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domingo, 29 de junho de 2014

Secretary II - Capítulo 25


Destino


When I thought that I fought this war alone, you were there by my side on the frontline. When I thought that I fought without a cause, you gave me a reason to try.


Manhattan

O homem afastou um pouco as persianas para que pudesse ter uma vista melhor. Estava esperando por algo, por uma notícia. Ele precisava daquela confirmação mais do que tudo. Os olhos de um azul acinzentado olhavam fixamente para um prédio qualquer, até que escutou as rotineiras três batidinhas em sua porta. Sem que uma resposta fosse necessária, uma mulher adentrou o local. O barulho dos altos batendo contra o chão atrairam a atenção do homem, que se virou esperançoso e sorriu abertamente ao perceber que sua secretária segurava uma pasta. Ele passou por ela e deu a volta em sua mesa, se sentando em sua poltrona preta. A mulher estendeu a pasta para que ele pudesse pegar. 
- Por favor, Sarah, diga que é o que eu estou pensando. - ele a olhou com firmeza, não deixando que o sorriso desaparecesse. Sua secretária ficou levemente sem jeito com aquele sorriso e colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha. 
- Tudo leva a crer que sim, senhor Henry. - Henry ergueu uma sobrancelha e sacudiu a cabeça ao perceber que estava deixando sua secretária sem graça com aqueles sorrisos. Não eram para ela, apesar de ser muito bonita. Mas, antes que pudesse concluir aqueles pensamentos, abaixou o olhar e fitou o porta-retrato que estava em sua mesa. Sua família estava alí. Sua mulher, seus dois filhos e seu irmão. Ao deixar os olhos presos na imagem de seu irmão, ele sentiu a raiva borbulhar. Finalmente, finalmente teria a chance de se vingar. Passou as mãos nervosamente pelos cabelos que variavam entre o loiro natural e os fios grisalhos. 
- Obrigado, Sarah. 
- O senhor vai viajar hoje? - Sarah perguntou, interessada. 
- Espero que sim. - Henry virou sua poltrona para o lado, voltando a ter a vista de antes. Sua secretária percebeu que no momento não seria útil e saiu da sala, fechando a porta. Henry segurou a pasta com vontade, não demorando a abri-la. Examinou aqueles três papéis como se valessem milhões. E voltou a sorrir. 
Pegou o telefone e discou uma sequência de números, esperando pacientemente, enquanto acompanhava os ponteiros do relógio que indicava que ainda estava bem cedo. Uma voz conhecida foi identificada do outro lado da linha. 
- Carl? É o Henry. Eu consegui! - exclamou, satisfeito. 
Isso é sério? Conseguiu mesmo encontrar ele depois de todo esse tempo? 
- A vida me ensinou a não desistir fácil do que se quer, Carl. 
Claro, afinal, Henry Schmidt nunca desiste. Principalmente quando se trata de uma vingança. - Henry segurou uma das folhas, dando-lhe mais atenção. Observou o nome escrito na parte superior e um possível endereço. 
- Com toda a certeza. 
Vai viajar hoje? 
- Já estou indo! 
Ele desligou, guardando os papéis na pasta e os colocando dentro de sua maleta. Olhou uma última vez para seu irmão na fotografia e subiu o olhar, que revelava a fúria. Estufou o peito e, segurando a maleta com firmeza, saiu de sua sala. Logo o celular estava em suas mãos. 
- Só liguei para avisar que tudo ocorreu como o planejado. Reúna sua equipe, está bem? Nos encontramos em Londres
Henry recebeu um aceno de Sarah e logo entrou no elevador, se preparando para a viagem de algumas horas que faria. Apesar de cansativa, sabia que não se arrependeria. Até o final daquele dia, a justiça seria feita... 


Londres

Demetria's P.O.V

Música!

Segurei as três rosas brancas com uma das mãos, sentindo a outra ainda um pouco dolorida. Eu sentia vontade de tirar aquela tala, não sabia por que não o tinha feito ainda. Respirei fundo e continuei a caminhar por aquele longo caminho de ladrilhos envelhecidos. Ao meu redor, apenas o canto de alguns pássaros, árvores e uma sensação de vazio. Meus olhos estavam extremamente pesados e doíam, assim como minha cabeça. Estava há mais de 24 horas sem dormir. Não me importei com a pequena ferida na parte de trás de minha cabeça, nem com o fato de que eu estava praticamente com o estômago vazio. Naquele momento, sentir qualquer tipo de desconforto era irrelevante. Eu me obrigada a não pensar em determinada pessoa e em tudo que ela tinha me dito. Eu não queria aquelas palavras sendo reproduzidas dentro da minha cabeça. Eu não queria acreditar que era real. Nada do que havia acontecido na noite anterior me assustava mais do que a lembrança daquelas três palavras: Eu mudei de ideia
Uma parte de mim, carregada de raiva, tentava me forçar a odiá-lo. A me afastar e não permitir que tentasse uma reaproximação. Eu ainda sentia meu orgulho ferido, a sensação de ser insignificante. A humilhação. Assim como ainda conseguia sentir o anel em meu dedo, mesmo que ele não estivesse alí. 
Outra parte de mim, movida pela esperança de que nada daquilo tinha sido real, tentava me fazer perceber que eu precisava encontrá-lo e colocar tudo em pratos limpos. Não tínhamos no conhecido no dia anterior, existia toda uma história entre nós. Não era aceitável que tudo fosse uma grande mentira. Eu lutei para que ele fosse feliz, para que se sentisse bem ao meu lado. Passei todo aquele tempo me preocupando mais com os sentimentos dele do que com os meus, deixando de lado as minhas vontades. Eu me lembrava do momento em que simplesmente explodi e joguei várias coisas na cara de Joseph. E eu não me arrependia. Ele merecia ouvir tudo aquilo e tentar se convencer do que eu tinha feito única e exclusivamente por ele. 
Carter tentou me matar três vezes. Em todas elas, eu lutei. Eu lutaria de novo se fosse necessário. Uma parte de mim estava feliz. Sim, feliz. Joseph estava livre, livre para ir onde quisesse! E isso fazia com que algo em meu peito doesse. 
Não era verdade, ele não tinha colocado um ponto final em nós daquela maneira. Não era verdade, não era verdade. Não era verdade. 
Eu poderia tentar me fazer de forte, ser aquele tipo de mulher que não permite que nada passe por cima. Ter seu próprio orgulho em primeiro lugar. Chorar por um homem? Jamais! Deixar que ele veja as lágrimas? Intolerável! Eu queria ser uma mulher forte e não deixar que aquele sentimento me consumisse. Mas a núvem escura continuava lá, em cima da minha cabeça, se encarregando de nublar tudo, não permitindo que o sol tentasse me aquecer. 
E então, quando eu conseguia parar de pensar um pouco em Joseph, meu meio-irmão vinha em mente. Seria mesmo verdade? O que eu não daria para ter mais tempo, para tentar descobrir. Sua carta ainda era fresca em minha memória. A maneira que ele encontrou parar tentar chamar a atenção das pessoas ainda causava arrepios em meu corpo. O seu desespero para morrer e se livrar da vida insuportável que levava. O obrigado que disse a Arthur quando foi baleado. 
Até mesmo Carter, o monstro sem piedade, era capaz de agradecer aquele homem. Mas eu não, jamais. Algo nele me despertava raiva. Mesmo que, graças a sua ajuda, Joseph estivesse vivo, eu não conseguia esquecer de coisas feitas no passado. E que homem atiraria em seu próprio filho? 
Dois problemas não eram o suficiente, precisava existir um terceiro. No começo daquela manhã, ao descobrir que Cameron tinha sofrido um acidente de carro, comecei a pensar que talvez o problema fosse comigo. Por que as pessoas ao meu redor precisavam se machucar daquele jeito? Primeiro Jared, depois Cameron. Fiquei durante vários minutos apenas encarando Cam em seu leito, desacordado, ferido. E, para completar, ele precisava de sangue. Sangue que estava em falta no hospital. Eu precisava fazer alguma coisa, mas o quê? Me sentia uma garotinha frágil que nada podia fazer a não ser assistir enquanto o mundo ao seu redor se despedaça. 
Ainda no começo da manhã, assim que o último resultado de uma radiografia ficou pronto, Scarlett se ofereceu para me levar embora. É claro que eu não podia ir para a casa que morava com Joseph, então agradeci mentalmente por ainda manter minha outra casa. Scarlett me levou para lá e eu pedi que me deixasse sozinha. Tudo que eu precisava era de um pouco mais de solidão para pensar. Tomei um banho, me livrando dos vestígios físicos daquela noite. Chorei, chorei até não aguentar mais, apenas para tentar aliviar a dor. 
Quando parecia que estava prestes a secar por dentro, decidi vestir uma roupa qualquer e sair de casa. Não quis ligar para Scarlett ou Caleb, não queria ser tratada com pena. Os dois se mostraram ótimos amigos comigo, mas certas coisas você precisa fazer sozinha. E, apesar de estar acabada, eu não era cega. Pude reparar muito bem os olhares tensos que os dois trocavam. Eu sabia que algo estava acontecendo. 
Parei em frente a uma lápide, onde um nome conhecido estava gravado. Me abaixei rapidamente e coloquei uma das rosas brancas sobre ela, com os olhos presos nas flores secas que estavam ao redor. 
- Todo esse tempo, Jared, nos enganaram ao dizer que super-heróis são invencíveis. - falei sozinha, passando os dedos pelos detalhes do túmulo de Jared. - Ou eu que não mereço ser um, não é? Porque não me sinto invencível agora, muito pelo contrário. - me levantei e respirei fundo, segurando as lágrimas. Eu tinha certeza de que meus olhos e minha cabeça não aguentariam se eu chorasse mais uma vez. Ainda com duas rosas em mãos, voltei a caminhar, com os olhos atentos a tudo ao meu redor. Ao mudar de quadra, enxerguei alguns mausoléus. As cores desbotadas de flores ao redor de um deles me chamou a atenção e eu caminhei com mais determinação, mesmo sentindo as pernas fracas. Quanto mais eu me aproximava, mais tinha a certeza de que tinha chegado ao lugar certo. Observei alguns objetos, flores e fotos. Como uma espécie de homenagem. 
Fitei uma das várias fotos e reconheci a garota. Óculos, cabelos loiros e curtos. Estava sorrindo. Aquele era o lugar onde os restos mortais de Erin Fields foram colocados, junto com uma homenagem simples, porém bonita. Junto com uma emaranhado de outras rosas secas, eu coloquei uma das minhas. Pelo menos uma parte do drama da vida de uma família tinha se acabado, pelo menos eles sabiam onde Erin estava. Sabiam que estava em paz. 
Olhei para a terceira e última rosa e me perguntei se eu tinha onde deixá-la. Outra vez eu tratei de mudar de direção e comecei a procurar por indícios de algum velório ou enterro recente. Mas talvez ainda fosse cedo demais, talvez os restos de Carter nem fossem deixados alí. 
Tinha certeza de que já era quase uma da tarde, era tempo suficiente para que o corpo dele fosse liberado. Mesmo perdendo as esperanças, continuei a procurar. Cheguei a uma parte mais reservada, onde um extenso corredor levava até um pequeno prédio de no máximo três andares. Caminhei por aquele caminho, observando as paredes azuis. Acima de uma larga porta de madeira, enxerguei a palavra "Crematório". Identifiquei uma pequena agitação vinda do lado de dentro do lugar e me afastei um pouco, virando o rosto e fingindo prestar atenção em outra coisa. Disfarçadamente, me permiti voltar a virar o corpo e encarar uma mulher toda de preto que saia do prédio, segurando uma espécie de urna com detalhes dourados por entre as mãos. Ela fitou a rosa em minha mão por um instante e depois pareceu se perder em meu rosto, como se enxergasse algo que eu não era capaz de enxergar. Na verdade, algo no rosto dela também me parecia chamativo. 
- Me perdoe pela pergunta, mas nós nos conhemos? - ela disse, de maneira baixa, depositando mais força nas mãos que seguravam a urna. 
- Depende. - respondi, insegura. - Você conhecia Carter Stone? - a mulher levemente ruiva olhou para baixo e depois balançou a cabeça positivamente, fazendo um gesto que indicava a urna que segurava. Demorei alguns segundos para entender o que ela estava querendo dizer. Carter tinha sido cremado. 
- Ele era meu filho. - ela disse, não aguentando mais segurar as lágrimas. Hesitante, me aproximei um pouco, incerta do que dizer. - Você era amiga dele? - neguei com a cabeça. - Claro que não, meu filho não tinha amigos. - meu peito voltou a doer. 
- Nós... Olha, eu sei que vai parecer loucura, mas me disseram que o Carter era meu meio-irmão. - olhos arregalados me fitavam com um misto de curiosidade e espanto. Senti o vento frio de janeiro passar por mim. 
- V-você é filha do Arthur? - então era mesmo verdade. 
- Acho que sim. 
- Sempre suspeitei que aquele homem fosse a procriação em pessoa! - aquela frase quase me fez rir. Quase. 
- Carter queria ser cremado? - perguntei, optando por mudar de assunto. 
- Eu não sei o que ele queria, querida. Mas... - ela olhou para o objeto que guardava as cinzas de seu filho. - Suponho que embaixo da terra seja muito escuro. Carter tinha medo de escuro quando era pequeno. - a mulher totalmente frágil em minha frente voltou a chorar e tudo que eu fiz foi colocar sutilmente minha mão em seu ombro. Não fazia muito sentido o que ela estava dizendo, mas eu tentava entender sua dor. Mesmo que eu não a conhecesse, queria tentar passar-lhe um pouco de conforto. - Não dá para acreditar que essas cinzas são do meu filho, não consigo. 
- Carter está melhor agora. Pode ter certeza disso. - ela me olhou e sorriu tristemente. 
- Talvez você esteja certa... 
Demetria. - respondi, percebendo que ele queria saber meu nome. 
- Louise. O que eu farei com isso? Não quero guardar, não acho que seja a coisa certa a se fazer... - Louise olhava para a urna enquanto falava, parecia estar conversando com si mesma. Eu sabia que talvez fosse errado me intrometer daquele jeito, mas queria tentar ajudar. Pelo menos uma vez. 
- Qual era o lugar favorito dele na infância? - perguntei, com um leve sorriso. O rosto da mulher ficou sem expressão, os olhos distantes. Depois ela riu levemente. 
- Como ele passou mais tempo em Paris comigo, acho que era um parque próximo a torre eiffel. Tinha margaridas e era muito bonito... 
Estendi minha última rosa a ela, esperando que a mulher a segurasse. Não demorou para que ela o fizesse. 
- Então você sabe onde deve deixar as cinzas do Carter. - ela concordou com a cabeça, me agradecendo brevemente. Dei as costas para Louise e procurei pela saída do cemitério. Me sentia vazia e completa ao mesmo tempo. Triste e feliz. Cansada e revigorada. Eu era daquele jeito... Nunca deixava que apenas as sensações ruins me dominassem. Eu me lembrava de quando me machucava na infância e minha mãe dizia, rindo: Demetria, por que está rindo? Você se machucou, não está doendo? Como pode rir do que lhe causa dor? E eu me lembrava de responder: A dor não vai durar para sempre, mamãe. E, sim, foi engraçado.
Saí do cemitério e procurei por um táxi, disposta a voltar para o hospital. Talvez boas notícias me aguardassem. 

/Demetria's P.O.V


Cassie respirou fundo, sentindo-se um pouco assustada. Ela colocou a mão sobre a barriga e acariciou o local, como já estava acostumada a fazer a cada fração de segundo. Assim que seu nome foi chamado, ela disse a si mesma para contar até dez e encarar de frente o que lhe esperava. Ela se levantou e caminhou até a sala do outro lado da clínica onde estava, entrando e recebendo cumprimentos da obstetra que seria responsável pela sua primeira ultrassonografia. Após receber instruções, ela se acomodou em uma espécie de maca de material confortável e ergueu sua blusa, deixando sua barriga já saliente totalmente à mostra. Quanto todos os procedimentos foram tomados, Cassie sentiu a substância gelada e gelatinosa em sua pele, juntamente com o aparelho de ultrassom que era pressionado levemente por várias regiões. 
- Fique de olho nessa tela aqui! - a especialista no procedimento apontou para a direção em que uma imagem ainda indefinida era observada por Cassie. Depois de mais algum tempo, ela se assustou um pouco quando, proveniente de um aparelho que estava próximo, seus ouvidos identificaram um barulho bem familiar, semelhante ao das batidas de um coração. Só que de uma maneira baixa e suave. Mas o que deixou Cassie confusa, foi o fato de que o som parecia estar duplicado, como se... 
- Olha, eu acho que não estou me sentindo muito bem... - ela comentou, com os olhos grudados na tela que transmistia uma imagem colorida. - Sério, acho que estou vendo dobrado e... 
- Não, Cassie, você não está vendo dobrado. São gêmeos! Consegue ver? - a mulher ao lado de Cass sorriu, dando-lhe os parabéns imediatamente. Cassie não sabia se começava a rir ou a chorar. Estava prestes a ter uma síncope. 
Gêmeos. Dois pedaços de vida crescendo e se desenvolvendo dentro dela. 
Pensou em Jared, o quanto queria que ele estivesse presente naquele momento. Riu sozinha ao imaginá-lo arregalando os olhos e desmaiando. 


Scarlett ergueu as sobrancelhas ao olhar para cima e analisar a casa que estava a sua frente. Esfregou os olhos, sentindo-se exausta e caminhou em direção a porta, não hesitando ao tocar a campainha. Precisava saber logo se toda aquela busca tinha funcionado. Enquanto esperava, ela se lembrou de todos os acontecimentos das últimos horas. Por que diabos estava se sentindo estranha daquele jeito? A morte de Carter era algo até que previsível, e, apesar de realmente ter ficado triste com aquele acontecimento, sabia que era o melhor para ele. Mas, deixando tragédias de lado, por que sentia aquela coisa idiota no estômago quando pensava em Caleb? Por que ele a chamou de Karlie? Por que os dois fizeram... aquilo? Ela deu um tapa na própria cabeça, tentando se livrar de todos aqueles pensamentos. 
- Cara, o que está acontecendo comigo? - falou sozinha, se encostando na parede ao lado da porta. De repente, apesar de continuar armada, não se sentia mais tão forte. Tinha se acostumado com a imagem de durona que foi obrigada a criar para esquecer o que sua vida de verdade tinha se tornado. Com o passar dos anos, não era mais um problema. Se diveria com o perigo, achava excitante situações como aquela que presenciou na madrugada. Mas algo estava diferente, algo tinha mudado. Toda a fraqueza que manteve isolada dentro de si, encontrou uma saída e estava aparecendo aos poucos. Mas ela não permitiria, não permitiria. Era um erro ter aquilo em mente, ela era adulta e consciênte o suficiente para entender que aquela era a sua vida. 
Não existia a opção de mudança, Scarlett fora alertada desde o início. 
Não estava com as típicas roupas pretas, muito menos com a jaqueta de couro. Usava uma calça jeans um número a mais que o seu e um moleton qualquer. Os cabelos estavam bagunçados e presos em um coque mal feito. Aquela não deveria ser a aparência de uma agente, mas ela estava pouco se importando. Ainda sabia atirar, ainda sabia lutar. Ninguém precisava saber como estava seu estado por dentro, como sempre. 
Se pegou distraida quando a porta finalmente se abriu. Scarlett cruzou os braços e encarou o homem a sua frente. Estava vestido socialmente, com a barba feita e os cabelos penteados para trás. Mas, apesar disso, não conseguia esconder os olhos inchados e as olheiras marcantes. Joseph respirou fundo ao perceber de quem se tratada e deu um passo para trás, remoendo e remoendo tudo que tinha acontecido. 
- Scarlett. 
- Olha só, finalmente te encontrei! - ela fingiu um sorriso amigável. 
- Como descobriu que moro aqui? - Jonas perguntou, olhando ao redor para descobrir se ela estava sozinha ou não. Scarlett deu de ombros e se aproximou de Joseph, o puxando para fora de casa pelo braço. Ele até poderia ter tentado impedi-la, mas não conseguiu. 
- Isso não importa. O importante é que você pare com isso. - Scar disse em alto e bom som, tentando parecer a mulher durona de sempre. Quem estava querendo enganar com aquele visual? 
- Eu não estou fazendo nada, Scarlett. - Joseph disse, com cansaço na voz. 
- Não banque o engraçadinho. Eu não estou afim de ser muito amigável com você, na verdade, ainda quero quebrar a sua cara. - ameaçou, o soltando e desfazendo a expressão de durona. Talvez violência não fosse a chave, e sim o diálogo. - Joseph, eu sei o que está acontecendo. 
- Não, você não sabe. - cabisbaixo, Joseph apenas se afastou. 
- O que o Arthur fez? - Scarlett perguntou de vez, fazendo com que Jonas ficasse tenso, travando a mandíbula e fechando as mãos em punhos. Ela conhecia seu chefe, sabia do que ele era capaz. Sem contar que tudo era coincidência demais. - Não vou perguntar de novo. - no instante seguinte, Joseph sentiu um súbito alívio e soltou o ar com mais calma. Pelo menos alguém sabia o querealmente estava acontecendo. 
- O que você acha que ele fez? Me ameaçou, é claro. 
- Eu sabia! O que ele disse? - quis saber. 
- Disse que me quer longe da Demetria, que não quer um homem como eu ao lado dela. Disse que se eu não fizesse isso, dava um jeito de me colocar de volta na prisão. Eu não sei o que me deu, Scarlett, eu aceitei. Eu fiz tudo aquilo com ela. - ele desabafou, com o olhar escuro. Ainda não conseguia acreditar na besteira que tinha feito. Quebrar uma parte dos objetos de sua casa não ajudou em nada, só tornou a situação pior. Ele não bebeu como queria, queria estar sóbrio todo o momento. Queria sentia a dor. - Eu feri a única pessoa que nunca tentou me ferir. 
- Trocou ela por sua liberdade? - apesar de comovida, ela ainda estava com raiva por Demetria. - Cara, eu não sei o que passou pela sua cabeça, e até tento entender por que aceitou isso. Mas... Usar aquelas palavras? Por quê? O jeito como você a tratou, como se fosse lixo... 
- EU SEI! - ele disse alto, largando o corpo e se sentando na pequena escada da porta. Escondeu o rosto com as mãos e respirou fundo, bagunçando os cabelos e tentando segurar as lágrimas. - Nunca vou me perdoar, Scarlett, nunca! - ela não se aproximou, continuou parada no mesmo lugar. - Satisfeita? Eu tratei ela como lixo, mas me sinto pior do que isso. 
- Se você visse o brilho nos olhos dela toda vez que ela dizia que logo conseguiria livrar você da prisão... Até eu, que não entendendo nada dessas coisas, consegui ver. Sei que não tenho o direito de julgar ninguém, mas, por favor, conserte isso. 
- Eu não posso! Como vou conseguir olhá-la sem que eu me sinta um monstro? E Demetria não vai me perdoar. Às vezes eu acho que fiz a coisa certa, às vezes eu penso que ela realmente merece alguém melhor. Eu concordei com o que o Arthur propôs, sem pensar no que ela queria. Isso prova muita coisa, não é? Talvez ela mereça uma chance com alguém melhor, alguém que não a faça sofrer. 
- Pelo amor de Deus, cala a boca! - Scarlett se exaltou. - Sério que você é do tipo que acredita que amar alguém é algo "cor de rosa"? Me poupe, Joseph! Algo sempre vai nos machucar, sempre. Mas e daí? Cedo ou tarde nos recuperamos. Eu tenho certeza que a Demetria não quer um conto de fadas, um príncipe encatado e sei lá quais besteiras mais. Ela quer você. 
- Isso não anula a existência do Arthur. 
JOSEPH! - Scarlett chamou seu nome em voz alta, o obrigando a levantar o rosto e prestar atenção. - Não permita que um homem que não tem a minima ideia do que é amar alguém de verdade acabe com a vida de vocês. - Scarlett gesticulava com as mãos, se alterando aos poucos. Cenas e mais cenas de seu passado romperam a passagem que ela tinha feito questão de bloquear e eram jogadas em sua mente com força. - Ele salvou a minha vida, sim, ele salvou, mas que se dane! De que adianta salvar a vida de uma pessoa e destruir a de outra? Você não pode fazer o que ele quer. Pare de chorar feito um garoto e tome uma atitude! Mande o Arthur para o inferno! Demetria te ama, seu idiota, ela lutou você. Se você realmente a ama, lute por ela também. - só quando terminou de falar, Scarlett percebeu que estava chorando. 
- Eu não sei como fazer isso... - os dois choravam. Cada um preso em seu próprio questionamente e lamentação. - Tenho medo de ter destruído tudo. 
- Porra, é claro que você não destruiu. - ela limpou as lágrimas. - Sei que vai pensar em um jeito. Sei que vai! E, se precisar, me chame. Durante muito tempo, Joseph, eu me envolvi em causas superficiais. Em roubos milionários, em sequêstros de garotos ricos sem um pingo de massa cinzenta. Briguei por futilidades, pura perda de tempo. Eu só fazia o que me mandavam fazer porque não tinha algo que realmente valesse a pena... Mas, agora, eu comecei a enxergar as coisas de outro jeito. Não existe só maldade por aí, existem pessoas que realmente se importam. E, se eu tiver que realmente lutar e arriscar minha vida por pessoas assim, acredite, eu não vou hesitar. - ele não sabia bem o que dizer ao ouvir tudo aquilo. Mas se sentiu forte por um momento, apenas ouvindo as palavras duras e encorajadoras de Scarlett. 
- Por que você se importa tanto? - ele perguntou. 
- Porque eu nunca tive amigos de verdade. Eu... Gosto da sensação de que tenho alguns agora. Mesmo que eu tenha que fingir que vocês são meus amigos. 
- Você não tem que fingir nada. Exceto eu, sendo um completo desgraçado com a Demetria, ninguém está fingindo nada por aqui. Principalmente o Caleb. 
- Caleb? O quê? - Scarlett arregalou brevemente os olhos e tentou disfarçar, totalmente desconfortável. Isso mesmo, banque a pré-adolêscente! Ela dizia a si mesma. 
- Acho que não sou o único que preciso agir por aqui... - Joseph se levantou, confiante. Pensaria em alguma coisa, qualquer coisa, para reparar o que tinha feito. - Pode ir agora, você também tem algo a fazer. 
- Não tenho, não. - ela estava parecendo uma criança envergonhada. 
- Tem sim. 
- Ok, então boa sorte! 
- Boa sorte para você também. - Joseph riu levemente, sendo acompanhado por Scarlett. Ela deu um aceno e se virou, indo embora. Joseph procurou por algo no bolso de sua calça e retirou a aliança de Demetria, olhando fixamente para a mesma. Respirou fundo e fechou os olhos, encontrando a oportunidade para fazer o certo. Agradeceu mentalmente por seus funcionários terem tido a ideia de fazer algo para comemorar sua saída da prisão. Era óbvio que ele não estava entusiasmado com aquilo, na verdade, nem queria saber de nada que envolvesse aquela empresa. Mas... Talvez fosse o único jeito de se aproximar de Demetria.


Demetria's P.O.V

Assim que adentrei o hospital, meu celular começou a tocar. Parei perto de um elevador e atendi rapidamente, sem dar ao trabalho de olhar para o visor. Me assustei quando, do outro lado da linha, identifiquei um choro. Percebi que se tratava de Cassie. Me preocupei de imediato. 
- Cassie? O que houve? - perguntei, aflita. 
Demi... - ela tentou falar, fungando. - Demi.. São gêmeos! - coloquei a mão na boca e encostei meu corpo em uma parede, me segurando para não gritar. Minha amiga teria gêmeos! Apesar de tudo, eu consegui sorrir durante aquele momento. Até que enfim uma notícia boa naquele dia! 
- Eu nem sei direito o que te dizer... Parabéns, amiga, parabéns! - a parabenizei. Nós precisávamos nos ver depois, para que eu pudesse abraçá-la e comemorar. Ela disse que precisava ligar para seus parentes da fazenda e eu concordei, desligando e respirando aliviada por um momento. Aquela notícia pareceu iluminar um pouco as coisas de novo. 
Peguei o elevador e logo cheguei ao andar onde Cameron estava. Quando virei o corredor, Elizabeth me notou e veio com passos rápidos em minha direção. Pelo expressão em sua face, algo bomtinha acontecido. 
Pela segunda vez no dia. 
- O que eu perdi? - perguntei curiosa. Ela sorriu. 
- Conseguiram encontrar um doador, Demetria! Na verdade, aconteceu logo que você saiu daqui. Eu já estava pensando em um jeito de avisar. 
Talvez eu estivesse dormindo e sonhando com todas aquelas coisas. Para quem tinha passado por uma madrugada repleta de tormento, parecia irreal demais que, em um piscar de olhos, tudo começasse a dar certo. 
- E como o Cam está? Já acordou? - não tentei esconder meu entusiasmo. Elizabeth puxou meu braço e o entrelaçou com o seu, me guiando até a região do quarto de Cameron. Paramos ao lado da janela de vidro e eu voltei a sorrir quando o enxerguei. Estava acordado
- Apesar de acordado, o médico disse que ele ainda sente muita dor e pode sofrer desmaios, mas tudo leva a crer que agora só vai melhorar... - dentro do quarto, ele virou a cabeça lentamente e uma expressão de dor se formou em seu rosto. Após conseguir me ver, ele tentou sorrir brevemente e depois voltou a se virar da maneira que estava antes, porque deveria ser mais confortável. 
- Onde está o doador? 
- Não sei. Me disseram que ele apenas fez o que precisava fazer, esperou um pouco até que se recuperasse e foi embora. Não quis saber quem era o paciente. - franzi o cenho, voltando a olhar para um Cam que já tinha adormecido novamente. - Espero que ele volte, não é? Porque conhecendo o Cameron, ele vai procurar essa pessoa até o fim do mundo para agradecer. - ela riu brevemente. Depois de alguns minutos que ficamos conversando sobre assunto aleatórios, ela chegou onde eu menos queria. Me perguntou sobre Joseph. Ela já sabia que ele não estava mais preso, provavelmente Joseph mesmo a avisou. Tentei esconder o que realmente estava acontecendo, demonstrando uma certa ansiedade que ela percebeu. 
Demetria, eu preciso ir para casa, mas volto logo. Provavelmente o pai do Cameron virá também. 
- Ah, não tem problema, pode ir. Eu fico por aqui. - eu garanti a ela. 
Durante o tempo que passei por alí, fiquei andando sem rumo pelos corredores, em silêncio. Conversei brevemente com o médico de Cam e ele me disse que seu paciente provavelmente dormiria a tarde inteira. Disse também que eu não precisava me preocupar, porque o sangue que recebeu salvou sua vida. Se demorasse mais um pouco, talvez fosse tarde demais. Mas onde estava o doador? Por que fugir daquela maneira? 
Quando eu estava de volta ao andar do quarto de Cameron, uma mulher passou por mim, um pouco incerta dos passos que dava. Segurava um pequeno cartão em uma das mãos, olhando atentamente para o números de todas as portas. Ela notou que eu estava por perto e se aproximou, sorrindo amigável, deixando uma covinha exposta. Parecia jovem, até mais nova do que eu. Um pouco mais baixa, corpo esguio. Estava com uma boina na cabeça, e os cabelos castanhos caiam levemente enrolados até um pouco abaixo de seus ombros. Um sobretudo cinza cobria boa parte de seu corpo, suas pernas estavam cobertas por uma meia-calça e nos pés sapatos de salto fino. O rosto de boneca me lembrava uma garotinha. Os olhos castanhos me fitaram com curiosidade e finalmente ela decidiu falar: 
- Com licença... Sabe me dizer onde é o quarto desse paciente? - a mulher estendeu o pequeno cartão para mim, esperando pacientemente. O nome de Cameron estava escrito, junto com alguns números rabiscados na parte de baixo. 
- Sim, é por aqui! - entreguei o cartão a ele e caminhei até o quarto, com ela em meu encalço. Fiquei feliz porque Cameron, finalmente, estava recendo novas visitas. Deixei que ela passasse em minha frente e apontei para a direção do quarto. Ela hesitou um pouco e se aproximou da janela retangular de vidro, fitando o homem desacordado com a face surpresa. Estranhando aquela reação, me aproximei dela, olhando para o mesmo ponto, me certificando de que nada de errado estava acontecendo com Cam. - Você está bem? - perguntei, assim que ela abriu a boca para tentar dizer alguma coisa, mas não conseguia. A mulher levou a mão até a testa e começou a rir de um jeito nervoso, negando com a cabeça. 
- Sim, eu estou bem. Só que... - ela tentava verbalizar, com o dedo indicador apontado para Cameron. - Pensei que ele fosse um senhor. Um homem de mais idade, casado... Quem sabe até filhos e netos. 
- E quem te garante que ele não é casaco? - cruzei os braços, arqueando uma sobrancelha. Ela ficou sem expressão e fugiu do meu olhar. Soltei um risinho. - Não, ele não é casado. - pensei por um momento. Se ela estava procurando por ele, mas não o conhecia, era quase uma certeza que fosse a doadora. - Espera! Você é a doadora? - concordou com a cabeça e voltou a olhá-lo. Parecia deslumbrada. Sorri levemente com a situação e voltei a falar, curiosa: - Você não sabia para quem estava doando o sangue? 
- Não. - ela voltou a rir, uma risada engraçada, do tipo que te faz querer rir também. - Não importava, sabe? Desde que salvasse a vida da pessoa. Tudo bem. 
- Mas você não precisava fugir do hospital após doar. - comentei, de bom humor. Ela torceu os lábios e ficou sem graça, ruborizada. 
- Bom, eu tinha um compromisso. Esperei durante semanas para finalmente poder ir àquela esposição na galeria de Arte, então... Fiz o que era necessário e parti. Porém, senti que precisava voltar aqui. Saber se meu sangue tinha servido de alguma coisa. 
- Serviu sim. O médico disse que ele já está melhorando. 
- Que bom! - ela exclamou, sincera. Não tirava os olhos de Cameron. - Ah, desculpe não me apresentar. - se virou e estendeu a mão para mim. - Lexi! - demos um curto aperto de mão. 
Demetria. - demos um curto aperto de mão. - Escute, Lexi, se quiser conversar com o médico do Cameron, eu posso procurá-lo. 
- Não, não precisa... - ela mordeu o lábio inferior e ajeitou o cabelo. - O nome dele é Cameron? - concordei com a cabeça. - Você é irmã, amiga... Namorada? 
- Amiga. - respondi de imediato. Mesmo que não fosse algo explícito, percebi que seus olhos piscaram rapidamente e ela respirou fundo. Aliviada, talvez. 
- Então, Demetria... - ela colocou a mão na testa por um instante e fechou os olhos. - Eu estou um pouquinho tonta, e acho que isso só vai se resolver com um bom café e alguma caloria extra de um pedaço de bolo. Quer se juntar a mim? Gostaria que me contasse mais sobre o Cameron. - concordei e ela arregalou ligeiramente os olhos, esfregando uma mão na outra. - Digo, sobre o que aconteceu com ele. 
- Tudo bem, Lexi, te acompanho! - ela fez um pequeno gesto de comemoração com as mãos. Mas antes que eu pudesse segui-la até a cafeteria, meu celular tocou. Encarei o visor e a fraqueza se tornou parte de mim novamente. - Só um minuto, vou atender. - eu disse incerta e ela concordou, indo até o final do corredor para me esperar. Eu deveria atender ou não? Por que ele estava me ligando? Desisti de ficar debatendo mentalmente comigo mesma e atendi. Mas não disse nada. Esperei até que ele dissesse. 
Eu preciso de você. - ele disse simplesmente, com a voz baixa e rouca. Todo o meu corpo gelou e eu precisei me encostar à parede, fechando os olhos por um instante para tentar absorver as palavras. Por que ele tinha que fazer aquilo comigo? Será que não era suficiente me humilhar daquela forma e ainda precisava dizer mais alguma coisa? Que provavelmente surtiria o mesmo efeito de uma facada. Eu continuei em silêncio, me perturbando por perceber que o som da respiração de Joseph ainda me fazia bem. - Preciso que vá até a empresa hoje à noite... Tem um evento que decidiram fazer para comemorar minha liberdade. E, bem, você já fez parte da empresa, certo? Por favor, eu quero te ver. - como ele tinha a coragem de falar tão serenamente daquele jeito? Como se nada estivesse acontecendo. Eu não sabia se ficava irritada ou se começava a chorar. - Demetria, diga alguma coisa. 
- Pensei que não fizesse diferença. - respondi de qualquer jeito. - E, além disso, eu posso acabar atrapalhando, Joseph. Porque foi exatamente isso que eu fiz nesses meses, não foi? Atrapalhar. -Joseph ficou mudo e depois respirou fundo. 
- Já disse que preciso de você lá. Por favor, Demi. - me chamar pelo apelido era um golpe baixo. E o pior de tudo, é que eu não conseguiria dizer não. Em todo o caso, talvez aquela fosse a chance para comprovar se o que existia entre nós ainda tinha salvação. - Até o final da noite eu farei você entender
- Tudo bem, eu vou. - confirmei, tendo coisas em mente. Ainda estava cedo, eu tinha algumas horas para pensar. 
- Você está na outra casa, certo? Eu mando o motorista te buscar, às oito da noite. - eu não disse mais nada, apenas desliguei e caminhei pelo corredor ao encontro de Lexi. 


Horas depois...

Música!

Tudo que eu conseguia encarar era o teto. Sentia o cheiro de perfume emanando de minha pele e uma ansiedade incomoda na boca do estômago. Observando meu tronco nu - estava apenas de calcinha -, me levantei e encarei o vestido que estava colocado sobre a cama, esperando que eu o vestisse. O segurei com cuidado, deixando aquela cor acender uma nova chama dentro de mim. Em instantes, eu o vesti, indo até o espelho para poder ajeitá-lo melhor. Era longo, mas simples. O detalhe importante eram as alças finas, frágeis. Um decote não muito chamativo revelava meu colo. Na parte de trás, minha costas estavam apenas em contato com as alças que terminavam no altura de minha cintura. Olhando fixamente para meu reflexo no espelho, meus dedos seguraram as duas alças e as puxaram para baixo e depois para cima algumas vezes, apenas para que eu pudesse olhar meus ombros nus. 
Prendi meu cabelo em um coque com alguns fios soltos, para que meu pescoço e região ficassem a mostra e calcei os sapatos pretos de salto. Borrifei um pouco de perfume em meu pulso e o aproximei de meu nariz, para sentir melhor. Ele simplesmente adorava aquele cheiro. 
Totalmente pronta, não consegui segurar um leve sorriso que se formou em meus lábios cobertos de batom. Nenhuma parte do meu corpo continuava a doer, a temperatura baixa do lado de fora da janela não me afetava. Meu rosto estava corado e meus olhos brilhavam. Eu estava totalmente confiante, confiante de que as coisas dariam certo naquela noite. Eu faria tudo para que ficasse provado que Joseph não passava de um mentiroso. Eu o obrigaria a admitir que jamais quis dizer aquelas palavras. E, talvez, se eu não pudesse usar de palavras para isso, usaria de outra coisa... 
Fui rapidamente até a janela ao identificar o barulho de um veículo se aproximando. Suspirei e levei a mão até o peito, sentindo as batidas fortes do meu coração. Peguei uma pequena bolsa preta e um casaco também preto, tratando de ir logo para o andar de baixo. Abri a porta e fui recebida por um dos motoristas da empresa, que fez uma curta reverência a mim e abriu a porta do carro preto e brilhante a minha frente. Não hesitei antes de entrar, sabia que temer o que me aguardava naquele evento era pura bobagem. 
Bastaram cerca de 10 minutos para que o carro estacionasse em frente a empresa, onde vários outros carros estavam próximos, assim como várias luzes e pessoas bem vestidas. Quando o motorista abriu a porta para mim, senti a brisa da noite e peguei meu casaco que estava no banco junto com a bolsa. Coloquei o pé direito para fora e em seguida o esquerdo, saindo totalmente do carro. Homens trajando ternos e mulheres trajando vestidos longos me olharam com curiosidade. Não me importei e agradeci com um aceno ao motorista, mantendo a cabeça erguida e os passos firmes. Até que cheguei a entrada lateral. Não demorei para avistá-lo no meio de tudo aquilo. 

/Demetria's P.O.V

Ela soltou o ar lentamente e passou pela porta de vidro, recebendo alguns cumprimentos. Deixou seu casaco e bolsa com um funcionário encarregado de guardá-los e contemplou tudo a sua volta. O evento, ou festa, estava repleto de acionistas, investidores, sócios e funcionários. Demetria sentiu a nostalgia envolver seu ser cada vez que dava um passo a frente. Tinha se esquecido de como todo aquele legado era importante e grandioso. Estava no salão onde comemorações como aquela aconteciam periodicamente. Após um garçom com taças de champagne passar por ela, teve a oportunidade de voltar a encará-lo. 
Poucos segundos antes, Joseph estava distraído, fingindo se importar com o que conversava com alguns homens. Quando a avistou, se esqueceu do mundo ao redor e de como se respirava. Ajeitou o colarinho da camisa branca que era coberta por um colete preto, assim como suas calças sociais. Os dois ficaram apenas se olhando, como se uma comunicação mental estivesse sendo feita. 
Demetria estava prestes a derreter, se perguntando o motivo, já que na verdade deveria estar congelando. Mesmo com as olheiras impossíveis de serem escondidas, Joseph estava maravilhoso. Por que diabos ele insistia em se vestir com roupas pretas, quando sabia que aquilo poderia deixá-la louca? E, para completar, o cabelo penteado impecavelmente para trás lhe dava um ar sedutor, principalmente se somado ao olhar que ele a lançava. 
Joseph mal conseguia acreditar que ela estava com aquele vestido vermelho. Era uma visão boa demais para ser verdade. Se sentiu quente, sentiu como se o sangue voltasse a correr por suas veias depois de muito tempo. O jeito como ela parecia confiante e indiferente só o deixava mais fascinado. Estava pensando no acordo que havia feito com Arthur, até chegar a conclusão de que jamaisabriria mão daquela criatura perfeita a sua frente. As grades de uma prisão não o impediriam de tê-la, a revolta de um desconhecido não o impediria de tê-la. O fogo do inferno não o imperdiria de tê-la. 
Demetria desviou o olhar, lutando para esconder o risinho que queria dar ao perceber o estado que ele havia ficado ao notá-la. Por dentro, com o coração batendo cada vez mais forte, ela estava prestes a vibrar de felicidade. Se as palavras de Joseph fossem verdadeiras, ele não estaria olhando-a como fazia quando estava possuído pelo desejo. 
Não estaria se aproximando... 
Com uma excitação circulando junto ao seu sangue, ela se virou, caminhando até uma mesa com alguns petiscos. A música que lhe enchia os ouvidos só contribuia para que a situação ficasse mais interessante, irresistível. 
Joseph mordeu o lábio inferior com furor, começando a se sentir desconfortável dentro daquelas roupas. Os olhos verdes olhavam intensamente para as costas nuas da mulher, assim como sua nuca. A pele dela parecia tão convidativa. Precisava senti-la de novo. 
Ela fingia não se importar, tomando calmamente seu champagne e sorrindo amigável para quem passava por perto. Não se permitia virar o pescoço para checar se ele estava próximo, queria ser surpreendida. E, como um presente admirável do destino, foi exatamente isso que lhe aconteceu. Imóvel, sentiu uma respiração quente perto de sua orelha, juntamente com o perfume masculino que a fazia se perder em outra dimensão. 
Joseph escolheu não tocá-la, mas não conseguia deixar de apreciar o perfume do pescoço de Demetria. Imerso em pensamentos proibidos e não dando a minima para os outros convidados, ele aproximou ainda mais a boca do ouvido dela e tentou dizer, mesmo que sua voz soasse trêmula: 
- Pare de fazer isso comigo. - roçou os lábios quentes na pele da orelha de Demetria, que não conseguiu evitar sentir aquele arrepio. Tentou fingir que ainda não se importava, mantendo os olhos abertos. O problema era que ela queria, mais do que tudo, poder fechá-los e implorar para que ele não encerasse aquele toque. 
- Não estou fazendo nada. - respondeu, dando o último gole em seu champagne, com a voz firme e decidida. Se virou, ficando de frente para ele. Mas se arrependeu ao fazê-lo, porque o olhar que recebeu poderia ter o poder de despi-la por completo. 
E a cada nova respiração descompassada, olhar trocado e linguagem corporal, ela percebia que as palavras que lhe feriram não eram reais. 
- Vermelho, Demetria, vermelho. - Joseph sussurrava, enlouquecendo aos poucos. Deus, como precisava simplesmente tocar aquela mulher! - Brinque com tudo, menos com isso. 

Música!

- Brincar? - Demetria olhou para frente, enxergando alguns músicos com violinos em cima de um palco. Uma melodia interessante começou a ser tocada com maestria. - Quem disse que eu quero brincar? - ela tentou passar por Joseph, mas ele foi mais rápido e a segurou pelo pulso, obrigando seu corpo a se encostar no dele. Aquele simples contato já fez com que ambos sentissem o corpo ferver, os pêlos se erriçarem. Eram como a personificação do desejo. 
Ele segurou decidido na cintura dela, a levando para mais perto do centro do salão. Mesmo que poucos casais estivessem dançando, ele não se importou em obrigá-la e acompanhar seus movimentos.Demetria não tinha escapatória, não conseguia dizer não para aquela dança, muito menos para ele. Apesar de memórias frescas rodearem a mente de ambos, tentando fazê-los perceber que aquela aproximação era perigosa, não tinha mais volta. 
- Mas talvez eu queira brincar. - mantendo uma dança graciosa com a mulher, ele a fez rodopiar, voltando a segurá-la com paixão no momento seguinte. Ela o olhava sem parar, com as mãos envolvendo seus ombros. Tratou de colocar uma delas na região de sua nuca, deslizando suas unhas pela pele quente de Joseph. Ele estava se sentindo sufocado, como ela podia fazer tudo aquilo e ainda fingir não estar fazendo nada? Os dedos do homem correram pelas costas dela, sentindo o toque aveludado de sua pele. 
- É só nisso que você pensa, Joseph? Brincar? - Joseph não estava preocupado com as palavras que saiam por aqueles lábios, apesar de olhá-los. Na verdade, ainda estava se perguntando por que não estavam únidos aos seus, em um beijo que com certeza levaria toda a insegurança e a mágoa embora. - Não seja um garoto. - o jeito como Demetria soltava as palavras, fazia com que uma estranha mistura de raiva e desejo crescesse em seu interior. Estava tentato a tirá-la dalí e fazê-la parar de falar, para que pudessem começar algo mais interessante. Mas necessitava responder àquela provocação. 
- Você sabe muito bem que eu não sou um garoto. - aproximou a boca do ouvido dela mais uma vez para falar, se surpreendendo consigo mesmo ao segurar o lóbulo de Demetria com os dentes, sentindo o corpo cada vez mais tenso. - Um garoto não faria você se sentir desse jeito... - grudou os lábios na pele perfumada do pescoço dela, trazendo seu corpo para ainda mais perto, se é que era possível. Ela segurou com mais força nos cabelos da nuca dele e tentou segurar um gemido que estava em sua garganta. Sua pélvis se roçou na dele, e qualquer movimento que o homem fizesse a faria perder a noção do tempo e arruinar o autrocontrole que precisava manter. Joseph queria tomar alguma atitude logo, não aguentaria aquela situação por muito tempo. Porque, apesar de luxúria crescente, ainda conseguia sentir a dor em seu peito. Apesar de Demetria estar se fingindo de forte, ainda era agonizante olhar para ela e lembrar de tudo que tinha dito. A vontade de abraçá-la como nunca antes e levar a dor embora estava máscarada pela vontade de tê-la até que toda a amargura fosse mandada para longe. Restando apenas o prazer. 
- Está vendo? - ainda envolvidos naquela dança quente, ela tentou dizer sem que entregasse a voz arfante. Puxou o ar para os pulmões com desespero. - Você se sente exatamente do mesmo jeito que eu me sinto. Eu sabia que algo estava errado, você nunca diria aquelas palavras para mim. Você ainda me quer, eu sei que quer. Você ainda me ama. - sorriu para ele, vitoriosa. Os lábios fechados em linha reta de Joseph deixavam seu semblante com o aspecto de que tinha sido descoberto. 
- Não confunda amor com desejo. - mas ele rebateu, olhando-a maliciosamente. 
- Não confunda verdades com mentiras. Você sabe o que fazer para descobrir se eu ainda sinto algo por você. Eu também posso provar que nada mudou no jeito como você se sente ao meu respeito... 
- Pare de falar... - ele tentou fazê-la se calar com um beijo, mas a mulher virou o rosto. Ele se irritou e a fez virar o corpo, de maneira que ficasse com as costas roçando em seu peitoral. A abraçou por trás, continuando a obrigá-la a movimentar o quadril. Pouco estava se importando que não estavam sozinhos. Demetria o sentiu melhor do que nunca, a maneira como a segurava lhe deixava em chamas, pronta para qualquer loucura que ele sugerisse. - Você não percebe que eu estou tentando lutar contra isso? 
- Por quê? - ela disse alto, determinada a descobrir. - Joseph, não é justo o que está fazendo! - fechou os olhos ao sentir os lábios dele em sua pele de novo. - Não sou um objeto que você usa quando quer. - Demetria se livrou das mãos grandes e fortes que a seguravam, embrenhando uma mão nos cabelos de Joseph e segurando seu rosto com a outra. - Durante todo esse tempo, eu fui sua família, sua amiga, sua mulher. - a voz dela diminuiu de tom ao dizer a última palavra, passando os dedos pelos lábios entreabertos do homem, que sentiu vontade de beijá-los. - Mas vocêmudou de ideia. - ele fechou os olhos, derrotado. Não tinha mais forças para tentar afastá-la, sua máscara estava prestes a cair. Percebeu que o feitiço que aquela mulher de vermelho tinha jogado nele não tinha antidoto. Estava preso em seu encanto. - Por favor, diz para mim que é mentira. Leve essa dor embora agora! - exclamou, deixando claro que era uma ordem. - Eu também posso levar a sua, eu prometo. Me faça feliz agora, como só você sabe fazer. Não negue, não fuja! 
- Eu disse que te faria entender tudo até o final da noite, então não pense que me esqueci disso. - Joseph disse, tremendo só de imaginar o corpo dela unido ao seu, sem todas aquelas malditas roupas. - Mas ainda é cedo, Demi... Talvez ainda seja cedo para que tudo se acerte. 
- Eu não posso esperar até que você determine a hora certa para que as coisas se acertem. Eu preciso que seja agora! 
Quando a música terminou, a puxou para perto de uma parede mais afastada, encostando seu corpo a mesma e se pressionando contra ela. Demetria tentou beijá-lo, mas ele continuava a negar, deixando-a a beira de um ataque de nervos. Os dois se seguravam com desespero, as respiraçõs totalmente desreguladas. Uma cena um tanto quanto sufocante. 
- E eu preciso ter você agora! - a maneira como ele disse, a fez lutar contra as pernas que fraquejaram. Esperou que o arrepio em todo o corpo fosse embora, passando a língua pelos lábios. - Me espere no andar da sala de reuniões... - ele arfou, deslizando os dedos pelas costas dela, que tudo que ainda sabia fazer era olhar de seus olhos para boca e morder os próprios lábios. - Precisamos acabar com isso de uma vez por todas! 
E então, ele a soltou, se afastando e caminhando com passos decididos para o outro lado. Demetria, estagnada, olhou para baixo, voltando à realidade depois de tanto tempo. Estava confusa, não entendia direito por que a raiva e a paixão se misturaram daquele jeito ao redor dos dois, juntamente com o aroma que seus corpos emanavam ao se roçarem. 
Respirou de maneira acelerada e saiu dalí, não sendo capaz de controlar os próprios pés, que já a colocavam para dentro de um elevador que encontrou pelo caminho. 

Joseph passou rápido pela porta, se encontrando com a noite do lado de fora. Se encostou em uma parede qualquer e respirou aliviado o ar frio, sentindo o vento se chocar com seu rosto. Tinha suor na testa, suas roupas estavam amassadas. Algo dentro de suas calças estava se manifestando. Passou as mãos pelos cabelos e fechou os olhos, murmurando para si mesmo palavras sem nexo. Estava tonto, não entendia o que tinha acontecido para que a situação chegasse ao limite. Amar aquela mulher estava acabando com suas estruturas! 
Seu celular vibrou dentro do bolso da calça e Joseph o tirou sem pensar, atendendo de imediato. Ele não queria ter ouvido aquela voz... Toda a mágica de Demetria presa em seu corpo desapareceu por um momento. 
Cuidado, Jonas. Não pense que está livre de mim. - Arthur riu. - Olhe ao redor, preste atenção em quem passa por você... E, principalmente, cuidado com os pensamentos que está tendo agora. Deveria ser esperto o suficiente para imaginar que eu conseguiria descobrir sobre o evento que está acontecendo agora mesmo em sua empresa. Então, devo alertá-lo que tenho olhos dentro do local. Alguém está seguindo todos os seus movimentos. Eu sei que Demetria estava com você. - Joseph queria jogar o celular longe, mas não conseguiu se mover. Pensava em Demetria o esperando em um andar qualquer da empresa. Mas o que faria? Como descobriria quem era o desgraçado que estava vigiando suas ações? Como o monstro do Arthur tinha conseguido aquele feito? 
Ele olhou para os lados, tentando enxergar algo suspeito em todos que estavam por perto. 
- Me deixe em paz! - praticamente implorou. 
Só quando eu ter a certeza de que minha filha quer você morto. 
Arthur desligou. 


Demetria estava encostada em uma das paredes de um corredor vazio e de iluminação fraca. Começava a pensar que talvez ele não apareceria. Talvez tudo que Joseph queria realmente era afastá-la dele. O jeito como tentava trazê-la para perto, mas, ao mesmo tempo, tentava afastá-la a deixava frustrada. Batia o salto de seu sapato contra o chão repetitivas vezes e tentava se focar em algum pensamento positivo, na tentativa de abrandar o desespero em seu peito toda vez que levantava o rosto e ele não estava vindo. 
O barulho do evelador a fez desgrudar o corpo da parede e olhar para frente, dando de cara com um Joseph que estava prestes a correr em sua direção, de tão rápido que se aproximava. Seu rosto era sério, mas a maneira como ele abriu uma porta de supetão e a colocou para dentro deixou claro que ele ainda ansiava por Demetria. 
Ele chocou as costas de sua mulher com a parede mais uma vez, fechando os olhos e juntando os lábios aos dela, que lhe forneceram passagem total para que sua língua pudesse entrar na boca deDemetria, acariciando a dela, que aceitou de imediato a carícia e passou a massagear a dele. Por um instante, ele não se importou com o irresistível corpo da mulher coberto pelo vestido, apenas queria beijá-la, deliciar-se com o gosto de seus lábios. Joseph segurava o rosto de Demetria com voracidade, arrancando o fôlego dela, que não reclamaria de maneira alguma. Os lábios macios, a língua quente, a saliva, o gosto dela... Joseph estava gritando por dentro, o que contribuia para que depositasse mais intensidade no beijo molhado que poderia durar uma eternidade. Demetria segurou os braços dele com força, começando a ficar sem ar. Por ela, não pararia nunca, mas suas pulmões não pensavam da mesma maneira. 
Quando Joseph a soltou, ambos os lábios estavam vermelhos. O som alto das duas respirações preenchia a extensa sala de reuniões, que contava com uma larga e retangular mesa de vidro. 
Utilizando de uma violência necessitada, pegou Demetria em seus braços e a conduziu até uma das pontas da mesa, erguendo o corpo da mulher para que ela pudesse se sentar. Irritado com a parte de baixo daquele vestido, ele a puxou para cima, livre para acariciar toda a extensão das pernas macias da mulher. Após se beijarem mais uma vez, o homem levou uma das mãos até uma das finas alças do vestido dela, abaixando a mesma e beijando seus ombros, deixando que ela sentisse sua língua junto ao beijo. Abaixou também a outra alça, a um instante de conseguir apreciar seus seios.Demetria se sentia fraca nas mãos daquele homem tão astuto. Mas não tinha objeções a fazer, estava entregue a ele. 
Joseph, que não queria parar de beijar o colo de Demetria, apertou a coxa da mulher com vontade, arrancando um gemido baixo dela. Mas, em meio a todo aquele fogo, ele voltou a pensar na ligação que tinha recebido. Talvez alguém tivesse o seguido até aquela parte da empresa... E se Arthur mandasse alguém fazer algo contra ele? Contra ela
E se Demetria se machucasse? 
Parou de tocá-la, sentindo seu membro pulsar de uma maneira excessiva. Ela se aborreceu com o contato perdido e abaixou ainda mais a parte de cima do vestido, mostrando a ele o começo de seus seios. Se abaixou e segurou a mão de Joseph, a levando até o local. Ele fechou os olhos, queria gritar. 
- Não pare de me tocar, não pare. - ela dizia, de um jeito sensual. Já não pensava mais com clareza, o instinto era sua única certeza. - Continue... - a mão de Joseph, que Demetria ainda segurava, foi se fechando aos poucos e ela gemeu de satisfação ao sentir os dedos do homem apertarem seu seio esquerdo. Quando sentiu o coração dela bater, puxou o mão, mas apenas para voltar a prendê-la com seus braços, olhando fundo em seus olhos. Ela queria se perder nas íris verdes. Queria se perder em cada pedaço daquele corpo. 
- Pare de me pedir para continuar, Demetria! Porque se eu fizer o que você quer, não vou parar. Vou continuar a te tocar e te tocar até que você implore para que eu pare! - ele falava entre dentes, tentando afugentá-la, tentando fazer com que ela se assustasse. Mas Demetria parecia se excitar mais com a violência exposta na voz rouca do homem. 
- Não vou implorar para parar, vou implorar para continuar... - passou a língua pelo queixo dele, subindo e a deslizando pelos lábios que Joseph tentava não abrir. Como era difícil. - Para continuar mais rápido... Mais rápido. - a voz de Demetria estava mole, diferente, como se estivesse fora de si. Aquele era o efeito que ele provocava nela. - Rápido! - exclamou, juntamente com um gemido ao sentir os dedos de Joseph roçarem em seu sexo coberto pelo tecido fino da calcinha. 
- Pelo amor de Deus, você precisa parar com isso! - ele disse alto. - Se me deixar ir adiante, eu não vou aguentar e você vai ter que ser minha a noite toda. Vou ser obrigado a te fazer minha a noite toda. Custe o que custar. 
- Eu sei. - ela sorriu maliciosa. Ele gemeu baixo quando, finalmente, Demetria decidiu começar a tocá-lo. Desceu os dedos levemente pelo sua barriga que era coberta pelo tecido da camisa branca, chegando até sua calça, fazendo movimentos circulares na região onde um volume totalmente perceptível lhe agradava. - Sentiu falta disso, não sentiu? - continuou com o toque, satisfeita com a expressão de deleite na face masculina. - Quanto tempo faz que não ficamos juntos? Muito tempo, meu amor, muito tempo. - intensificou os movimentos, erguendo o corpo e puxando um botão da camisa dele com a mão que estava livre. - Consigo imaginar como você deve estar... O quão agoniado deve estar sem receber carícias como essas, sem sentir calor humano. Deixe-me curar tudo isso, sim? Podemos ficar aqui até que as saudades um do outro sejam completamente eliminadas, eu não me importo. - outro botão da camisa foi aberto. 
Demetria... - ele pediu, preso no terrível impasse de querer que ela continuasse e querer que parasse com aqueles movimentos deliciosos que fazia. - Isso! - o estímulo escapou de sua boca, a impulsionando e abrir totalmente a camisa e inclinar o corpo para distribuir beijos por toda a região de seu abdomen. Mas Joseph conseguiu se desligar daquele prazer e voltou a pensar com clareza quando assistiu sua mulher se ajoelhar diante dele, prestes a dar mais intensidade a tudo aquilo. Não, não poderia permitir. 
Mesmo que quisesse muito. 
Segurou nos braços de Demetria e a puxou para cima, obrigando ela a não desviar a atenção de seu rosto. Deixando que faíscas saíssem de seus olhos. 
Ela estava se sentindo confusa, tonta, cansada. Mas queria dar prazer a ele. Ignorava todas as horas que estava sem dormir, a dor de cabeça por ter chorado muito, a fraqueza nas pernas. A sensação de que seria ferida novamente a qualquer momento... 
- Eu só quero ficar com você, por favor, pare de tentar me impedir! Mas que droga! - Joseph fitou as lágrimas que se formavam em seus olhos. Distribuiu vários selinhos em seus lábios, ainda a segurar o rosto dela. - Nós podemos ser felizes agora... A única coisa que nos impedia não existe mais. Tudo aquilo passou, Joe. Pare de se manter preso ao passado, nós não precisamos mais de todo esse sofrimento... - o homem ergueu as duas alças do vestido dela, fazendo um carinho em seus ombros. 
- Você precisa ir embora agora. - ele pediu, sussurrando. 
- Não! - ela negou com a cabeça. - Não, eu não vou! 
- Vá, Demetria. - a saia do vestido dela se abaixou. Joseph tentou fechar os botões de sua camisa, caminhando para o outro lado da sala, só para se afastar dela. Que sensação horrível estava sentindo. - Agora! 
Naquele momento, Demetria conseguiu se livrar do estado entorpecido em que estava. Seus pés voltaram para o chão e a realidade que ainda a assombrava lhe atingiu como um soco. 
- Eu sabia... Sabia que você me machucaria de novo. - arrumou totalmente seu vestido. - Eu tentei, Joseph, tentei acreditar que não era o fim. Mas você só consegue me colocar para baixo, aumentar minha humilhação. Me provoca, faz com que eu me sinta amada de novo... Mas somente para jogar sal nas feridas depois. SÓ PARA ISSO! 
- PORRA, VOCÊ NÃO ENTENDE! - ele explodiu, jogando um enfeite de vidro longe. Ela remoia a dor, encolhendo o corpo ao ouvir o vidro se quebrando. 
- Não entendo mesmo. E cansei de tentar. - Demetria se recompôs, passando por ele e puxando a maçaneta da porta, fitando o homem com desprezo por segundos que pareceram intermináveis. 
Correu pelo corredor com a força que não tinha, entrando no elevador e torcendo para que pudesse sair logo dalí. Seus cabelos estavam bagunçados, seu vestido estava amassado, seus olhos estavam borrados, seus lábios ainda formigavam pela intensidade dos beijos. Seu coração despedaçado insistia em bater dolorosamente, suas mãos suavam frio, seu estômago se revirava a todo o momento. 

Joseph não aguentava mais ser um completo filho da puta. Prestes a quebrar mais alguma coisa que estava por perto, ele olhou para baixo, se dando conta de como estava sua situação. Precisava procurar um banheiro e tentar aliviar aquilo, usando suas próprias mãos. O completo idiota, preso em um ciclo vicioso, em que machucava Demetria, depois se lamentava. Machucava Demetria, depois se lamentava. Machucava Demetria, depois de lamentava... 
Com um som agoniado que escapou de sua garganta, ele saiu daquela sala, se trancando na primeira porta que surgiu em sua frente. 

Demetria saiu desesperada do elevador, engolindo a humilhação. Pegou seu casaco e sua bolsa e, recebendo olhares assustados e indiscretos, caminhando afobada em direção a porta. Voltou a correr, mesmo que sentisse vontade de olhar para trás toda hora, torcendo para que Joseph estivesse vindo atrás dela. Precisava de um táxi imediatamente, então continuou a andar por aquela rua escura até que encontrasse um. O frio a obrigou a vestir o casaco. 
Finalmente um táxi se aproximou e ela fez sinal para o mesmo, escutando o toque estridente de seu celular dentro da bolsa. O tirou de lá com dificuldade e atendeu, escutando um choro crescente do outro lado da linha. 
Demetria, por favor, você precisa ir encontrar o Arthur! - Scarlett dizia alto, deixando claro que estava em prantos. 
- Scarlett, o que aconteceu? - Demetria perguntou, desolada. 
Demetria, tem alguém atrás de mim. Estão tentando me matar! Você precisa ir até o Arthur e fazê-lo mudar de ideia! Me escute bem... - ela parou de falar para respirar. - O Joseph não fez aquilo com você porque queria. O Arthur o obrigou, ameaçou prendê-lo novamente. Eu ia falar com ele, confrontá-lo, mas atiraram no meu carro, eu tive que fugir... - Demetria estava assustava com tudo que ouvir. - Vou te passar um endereço e... 
- Scatlett, calma! - Demetria praticamente gritou, pedindo ao taxista um pouco mais de tempo. - Como assim estão tentando te matar? Onde você está? 
Porra, não se preocupe comigo! Eu só quero que você anote o endereço que eu vou te passar e vá conversar com o seu pai. Impeça que ele estrague sua vida, por favor. 
- Acha mesmo que eu vou ignorar o fato de você estar em perigo? 
Essa é a minha vida, gata. Posso ser morta a qualquer momento. É um destino aceitável, se você parar para pensar. - respondeu, tristemente. 
Demetria tentou rebater, mas o desespero de Scarlett a fez aceitar anotar o tal endereço. 
- Peça ajuda ao Caleb! 
Tive que me esconder, mas não sei quanto tempo vai levar para que me encontrem... 
- Peça ajuda, Scarlett! - determinou. - Eu vou falar com o Arthur. 
Demetria não sabia mais de onde tirar forças, mas entrou no táxi e passou o endereço recém conseguido ao motorista, que a levou para longe daquele lugar. Já deveria ter se acostumado com o fato de que suas noites deixaram de ser calmas há um bom tempo. 


As pessoas que olhavam para Joseph, não poderiam imaginar no que sua noite tinha se transformado. Ele fez de tudo para que sua aparência voltasse a ficar da maneira que estava antes de seu encontro com Demetria. Voltou a arrumar o cabelo, jogou água no rosto e ajeitou as roupas. Apesar de conseguir sentir um pequeno alívio, simplesmente não era o suficiente. 
Assim que voltou para o local da festa, alguém teve a brilhante ideia de propor um brinde. Ele tentou negar, dizer que precisava ir para algum lugar. Não queria continuar com aquela farsa, mal conseguia se sentir como o dono de tudo aquilo. Comemorar por sua liberdade? Qual era o intuito daquilo, já que se sentia melhor quando ainda estava preso? Pelo menos tinha a esperança de que, caso conseguisse sair um dia, poderia finalmente ter uma vida normal. Poder ir para o lugar que quisesse, não lhe parecia mais tão atraente naquela noite. 
Depois de um brinde entre grande parte dos presentes, ele se cansou de fingir todos aqueles sorrisos e saiu novamente, precisava fumar. Foi até uma parte mais deserta da rua e aproveitou a pouca iluminação, se sentindo livre para acender o cigarro e tragá-lo sem que alguém dissesse alguma coisa. Fingindo que a nicotina o agradava, ele soltou a fumaça e jogou o resto no chão, voltando para a frente da empresa, onde se manteu. Quando estava quase decidindo deixar o lugar nas mãos de seus sócios e ir embora, ouviu alguém chamá-lo em voz alta. Se virou rapidamente e, surpreso, encarou o rosto do homem que não via há tempos. 
Joseph Jonas! - o homem parou de andar e puxou Joseph para um abraço, dando tapinhas em suas costas. - Você é um homem. - Joseph nem tinha certeza se fazia mesmo todo aquele tempo que não se falavam. Mas, ao tentar lembrar, chegou a conclusão de que não passava de um adolescente quando aquele homem ia até sua casa para reuniões de negócios com seu pai. 
Henry Schmidt. - Joseph falou, recebendo um sorriso em resposta. Schmidt olhou para cima, admirando toda a arquitetura do local. 
- Seu pai deve estar orgulhoso... Aonde quer que esteja. 
- O que faz aqui? - Jonas quis saber. Henry estava sozinho, usando um terno todo preto. Os cabelos estavam penteados para trás, arrancando-lhe alguns anos. Apesar das marcas do tempo no rosto, ainda lembrava um garoto. 
- Ora, se esqueceu dos negócios que eu tinha com o seu pai? Um dos encarregados dessa comemoração fez questão de entrar em contato comigo. Eu teria chegado mais cedo, mas meu voo atrasou. - Schmidt queria continuar a falar, mas seu celular tocou e ele o sacou para atender. - Já conseguiram encontrá-lo? Isso é ótimo! - ele se afastou um pouco de Joseph e pegou a bebida que o garçom do lado de fora servia para os convidados. Sorriu ao receber certas informações. Joseph continuava do mesmo jeito, apenas olhando para Henry, ignorando a conversa que ouvia. - Como é? Uma mulher chegou em um táxi e entrou no lugar? Deve ser uma das agentes dele. Cuidem dela também! - Henry riu, dando outro gole em sua bebida. - Vestido vermelho? Que interessante! - os olhos verdes de Joseph se arregalaram. - Não se preocupe, acho que vale a pena perder uma festa para assistir Arthur ser morto. Leve todos que encontrar para o local combinado. 
Em um impulso, Joseph deu meia volta, virando o pescoço para olhar a direção em que o homem seguia. 
Schmidt deu de ombros ao perceber que Jonas não estava mais por perto e desistiu de permanecer na empresa, voltando e entrando em seu carro. Joseph correu até o estacionamento e pegou seu carro, procurando pelo do homem. O encontrou, virando em uma esquina e começou a segui-lo, de maneira discreta. 


Demetria puxou o portão enferrujado, que fez um barulho agudo. Ela passou por ele e adentrou o local, caminhando por um corredor envolto por mato crescido, ervas daninhas. Seus olhos procuravam atentos por algum sinal de Arthur, mas a casa parecia abandonada. Tentou abrir a porta da frente, não tendo sucesso. Então, voltou a andar e deu a volta na casa, checando o endereço que era exibido no visor de seu celular várias e várias vezes. Seus pés estavam doendo e os saltos de seus sapatos afundavam um pouco na terra do jardim. 
A casa tinha uma porta nos fundos, que estava aberta. Antes de pensar em entrar, ele pôde jurar ter ouvido um barulho de, não apenas um, mas dois ou mais carros se aproximando. Abriu a porta a sua frente e deu de cara com a escuridão, passando por uma teia de aranha e alguns insetos pelo chão. Agoniada, ela andou mais rápido, até encontrar uma escada, que começou a subir imediatamente. O andar de cima parecia menos destruído, mas ainda assim estava vazio e cheirando a mofo. O cômodo em que estava era extenso, e ela avistou um homem próximo a uma janela grande que estava no final. Se aproximou um pouco, os barulhos de seus sapatos no chão atrairam a atenção do homem que se virou, surpresa ao vê-la. 
- Pensei que era a Scarlett. - Arthur disse, olhando severamente para a filha, que fazia questão de devolver aquele mesmo olhar. Demetria não sabia se o que Scarlett tinha lhe dito era verdade, mas o ódio por aquele homem só crescia dentro de seu ser. Queria confrontá-lo de uma vez, descobrir se o terrível desentendimento com Joseph era culpa dele. - Ela te disse que eu estava aqui? 
- Como você ousa? - ela rosnou, rompendo a distância entre os dois. - Como teve coragem de fazer uma coisa dessas? Eu já disse que você não é meu pai! Não se preocupe comigo, não se meta na minha vida! 
- Ah, você descobriu sobre o Joseph. Mas, francamente, Demetria, eu não dei um script para ele. Todas aquelas palavras... - Arthur gesticulou, com uma expressão de divertimento na face. - Ele mesmo as escolheu. - Arthur não se importava com a maneira que era fitado. Sabia que sua filha o odiava, mas não desistiria daquele plano tão cedo. - No fim das contas, tudo que eu lhe fiz foi um favor. 
- Então, já que você se preocupa tanto com sua filha, faça mais um favor à ela: vá para o inferno! 
- Só depois de conseguir o que eu quero, filha. - Demetria engoliu em seco, inconformada com o que estava sendo obrigada a ouvir. O homem soberbo a sua frente apenas esperava que ela tomasse alguma atitude. 
- E o que você quer? - ela choramingou, cruzando os braços, a fim de se aquecer. Mesmo com o casaco, ainda sentia frio. 
- Você se tornou uma mulher inteligente e corajosa. Mesmo que não me aceite como pai, tenho muito orgulho de você, Demetria. Todos nós cometemos erros, você deve saber bem disso. - sim, ela sabia. - Acho que talvez seja apropriado que esses erros sejam esquecidos e você desapegue de uma vez por todas dessa vida insignificante que faz tanta questão de viver. Você pode ser mais,Demetria, muito mais! Eu quero que trabalhe para mim, que seja uma agente. Tenho certeza que não vai me desapontar, será a melhor da equipe! 
Ela estava enojada, aliás, enojada era eufemismo. Esperava ouvir qualquer coisa, desde um "Não quero nada de você, apenas tornar sua vida infeliz." ou "Quero que me aceite como seu pai, do jeito que deve ser." Mas trabalhar para ele? Ser uma agente? Onde ele estava com a cabeça quando pensou que ela aceitaria algo daquele tipo? Planejou tornar sua vida um inferno aos poucos, para convencê-la de que não encontraria mais coisas boas na vida que levava. Afastaria Joseph e contribuiria para que o resto fosse desmoronando aos poucos. 
Demetria riu dele, com deboche. 
- Eu prefiro morrer. - ela respondeu. 
- Não dúvido, já que arriscou sua vida tantas vezes por um homem que te trocou pela liberdade. Percebe o que está acontecendo? Está se tornando uma pessoa fraca, que não enxerga nada a não ser essa ilusão ridícula de ficar com alguém para sempre. Você não é uma criança, Demetria, sabe que isso não é real. 
- Só porque você tem essa péssima visão do mundo, não pense que suas palavras estão corretas. E, eu volto a repetir: prefiro morrer a fazer parte de algo em que você esteja envolvido. Pode tentar acabar com a minha vida, tentar fazer de tudo para que eu desista e corra para pedir sua ajuda... Não vai funcionar. 
- Você deveria me agradecer por eu pensar que pode ser alguém útil. 
- Eu quero te agradecer! - ela elevou o tom de sua voz. - Por ter partido pela primeira vez e por ter partido na segunda também. Principalmente na segunda, porque minha mãe criou o Peter de uma maneira excelente, sozinha. Ele é o dobro do homem que você nunca vai ser. - queria feri-lo, queria humilhá-lo da mesma maneira que vinha se sentindo humilhada durante todo aquele tempo. 
Queria falar mais, estava desesperada para cuspir as palavras, mas um barulho de vidro sendo quebrado no andar de baixo chamou a atenção dos dois. Arthur passou por Demetria e foi para perto das escadas. Ela segurou um grito quando escutou três tiros sendo disparados para dentro da casa. Correu para o canto, tentando se proteger do pior. Arthur também tentou correr, mas três homens vestidos totalmente de preto e com o rosto coberto por um tipo de máscara subiram as escadas, cercando o local. Estavam armados. Dois deles seguraram Arthur, que tentou lutar de qualquer jeito, sendo derrubado no chão e tendo os braços imobilizados. Demetria se encolheu na parede, enquanto o terceiro homem se aproximava dela. Não demorou para sentisse seus braços serem presos para trás e uma corda ser passada por seus pulsos, os prendendo um no outro. Ela tentava se esquivar, mas sua visão foi roubada quando sua cabeça foi coberta por algo. Seu corpo foi puxado para frente, suas pernas obrigadas a colocá-la para fora da casa, antes que um dos homens armados tivesse que levá-la carregada. Conseguia ouvir a luta que Arthur ainda tentava travar. 
Os homens conversavam entre si, obrigando pai e a filha a entrarem dentro de um carro. 
- E a outra? - ela escutou uma voz que lhe causou arrepios ruins perguntar. 
- Vão encontrá-la daqui a pouco, não se preocupe. - o homem que dirigia respondeu, acelerando e arrancando com o veículo. Definitivamente, ela estava encrencada. 


Música!

Joseph ultrapassou o sinal vermelho, com os olhos fixos na carro que ficava cada vez mais a frente do dele. Seu nível de velocidade só aumentava, e ele sentia a adrenalina viva em seu corpo. O carro de Henry virou em outra esquina, o que quase fez com que o carro de Joseph batesse em outro, em um cruzamento. Ouvindo as buzinas estridentes, ele ignorou e continuou a manter os pensamentos focados no que poderia acontecer com Demetria. Como sua vida conseguia ser aquela montanha russa? Nunca tinha um descanso, nunca! 
O carro de Schmidt parou em frente a um prédio abandonado. Joseph estacionou em uma distância segura, abrindo a porta e saindo rapidamente. Correu até a entrada do prédio, recebendo um olhar surpreso do homem mais velho, que olhou ao redor para se certificar de que Joseph estava sozinho. 
- O que diabos você faz aqui, Jonas? Me seguiu? 
- Eu ouvi você dizer o nome "Arthur" e mencionar uma mulher de vestido vermelho. É a Demetria, minha esposa. - ele disse, ofegante pela corrida. 
- Eu duvido que seja sua esposa, rapaz. - Henry comentou, dando as costas e indo até a entrada dos fundos. Jonas o seguiu, pensando no que dizer. - Desista, volte para a sua festa. Você não vai querer se envolver nisso. 
- Henry! - o chamou alto, ficando em sua frente. - Eu vou entrar com você. 
- Tudo bem, tudo bem, entre! Mas garanto que o que vai ver não é algo agradável aos olhos. 
Os dois seguiram por um corredor escuro, subindo vários lances de escadas. Joseph se perguntava o que aquele antigo amigo de seu pai tinha a ver com Arthur, e por que queria se vingar. SeDemetria estivesse junto, ele precisaria pensar em um jeito de mudar a situação. Torcia para que nada tivesse acontencido com ela até aquele momento. As escadas terminaram e eles passaram por mais um longo corredor, até que Henry tirou um chave do bolso e abriu uma porta alta de metal, que foi empurrada para trás. Entrou primeiro que Joseph, impedindo que o homem enxergasse o que estava do lado de dentro. 
Caminhou para mais perto das duas vítimas, dando uma boa olhada em Arthur, sorrindo de orelha a orelha. Os três homens armados estavam encostados à parede, em posição de ataque. 
Quando finalmente conseguiu passar pela porta, Joseph se assustou ao olhar para o corpo de Demetria sentado em uma cadeira. Sua cabeça estava coberta por um capuz preto, que a impedia de enxergar. Sim, era ela, não tinha mais duvidas. 
Henry ficou ao lado de um Jonas atônito, cruzando os braços e pensando no que deveria fazer. 
- É ela? - perguntou a Joseph. 
- Sim, é ela! - quando respondeu, automaticamente o corpo de Demetria se mexeu, fazendo com que um dos homens viesse para a frente e apontasse a arma para ela. 
- NÃO! - Joseph gritou, indo para perto da mulher e ficando na mira do atirador. Schmidt revirou os olhos, entediado, e ordenou que o homem de preto voltasse para o lugar de antes. Demetria continuava a se mexer desconfortável, pedindo por ajuda. A voz dela estava baixa e fraca. Henry se aproximou, retirando o capuz de sua cabeça, revelando um rosto corado. Ela fechou o olhos devido a luz forte do local e tossiu, levantando o rosto e tendo Joseph como sua primeira visão depois de ser sequestrada. Os dois engoliram em seco, se perguntando o que estava acontecendo.Demetria estava triste, mas tentava encontrar um jeito de ficar feliz... Finalmente tinha descoberto que tudo não passava de uma armação de seu pai. 
Joseph queria soltá-la dali, mas precisava ser cauteloso. Estavam todos em uma situação de risco. 
Schmidt parou atrás da cadeira onde o corpo imóvel de Arthur estava, puxando o capuz dele também. O homem abriu os olhos e olhou para os lados, se surpreendendo ao notar um Joseph próximo, com os braços cruzados e uma expressão dura no rosto. 
Talvez a vida fosse justa... Na hora certa. 
Joseph conhecia Henry. Henry aparentemente queria matar Arthur. Demetria estava envolvida...
- Olá, Sheppard. - Henry disse, de bom humor, parando na frente dele. - Desculpe-me por isso. - a cena foi rápida. Arthur soltou um gemido de dor pelo soco que tinha levado no rosto. Para acompanhar o que tinha recebido de Joseph no nariz. - E me desculpe por isso também! - ele deu um chute na canela de Arthur, se divertindo com a dor que ele deixava clara ao agonizar daquela maneira. - Na verdade, não me desculpe por nada. Afinal, você não se desculpa quando alguém te mata. 
- Schmidt... - Joseph tentou. - Solte a Demetria. - Henry se virou a levantou o braço, fazendo um gesto com a mão que pedia paciência. 
- Vamos lá, Arthur! Onde está o homem todo poderoso que não pensa duas vezes antes de acabar com a vida das pessoas? - outro chute. - Vamos, onde está? - o fato de que Arthur não pronunciava uma palavra, só contribuiu para que Henry ficasse cada vez mais irritado. - VOCÊ ACABOU COM A VIDA DO MEU IRMÃO! - se inclinou, o segurando pelos ombros. Arthur apenas levantou o rosto para olhá-lo nos olhos. - Você permitiu que um dos seus agentes desgraçados acabasse com tudo que ele tinha lutado para construir. Bryan não era um criminoso, você se enganou! Mas agora não importa mais... Eu só quero fazer justiça e pronto. 
A porta de metal se abriu novamente e todos se viraram para olhar. Um outro homem todo de preto entrou, segurando uma mulher nos braços. Era Scarlett. Ela o xingava de todos os nomes possíveis e tentava se soltar, tendo o corpo jogado no chão. 
- Mas que... - ela gemeu de dor, se assustando ao encarar Joseph e Demetria. - Arthur! - disse, tentando se levantar, sendo segurada novamente. 
- Agora sim, parece que encontraram a certa. - Henry comentou. Demetria e Scarlett trocaram um olhar de pânico e Schmidt se lembrou de que Joseph conhecia Arthur. O chamou com um aceno de cabeça, para que ficasse de frente para o homem que estava sendo praticamente torturado. - Como conhece esse monstro, Joseph? - se mostrou interessado. Jonas não sabia o que dizer. - Vamos, pode dizer. 
- Ele... Ele me ameaçou, disse que só me deixaria fora da prisão se eu me afastasse dela. - apontou para Demetria, lançando-lhe um breve olhar tristonho. - E eu concordei com isso. Mas, se eu pudesse voltar no tempo... - Demetria prestava atenção em tudo que ele dizia. 
- Ok, Joseph, ok... Sem lamentações! - Schmidt pediu calmamente, voltando a sorrir. - Veja só isso! O homem que tentou arruinar nossas vidas está a merce de nossa vingança. Não é bom olhá-lo desse jeito? Não se preocupe mais, você vai ter sua amada de volta. - Henry mandou que um dos homens armados se aproximasse, mirando em Arthur. - A justiça tarda, mas não falha, Sheppard. 
- Schmidt, espere! - Joseph pediu. - Não faça isso. 
- Por que, Jonas? Você mesmo acabou de dizer que esse desgraçado te ameaçou! É só dizer quanto... E ele morre. - Joseph e Arthur trocaram um olhar carregado. Joseph se lembrava do que ele tinha lhe dito naquela manhã. De como o julgou sem conhecê-lo, de como disse que ele era exatamente igual ao seu falecido pai. 
- Eu fiquei preso por mais de um mês. - ele olhava para o pai de Demetria enquanto falava. - Por um crime que eu não cometi, com o peso de uma morte que me atormentou durante anos. Não quero que algo semelhante aconteça de novo. Você pode se vingar de outros jeitos, Schmidt, mas não o mate. Pela amizade que você tinha com o meu pai, pela ajuda que um ofereceu ao outro, pelos conselhos que você me dava quando eu não passava de um drogado... 
- Não seja idiota, Joseph. Deixe ele me matar. - Arthur disse com escárnio, arrancando uma risada nasalada de Henry. Joseph olhou Arthur nos olhos, com o cabeça erguida, sem demonstrar qualquer instabilidade. Precisava admitir que era bom ter a sensação de que o jogo estava virando. 
- Você disse que eu era exatamente igual ao meu pai... Talvez eu seja, mas só com pessoas como você. - olhou com nojo para o homem. 
- E então, Joseph, o que faremos? 
- Solte a Demetria. - ordenou, assumindo a pose do homem forte que não conseguia ser há muito tempo. 
Henry concordou com a cabeça e logo um dos homens soltou as cordas nos pulsos dela. Demetria se levantou, não conseguindo desgrudar os olhos de Joseph, mas não sabia se ia até ele ou não. Scarlett estava próxima, sentada no chão com os pulsos amarrados também. A mulher escolheu ir até ela, para tentar acalmar seu choro baixo. 
- E agora, o que faremos? - Schmidt voltou a perguntar, como uma criança ansiosa para abrir um presente. 
- Vamos fazer um acordo, Arthur. - Jonas disse, se lembrando da maneira que Arthur havia sugerido a mesma coisa mais cedo. 
- Tenho escolha? - o homem sentado perguntou, tentando manter a pose de durão. 
- Pare de sustentar essa pose, Sheppard, sua vida depende do que nós decidirmos! - Henry zombou. 
- Henry não vai te matar, mas você vai ir embora e nos deixar em paz. Vai esquecer o acordo que havíamos feito antes. 
- Só isso, Jonas? - Henry pareceu desapontado. - Vamos lá, deve ter mais alguma coisa. 
Joseph se lembrou da conversa que havia tido mais cedo com certa pessoa. De toda a ajuda que ela lhe ofereceu, de como foi uma boa amiga durante todo aquele tempo. Devia aquilo à ela, então não pensou duas vezes... 
- Deixe a Scarlett livre, ela não precisa mais trabalhar para você. - no canto, Scarlett arregalou os olhos, sendo abraçada por Demetria. Não achava que era possível conquistar a liberdade, Arthur jamais permitiria. 
- Isso não é possível. - Scarlett disse baixinho. Henry arqueou uma das sobrancelhas. 
- É possível sim, não é, Arthur? - disse para o homem que bufou, com fúria explícita no olhar. O silêncio em forma de resposta fez Henry bater palmas rapidamente como uma comemoração e se aproximar mais uma vez de sua vítima. - Agora que temos um acordo, vão te levar para que pegue seus pertences e suma! Esqueça de todas essas pessoas que atormentou, nunca mais tente colocar os pés nesse país. Eu não vou deixar de vigiar seus passos, meu caro, então não pense nem por um segundo que daqui há algum tempo esse assunto vai estar esquecido. Eu estou fazendo isso apenas em nome do meu falecido amigo Joseph. Se não fosse pela grande ajuda daquele homem, eu não teria nada do que tenho hoje. Mas, se violar qualquer uma das minhas ordens, eu esqueço disso e você não terá uma segunda chance. Sua vida não será poupada. 

Arthur foi levado pelos três homens, de cabeça baixa, sem pensar em pedir qualquer perdão. Sua filha, sentada no canto, não se preocupou em sentir pena, porque ele jamais seria digno de pena. Ela afagou o cabelo de Scarlett, que ainda tentava se acalmar e chorava. Lhe lançou um olhar confiante, amigo. Feliz. 
- Eu... - Scar tentou. - Isso é sério? Eu não preciso mais trabalhar para ele? - o choro se intensificou. 
- Sim, querida, não vai mais trabalhar para ele. Sorte a sua! - Henry comentou, dando um tapinha no peito de Joseph, o olhando com cumplicidade. Os dois trocaram um aperto de mão e então Schmidt comunicou a todos os presentes que precisava ir embora, pois queria ver com os próprios olhos Arthur entrando em um avião. 
- Cuide dela, ok? - falou apenas para Joseph ouvir. - Lembra quando você me deu conselhos para ter a Lily de volta? - Jonas riu, balançando a cabeça negativamente. 
- Quem seguiria conselhos de um garoto problemático? 
- Bom... - Henry deu de ombros. - Eu segui. 
Após Schmidt ir embora, deixando apenas Demetria, Scarlett e Joseph dentro daquela sala, a mulher de vestido vermelho livrou Scarlett daquelas cordas e a ajudou a se levantar. Ela parecia chocada, com os olhos focados em algo distante. A verdade é que ainda não conseguia acreditar que estava mesmo livre, que a tatuagem na lateral de seu corpo não era apenas uma palavra qualquer... Era a sua realidade. 
Um pouco longe, Joseph apenas fitava Demetria, que não olhava para ele de jeito nenhum. Será que estava fingindo não notá-lo? 
O rosto dela se ergueu e Scarlett percebeu o clima, alegando que estava bem, que esperaria os dois do lado de fora. Assim que ela cumpriu o que disse e saiu pela porta, Demetria deu um passo a frente, se aproximando do homem. 
- Me tira daqui? - ela pediu. Ele concordou. 
- Vem aqui, Demi! - foi até ela e a abraçou com força, aquecendo seu corpo. Ela soltou um suspiro aliviado e correspondeu ao abraço, pronta para permitir que as feridas cicatrizassem. Joseph passou um braço pelo seu ombro e a guiou em direção a saída. 
Os três entraram no carro, sentindo a necessidade de serem beliscados para comprovar que aquilo estava mesmo acontecendo. 
Será que, finalmente, tudo estava bem
Sim, tudo estava bem... De verdade. 


Música! 

O barulho da água caindo preenchia todo o banheiro branco. O vapor da água quente vinda do chuveiro embaçava o vidro do box. Dentro dele, encostada em uma das laterais, Demetria estava sentada no chão. Suas pernas estavam dobradas, de maneira que ela as abraçava e permanecia com o queixo encostado em um dos joelhos. Tudo que fazia era encarar o nada, finalmente se sentindo aquecida devido ao banho. Os cabelos molhados pelas costas, grudando-se à elas. Mesmo com o barulho do chuveiro, ela percebeu quando não estava mais sozinha no banheiro. E, pela porta aberta do box, viu Joseph se aproximar. Ele a olhou por um instante e ficou parado, esperando que ela saísse dalí. Os segundos passaram e ela continuou imóvel, sem olhar para ele. Passar aquele tempo sozinha estava sendo importante para Demetria, pois tentava organizar todos os seus pensamentos. Joseph se deu por vencido e retirou o colete que ainda estava por cima da camisa, o jogando no chão. 
- Você não vai sair daí, não é? - perguntou, já sabendo a resposta e entrou no box, se molhando. Abaixou o corpo e arrumou espaço para se sentar ao lado dela. Demetria se encolheu um pouco, não por estar nua, mas sim porque ainda não sabia se as coisas estavam bem entre os dois. 
Ele não disse nada, respeitando o silêncio dela. Queria apenas ficar por perto, mesmo que fosse dentro daquele box, com as roupas ensopadas. O semblante apagado de Demetria se desfez e os cantos de seus lábios se levantaram minimamente. Ela se aproximou um pouco mais de Joseph, sentindo o tecido molhado da camisa em contato com seu braço. 
- Tudo isso aconteceu mesmo? - ela perguntou, com a voz bem baixinha. - Agora parece algo tão distante... 
- Distante como se fosse a história de outras pessoas sendo contada. - ele respondeu, passando o braço por trás do ombro dela, trazendo Demetria para ainda mais perto. Sonolenta, ela se permitiu encostar a cabeça no ombro dele. 
- Como se não passasse de um filme. 
- Bom, se foi um filme, nós dois estávamos na mesma sessão. Até dividimos a pipoca! - ele riu daquele comentário idiota e ela sorriu mais abertamente. 
O barulho da água que ainda caia voltou a ser o único som no ambiente. 
- Pensou que eu te abandonaria se continuasse preso? - Demetria levantou a cabeça e olhou para ele. Joseph estava com os cabelos molhados, caídos pela testa. Ela ainda tentava entender por que ele tinha aceitado fazer aquele acordo com Arthur. 
Demetria, eu... De todas as coisas que eu disse, apenas uma era verdade: eu tenho medo de não conseguir te fazer feliz. E realmente cheguei a pensar que, se você se afastasse de mim, teria mais sorte na vida. O resto... Bem, o resto era mentira. Eu penso exatamente o oposto de todas as atrocidades que eu disse. - Joseph estava irritado com ele mesmo, encostando a cabeça no vidro e fechando os olhos. 
- Você precisa parar de tentar me fazer te odiar, te querer longe de mim. Não vai acontecer, Joe. Depois daquela briga, eu poderia te odiar, desejar que tudo de ruim te acontecesse, mas... Não. Eu tinha em mente que, se não era para ficarmos juntos, que você encontrasse alguém que te fizesse realmente feliz, do jeito que você tem me feito todo esse tempo. 
- Senhora Jonas, lamento informar, mas você está um pouco atrasada... Essa pessoa já foi encontrada, e está conversando comigo dentro de um box, sem roupas. - sorriu maroto, arrancando algumas risadas dela. Quando voltou a ficar sério, se desencostou da parede e ficou de frente para ela, tocando a pele de seus joelhos molhados, ajoelhando-se. Sua camisa estava grudada no corpo, transparente. Ela não deixou de notar. - Você não vai esquecer tudo que aconteceu em um piscar de olhos, sei disso. Mas, já que fui eu quem causou esses danos, acho que tenho o direito de tentar repará-los. E, é sério, eu não vou parar até que tenha conseguido isso. - Joseph segurou o queixo de Demetria, a obrigando a levantar o rosto para olhar em seus olhos enquanto continuava a falar. - Nem que eu tenha que passar por cima de qualquer coisa, qualquer pessoa, qualquer situação... Não vou mais permitir que você se machuque desse jeito. Me estendeu? - Demetria concordou com a cabeça, recebendo um sorriso sincero de Joseph. 
- Nós podemos começar do zero. - ela disse, passando a mão pelos cabelos, afim de tentar tirar um pouco da água. Ele a observava com atenção, capturando os traços de seu corpo. Não era um momento obsceno, mas sim uma pura apreciação daquilo que, enfim, poderia ser seu de todos os jeitos. 
Joseph teve um estalo, enfiando a mão em um dos bolsos da calça e retirando de lá um pequeno objeto dourado, que atraiu os olhos curiosos de Demetria. Ele segurou sua mão esquerda, se preparando para colocar o anel em seu dedo anelar. Exatamente como no dia do casamento. 
- Não necessariamente do zero... - o anel estava colocado. Os dedos se entrelaraçam. - Porque certas coisas eu não quero esquecer. 
Joe se levantou, trazendo Demi consigo. Os dois corpos estavam colados e os dois ficaram bem embaixo do chuveiro, sentindo a água quente em seus rostos. Ela sentiu os olhos arderem, mas ele jamais poderia notar, porque seu rosto já estava molhado. Então, se sentindo aliviada, ela disse o que tanto esperou para poder dizer: 
- Até que enfim, Joseph. - os lábios dos dois se encostaram, mas sem pressa. 
Até que enfim. - ele repetiu e, por fim, a beijou de verdade. O contato passou a ficar mais íntimo, a camisa de Joseph já não estava mais em seu corpo. Uma das pernas de Demetria estava dobrada, encostada em um dos lados dos quadris de Joseph, que acariciava a pele da coxa dela. Quando deu um beijo no queixo da mulher, parou para olhá-la e ergueu uma sobrancelha, com uma face divertida e jovial. - Você vai me pagar, mulher. - disse com uma voz baixa e carregada de intenções não muito puras. 
- Mas o que eu fiz agora, Jonas? - Demetria quis saber, lançando-lhe um olhar questionador. 
- Acha que eu me esqueci do vestido vermelho de mais cedo?



Música!

O som do mar
Duas risadas entusiasmadas se aproximavam da costa da praia. Demetria surgiu por entre a área verde da ilha, correndo com os pés descalços pela areia branca. Usava um biquini vermelho, com uma canga branca que ia até seus pés, obrigando ela a segurá-la enquanto corria. Fazia questão de virar o pescoço toda hora, para checar se ele ainda a estava perseguindo. Joseph vinha logo atrás, também descalço, com uma camisa branca fina e uma bermuda azul. Ela tentava fugir dele, o provocando com olhares travessos. Cada vez mais próxima da água, ela parou de correr, sentindo o vento levar o tecido fino de sua canga de um lado para o outro. Joseph passou correndo por ela e foi até o mar, sem medo. Ela retirou o tecido que cobria suas pernas e o estendeu no chão, se sentando e rindo de como ele estava animado feito um menino dentro da água. As ondas se chocavam contra seu corpo, o engoliam e depois o jogavam para frente e para os lados. Ela ficou apenas observando tudo aquilo em silêncio, olhando para o céu. Núvens escuras estavam acima de sua cabeça, assim como uma agitação que avisava que choveria a qualquer momento. 
- Venha, Joe! - Demetria gritou. Ele saiu da água e voltou a correr ensopado pela areia, se aproximando dela gradativamente. Demetria tentou se esquivar, soltando um gritinho agoniado, mas ele praticamente se jogou em sua direção, envolvendo-a com seus braços fortes e frios, devido a água. Ela se arrepiou totalmente com o passar do tempo, enquanto a umidade do corpo dele era passada para o dela. Sua barriga se encostou com a dele e os dois se entreolharam intensamente. 
O olhar do homem estava brando, um sorriso esfuziante foi aberto. Ela imitou aquele gesto. 
Com um trovão, Joseph olhou para o céu. Os olhos verdes estavam mais cintilantes do que nunca, mais desafiadores do que nunca. Mais vivos do que nunca. 

Et si tu n'existais pas
E se você não existisse
Dis-moi pourquoi j'existerais
Diga-me, por que eu existiria?
Pour traîner dans un monde sans toi
Para vagar em um mundo sem você
Sans espoir et sans regret
Sem esperança e sem lembranças.


- Você parece tão feliz. - a voz serena de Demetria soou melodiosa aos ouvidos dele, que abaixou o olhar para fitá-la. Ele se ajeitou e se sentou, ela fez o mesmo e ficou com as costas encostadas no peitoral dele, apenas assistindo o que estava a sua frente. 
- Sabe por quê? - ela levantou o rosto para prestar atenção no que ele dizia. - Porque, pela primeira vez na minha vida, eu realmente posso respirar aliviado. Pela primeira vez, eu não tenho medo de nada, Demi. - voltou a sorrir, o sorriso de um garoto sonhador. - E, antes que eu me esqueça, estou feliz também porque, depois de toda aquela guerra, é você que eu continuo a ver quando olho para o lado. 
- Sim, é bom poder olhar para o lado e perceber que a pessoa que lhe ajudou a enfrentar uma tormenta continua lá, presente. - ela comentou, segurando a mão dele apenas para brincar com os dedos. - Melhor ainda é quando uma viagem a um lugar lindo como esse é feita para comemorar! - riu. 
- Não seria a mesma coisa se eu não inventasse de te sequestrar e te trazer para outro país, não é? Acho que sempre vou fazer isso. - o lugar onde estavam era totalmente livre do frio da Inglaterra. O verão permanecia por boa parte do ano, o sol sempre estava no céu. O ar era mais puro, os movimentos mais livres. 
Seguido de outro trovão, Joseph segurou Demetria pelos ombros e a fez se virar, a colocando deitada por cima do tecido e ficando por cima, apoiando as mãos para não jogar todo o peso de seu corpo sobre ela. Aproximou a boca de seu pescoço, sentindo o cheiro inebriante da pele desnuda e um pouco bronzeada. Distribuiu alguns beijos pelo local e depois foi ao encontro de sua boca, passando a língua pelos lábios dela, e em seguida sugando o lábio inferior. Com os olhos fechados, os dois ouviam apenas o barulho do mar, beijando-se como se fosse a primeira vez. 
Porque sempre parecia ser a primeira vez. 
Ele afastou sua boca da dele por um instante, após segurar o lábio macio com os dentes. Demetria respirou fundo, como se quisesse guardar toda aquela combinação de aromas que pairavam por ela. 
- Eu estou vivo agora, Demetria. 
- Então me mostre um pouco dessa vida, Joseph. - ela pediu docemente, sentindo os dedos dele passearem pela pele de seus braços. 

Et si tu n'existais pas
E se você não existisse
J'essaierais d'inventer l'amour
Eu teria que inventar o amor
Comme un peintre qui voit sous ses doigts
Como um pintor que vê sob seus dedos
Naître les couleurs du jour
Nascerem as cores de um dia
Et qui n'en revient pas
E que não voltam mais.


Vigorosamente, ele voltou a beijá-la. Os dois sentiam o vento litorâneo massagear sua pele. Joseph voltou a se abaixar, beijando os ombros, clavícula e colo de Demetria, já conseguindo arrancar os primeiros gemidos baixinhos, que escapavam pelos lábios femininos, o estimulando a fazer de tudo para se livrar do tecido que cobria os seios de sua esposa. Após finalmente conseguir aquele feito, primeiramente beijou com paixão um dos bicos rosados e enrijecidos, mordiscando e passando a língua ao mesmo tempo. Ela levou uma mão até o cabelo molhado dele, acariciando e puxando os fios com mais vontade algumas vezes. Joseph desceu com os lábios, chegando até a barriga dela, que se contraia com qualquer mísero toque. As duas mãos seguraram nas alças da calcinha do biquini e simplesmente a puxaram, não queria que tudo acontecesse de maneira muito lenta. 
Um olhar cumplice foi trocado e Demetria observou Joseph sair de cima dela e rapidamente tirar suas roupas. Quando terminou, passou os dedos por sua barriga mais uma vez, os deslizando por sua virilha e tocando-os minimamente na clitóris de Demetria. Ela respondeu àquele toque, abrindo um pouco mais as pernas e sentindo o que apenas o roçar dos dedos do homem era capaz de fazê-la sentir. Joseph se abaixou e beijou o interior de suas coxas, lançando-lhe um olhar que valeria mais do que todas as palavras. Ela levantou um pouco o tronco, se virando de lado, com uma excitação pulsante abaixo de seu umbigo. O homem se colocou atrás dela, também de lado e ela virou o rosto, para poder beijá-lo de novo. Joseph inclinou um pouco a cabeça e voltou a brincar com um dos seios dela, o chupando. Aproveitou também para beijar seu pescoço, nuca e orelhas. Depois, quando uma leve chuva já começava a dar indícios, uma das mãos de Joseph segurou a perna dobrada deDemetria e a ergueu um pouco, vendo a oportunidade perfeita para enfim juntar-se a ela. A penetração foi realizada vagarosamente, chegando a se tornar dolorosa. Ela simplesmente vibrava só pelo fato de já conseguir senti-lo dentro dela. Ao passar do tempo, quando ele já conseguia aumentar a intensidade e sentia o interior quente e molhado de Demetria em um contato delícioso com seu pênis pulsante, soltou a perna dela, que se manteu erguida e levou os dedos até o clitóris inchado mais uma vez, masturbando-a e penetrando-a ao mesmo tempo. Sorriu satisfeito pela forma como ela gemia, passando a mão do lado vago pelos próprios seios, mordendo os lábios e pedindo para que ele não parasse.

Et si tu n'existais pas
E se você não existisse
Dis-moi pour qui j'existerais
Diga-me, por quem eu existiria?
Des passantes endormies dans mes bras
Estranhas adormecidas em meus braços
Que je n'aimerais jamais
Que eu não amaria jamais.


O cheiro do mar só não era mais agradável que o dela, que dizia seu nome inúmeras vezes com a voz suplicante. Ele beijava-lhe os ombros e os lábios, sentindo os pêlos se arriçarem quando as gotas finas caíam e quando se colocava totalmente para dentro e depois para fora dela, repetindo a ação até que começasse a ofegar. Uma perfeita fricção. 
Joseph saiu completamente de dentro de Demetria, virando-se e ficando deitado sobre o tecido. Foi a vez dela se levantar e ir para cima dele, sem conseguir esconder o olhar que escorria deleite e os lábios que ainda eram abertos para que um gemido escapasse. Se abaixou e chupou o queixo do homem, que a segurava pelos quadris. Ficou o olhando, pensativa, até que recebeu um sorriso malicioso. Sendo segurada, ela sentiu a glande dele entrar em contato mais uma vez com sua entrada, mas Joseph não se permitiu penetrá-la, permanecendo apenas com as provocações. 
Um terceiro trovão penetrou suas audições e o ambiente estava mais escuro, como o fim de uma tarde de inverno. A chuva de verdade começou, intensa e constante. 
Demetria voltou a se erguer, com uma perna de cada lado do corpo dele, se posicionando para ser penetrada uma segunda vez. As mãos de Joseph, juntamente com as dela, seguraram o quadril do mulher, o impulsionando para baixo. Mesmo com o barulho da chuva, ele poderia jurar tê-la ouvido gritar. E pelo seu semblante extasiado, os olhos fechados - revelando uma bela cortina de cílios - e os lábios entreabertos, não era uma simples alucinação. 
Logo ele estava da mesma maneira, com os olhos fechados. Sentindo a água cair e lavar ambos. Era fria, mas isso não tinha poder o suficiente para arrancar o calor daqueles dois corpos que possuíam um encaixe tão perfeito. Demetria estava com a cabeça um pouco inclinada para trás, queria sentir toda aquela chuva deslizando por seu corpo nu. Uma de suas mãos foi descendo por seus seios e barriga, enquanto ela ainda sentia ser segurava com uma possessividade delirante pelos quadris, efetuando movimentos de subida e descida. Demetria brincou com os próprios dedos em seu clitóris, com a certeza de que ainda era capaz de ter mais prazer, ela queria mais prazer. Se masturbava, gemendo alto, ouvindo o gemido rouco e enlouquecedor dele, misturando-se como uma perfeita orquestra com a fúria da natureza. 
O mar revolto, ladeado por rochas de tamanhos variados estava agitado. Suas ondas se chocavam contra as rochas, o barulho totalmente agradável aos ouvidos de um ser vivo. Toda aquela mistura produzia uma visão paradisiaca e excitante. Demetria e Joseph não se intimidavam com a chuva, continuavam a compartilhar de um prazer mútuo. Delirantes, enlouquecidos. 

Et si tu n'existais pas
E se você não existisse
Je ne serais qu'un point de plus
Eu seria somente um ponto a mais
Dans ce monde qui vient et qui va
Neste mundo que vem e que vai
Je me sentirais perdu
Eu me sentiria perdido
J'aurais besoin de toi
Eu precisaria de você.


Joseph segurou os seios de Demetria, quentes e macios. Mesmo sabendo que a chuva poderia atrapalhar sua visão, fazia questão de abrir os olhos algumas vezes, simplesmente para contemplar o que alegaria para quem quer que fosse ser nada mais, nada menos que uma obra prima. O jeito como a mulher a sua frente se movimentava e expressava seu prazer o enlouquecia. Sentindo seus seios serem massageados com gosto, Demetria tomou uma das mãos de Joseph e aproximou os dedos de sua boca, os beijando e chupando, olhando para o homem coberto pela chuva. O que ela estava fazendo o obrigava a segurar o tecido abaixo de seus corpos com força, porque ela continuava a procurar decidida por mais maneiras de arrancar qualquer resquício de sanidade que ele possuia. Sentia a areia entrar em contato com sua pele, grudando-se à ela. Não sabia como ainda não tinha chegado ao orgasmo, mas sentia que o momento estava cada vez mais próximo. A chuva estava em seu ápice, Demetria sentiu como se fosse um vulcão a beira de uma erupção. 
Queria gritar o mais alto que podia, mesmo que perdesse a voz em seguida. Estava feliz. Ah, como estava feliz! Como aquele frio em seu estômago era gostoso. Como aquelas gotas geladas faziam bem para sua pele. Como sua alma estava em paz só de saber que o amor de sua vida finalmente estava bem. 

Et si tu n'existais pas
E se você não existisse
Dis-moi comment j'existerais
Diga-me, como eu existiria?
Je pourrais faire semblant d'être moi
Eu poderia fingir ser eu
Mais je ne serais pas vrai
Mas eu não seria verdadeiro.


- Por favor... - Joseph tentou pedir, não conseguindo mais calcular os movimentos de seu corpo e apertando com afinco a cintura de Demetria. - Por favor, promete para mim que isso nunca vai acabar. Nunca, nunca... - ele não aguentou continuar. O prazer crescente chegou ao seu limite, ele se sentiu mais quente do que nunca. O ponto máximo nunca havia sido tão grandioso. A sensação que não poderia ser explicada com palavras correu por todo o seu corpo, cujo suor não tinha a chance de permanecer, sendo lavado. Seu líquido quente jorrou dentro da mulher, que estava imóvel, com as duas mãos apoiadas no peitoral do homem, concentrada em seu orgasmo. Ela abriu os olhos, respirando fundo. 
- Prometo quantas vezes quiser! Você disse que o que tínhamos era mais do que algo carnal. E agora, mais do que nunca, eu tenho toda a certeza de que é a mais pura verdade. - os dois se olhavam, imóveis, talvez abobolhados demais com o que tinha acabado de acontecer. A mesma sequência de barulhos provenientes do mar enchia seus ouvidos, apesar da chuva já ter lhes dado uma pequena trégua. 
- Meu Deus, você não faz ideia do quão louco eu sou por você... De como eu te amo. 

Et si tu n'existais pas
E se você não existisse
Je crois que je l'aurais trouvé
Eu creio que eu não teria encontrado
Le secret de la vie, le pourquoi
O segredo da vida, o por que
Simplement pour te créer
Simplesmente para te criar
Et pour te regarder
E para te olhar.


Os longos cabelos negros de Demetria estavam grudados em várias direções de suas costas e ombros. O coração dela, assim como o de Joseph, ainda decidia se lutava para continuar a bater ou desistia de uma vez. Ela recebeu um olhar misterioso, levemente malicioso, que aos poucos se transformava em terno, aconchegante. 
Com o corpo mole, ela se deixou cair ao lado de Joseph, ficando da mesma maneira que ele. Os dois viraram apenas os rostos para poderem se olhar, começando a rir sem explicação aparente. 
Como duas crianças felizes por conseguirem tomar um belo banho de chuva em um dia quente de verão. 
- Esqueça o top 5 que fizemos há um tempo. Isso... Isso está ao nível do paraíso. - ela gargalhou ao ouvi-lo trazer aquela lembrança, com a mão sobre a barriga. O jeito como as gotinhas deslizavam em seu corpo nu, deixando um rastro, fazia Joseph se perguntar se existia algo mais bonito no mundo. 
- Nada se compara. 
Nada
Ambos voltaram a virar o rosto e fecharam os olhos, entrelaçando os dedos das mãos que estavam lado a lado. Da maneira que chegaram ao mundo, constantemente distraídos com os vislumbres de prazer que ainda mexia com suas estruturas, se sentiam parte daquela praia. Sentiam que sua existência finalmente fazia sentido. 



Música!

E o tempo passou...

Anjos existem. Eles surgem das maneiras mais unisitadas e erradas, mas surgem. Às vezes, você só descobre que foi salvo por um anjo quando já é tarde demais. Um lamento por uma despedida não pode ser evitado. Milhares de pessoas passam por nossas vidas, algumas despercebidas, outras totalmente notadas. Algumas causam estragos, outras tem a função de repará-los.

Louise fitou as margaridas ao seu lado com um choro preso na garganta. As mãos cobertas por luvas pretas seguravam a urna dourada, e ela lhe deu a chance de um curto momento para lembrar de tudo que tinha vivido ao lado do filho. Não fora muito, se lamentava por não ter sido uma mãe melhor. Mas, daquele momento em diante, com uma lágrima caindo pelo rosto, ela tratou de fixar em sua mente apenas duas imagens: Carter sorrindoCarter feliz
O canto de alguns pássaros, juntamente com o vento amigo e a bela Paris a fez encher os pulmões de ar e fazer a última coisa que podia pelo filho: suas cinzas foram distribuídas pelo local, levadas embora pelo ar frio. Louise sabia que estavam por toda a parte, mesmo que invisíveis. Carter estava alí, com Margo e Melanie, ao redor das margaridas. 
Tranquilos e felizes. Sendo parte de um mundo diferente daquele. 
Louise se levantou e sorriu uma última vez para o nada, caminhando para longe. Seguindo com sua vida, talvez até com uma lição aprendida. 


Seres considerados insignificantes e fracos podem ser aqueles que mais usaram de sua força, podem ser aqueles que seguraram nossa mão e nos guiaram em um caminho sem luz. Talvez, a pessoa que você provavelmente ignoraria ao cruzar com ela em uma calçada movimentada, seja a única que te fará perceber que o gosto da vida pode voltar a ser adoçado. Que existe sim uma porta, cuja fechadura será virada e uma nova oportunidade será oferecida. Essa pessoa com certeza será muito diferente de você, mas, no final das contas, é uma coisa boa.

Scarlett estava em um banco qualquer do Hyde Park, pensativa. Os cabelos estavam soltos e ela não estava vestida como a agente de antes, apenas como uma pessoa comum. Talvez, a única marca capaz de entregar o que aqueles olhos castanhos escondiam, era a tatuagem em seu corpo. Freedom. Era difícil acreditar que aquela tinha deixado de ser apenas uma simples palavra, e sim sua realidade. Recebera um telefonema de Arthur naquela manhã, se assustando de imediato. Porém, o que ele disse a surpreendeu. Arthur deixou bem claro que ela não precisava voltar para os Estados Unidos, para a organização. No entanto, ela seria a única responsável por sua vida a partir daquele momento. Começar do zero, reescrever sua história. Mas... Como reescrever uma página em branco? 
Alguém se sentou ao seu lado. 
Ela respirou fundo e virou o rosto, recebendo apenas um olhar amigo. O cara que ela considerava magrelo, estranho e nerd até poucos dias, estava com ela. Caleb passava por uma situação semelhante a de Scarlett. Não sabia quem era e o que estava fazendo no meio de tudo aquilo. Durante grande parte de sua vida, se contentou em ser alguém invisível, distante. 
- O que vai fazer agora? - ele a perguntou, consciênte de tudo que havia acontecido com Arthur e sua liberdade. 
Cara, eu não tenho a mínima ideia! - comentou risonha, balançando a cabeça e ouvindo o riso dele também. - E, sabe, é tão bom não ter a mínima ideia pela primeira vez na vida! Tenho apenas uma mala com poucas roupas, uma arma sem balas e... 
- A mim. - Caleb respondeu, ficando mais próximo. Os dois se olharam. 
- Eu preciso de um trabalho! - Scarlett exclamou, fugindo do assunto. 
- Bom, você pode ficar na minha casa até sua situação se ajeitar, sei lá... - Caleb disse como quem não queria nada, mas ela enxergou quando as sobrancelhas dele se ergueram. 
- Muito cuidado, Caleb Austin, não é porque eu deixei de ser uma agente que esqueci como se quebra o braço de alguém. - ela disse pomposa, passando as mãos pelos cabelos e voltando a grudar as contas no banco. 
- Você precisa aprender o significado da palavra romance, Karlie. 
- Mas por que diabos você continua a me chamar assim? - ela se aproximou bastante de Caleb, o olhando nos olhos, com a expressão intimidadora que, como sempre, só conseguia fazê-lo rir. 
- Karlie, Scarlett... São dois nomes diferentes, mas a mesma pessoa. E, bem, eu gosto de você. Não conheci a Karlie, mas sei que iria gostar dela também. 
- É, talvez eu ainda saíba dançar balé... - comentou distraída, tentando deixar um dos pés na ponta dos dedos. - Vamos fazer o seguinte, Caleb: você me ensina o significado da palavra romance e me empresta nem que seja o sofá da sua casa por uns tempos... Em troca, eu te ensino uns golpes bem legais. Você vai ficar em forma, gato! 
- Tá bom, eu vou pensar. 
- Er... Estou condenada a ter o sotaque de vocês, não é? - Scarlett perguntou, bufando. 
- Sim. - ele voltou a rir. 
Os dois permaneceram daquele jeito, fitando as árvores e as pessoas que passavam por perto. 


Por isso, não lamente se uma pessoa entrar em sua vida e, tempos depois, for arrancada dela. Era para ser assim, e você pode ter a certeza de que ela não entrou em seu caminho a toa. Anjos existem, e talvez eles não sejam da forma como muitos imaginam; talvez esses anjos precisem tanto de ajuda como qualquer outra pessoa. Quando salvam uma vida, estão salvando a si mesmos. Uma simples troca de olhares, o primeiro despertar de um sentimento positivo.
Acreditamos cegamente que vamos nos manter firmes em um lugar, em uma relação, em uma vida... Mas, em um piscar de olhos, é como se nascêssemos de novo.
O sangue correndo nas veias... O sangue que deu a chance de um coração romântico e bom continuar a bater. 


Cameron ainda caminhava com dificuldade, mas finalmente estava livre para ir embora daquele hospital. Os ferimento em seu rosto e braços não passavam de cicatrizes pequenas e insignificantes. Ele tinha a mão sobre o local ainda enfaixado de seu ferimento grave, tendo a ajuda de Elizabeth para cruzar aquele corredor e ir para a casa. 
Na porta do hospital, esperando pacientemente para enfim ver o rosto que havia tomado conta de seus sonhos, estava Lexi. A mulher até então desconhecida, mas que acabou tendo um papel tão importante na vida de Cam. 
Graças a ela, ele poderia começar de novo. Graças a ela, a Austrália ainda era seu destino. 
Os olhares dos dois se cruzaram. 
- Lexi! - ele disse alto, fazendo uma cara de dor em seguida. Ela riu levemente e se aproximou, dando um beijo na bochecha do homem. - Olhe só para mim... - Cam comentou, sorrindo. - Novinho em folha. - voltou a sentir dor. - Ou quase. 
Elizabeth sorriu amigável para Lexi e se afastou um pouco. A mulher com rosto de boneca ficou ao lado dele, segurando seu braço e o ajudando a cruzar o estacionamento, indo até o veículo que o esperava. 
- Bom, é aqui que eu me despeço. - Lexi sussurrou, entristecida. O pai de Cam o recebeu com um aceno animado de dentro do carro. 
- Mas é claro que não, Lexi! - ele voltou a sorrir. - Se eu estou saindo vivo desse hospital, é por sua causa. 
Cam, eu... - ela parecia tão tímida, se tornava uma coisa até que adorável. - Não quero que se sinta na obrigação de me manter por perto porque eu doei meu sangue para você. Como eu já contei uma vez, quando decidi fazer isso, não sabia quem receberia. Eu fiz apenas para salvar uma vida. 
A minha vida. - ele disse decidido. Seu rosto ainda tinha um aspécto debilitado e sua pele estava pálida, no entando, um dos cantos dos lábios estava levantado como sempre. - Obrigado, Lexi, de verdade. 
- Não precisa agradecer. - a covinha de Lexi surgiu. 
Cameron olhou para o lado, refletindo por um instante. Se lembrou dos momentos que antecederam seu acidente e da decisão que tinha tomado. Do rumo diferente que sua vida teria a partir daquele momento. Nunca se esqueceria de Demetria, mas sabia que com o tempo o sentimento que tinha por ela se tornaria apenas o de um amigo por uma amiga. Era exatamente daquele jeito que tinha que ser. Não queria acabar brigado com ela, destruindo os momentos bons que tiveram juntos. Demetria era uma pessoa boa que ele torcia para que fosse feliz. Sabia que estava sendo. 
Ele voltou a olhar para Lexi, que estava dividida entre brincar com os próprios dedos e suspirar. Talvez, apenas talvez, aquele fosse um sinal do destino... 
- Lexi... - a chamou. A moça levantou o rosto. - Acha que um dia vai ter coragem de viajar pelo mundo com um estranho? - pega de surpresa, ela franziu o cenho. Parou para pensar por alguns segundos. 
- Isso só não pode ser pior que acordar ao lado de um estranho. 
- Ou beijar um estranho... - Cam se inclinou e apenas juntou seus lábios com os dela, rompendo o contato rapidamente. Logo teve ajuda para entrar dentro do carro e, através da janela, viu que ela estava sorrindo feito uma boba, comemorando sozinha. E, assim que Lexi percebeu que seu ato estava sendo assistido, as bochechas coraram. 
Cameron gargalhou e lhe deu um aceno, que deixava claro que aquela não era a última vez que se veriam. 


A vida não precisa ser traiçoeira com todos. A inocência de uma criança não precisa ser perdida. É algo que se pode manter até mesmo depois da vida adulta.
E, durante esse processo... Novos laços tem a oportunidade de serem feitos.


Jamie estava sentado de frente para a janela, como gostava de fazer quando o tempo do lado de fora não permitia que fosse brincar com as outras crianças. Ele assoprava o vidro, para embaçá-lo e depois fazer desenhos sem sentido pelo local. Estava se sentindo triste, fazia tempo que não recebia nenhuma visita. Tinha companhia alí dentro, mas não era a mesma coisa. Onde estavam as pessoas que demonstraram tanto carinho por ele? As queria por perto. Era bom se sentir querido... 
- Jamie! - uma das responsáveis pelo orfanato o chamou. Ele virou o rosto para olhá-la. Os cabelos escuros estavam um pouco crescidos, as sardas continuavam dando o ar de inocência ao seu rosto. Assim como os olhos azuis e tristes. - Você tem visita, querido. 
Ele deixou o lugar e correu até a sala onde as crianças recebiam visitas. Quando cruzou a porta, um sorriso aberto, apesar de alguns dentes tortos, se revelou. O homem e a mulher sentados a sua frente também o receberam com um sorriso sincero. Joseph tinha visto Jamie apenas uma vez, mas sua história mexeu tanto com ele, que queria garantir que o garoto não tivesse que passar pelos mesmos apuros. O homem de olhos verdes estava com uma aparência ótima, impecável, amadurecida. 
Demetria trocou um olhar de amizade com Jamie, se levantando do sofá e caminhando até ele, se ajoelhando a sua frente. Ela também estava mudada, livre de todas as cicatrizes interiores e exteriores. Nem parecia mais a mulher que havia sofrido tanto naqueles últimos meses. 
- Olá, Jamie. - ela afagou os cabelos do garoto. - Nós... - Demetria se virou para Joseph, que lhe lançou um olhar decidido, balançando a cabeça positivamente. - Essa é a última vez que estamos vindo te visitar. - o rosto iluminado do garoto se fechou e a tristeza voltou a bater em sua porta. Mas, o curioso, era que Demetria ainda não tinha deixado de sorrir. - Porque hoje você vai embora daqui com o Joseph e comigo. Apesar de ainda muito novo, Jamie entendeu que tudo estava prestes a mudar. Com lágrimas se formando nos olhos, ele abraçou Demetria.


E talvez a prova mais forte de que anjos existem é que, quando um sorriso se apaga, outros dois podem nascer...

Cassie olhava com atenção para tudo que estava em sua frente. Ela transitava de um corredor para o outro, deixando claro o quão indecisa e perfeccionista era. Tudo que já fora feito para bebês estava naquela loja. Ela se perdia por entre tantas coisas, mas continuava a andar para lá e para cá a procura do que mais lhe agradasse. 
Demetria saiu de um dos corredores e foi ao encontro da amiga, segurando dois macacões. Um rosa e um azul. 
- Não, eu não gostei desses... - a loira disse, desanimada. Demetria revirou os olhos e voltou afobada para o outro corredor, tentando encontrar alguma coisa que colocasse um sorriso no rosto da futura mamãe. - Sabe, Demi... - ela disse um pouco alto, para que a amiga pudesse ouvir do lugar em que estava. - Você deveria ter trazido o Jamie, ele teria mais paciência para escolher roupinhas de bebê do que você. Ele é o garoto mais fofo e educado que eu já vi na vida! - Demetria voltou, dessa vez com as mãos vazias. 
- Ah, o Joseph quis ficar com ele... 
- Os dois se deram bem. 
- Muito! - Demetria se pegou sorrindo sozinha. - Cass... - ela chamou baixo, com a mão no queixo. - Você ainda não sabe o sexo dos bebês, então não acha melhor comprar as roupinhas em cores variadas? - Cassie acariciou a barriga, olhando alguns sapatinhos que estavam próximos a ela. - O azul ou o rosa? - Demetria se colocou ao lado da amiga, também olhando para os sapatinhos. 
Dois de cada. Nunca se sabe... - e, após pegar dois pares azuis e dois rosas, ela decidiu ir para outro setor da loja. Com uma Demetria em seu encalço que não conseguia deixar de se imaginar em uma situação como aquela. 


6 meses depois...

Demetria's P.O.V

Música!

Ninguém tem sorte o bastante para viver apenas em felicidade. 
Naquele fim de uma tarde quente de agosto, as lágrimas voltaram aos nossos olhos. Estava chovendo muito, mas eu precisava sair por aquela porta e ficar ao lado dele, mesmo que eu tivesse que me molhar para isso. No entando, acabei encontrando um guarda-chuva vermelho que me protegeria. Abri a porta e saí, caminhando rápido pelo caminho do jardim. Ele estava parado, olhando para baixo, pouco se importando que poderia pegar um resfriado. A maneira como eu me sentia ao vê-lo triste não tinha mudado e, apesar de conviver com um homem totalmente feliz nos últimos seis meses, naquele momento ele parecia tão fraco como antes. 
Eu parei ao seu lado, erguendo um pouco o guarda-chuva para que ele pudesse se proteger também. Sem me olhar, ele deu um passo para o lado e ficou de baixo do guarda-chuva comigo. Sabia que Joseph estava chorando, que não conseguia acreditar no que tinha acontecido com sua mãe. Elizabeth, sim, a mulher que parecia tão saudável e jovem havia falecido no começo da tarde, vítima de um infarto que pegou todos de surpresa. Justo naquele dia, em que eu estava preparando uma agradável surpresa... 
Eu estava com certo receio de abraçá-lo, por mais que soubesse que era tudo que meu marido precisava no momento. Ele virou o rosto para me olhar, partindo meu coração.
- Onde está o Jamie? - a maneira como Joseph e Jamie se mostravam únidos era algo tão bonito de se ver. O garotinho - que eu considerava como um filho desde o primeiro momento - simplesmente adorava Joe. Dizia que ele era seu héroi. Isso porque os dois passavam muito tempo jogando bola e Joseph já comentava que o ensinaria a se barbear, a dirigir e a arrumar uma namorada. 
Ergui os cantos dos lábios com aqueles pensamentos, tocando o ombro de Joe com a mão, dando leves tapinhas na região. 
- Está com a Cassie e os gêmeos. Incrível como consegue segurá-los direitinho! - comentei. Os bebês de Cassie tinham nascido há pouco tempo. Um menino e uma menina. Dimitri e Dianna. Loiros, exatamente como seus pais. 
Joseph respirou fundo, se preparando para falar. 
- Pelo menos ela sabia que eu não guardava mais nenhum mágoa, não é? - falava de sua mãe. 
- Sim, Joe. Ela estava feliz porque finalmente conseguiu o perdão do filho. 
Apesar de toda aquela tristeza, algo dentro de mim me lembrava de segundo em segundo que tínhamos um motivo para seguir em frente, mais uma vez. 
- Por que eu me sinto tão sozinho? Digo, tenho você, o Jamie e nossos amigos, mas... É uma solidão diferente, eu não sei explicar. 
Sempre me perguntei como seria aquela sensação. Em um momento de rebeldia em minha vida, cheguei a considerar o fato de que nunca aconteceria. Em outros momentos, era o que eu mais queria. 
- Você nunca esteve sozinho. Nunca vai estar... - me virei de lado, ficando de frente para ele, que me olhava desolado. - Especialmente a partir de agora. - recebi um olhar confuso e sorri. Talvez não fosse a hora certa, mas... 
Tirei a mão do ombro de Joseph e a levei até minha barriga, que ainda não apresentava nenhum sinal do que estava por vir. Joe olhou na direção em que meus dedos se roçavam com o tecido de minha blusa e levantou os olhos verdes para me olhar nos olhos, com a boca entreaberta. No fundo, eu sabia que ele já era capaz de imaginar o que eu estava para dizer, mas precisava de uma confirmação. - Joseph... - e lá estavam as lágrimas. - Eu estou grávida
- O quê? - meu marido tinha um olhar embasbacado. Senti sua mão se colocar por cima da minha, que ainda estava sobre minha barriga. No instante seguinte, ele parecia não saber o que fazer. -Demetria, não brinque com uma coisas dessas. Demetria... - eu nunca tinha visto Joseph daquela maneira. Nunca. 
- Queria dar a notícia em circunstâncias melhores, mas... Eu precisava falar. - não era possível segurar minhas lágrimas. Eu amava Jamie, tinha certeza que sempre estaríamos juntos, mas um pedacinho de vida estava sendo gerado dentro de mim. Eu, Demetria Jonas, a mulher que passou por tanto. Que chegou a pensar que não continuaria viva por muito tempo... 
Joseph me puxou para um abraço, jogando o guarda-chuva longe e me molhando. Fechei os olhos com força pelo leve frio que senti, mas não importava. Afinal, a promessa que ele me fez seria cumprida. Segurei o rosto do pai do meu filho com as duas mãos e beijei seus lábios algumas vezes. 
- Um filho... Meu Deus, um filho! Eu não sei o que dizer... 
- Bom, pelo menos você não desmaiou. Pena que talvez aconteça o oposto com a minha mãe... - enxerguei o sorriso aberto e sincero de Joseph quando me ouviu. Ele tinha perdido sua mãe, uma perda irreparável... 
Porém, como eu havia dito para Cassie uma vez: percebe como a vida faz de tudo para que a gente não desista?


8 meses depois...

Joseph's P.O.V

Não existia sensação pior do que vê-la sentindo tanta dor e não poder fazer nada. Nenhum de nós esperava que o bebê poderia nascer naquela semana. Eu estava na empresa - que escolhi não vender - no meio de uma reunião, quando recebi a ligação da mãe de Demetria. Larguei tudo que estava fazendo e arranquei com o carro até o hospital em que ela estava sendo levada. Um turbilhão de pensamentos me deixava em pânico. Minhas mãos tremiam tanto que, por várias vezes, o carro quase fugia do meu controle e ameaça se chocar com alguma coisa. 
Demetria havia tido alguns problemas durante a gravidez, mas nada que merecia ser visto com grandes preocupações. Nosso menino estava bem. Totalmente bem. 
Sim, um menino. 
Não brigamos nem nada parecido quando ela decidiu que seu nome seria Matthew. Eu apenas concordei, feliz ao assistir a barriga dela crescer a cada dia que passava. Os chutes, as sensação que ela descrevia sentir. Todos aqueles momentos, tudo aquilo... Eu respirei fundo, porque precisava estar forte por ela. A mãe do meu filho não tinha que me ver daquele jeito. 
Desci do carro na velocidade da luz e quase fui atropelado por uma ambulância. Passei correndo pela porta da entrada e encontrei alguns rostos conhecidos. Sue, Peter, Cassie, Jamie, Scarlett e Caleb estavam lá. Sue estava sentada com Jamie em seus braços, chorando. Eu só me desesperava mais a cada momento que passava. Onde ela estava? Por que todos me olhavam daquele jeito? 
Ouvi o barulho de uma maca se aproximar. Ela passou por mim, vinda de outro corredor. Com as mãos suando frio eu a segui, tentando não perdê-la de vista. A minha Demetria estava deitada naquela maca, agonizando. Ouvir seu choro alto e seu pedido de socorro acabava comigo. Eu gritei para que parassem aquela porcaria, precisava falar com ela, tocá-la. 
Antes que a maca conduzida por enfermeiros e médicos passasse por uma outra porta, eu consegui chegar até ela e segurei com força a mão de minha esposa. Ela me olhou, tentando dizer meu nome. Tentei não encarar o sangue que estava no lençol que envolvia seu corpo e simplesmente a olhei nos olhos, sabendo que não tinha muito tempo. 
- Olhe para mim, só para mim! - toquei seu rosto. 
Joseph... - ela gemia de dor, com a voz totalmente desordenada. As lágrimas que caíam sem parar a faziam fechar os olhos. - Joe, nosso bebê... Eu estou com tanto medo. Joe... Está doendo. - ela gritou, enfraquecendo mais a cada vez que eu a olhava. 
Demi, meu amor, me escuta! - um dos enfermeiros tentava me afastar, mas eu resistia. - Você é a pessoa mais corajosa que eu conheço. Eu amo você... - olhei para sua barriga. - Eu amo vocês dois mais do que tudo. 
Eu não sabia se ela tinha conseguido me ouvir, porque a maca já estava longe, sumindo pela porta de uma sala de parto. Eu estava sem forças, queria que toda a dor que ela estava sentindo passasse para o meu corpo. Descontrolado, senti duas mãos em meus ombros e apenas esperei que a mãe de Demetria me abraçasse, chorando sem medir as consequências. 
Minha mulher, meu filho... Eu não poderia perdê-los. Não suportaria. 

O pequeno par de olhos que me fitava atráves daquela janela de vidro não tinha a minima ideia do que estava enxergando. Mas, mesmo assim, o pequeno ser humano continuava a me olhar. Eu não tinha vergonha de deixar que as pessoas próximas enxergassem o sorriso bobo que eu não conseguia esconder. 
Era tão pequeno! 
A pele de seu rosto estava avermelhada, mas isso não tirava sua calma. De vez em quando ele se mexia um pouco, provavelmente tentando se acostumar com o mundo em que estava. 
Sim, os dois estavam bem. 
Matthew estava no berçario e Demetria descansando em um quarto. Todos já tinham passado por aquela janela para ver meu filho. Uma das enfermeiras percebeu que eu parecia um idiota com as mãos apoiadas no vidro, apenas olhando para o bebê e se aproximou para pegá-lo no colo. Ela ficou bem de frente para a janela e permitiu que eu o visse melhor. Sorri, ciente de que precisava avisar Demetria que eu tinha ganhado a aposta. 
Fizemos uma aposta: o bebê nasceria com ou sem cabelo. Ela apostou que nasceria sem cabelo, eu apostei que a puxaria e nasceria com bastante cabelo. Venci, afinal, Matthew tinha um aparente cabelo preto que daria inveja aos outros bebês do berçario. 
Mais tarde, eu pude segurá-lo e sentir o calor de seu corpo pela primeira vez. Depois, Demetria o amamentou, tão maravilhada quanto eu. 


2 meses depois...

Demetria's P.O.V

Pelo reflexo do espelho eu conseguia ver os dois sobre a cama. Joseph era a prova viva de que pais corujas existiam. Meu Matthew estava cada dia mais lindo e saudável. Seu cabelo preto e liso brilhava, e ele tinha os mesmos olhos verdes de Joe. 
Matthew era idêntico ao pai, a única coisa que havia puxado de mim era seu tom de pele e o formato de seus lábios. 
- Olha só, Matthew, veja como sua mãe é linda... - Joseph segurava nosso bebê com carinho, olhando para mim. Sorri ao perceber que Matt também estava me olhando, rindo e mostrando sua gengiva ainda sem dentes. Meu marido o beijava e brincava com ele. Eu estava me arrumando para que pudesse ir pegar Jamie na escola e depois ir para a festa surpresa que estávamos preparando para Cassie. Mas, simplesmente tive que ir até a cama e me juntar àqueles dois. Era irresistível. 

Meus dedos deslizavam pelas teclas do piano, tocando a canção que eu tinha escolhido para ninar um dos meus filhos. 
Eu sabia que Joseph estava sentado com ele no sofá, provavelmente tão sonolento quanto o pequeno. 
Incrível como eu seria capaz de sentir todas aquelas dores e todo aquele medo novamente. Eu faria qualquer coisa por Matthew... Algo que eu finalmente estava entendendo, o amor de mãe. O quão gostoso era segurar ele, alimentá-lo, dar banho... Beijar sua testa pequena e quente, sentir seu perfume suave. Imaginar todo um futuro para ele, lutar com todas as forças para que crescesse feliz. Jamie estava ao meu lado no piano, prestando atenção nos movimentos de meus dedos. Ele estava determinado a aprender. 
Assim que o deixei assumir as teclas e tentar tocar alguma coisa, dei um beijo no topo de sua cabeça e baguncei seus cabelos. Virei o rosto e contemplei Joseph, que tinha pegado no sono, assim como Matthew que estava em seus abraços. A visão mais magnífica do mundo. 
Do que mais eu precisava, se os três homens da minha vida estavam por perto? 

And in this crazy life, and through these crazy times
It's you, it's you. You make me sing
You're every line, you're every word, you're everything.


EU NÃO ME CANSO DE RELER O FINAL DESSE CAPITULO!!!
Ultimo capitulo e amanhã sai o epilogo.
Não sei o que falar aqui, triste.... 
Bom, tchau, espero que tenham aproveitado o capitulo :D

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