naquele pedaço de madeira. Por que as coisas teriam de terminar assim? Eu congelando até a morte e você apenas me assistindo morrer? - Cam negou com a cabeça, divertindo Lexi. - Eu seria inteligente e diria sem pensar: Chega para lá! Tem espaço para mais um aqui! Não morreria só para que você ficasse desolada e fazendo as coisas que faríamos juntos, sozinha, lamentando até ficar idosa. 
- Então, pintor Wolfe, você não morreria por mim? - ela colocou a mão no peito, encenando a mais profunda decepção. Cam se ergueu um pouco para beijá-la nos lábios e depois deu de ombros. 
- Posso fazer coisas mais românticas do que isso, você sabe muito bem. 
- Já te disseram que, para um pintor, você não entende nada de romance? - Lexi zombou, levantando-se e ajeitando suas roupas. Os dois combinaram de passear um pouco pelos lugares que ainda restavam e depois fariam uma maratona de filmes do Woody Allen. Porque era simplesmente tão típico deles, e porque Lexi gostava de se imaginar no papel das protagonistas. Toda vez que Cam olhava para ela, sentia vontade de sorrir. Não conseguia esquecer do fato de que aquela mulher salvou sua vida. Que o sangue dela correu por suas veias... Que estava completamente apaixonado. 
Quando estavam prestes a deixar o quarto, o celular de Cameron tocou estridente. Lexi disse que esperaria no saguão do hotel, e então ele voltou a entrar no quarto para atender. Era uma irmã de seu pai, ele reconheceu a voz logo de cara. Estranhando aquilo completamente, já que nenhum de seus parentes havia sequer pensado em telefonar para ele durante sua volta ao mundo com Lexi, perguntou apressado o que estava se passando. 
Suas feições relaxadas transformaram-se levemente em tensas e ele segurou o telefone com mais força. Seu pai estava doente. Doente e na Inglaterra. 
Agradeceu sua tia e desligou, indo rapidamente ao encontro da namorada. Ela percebeu que ele não estava bem, então segurou sua mão e a apertou um pouco, tentando animá-lo. 
- O que foi, Cam? Eu estava brincando, certo? Não precisa ficar ofendido porque eu disse que você é pouquíssimo romântico, podemos consertar isso! - ele riu apenas para tentar quebrar um pouco o clima pesada e não preocupá-la. Mas não tinha motivos para esconder coisas daquela mulher. Por enquanto
- Acabei de receber uma ligação de Londres... Meu pai piorou, e acho que seu tempo está contado. 
- Isso quer dizer que teremos de voltar mais cedo para lá? - ela perguntou interessada, levemente desapontada. 
- Provavelmente. - o homem tinha um semblante fechado, os ombros largos permaneciam tensos e ele se deixou pensar em algumas coisas. Memórias recém descartadas. - De volta a Londres... De volta aos pesadelos
Cameron passou o braço pelo ombro de Lexi e os dois saíram pela cidade, procurando pela diversão que estava prestes a acabar. 


Londres

O homem recebeu um olhar mortal de Scarlett, que se manteve em posição para atacar. Suas duas mãos eram cobertas por luvas de boxe e ela não desviava os olhos de seu adversário. Por fim, apenas depois de respirar fundo, a mulher rompeu a distância entre os dois e o acertou com alguns golpes que foram inutilmente barrados, afinal, ela esperou que ele se recuperasse para atacar de novo. Assim que ele encontrou uma oportunidade para levantar e sair de perto, a morena colocou as mãos na cintura e sorriu presunçosa. 
- Então, quem é o próximo? - disse, olhando ao redor, mas ninguém parecia disposto a levar uns bons socos dela. Aquela era sua válvula de escape quando não queria pensar em certas coisas. Não teve coragem para contar a ninguém sobre o telefonema que recebeu. Então, bater em algo ou em alguém era perfeito e terapêutico. 
Observando com uma distância segura, do outro lado daquela academia de Londres, Cassie e Caleb estavam. A loira com os braços cruzados e se corroendo por dentro de curiosidade. Olhou brevemente para o homem ao seu lado, que estava dando um tempo na malhação e sorriu maliciosa. Sabia que a babá estava cuidando impecavelmente bem de seus gêmeos, então tinha uma pausa para ocupar seu tempo com outras coisas, coisas como aquela. 
- Caleb, vem aqui! - ela o chamou com a mão para um canto mais reservado. Ele a seguiu e balançou a cabeça, querendo dizer que ela podia falar de uma vez. - Já sabe como vai fazer a proposta? - Caleb coçou a nuca e fingiu não entender do que ela estava falando, mas não tinha o dom da mentira. 
- Como você sabe disso, Cass? 
- Eu sei de tudo! - Cassie disse alto, gesticulando com as mãos e atraindo a atenção de alguns homens que passavam por perto. - E sei que aqueles caras só estão de olho na minha bunda. - afirmou, erguendo uma sobrancelha. - De qualquer maneira, estou disposta a te ajudar... Pois sei que você precisa de ajuda. 
- Talvez eu não precise... - o homem olhou para a namorada do outro lado e engoliu em seco quando a assistiu socar outra pessoa, apenas tirando um fio de cabelo do rosto e sorrindo vitoriosa. - Porém, talvez eu precise. - concluiu, voltando a olhar para a amiga. - O que você tem em mente? 
- É o seguinte... Semana que vem terá uma festa de príncipes e princesas mascarados. E, não, não espere encontrar William, Harry, Kate ou até mesmo a rainha... É para os que gostam de fingir que são da realeza. Eu estou ajudando na organização, e é claro que todos vocês estão convidados. Será perfeito para pedi-la em casamento, vai por mim. 
- Príncipes e princesas? Você só pode estar brincando comigo. - Caleb revirou os olhos e Cassie bufou, o puxando para um pouco mais longe quando Scarlett fez menção de se aproximar. 
- Vai dar certo.
- Cass, não me leve a mal... Mas a última festa que você organizou acabou resultando em um pouco de... Caos. - fez aspas com os dedos. Ninguém apreciava lembranças daquela maldita festa de Halloween, então, logo desconversaram. Um homem passou ao lado de Cassie e ficou a encarando, quase sorrindo. Ela fingiu que não estava prestando atenção nisso e ficou séria por um tempo. 
- Sabe, tudo bem se você dar uma chance para alguém. Jared iria... - Caleb tentou, mas a loira ergueu um dedo, pedindo para que ele ficasse quieto. 
- Não se esforce para tentar me consolar, ok? Eu não preciso disso! Mas hein, voltando ao assunto anterior... Que tipo de homem você é? Ignore todo aquele jeitão que ela tem de ser e faça a proposta. Mostre quem manda! Ok... Os homens não mandam nas mulheres hoje em dia, mas você entendeu o que eu quis dizer. 
Os dois se separaram rapidamente e foram para direções diferentes quando Scarlett se aproximou sutilmente, tomando uma toalha das mãos de Cassie e a passando pelo rosto. Passou reto por Caleb, que lançou um olhar significante para Cassie, que apontou o dedo indicador e o dedo do meio para os próprios olhos, depois para a morena que já se afastava novamente. 
- O que eu devo fazer? - ele perguntou quando os dois se aproximaram de novo. 
- Você só não é mais mole que gelatina, Austin! - Cassie o empurrou pelo peito e correu atrás de Scarlett. - Scar, minha linda, vem aqui! - a morena parou e a olhou secamente, deixando claro que queria continuar a fazer qualquer coisa que não necessitasse pensar no ser que a chamou pelo seu nome verdadeiro ou pensar na proposta de Caleb. Estava evitando ele, evitando drasticamente. 
- Diga logo, Barbie. 
- Você vai à festa que faço parte da organização na semana que vem, certo? - sorriu, batendo palminhas. 
- Onde você consegue dinheiro para todas essas festas? Digo... No momento você não está trabalhando em lugar nenhum, assim como eu. E tem dois filhos, gata! 
- Hm... - Cassie olhou para cima e de repente ficou apreensiva. - Eu sou uma boa pessoa, não se preocupe, jamais faria algo de errado. 
- Sim, claro. - Scarlett comentou ironicamente. 
Caleb tentava se aproximar de mansinho, com certo medo das atitudes de Scarlett, mas ela percebeu o que ele estava tentando fazer e o olhou intensamente por um momento. Tinha medo do que ele poderia dizer, certo? Mas não tinha medo do corpo dele. Então, ignorando Cassie, ela correu até o homem e o puxou com violência pela camiseta, grudando seus lábios aos dele com uma tremenda vontade. Algum tempo se passou e ela o soltou, lançando-lhe um olhar devasso. Cassie ria de longe, começando a se irritar com os rapazes que tentavam flertar com ela. 
- Eu tive gêmeos, ok, babaca? Não se iluda com esse corpo, em breve não o terei mais! - gritou, e se afastou, deixando as pessoas ao redor com os olhos arregalados. 
Caleb tentou beijar Scarlett novamente, mas ela levou sua mão até a boca dele, impedindo. Abriu a boca para falar, mas sua namorada arregalou os olhos e os desviou para o outro lado da academia.
- Musculação! - gritou animada, fazendo de tudo para não ouvir o que ele tinha a dizer. Caleb socou a parede com raiva e se dirigiu para outro lugar. Minutos mais tarde encontrou Cassie novamente, que recebeu um sorriso inesperado. 
- Então nós temos um plano? - ela voltou a erguer a sobrancelha loira, sorrindo malignamente. 
- Sim, nós temos. - os dois deram um breve aperto de mão. 


Demetria's P.O.V

Entrei em casa às pressas, já que não imaginava que Joseph realmente permitiria que nós dois dormíssemos do lado de fora. Mas ele não estava na barraca comigo quando acordei, então subi as escadas correndo, cruzando o corredor. Tive que parar no meio do caminho ao ouvir aquele usual monólogo. Diminui meus passos até parar completamente ao lado da porta de nosso quarto, que estava aberta. Espiei e Joseph estava lá dentro com Matthew. Parecia que ele tinha acabado de dar banho no pequeno, e terminava de vesti-lo com uma roupinha azul. Continuei a olhar tudo boquiaberta. Joe tinha tirado Matthew de seu quarto, o banhou, trocou sua fralda e o segurava de uma maneira que me fazia rir. As costas do bebê apoiadas em seu abdômen, enquanto um de seus braços passava pelo tronco de Matthew, o impedindo de cair. Por que os homens tinham a mania de segurar bebês daquele jeito? E, não, eu não estava surpresa pelo fato dele estar fazendo aquilo, mas sim porque sempre que fez, eu estive por perto. E daquela vez ele deveria acreditar que eu ainda dormia no jardim. Tinha uma mamadeira sobre um criado-mudo, provavelmente ele a preparou com uma fórmula láctea específica que havia sido recomendada por um pediatra. O segurou com mais segurança, sentando-se na cama e alimentando nosso filho. Era um fato: um homem fica sexy enquanto cuida de um bebê. Um fato super comprovado. Joseph estava com os cabelos bagunçados, a camisa aberta, revelando um pedaço de seu peitoral. Totalmente atraente, no sentido mais natural possível. 
Ele conversava com Matthew, como sempre fazia, e a melhor parte é que não deixava a voz engraçada como a maioria das pessoas faz enquanto conversam com um bebê. Ele conversava normalmente, como se estivesse mantendo um diálogo casual com outro adulto. Dava continuação a conversa, como se Matt realmente respondesse às suas perguntas. Esse, por sua vez, às vezes o olhava confuso enquanto aproveitava da mamadeira, outras vezes a largava e começava a rir sem motivos. 
- Você fez tudo perfeitamente bem, mas se esqueceu de um detalhe: a mãe. - me revelei aos dois, que me olharam ao mesmo tempo. Joe se levantou e riu do meu estado: pijama e cabelos bagunçados. 
- Jamie disse que devemos chamá-lo para o acampamento da próxima vez. - Joe comentou simplesmente e ao verificar se a mamadeira estava vazia, veio para mais perto. Ele me passou Matthew e saiu do quarto, parando no corredor para continuar a conversa. O segurei de maneira que seu rostinho ficasse na altura do meu ombro e deixei uma mão apoiada em suas costas, esperando que arrotasse. 
- Já levou o Jamie para a escola? 
- Não, ele foi mais cedo com uma colega e o pai dela, parece que eles têm um trabalho para apresentar hoje. - ele me explicou brevemente e se livrou de sua camisa, como se não soubesse que eu estava com um bebê no colo e não poderia agarrá-lo naquele momento. - Ele passou pela barraca antes de sair e disse que você parecia a Bela Adormecida. Bem, essas foram as palavras dele. - ri de leve. - Ok, agora vou preparar nosso café. 
Joseph desceu as escadas e algum tempo depois eu coloquei Matt para ficar confortável em nossa cama, colocando alguns brinquedinhos próximos a ele e um travesseiro em suas costas, para que não ficasse completamente deitado. Já sabia definir algumas coisas, como cores fortes, que atraíam sua atenção. Quase sempre ficava olhando para as próprias mãozinhas, tentando colocar elas na boca. E não poderia deixar de mencionar o fato de que, quando deitado de bruços, já tentava se virar. Era tão emocionante acompanhar todas aquelas etapas... Mas eu preferi não ficar ali parada olhando para ele, pois sempre que fazia isso e ninguém estava por perto, as lágrimas surgiam. E eu sabia que logo ele pegaria no sono, andava tão dorminhoco naqueles dias. 
Sentindo preguiça, apenas amarrei meu cabelo em um rabo de cavalo e continuei com os pijamas simples: calça e uma blusa fina de manga comprida. A palavra sexy passava longe do meu dicionário naquela manhã. 
Desci e fui até a cozinha, me deparando com um Joseph completamente à vontade na bancada, cortando algumas coisas. Percebendo minha presença, ele me estendeu uma faca e pediu com o olhar para que o ajudasse a cortar aquelas frutas. Concordei e ficamos lado a lado. De vez em quando eu o empurrava com o meu quadril e ele revidava, então permanecemos daquela maneira até que nossa refeição finalmente ficou pronta. Nós sentamos na bancada mesmo, comendo em silêncio. 
- Se lembra de quando eu disse que havia sonhado três noites seguidas que estava cantando para uma multidão? - perguntei e Joseph respondeu que sim, tampando a boca, já que ainda mastigava. Ele parecia normal, como se o fato que me revelou na noite anterior não fizesse mais diferença. E eu nem precisava ficar batendo naquela tecla, pois sabia que eram problemas passageiros. Joe tinha aquele jeito estranho de ser: mudava da água para o vinho. Felizmente, aquela característica era positiva. - Essa noite sonhei pela quarta. E dessa vez eu conhecia a música. 
Demi, eu já te disse, esses sonhos são sinais. Sinais do que você deveria fazer. Invista nisso, e eu já disse que vou apoiar! 
- Eu não posso, Joseph, não posso me arriscar desse jeito agora... E mesmo que desse certo e as pessoas gostassem da minha voz, eu sou mãe e não posso me dar ao luxo de sair por aí, viajando pelos lugares. É loucura! 
- Pensei que loucura não te amedrontasse... - ele colocou os cabelos curtos para trás com uma das mãos, me olhando. 
- Não consigo me imaginar como uma cantora. Tocar piano profissionalmente, talvez, mas cantar? Não. 
- Nunca deixarei de te encorajar a fazer isso, então se prepare para mudar de ideia qualquer dia desses. - me levantei e peguei a louça suja, levando-a até a lava louças. Não queria mais conversar sobre aquele assunto. Minha vida estava bem do que jeito que estava. Talvez às vezes eu me sentisse inútil, com vontade de realmente fazer algo que acrescentasse alguma coisa ao mundo, mas a insegurança conseguia falar mais alto. Aquela estúpida mania de ir deixando tudo para depois. 
Joseph rapidamente se colocou atrás de mim e segurou meu corpo, levando-me até a bancada e me sentando ali. O prendi com minhas pernas e matei a vontade que minhas mãos sentiam de tocar sua pele quente. Seus olhos que despertavam curiosidade correram pelo meu corpo parcialmente coberto e depois ele beijou meu rosto, chegando até o canto da boca. 
- Nunca mais me deixe dormir tanto tempo fora de uma cama. Minhas costas doem! - reclamei e Joe me olhou abismado. 
- Dor nas costas? Ah, de maneira nenhuma! Não agora, porque eu acabei de ter uma ideia... - seus dedos brincavam com os botões frágeis de minha blusa, e o primeiro se soltou facilmente. 
Jonas, nós somos pais agora, não podemos fazer sexo toda hora... - tentei deixei meu tom de voz severo, mas não conseguiria enganar ninguém. 
- Podemos sim, é só fazer bem rápido, se é que me entende. - sorriu maroto e uniu seus lábios aos meus, deslizando uma das mãos até minha nuca e puxando os cabelos dali. Deslizei minhas mãos pelos seus braços, percebendo que os pêlos se eriçaram, sentindo o aroma natural de sua pele. Os pequeninos pontos de barba entravam em contato com a pele lisa do meu rosto, e eu simplesmente era apaixonada por aquela sensação. Talvez nós tivéssemos continuado aquele momento se a campainha não tocasse de repente. - Não, você não vai sair daqui! - suas mãos seguraram minha cintura com determinação, impedindo meu corpo de descer da bancada. Apoiei as minhas em seus ombros, o desafiando com o olhar. Por fim consegui vencê-lo e ele permitiu que eu descesse assim que a campainha tomou outras três vezes. Fui descalça e com passos rápidos até a porta, puxando a maçaneta e fitando curiosamente a mulher que me fitava de volta. Tinha um ar de rude, superior. Vestia-se impecavelmente, como uma madame. Um coque firme, blazer e saia - que terminava nos joelhos - de cor marrom e sapatos de salto. Mas pelas linhas de expressão em seu rosto, não se tratava de alguém jovem. 
- Acho que me enganei de endereço. - ela disse ao olhar bem para o meu rosto e descer os olhos até os meus pés, não fazia questão de esconder o escárnio. Joseph surgiu ao meu lado, já com uma camisa qualquer vestida. Ele arregalou minimamente os olhos ao ver aquela mulher e puxou a porta, abrindo-a completamente. Seu semblante ficou sério, sério da maneira que eu apenas via quando alguém de sua família estava por perto. - Oh, vejo que não. Olá, Joseph. Como está? 
Demetria, essa é a... Irmã do meu falecido pai, Karen. Karen, essa é a minha esposa. - ele nos apresentou secamente, mantendo uma das mãos fechadas em punho. Continuei confusa enquanto presenciava toda aquela cena. Era sempre estranho o jeito como a atmosfera mudava quando Joseph se encontrava com algum de seus parentes. 
- Sua esposa, querido? - Karen apontou para mim e se segurou para não rir. Nenhum músculo do meu rosto se moveu. 
- Sim, tivemos um filho recentemente. - continuou a contar as coisas de sua vida como se fosse uma amarga obrigação, como se ela não merecesse saber. E quanto mais aquela mulher tentava se aproximar dele, mas eu estranhava sua presença ali. 
- Como pôde fazer isso, Joseph? Ela é só uma menina! - a mulher de pele branca e cabelos castanhos voltou a me medir e Joseph se exaltou, claramente demonstrando que estava para perder a paciência e bater a porta em sua cara. 
- Vou interpretar isso como um elogio. Então, obrigada, Karen! - eu disse sem cerimônias, sorrindo falsamente para ela, que ficou sem palavras por um instante. Joe me lançou um risinho discreto e depois voltou a fechar a cara. 
- O que faz aqui, Karen? 
- Você pode fingir que só porque seus pais estão mortos, o resto de sua família também está, mas funciona assim, Joseph. 
- Eu tenho uma família, e não se trata de nenhum de vocês. - rebateu. 
- É uma pena, porque você ainda é meu sobrinho e eu realmente gostaria de tê-lo por perto. Você não está sozinho, sabe que... 
- Diga logo o motivo de sua indesejável vinda até aqui, tia Karen, porque eu duvido que seja apenas para tentar conseguir paz e fraternidade entre nós. 
- Pois bem: eu sei o que está acontecendo com a empresa e todo o legado de seu pai. As coisas estão saindo do controle, Joseph. Não bastasse a ameaça ter se tornado pública, as ações estão caindo. Os negócios perdendo seu valor, pessoas desistindo de toda a companhia. Ficou sabendo que vários hóspedes do hotel no Caribe simplesmente o deixaram e foram para outros? - ela dizia todas aquelas coisas calmamente, como se não fosse nada de mais. Eu olhava para meu marido com surpresa, pois não sabia de todos aqueles fatos. Se é que ele mesmo sabia, já que também parecia assombrado. 
- E agora você surge repentinamente e se oferece para ajudar a salvar tudo isso? Se quer saber, eu realmente não me importo. Se alguém deveria lutar pela Empire, esse alguém é o meu pai. Mas ele está morto, e uma aliança entre nós e o resto dos seus irmãos não vai mudar nada. 
- Está certo, Joseph. Você realmente é uma pessoa dura de se lidar... Mas veremos se não vai voltar atrás, pois é hora de crescer definitivamente. Você é pai agora! Pode me procurar quando quiser, acredito que sabe onde moro. Não vou dar as costas a você como você deu a nós. Até logo, Demetria! - Karen deu um leve aceno com a mão para mim, sorrindo sem vontade. A imitei, mais sem vontade ainda e Joseph bufou antes de bater a porta. Soltou o ar profundamente e me olhou. 
- Não consigo acreditar que isso aconteceu. 
- A situação é mais grave do que eu tenho conhecimento, certo? Nunca vi aquela mulher, ela não te procurou enquanto estávamos juntos, ainda estou processando tantas informações. 
- Ela tem certa participação nos negócios, mas nada que me obrigue a manter contato. Agora que as coisas estão prestes a desabar, ela pensa que nos juntaremos como uma equipe. - demonstrando-se exausto, Joe se desencostou da parede e esfregou as mãos em seu rosto. - Estou cansado de tudo aquilo! Por mim que se dane! - segundos depois, ele pareceu arrependido daquelas palavras. - Mas o que diabos estou dizendo? Não vivo mais só por mim... Eu tenho que pensar por mais pessoas, principalmente pelos meus filhos. Demetria, eu não sei o que fazer. Vamos viajar para algum lugar? Faz algum tempo que eu quero planejar uma coisa diferente para nós. Podemos levar a Nancy, ela cuida dos meninos enquanto você e eu simplesmente vivemos como se nada dessa droga de mundo real existisse. - eu ri meio desconfortável com seu nervosismo e me afastei, começando a subir as escadas. 
- Você precisa relaxar, Jonas. E eu posso te ajudar, mas só depois. Agora vou me vestir como uma mulher, já que fui chamada de menina. - fingi estar magoada e ele revirou os olhos, mordendo o lábio inferior. 
- Não é uma roupa que vai provar que você é uma mulher adulta, senhora Jonas! - ele realmente estava tentando me seduzir de novo! E com o jeito sexy que se portava, logo acabaria ganhando a luta. Eu apenas arranquei minha blusa na frente dele e dei as costas, subindo as escadas. 
- Ops... Caiu! - a lancei ao chão, próximo de onde ele estava. - Depois você terá a obrigação de me dizer o que provará isso, então. - gritei já no topo da escada, dando um tchauzinho sedutor e me trancando no banheiro. 


(Coloque a música para tocar!)
Uma movimentação indicava que as crianças já começavam a sair, enquanto me desencostei do carro e procurei Jamie com os olhos. Não demorei em avistá-lo, mas ele mal parecia se importar com a minha presença. Estava entre um grupo de umas seis crianças, que riam e paravam diversas vezes para dizer algo umas as outras. Eu não tinha pressa, então apenas fiquei olhando ao redor, para todas aquelas pessoas. A escola de Jamie ficava localizada em um local muito agradável que por vezes seu lado de fora lembrava uma grande praça, com árvores imensas e muita grama. Quando ele se aproximou, eu estava distraída e só fui notá-lo assim que seus braços abraçaram meu corpo. Correspondi e sorri interessada, já que uma garotinha adorável estava ao seu lado. 
- Você tinha razão, Jamie, ela é muito bonita! Queria ter um cabelo assim... - a menina loira me confessou fazendo beicinho e eu por reflexo coloquei meus cabelos para trás. 
- Mas um dia você vai ter, ok? É só deixá-lo crescer! 
- Oi, Bela Adormecida! - Jamie disse por fim e depois olhou para a menina. - Essa é a Olivia. 
- É muito bom conhecer você! - estendi minha mão para ela, que a apertou de volta e sorriu abertamente. Seus olhos se demoraram em meu rosto, parecia que ela procurava por algo. Mas crianças sempre são curiosas, então não me espantei. 
- Jamie, eu já conheci seus pais, mas você ainda não conheceu o meu! Ah, lá está ele! - ela aumentou a voz e apontou para longe de nós, onde uma aglomeração de árvores mais densas se encontrava. Eu e Jamie olhamos para o lugar e eu disse que estava tudo bem se fôssemos com Olivia até lá para dizer um oi ao seu pai. Ela e Jamie caminhavam na frente, saltitantes. Mas quanto mais eu me aproximava do homem parado ao lado daquele carro, mais sentia uma sensação estranha no peito. Olivia correu para abraçá-lo, e o homem se abaixou e a levantou no ar brevemente. Os dois olharam para mim e para Jamie. Bastou o pai de Olivia retirar seus óculos escuros para que meu coração criasse a ilusão de que estava subindo para a minha garganta. Meus olhos provavelmente se arregalaram e meu rosto deixou de ser corado, tornando-se pálido. Jamie apertou minha mão, que segurava a sua de qualquer maneira. Perdi a noção de espaço e tempo, conseguindo recuperá-la apenas quando a voz do homem soou normalmente. 
- Oi, você deve ser a mãe do Jamie, certo? Eu sou Julian, pai da Olivia. - encarei sua mão estendida como um cumprimento ainda em choque, erguendo a minha de maneira trêmula. As duas se apertaram e eu desviei o olhar. 
- O que foi, Demi? - Jamie me perguntou preocupado, e o homem deveria pensar que eu era uma maluca. Olivia estava quase escondida atrás das pernas do pai. Respirei fundo e sorri, tentando convencê-los o máximo que pude de que tudo estava bem. 
- Olá, Julian. Nossos filhos aparentemente são grandes amigos. - tentei parecer amigável, mas era complicado deixar que um contato visual fosse criado, então permaneci olhando para as folhas das árvores que se balançavam ferozmente, o vento estava mais forte. 
- Tudo bem com você? Parece assustada... - ele comentou incerto, soltando um risinho nervoso. Era alto, vestia uma roupa casual que consistia em jeans e uma camisa social branca com as mangas dobradas. Os cabelos eram pretos e os olhos claros. Algo dentro de minha mente gritava para que eu puxasse Jamie e nos afastasse dali, mas seria estranho demais. Na verdade, já estava sendo estranho demais. Estranho era eufemismo. 
- T-tudo bem, sim! Jamie, temos de ir agora, ok? Despeça-se da Olivia! - os dois se despediram com beijos rápidos no rosto e eu lancei um último olhar para Julian, que também me olhava. Eu diria que perdido. 
Caminhei com Jamie para longe dos dois, procurando meu carro. O menino que segurava minha mão olhava constantemente para meu rosto, tentando entender porque eu estava daquele jeito. Preferi não olhar para ele e simplesmente abri a porta de trás para que entrasse no carro antes de mim. Fui para o banco do motorista e bati a porta, parando um tempo para refletir. 
- Qual é o problema? Você não gostou da Olivia? Ela é muito legal, deveria conversar mais com ela. Vai mudar de ideia! 
- Não é isso, Jamie, eu só... 
- Algum problema com o pai dela? 
- Não! - exclamei, mentindo. 
- Você brigou com o Joe? Ah, já sei! Vocês brigaram e é por isso que parece que vai desmaiar! Não fica assim, ok? Eu vou conversar com ele! - concordei com a cabeça, deixando ele acreditar que de fato se tratava de uma briga com Joseph. Olhei para o lado através da janela aberta do carro e Julian passava do outro lado com o seu, deixando que trocássemos um último olhar duvidoso. - Vamos para a casa. - disse mais para mim do que para Jamie. 
Talvez eu tivesse vivenciado momentos incompreensíveis demais no passado, então era certo que uma hora ou outra acabaria ficando louca. Demorou, mas parecia que a loucura finalmente estava batendo em minha porta. Era a única explicação plausível, pelo menos a única que fazia algum sentido dentro de minha cabeça naquele momento. 

/Demetria's P.O.V


Julian estacionou em frente à comum casa em que vivia apenas com Olivia. Ela desceu do carro sozinha e ficou esperando por ele na calçada, os olhos levemente confusos, assim como os de seu pai. Ele saiu também e foi até ela, puxando-a pela mão para que se sentassem em um banco de madeira ao lado da porta também de madeira. Retirou os óculos escuros e as íris claras procuraram por uma explicação em um ponto distante do concreto na rua. 
- Papai, era ela! A mulher que vejo nos meus sonhos quase todas as noites. E o homem também, eles são pais do Jamie! - choramingou, sendo abraçada pelo homem, que sabia exatamente o que ela estava sentindo. Apenas lidava melhor com a situação pelo fato de ser adulto. - Por que isso está acontecendo? 
- Não sei, filha, não sei. O homem não cheguei a ver realmente, mas definitivamente aquela é a mulher dos sonhos... Ou pesadelos, quem é que sabe. 
Os dois compartilhavam sonhos praticamente iguais e com as mesmas pessoas: Demetria e Joseph, assim como alguns outros seres que ainda não tinham encontrado pela realidade. Era inexplicável, principalmente para Julian, que mal sabia o nome completo daquelas pessoas. Nenhum tipo de ligação existente entre eles. 
Pelo menos não que ele soubesse. 

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