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segunda-feira, 23 de junho de 2014

Secretary II - Capítulo 21


Mente obscura
Capítulo FC (focado no Carter)




O impacto do pequeno frasco contra o chão foi o único som possível de se ouvir. 
Os comprimidos saíram pela tampa que estava aberta e se esparramaram pelo chão frio. A mão de Carter caiu de um dos lados da cama, imóvel. Seu corpo estava jogado, de bruços. Seus olhos foram se fechando aos poucos; ele tinha certeza de que demoraria para acordar. Era o que mais queria. As palpebras adquiriram um peso insuportável e sua boca se tornou seca, o obrigando a passar a língua pelos lábios antes de se entregar a escuridão. A confortável escuridão. 

"Dormir é um alívio, acordar é um pesar. Por dentro, dói; por fora, finge não sentir. Ele é o leite derramado, a casa desmoronando, o coração partido. Não existe volta, não há resgate. A depressão é apenas uma amiga, a escuridão esconde a verdade. Verdade que ele não quer enxergar."

(n/a: Coloque Running Up That Hill do Placebo para tocar!)


Quando seus olhos se abriram, ele não encontrou mais o seu quarto. Era uma paisagem diferente, distante e quente. Toda uma área verde entrou em foco, e então Carter percebeu que estava na parte superior do que só poderia ser uma colina. O sol estava alto, estava se chocando com sua visão, o obrigando a cobrir o rosto com uma das mãos. Assim que o fez, se assustou ao perceber que algo estava faltando em seu corpo. Estendeu os dois braços e franziu o cenho, se perguntando onde estavam suas tatuagens. Seus braços estavam nus, exatamente como não os via há muito tempo. Ele desviou sua atenção e olhou ao redor novamente, virando o corpo e procurando por algum sinal de vida. Precisava de uma explicação para estar naquele lugar e para os desenhos sombrios que sumiram de seus braços. Um súbito vento se chocou com o seu rosto, ele tentou caminhar para longe, se livrar do que parecia ser o começo de uma tempestade. No entanto, quanto mais corria, mais se via perdido. Tentava gritar por ajuda, mas não conseguia abrir a própria boca. Quando se deu conta, já não estava mais no topo de uma colina, mas sim em terra firme. Era como estar diante de uma cidade abandonada. 
- Perdido? - uma voz suave e feminina surgiu do nada e Carter procurou por todas as direções possíveis. Pela primeira vez, sentiu que conseguiria falar. 
- Onde eu estou? Estou morto? - sua voz estava assustada e ao mesmo tempo grave. Percebeu que uma mulher se aproximava, caminhando despreocupadamente pelo concreto daquele lugar. Ela demorava demais para chegar perto, como se estivesse caminhando em vão. Carter tentou juntar forças em suas pernas e correu até ela, parando diante do figura feminina que usava um longo vestido de cor cinza. - Isso é o paraíso? - a criatura angelical a sua frente soltou um risinho, balançando a cabeça negativamente. 
- O que lhe faz pensar que merece o paraíso, Carter? 
- Esse lugar não se parece com o inferno. - ele disse, se dando a oportunidade de analisar tudo por uma última vez. 
- Você já esteve no inferno para saber como é? - ela cruzou os braços e depois de um tempo, esperança por uma resposta de Carter que não veio, revelou o papel que segurava em mãos. Depois de passar os olhos pelas várias palavras, olhou Carter mais uma vez, respirando fundo antes de começar a ler em voz alta. - Carter Frederic Stone, 23 anos. Nascido em Paris, durante uma viagem a trabalho de sua mãe. - ela parou de ler e ergueu os cantos do lábios. - Paris? Isso explica o seu lado cavalheiro. É francês! - logo continuou a ler. - Contudo, ela não imaginava que seu filho nasceria aquela semana, foi um susto. Ele foi uma criança hiperativa e alegre, contagiava a todos com o sorriso ingênuo e ao mesmo tempo carregado de uma inteligência precose. Infelizmente, passou a demonstrar comportamento estranho aos 12 anos, após matar um rato de laboratório. - ela parou de ler mais uma vez e levantou o olhar para ele, que parecia desconfortável com o que estava ouvindo. - Ok, acho que está na hora de mudarmos de direção. - dizendo aquilo, a estranha criatura desapareceu. E tudo ficou escuro. 

Carter se sentiu cego por um instante e seus globos oculares arderam quando seus olhos se abriram totalmente. 
Estava dentro do que parecia ser o corredor de um hospital. A mesma mulher de antes caminhava com a mesma calma da cena anterior, só que estava vestida como se fosse uma enfermeira. Ela lhe lançou um olhar que sugeria "Venha comigo" e assim ele fez, sem objeções. Os corredores claros e movimentados foram dando lugar a corredores sem iluminação e em total silêncio, assim como o cheiro de mofo que fazia seu nariz arder. Carter olhou para os braços mais uma vez, acreditando que suas tatuagens estariam de volta. Não. 
- Vai me dizer seu nome? - ele perguntou a mulher, que parou diante de uma porta, cujo uma placa metálica indicava ser o necrotério. Ele se assustou ao ler aquilo e se perguntou se estava prestes a ver o próprio corpo. 
- Consciência. - ela puxou a porta e um ar gelado saiu pela mesma, juntamente com um cheiro de limpeza e de substâncias químicas. 
- O quê? - Carter a seguiu, entrando no recinto mal iluminado. 
- Eu sou a sua consciência. Não tenho nome, mas, se quiser, pode me chamar de atormentada ou assustada, assim como a sua face está agora. - os olhos de Carter estavam arregalados e sua boca entreaberta, na tentativa de tentar soltar alguma pequena frase mal formulada. O que estava diante de seus olhos lhe provocou um embrulho cruel no estômago, como se pudesse vomitar a qualquer momento. O corpo sobre uma mesa retangular de metal estava coberto por um pano branco, mas apenas até a parte do tórax. A mulher - ou consciência de Carter - se aproximou, não se mostrando intimidada com nada que via. Ele hesitou antes de dar um passo para frente e também se aproximou, se perguntando o que passava por sua cabeça quando cometeu aquela atrocidade
Ela pegou uma espécie de prontuário que estava ao lado da mesa de metal e leu rapidamente, o colocando em seu lugar de volta. 
Jared McDowell... Por acaso já ouviu esse nome? - o tom de vez deixava claro que aquela era uma pergunta retórica. Carter sentiu algo queimar bem no centro de sua cabeça e fechou os olhos, deixando um grunhido abafado escapar de sua boca. De maneira respectiva, todas as cenas que formavam a noite do assassinato de Jared McDowell vieram em sua mente. Desde o momento em que deixou a loucura domar seu corpo, até o momento em que a faca deslizou desempedida pela garganta do falecido. 
Ele olhou naquela direção, enxergando os enormes pontos dados no pescoço do homem. Seu rosto estava pálido e com um leve tom roxo. Sem querer, a mão de Carter encostou no ombro do corpo, e ele conseguiu sentir como estava gelado. 
- Eu... Eu... 
- Por que você fez isso? Pode esconder tudo de qualquer um, mas não de mim. Seria como esconder de si mesmo. - a dor em sua cabeça ganhou mais intensidade, então ele levou as mãos até a mesma, caminhando de costas até a parede mais próxima e deixando seu corpo cair, indo parar sentado no chão. - Carter, por que tirou a vida de uma pessoa que nunca lhe fez nada? Gosta de brincar de Deus? Vamos, diga o motivo! 
- EU NÃO SEI! - ele berrou, sentindo os olhos marejados. Não sabia o que estava acontecendo com seu corpo, suas mãos formigavam e sua cabeça parecia prestes a explodir. - Eu... Não consigo evitar, não é algo que eu possa controlar. É como se algo ruim entrasse no meu corpo e guiasse os meus movimentos. Enquanto eu passava a faca pelo pescoço dele, uma voz dentro de mim gritava, me deixando surdo... - ele arfou, sentindo uma dificuldade repentina para respirar. - Ela me tirava do sério, me obrigava a descontar minha raiva em qualquer coisa que estivesse por perto. 
- Raiva do quê? 
De tudo
- E o que vai me dizer? Que, quando fere alguém, na verdade não é você que está fazendo isso? É seu corpo sendo controlado por uma outra força? 
- Eu não sei. - Carter rosnou as palavras, olhando como um psicopata para a imagem da mulher. Ela fechou os olhos e deixou que uma expressão de decepção tomasse seu rosto. 
- Não temos mais nada para fazer aqui, levante-se. - com dificuldade, ele se levantou, estava com tontura. Caminhou com passos desgovernados até a mesa de metal mais uma vez e se aproximou do corpo, deixando que uma única lágrima caísse. 
- Me... Me desculpe
- Ele não vai ouvir você, Carter. É tarde demais. 
Tudo ficou escuro novamente. 

"A dor da culpa é semelhante a de uma lança que perfura um peito ofegante. Ele não vê razões em continuar respirando, não entende por que ainda precisa fazer parte de um pesadelo constante. Quando fecha seus olhos, torce para que eles nunca mais se abram, ou que pelo menos façam isso em um lugar onde ele possa encontrar a liberdade que tanto almeja.
De fato, não é liberdade que ele encontra, apenas a continuação de uma estrada de fogo que parece nunca ter fim. Assim como sua dor e sua loucura, agonizantes como um doente terminal."



Antes que pudesse checar onde estava, sentia sua respiração descompassada. Os músculos de suas pernas trabalhavam a todo o vapor enquanto ele parecia estar correndo de algo que tentava lhe fazer mal. Enxergou a estrada escura e triste a sua frente, continuando a correr. Olhou para cima, vendo apenas um céu escuro e sem estrelas. Por mais que estivesse com um longo casaco preto e grosso, parecia estar sem roupa alguma. O frio era severo. 
Pequenos flocos de neve caiam sobre ele, o obrigando a correr mais rápido e tentar se proteger de algum jeito. Um cheiro forte de queimado foi captado por seu olfato e seus pés foram perdendo a velocidade, até pararem completamente, deixando Carter estagnado no meio da rua. 
Ao longe, avistou o que parecia ser apenas restos de um carro. Com o tempo que ia se aproximando, percebeu que o chão próximo ao local estava quente e seu corpo se livrou parcialmente do frio. Ele deu mais três passos e parou assim que se deu conta do que tudo aquilo se tratava. Olhou para baixo e engoliu em seco, sendo surpreendido pelo que só poderia ser um corpo carbonizado. 
- Pobre Bethany! - uma voz atrás de Carter o fez praticamente gelar, virando o corpo e percebendo que se tratava da mulher de antes. Sempre ela. Sua consciência. Logo estava parada ao lado de Carter, segurando um guarda-chuva vermelho, a fim de se proteger da tímida neve que ainda insistia em cair. Os dois se permitiram fitar mais uma vez o que um dia tinha sido um ser humano. 
- Isso é ridículo... Eu não matei ela. - Carter desviou o olhar do cadáver e encarou o nada, se sentindo aliviado pelo uma vez na vida. 
- E por que a Bethany fugiu, Carter? Ela era apenas mais uma vítima sua. Não estaria assim se você não tivesse obrigado ela a fazer o que fez. 
- Eu não obriguei ela a fazer aquilo
- As pessoas têm medo de você. Você é frio, Carter, frio e sombrio. - ela olhou para os olhos verdes e levantou uma sobrancelha, tomando o cuidado de ficar vários centímentros de distância dele. O homem apenas continuou em silêncio, abaixando o corpo e se ajoelhando na frente de Bethany. Ainda sentindo o calor do fogo que fora apagado pela neve, ele se pegou pensando no que tinha feito com a vida daquela mulher. Não a amava, nem de longe. Mas quando se passa tanto tempo com uma pessoa, é impossível não alimentar algum tipo de sentimento por ela. Bethany foi uma companheira de anos, mesmo que não do jeito certo. Mesmo que ela sempre estivesse sendo obrigada a fazer algo ruim, permaneceu ao lado dele. Provavelmente também havia alimentado sentimentos por Carter, caso contrário, teria arranjado um jeito de fugir antes. Mas aquele não era o ponto... Na verdade, não importava mais. Ela também estava morta. 
Carter a invejava. 
Assim como invejou Jared ao ver seu corpo frio e sem vida. Não fazia sentido que ele continuasse com um coração batendo no peito. Ele não. Queria morrer, queria se livrar de toda aquela porcaria... Não aguentava mais ter de ser obrigado a assistir sua própria vida se afundar cada dia mais, assistir seu corpo ser jogado por um precipício de emoções erradas e escuras, que só colaboravam para que ele ficasse cada dia mais perdido dentro da própria mente. Não sabia o que era viver uma vida de verdade, não passava de um robô controlado por uma força sem explicação. Mal se lembrava como sorrir, como se sentir realmente feliz por algo bom. Os prazeres que conseguia na vida lhe eram proporcionados por drogas ou sexo. Sexo que não fazia por amor, muito menos por empatia. Apenas por conveniência. Drogas só o tornavam aquela criatura ainda mais destestável e asquerosa. 
Carter se sentia podre por dentro, sem nada que pudesse consertá-lo. Se sentia um zumbi, sem nenhum propósito a não ser continuar a apodrecer e contaminar outras pessoas. No fundo, talvez sempre tenha esperado por alguém que fosse capaz de consertá-lo, por algo que lhe mostraria um caminho menos apertado e doloroso. Foi um tolo, esperou à toa. Ele afastava as pessoas... As poucas que conseguiram chegar perto, perderam a vida. Ele não acharia uma solução, o caminho não ganharia a luz do sol. A saída estava tampada pelos restos mortais daqueles que ele arrancou a vida sem pensar duas vezes. Mesmo que não com as próprias mãos. 
Sua consciência tinha razão, Bethany estava morta por sua causa. Simplesmente um fantoche em suas mãos, uma isca descartada. 
E ele jamais poderia ser consertado. 
- Guarde um pouco dessas lamentações internas para o que vai acontecer a seguir. - a mulher sumiu de seu alcance, deixando apenas seu guarda-chuva jogado ali perto. O chão embaixo de seus pés se desintegrou aos poucos, devolvendo-lhe a escuridão de antes. 

"Estar jogado ao desalento não é tão ruim se comparado a sensação de ruína. Como quando o corpo pede arrego, mas tudo que você consegue fazer é continuar a caminhar sob um sol escaldante. No fundo, ele sabe que não quer misericórdia, apenas quer um pouco de realidade. Lembrar de rostos inocentes é como ver um ente querido prestes a morrer, sem poder fazer nada. A lembrança desses rostos é traiçoeira e não cessa. Ele a desfigura, finge que não a enxerga. O arrependimento que sente é inútil, pois sabe que não existirá volta.
Ele está atrasado para um trêm que nunca chegará.
Espera por um sol que não mais nascerá. Pelo menos não diante de seus olhos.
E as vidas que imploraram por algum tipo de sentimento bom? Ele as arrancou, possuído por sua mente obscura." 



Carter percebeu que estava deitado em um gramado, e então levantou o corpo, ficando de frente para uma enorme casa sem qualquer tipo de iluminação. Mas, ao olhar para baixo e para as próprias mãos, percebeu que estava diferente. Não era o Carter homem, adulto. Era o Carter adolescente. Seu corpo era o do garoto de 16 anos, que já se deixava dominar pelo que era errado. 
- E nos encontramos mais uma vez, Carter. - ele não precisou se virar para saber de quem se tratava, mas quando a mulher parou ao seu lado e olhou para a casa, ele percebeu que ela também parecia mais jovem. Os dois ficaram parados, apenas encarando a fachada daquele imóvel abandonado. De repente, com um flash de memória, Carter se lembrou de onde estava. 
- Não! - ele disse, dando as costas ao lugar e tentando se afastar, com a típica expressão de pavor no rosto. - NÃO! AQUI NÃO! - quando tentou correr, foi como se tivesse tropeçado nos próprios pés, caindo no chão. A garota - não mais mulher - se abaixou perto dele e o ajudou a levantar. - Eu não quero! Qualquer coisa, menos isso... 
- Por que o que está lá dentro te assusta tanto, Carter? Pelo menos o corpo não está carbonizado. - ela deu de ombros e caminhou na direção da entrada, puxando a porta e entrando rapidamente. Olhou para trás e percebeu que Carter se aproximava com cautela. Ele passou pela porta e sentiu tudo aquilo de novo, olhando para a enorme escada e evitando deixar que seus olhos chegassem ao chão. 
Ele sabia muito bem o que estava no chão.
- Eu só queria entender porque eu tenho que ver essas cenas em ordem errada. - ele quis saber. O primeiro corpo que viu foi o de Jared, mas na verdade deveria ter sido o que estava dentro daquela casa. 
- Ah, mas quem disse que você os vê nessa ordem? - a garota balançou a cabeça negativamente, como se o chamasse de burro e levantou o dedo indicar para explicar. - Você os vê de acordo com a maneira que cada morte te afetou. A de Jared não pareceu afetar tanto, Bethany... Mais ou menos. Agora, a de Erin... 
- Não diga esse nome! - ele voltou a deixar que a dor dominasse seu semblante e virou o corpo, ainda não querendo enxergar o corpo e a roda de sangue no chão. 
- Bastou o olhar de esperança de Erin Fields para que você mudasse a forma de se sentir a respeito dela. Não se lembra daquela noite, Carter? Quando ela usou aquelas palavras... Não precisa ser assim. Você viu esperança nos olhos dela, esperança em você. Ninguém nunca tinha se dado ao trabalhar antes, não é? Você percebeu que queria que alguém acreditasse em você. Erin era uma pessoa pura e boa demais, ela conseguia ver bondade até em um monstro... E, então, você desejou que ela pudesse ser a pessoa que te libertaria de tudo aquilo. - Carter fingia não ouvir, já estava jogado no chão de novo, abraçando as próprias pernas e batendo o queixo nos joelhos. - Você sabe o que poderia ter acontecido naquela noite, mas não aconteceu... Você sabe que a esperança que ela viu em você não foi totalmente em vão. - a garota se ajoelhou ao lado do corpo de Erin, que estava de bruços e observou seus olhos abertos. O buraco em sua cabeça estava presente, a cena era exatamente a mesma... Apenas uma coisa estava faltando. - Com isso, você não afetou apenas a vida dessa garota, mas a vida de outra pessoa... Várias delas, na verdade. 
Carter olhou o corpo de Erin pela primeira vez, se deixando corroer pelas malditas memórias. 
- Ela me disse que ainda restava tempo para voltar atrás, que nem tudo estava perdido... 
- Exato, mas agora ela está morta. E você perdeu o único ser que era capaz de ver esperança em sua pessoa. 
- Talvez exista outra pessoa, talvez... - o jeito que ele falava era descontrolado, como se estivesse a beira da insanidade. Seus olhos verdes eram perdidos. 
- Não, não existe. Eu sei que não existe, e você também sabe. Mas, mudando de assunto, está pronto para o nosso próximo passeio? Na verdade, é o último antes da surpresinha que eu preparei para o final. 
Ele sabia do que ela estava se referindo, sabia que aquele seria o pior momento de todo aquele devaneio. Mas, talvez, fosse bom ver o rosto dela de novo. Então, sem esperar que a garota ao seu lado sumisse, ele mesmo fechou os olhos e esperou pela escuridão. 

"Será que ele sabia o que era o amor? Sentimento tão raro e descabido. Talvez o que ele teve foi apenas um vislumbre do que poderia ter sido uma história com um final diferente. De qualquer maneira, não importava, porque nem o amor impediria que ele continuasse a caminhar a esmo. Mas podia se lembrar de sua voz, seu rosto, o jeito brando como se sentia quando ela estava por perto. O único momento em que a insanidade parecia adquirir fraqueza.
Tolice.
Ela não pertencia a ele, os olhos dela não brilhavam de alegria e paixão por ele. Mais uma vez, o excluído. Ela não era dele no passado, tampouco seria no futuro. Ela não tinha mais futuro, aquela mulher não tinha mais nada. Não existia mais. Sua esperança mais uma vez se apagou, como uma vela colocada em uma janela que sofre pela tempestade.
Seria mais inteligente se nunca tivesse se deixado levar por aquele momento, porque o antídoto trocou de lugar com o veneno, presenteando-lhe com uma morte lenta. Uma morte interior."


(n/a: Coloque Vermilion Pt. 2 do Skipknot para tocar!)


As luzes da cidade, juntamente com a da lua, o receberam gentilmente assim que abriu os olhos. Automaticamente suas mãos seguraram nas barras de metal, que impediam seu corpo de cair no mais completo abismo. Carter tomou fôlego e olhou para baixo, sentindo uma tontura e um embrulho no estômago ao tomar consciência de toda aquela altura. Seu corpo se congelou quando ele ouviu uma espécie de fungar ao seu lado, e então virou o rosto, se perguntando se aquilo era uma ilusão. Assim como todas as outras. 

She seemed dressed in all of me
Stretched across my shame
All the torment and the pain
Leaked through and covered me
I'd do anything to have her to myself
Just to have her for myself...


Margo estava sentada em cima de uma grade de proteção, com as pernas soltas no ar. Seus olhos não sabiam se encaravam o abismo ou o céu escuro, mas Carter foi capaz de enxergar a lágrima que escorria solitária pelo bochecha pálida daquela mulher. Pelo menos naquela visão, ela ainda estava viva. Talvez ele pudesse fazer alguma coisa para salvá-la, só precisava chegar mais perto...

Now I don't know what to do
I don't know what to do
When she makes me sad.


Quando ele se esforçou para encostar sua mão na dela, Margo se assustou e soltou um grito estridente, deixando que seu corpo fosse um pouco mais para a frente. Ela e Carter se olharam nos olhos, e aquilo foi o suficiente para que ele pudesse matar a saudade que estava acumulada há tantos anos. Com medo de que o momento não durasse, ele estendeu sua mão e fez um carinho sem jeito no rosto dela, que fechou os olhos. Sugou o ar dolorosamente, antes de se esquivar de Carter e olhar para o abismo por uma última vez. Margo não olhou mais para ele, fingiu que o homem não estava ali. Carter sentiu algo apertar dentro de seu peito e sussurrou o nome dela, como se de um jeito ou de outro fizesse alguma diferença. 

She is everything to me
The unrequited dream, a song that no one sings
The unattainable
She's a myth that I have to believe in
All I need to make it real is one more reason
And I don't know what to do, I don't know what to do
When she makes me sad.


O corpo de Margo se soltou da barra de ferro e Carter não teve nem tempo de olhar para seu rosto mais uma vez. Ouviu sua própria voz pronunciar a palavra "NÃO!" de uma maneira desesperada, sufocada. Se debruçou na sacada, e se pôs a esbravejar, olhando fixamente para baixo. Suas lágrimas deixavam seus olhos e percorriam a longa distância até o chão, onde o corpo sem vida de Margo já se encontrava. 
Margo... - ele começou, como se falasse consigo mesmo. - Margo, por favor, não me deixe! - engoliu o choro, vendo uma oportunidade perfeita. Tomou impulso e logo estava do mesmo jeito que ela, sentado na grade de proteção. 

But I won't let this build up inside of me
I won't let this build up inside of me
I won't let this build up inside of me
I won't let this build up inside of me


O vento fez uma carícia em seu rosto. 
MARGO! - ele gritou, ainda olhando para baixo. Talvez, alguma parte debilitada de seu ser ainda acreditasse que ela poderia voltar para ele. 
- Se você se jogar, vai apenas acordar. E eu tenho certeza que não é isso que você quer, não agora. - sua consciência se aproximou, se encostando na sacada e olhando o mesmo ponto que ele. De dentro de seu sobretudo, ela retirou um papel dobrado e o abriu, lendo as palavras apenas com os olhos, antes de ler em voz alta. - Margo Quick foi a única pessoa que Carter amou verdadeiramente. Mesmo não permitindo que esse sentimento fosse demonstrado, era a única coisa viva que era capaz de sentir dentro de seu corpo. - ela parou de ler e ele desistiu de se jogar, virando o corpo e ficando com as pernas viradas para o lado de dentro. - O grande problema, é que Margo nunca sentiu nada por ele. Por ela, ele tentaria largar aquela vida; por ela, ele deixaria sua humanidade entrar em ação. Mas, justamente por ela, tudo que conseguiu fazer foi se afundar. 

A catch in my throat
Choke
Torn into pieces
I won't, no
I don't want to be this.


- Por que eu tenho que ver isso? Eu nunca seria capaz de matar a Margo... Qualquer um, menos ela. - Carter se soltou da grade e logo estava de pé no chão de novo, olhando a mulher de um jeito que despertaria pena em qualquer ser humano. 
- Se esqueceu do que ela teve que fazer? Margo nunca se recuperou daquele segredo, e, assim como você, ela não procurou ajuda. Permitiu que as sombras e a insanidade cobrissem totalmente seu bom senso. Ela não via mais sentido em nada, estava tão perdida quanto você. - ela olhou para baixo mais uma vez, apontando com o dedo indicador o abismo. - A culpa a obrigou a fazer isso, Carter. 

I won't let this build up inside of me
I won't let this build up inside of me
I won't let this build up inside of me.

She isn't real
I can't make her real
She isn't real
I can't make her real.


- Então por que eu não posso fazer o mesmo? - Carter se sentia uma criança inocente e sem conhecimentos o suficiente. Sentia a necessidade de questionar tudo que estava acontecendo ao seu redor. A mulher se aproximou e colocou sutilmente sua mão no ombro dele, que virou o rosto apenas para sentir o vento, que no momento era seu único amigo. - Eu poderia ficar com ela se isso acontecesse. 
- E quem garante que você a encontraria do outro lado? Não era você que ela amava. Mas, pelo menos você sabe que sentiu o amor verdadeiro pelo menos uma vez em vida, não é? Não foi totalmente um desperdício, se quer saber. 
- Podemos sair daqui? - ele implorou, já sentindo algo em sua cabeça começar a queimar de novo. 
- Sim. Agora que isso acabou, chegou a hora da minha surpresa. Está pronto? 
- Não. - ele negou com a cabeça, não tendo escolha a não ser esperar que tudo ao seu redor sumisse. Precisava aguentar só mais um pouco, estava prestes a acabar. 

"E se ele pudesse fazer qualquer coisa, com certeza voltaria no tempo. Cruzaria a estrada esburacada e repararia os danos feitos em tantas direções. Se ele pudesse escolher qualquer coisa para ver, seria a si mesmo no espelho, para que assim pudesse perceber que algo estava errado. Ele teria procurado ajuda. Se tornou escravo da mente, serviçal da escuridão. O ar que respirava era contaminado. Contaminado com as mentiras que contou e as sequelas que deixou.
E, se o único jeito de parar for tendo a vida arrancada por outras mãos... Que assim seja."



Estava em um local iluminado apenas por velas. Tentou se mexer, sentindo os músculos reclamarem. O ambiente era fechado e sua iluminação era alaranjada, contrastando com os móveis de madeira que estavam ao redor. Ele procurou por algum sinal de vida, mas não foi exatamente aquilo que encontrou. 
Sentada em uma cadeira de balanço, no canto do cômodo, estava Erin Fields. Ela tinha um livro sobre seu colo e os olhos estavam fechados, como se tivesse caído no sono. Os cabelos curtos e loiros estavam levemente enrolados e suas bochechas estavam coradas como sempre. No corpo, o vestido branco que cobria seus pés. 
De repente, como se soubesse que estava sendo observada, os pequenos e frágeis olhos se abriram, localizando Carter no mesmo instante. 
Ele desviou o olhar e encontrou um homem sentado na cama de casal ao seu lado. Jared McDowell também parecia extremamente sereno. Seus cabelos loiros estavam desgrenhados, exatamente como gostava de deixá-los. Os olhos castanhos fitavam o chão de madeira. Em seu corpo, uma camisa de tecido branco e leve, exatamente como suas calças que também eram brancas. Assim como Erin, ela estava descalço. 
Quando o homem loiro virou o rosto e olhou para Carter, o mesmo desviou mais uma vez e ergueu o rosto, piscando algumas vezes antes de receber um olhar de Bethany Walsh, que parecia lamentar por algo. Ela estava deitava em um pequeno sofá de cor marrom, que se encontrava no centro do lugar. O vestido em seu corpo era um pouco justo, salientando suas curvas, mas nem por isso estava vulgar. Os cabelos ruivos estavam feitos em uma trança frouxa, que caia para um dos lados de seu corpo. Ela o olhou mais uma e levantou um dos cantos dos lábios, permanecendo estática. 
A porta de madeira da casa se abriu, revelando que uma tempestade começava do lado de fora. A mulher tirou sua capa de chuva de plástico e a jogou em um dos cantos da sala. Pegou uma cadeira e caminhou até Carter, sentando ao seu lado. Irritando um pouco Carter, ela tirou um papel do bolso pela terceira vez e não esperou para começar a ler, como tinha feito nas outras vezes. 
Jared seria pai, e isso o tornaria uma pessoa imensamente feliz. - ela olhou para Jared, que estava triste, com os olhos fundos e a pele mais pálida do que costumava ser. - Erin teria se tornado professora, mas veria seus alunos como filhos e amigos, seria a profissão que ela exerceria com total boa vontade. - o livro que estava no colo de Erin caiu no chão e ela estava com o mesmo semblante triste e vazio de Jared. - Provavelmente, Bethany teria se tornado uma atriz, pois gostava de atuar. Conseguiria sucesso, sim, mas também aprenderia bastante com a vida. E isso a tornaria uma pessoa melhor. - Carter olhou para a mesma e percebeu que ela estava sentada no sofá, olhando tristemente para uma televisão que tinha sido ligada. 
- Você pretende me matar de desgosto? Continua a mostrar tudo, a fazer com que minha cabeça fique prestes a explodir a qualquer momento e... - ele se calou e sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Um cheiro de perfume forte e cítrico entrou em suas narinas. A mulher que estava sentada na cadeira ergueu apenas um dedo e indicou que alguém estava ao lado de Carter. 
Lentamente ele virou o rosto, e então se deparou com Margo. 
Carter tinha se esquecido de como o contraste de seus olhos claros, juntamente com sua pele branca e cabelos escuros era algo bonito de se olhar. Ela estava sem nenhuma maquiagem, diferente de como era vista em vida. Em seu corpo, apenas um vestido branco e curto, com algumas rendas pelo busto. Os cachos bem feitos do cabelo caíam em seus ombros e ela sorriu levemente, obrigando Carter a sorrir também. 
Sim, ele sorriu
Não o sorriso maldoso e vingativo... Era um sorriso simples e puramente feliz. Talvez ele nunca tivesse sorrido daquela maneira antes. 
Margo não amava Carter no passado, mas, com tantas voltas que a vida dá, ela perceberia que ele era a escolha certa. Se Carter não tivesse se rendido a uma vida completamente instável,Margo teria aprendido a amá-lo. Não é sempre assim que acontece? Uma hora ou outra aceitamos o que nos faz bem. Sim, ele teve a oportunidade de tê-la única e exclusivamente para ele, mas jogou no lixo
- Isso... - ele começou, com os olhos arregalados, sentindo o coração prestes a rasgar seu peito. - Isso não é possível! Como eu saberia que uma hora ou outra ela estaria comigo? Não faz sentido! - Carter estava chorando de novo. - Se eu soubesse que ela seria minha, eu... - um som de efeito calmante fez a fala se Carter ser cortada: a voz de Margo chamando seu nome. Ela o olhou mais uma vez e ele sentiu sua pele entrando em contato com a dela. Suas mãos se entrelaçaram. Margo sorriu mais uma vez e se aproximou, depositando um beijo em seu rosto. Mesmo gelada, ela ainda conseguia acalmá-lo. 
Aquilo foi tudo que ele apenas conseguiu jogar fora. 
Erin, Jared e Bethany sumiram e, respectivamente, três das velas do recinto se apagaram. Margo segurou o rosto de Carter por uma última vez, antes de rir docemente e também desaparecer. Outra vela se apagou. 
Das restantes, uma a uma foram se apagando, deixando Carter desolado e sozinho. A mulher se levantou da cadeira e deu passos rápidos até a porta, a abrindo e mostrando novamente a chuva. Ele se levantou e ela indicou que ele deveria sair por ali. E assim ele fez, se deixando molhar pelos pingos grossos e gelados. Se viu sem direção, conseguindo apenas ouvir uma voz, mas aquela era dentro de sua cabeça. 
"As coisas seriam de outro jeito se você não fosse tão fraco. Elas seriam do jeito que você está prestes a ver..."
Em alguns instantes, uma prévia do rumo que sua vida deveria ter tomado entrou em foco...

(n/a: Leia a próxima cena ao som de The Drugs Don't Work do The Verve)


Ele caminhava por entre várias pessoas, no que só poderia ser um dia quente de verão. Todos ao seu redor pareciam despreocupados e alegres, conversando e rindo entre si. Carter percebeu que o idioma não era o inglês, mas sim o francês. Ele se deixou dar mais alguns passos e levantou o rosto completamente, olhando abismado para cima. Estava em Paris? 
O lugar em que nasceu e que se cansou de frequentar com sua mãe quando ainda era apenas uma criança. Se lembrava de quando ela o levava para passear em um parque cheio de flores e que tinha aquela linda vista para a Torre Eiffel
Era exatamente naquele parque que ele estava. 
Escutou risadas e um diálogo em inglês atrás de si, se virando e tomando um susto. Um casal se aproximava, e o homem carregava uma garotinha no colo. Poderia ser um casal qualquer, mas não... Carter estava enxergando ele mesmo. E a mulher cujo ele segurava a mão, era Margo. Os dois passaram por ele, mas não notaram sua presença. Provavelmente, ele estava invisível naquela ilusão. 
Sentindo-se curioso para saber o que aconteceria com aquele casal, ele os seguiu e parou de andar quando perceber que Margo tinha se sentado ao lado de uma canteiro onde diversas flores deixavam o ambiente ainda mais bonito. Ela riu e o homem que tinha a mesma aparência que a sua se sentou ao lado dela, ainda segurando a garotinha. Margo se aproximou da filha e escurou pacientemente enquanto ela dizia de um jeito enrolado que queria sorvete. Carter assistiu Margo se levantar e passar rapidamente por ele, indo em busca do sorvete para a filha. O homem continuava sentado no banco, mas não tinha mais a menina em seus braços, a mesma já tinha se livrado dos braços dele e ido para mais perto do canteiro, retirando com certa dificuldade duas margaridas. 
Uma delas ela entregou para o homem, o fazendo entender que ela queria que ele a colocasse nos cabelos dela. E foi exatamente o que ele fez, pegou a flor com cuidado e colocou atrás da orelha pequena e delicada da menina, que sorriu ao perceber o que o pai tinha feito. Ela continuava a segurar a outra rmargarida, olhando ao redor, procurando sua mãe e seu sorvete. 
- Hey, Melanie, essa outra margarida é para quem? - Carter se assustou ao perceber que a voz de homem era idêntica a sua. Então aquilo estava mesmo acontecendo, ele estava diante de um destino que poderia ter sido seu. Estava em Paris, com Margo... E tinha uma filha. Seu nome era Melanie e ela tinha os cabelos cacheados e dourados. Os olhos da menina eram verdes, assim como os seus. O homem deu um beijo na ponta do nariz da pequena e a segurou pelos bracinhos. 
- Mamãe... - escutou Melanie dizer com a voz bem fininha, arregalando os olhos verdes ao perceber que a mãe estava se aproximando. Carter viu Margo passar por ele mais uma vez e sentiu todos os seus órgãos se revirarem quando Melanie estendeu a margarida para sua mãe, revelando um sorriso que ainda não contava com todos os dentes. Margo pegou a flor e também sorriu, se sentando e oferecendo o sorvete para Melanie, que se empolgou e começou a aproveitar o gosto doce. O homem idêntico a Carter e sua esposa se olharam apaixonadamente e seus lábios se juntaram, iniciando um beijo. A pequena que estava no meio deles olhou para cima e, lambuzada de sorvete, começou a rir. 
Achava o que seus pais estavam fazendo engraçado. 
Durante o beijo, eles não conseguiriam se segurar e riram também, vivenciando um momento feliz em família. Era como o paraíso. 
Mas é claro que nada daquilo era real. 
Carter teve apenas tempo de virar o rosto, e então perceber que um veículo vinha desgovernado em sua direção. 


Ele levantou seu tronco subitamente, sentindo o corpo mole. Esfregou os olhos algumas vezes, até que conseguisse os abrir completamente. Enquanto fazia isso, percebeu que as tatuagens estavam em seu braços. Ao levantar a cabeça e olhar para frente, encontrou seu quarto. Estava mesmo acordado. 
Depois de perceber que o frasco com os comprimidos tinha caído no chão, ele olhou para o relógio e perceber que dormiu por várias horas. Tudo que tinha vivenciado durante aquelas horas, não passou de um mero sonho, vários deles. Nada daquilo era verdade, não fazia sentido. A menos que os espíritos das pessoas que morreram por sua causa tivessem tomado a decisão de aparecer para ele daquela maneira, indicando como as coisas poderiam ter sido. Ou ele apenas tinha chegado ao último estágio da loucura. 
Se levantou, cambaleando e escorando o corpo em uma parede, não conseguindo tirar aquela pequena garotinha de seus pensamentos. Era sua. Era fruto de um amor que deveria ter tido com Margo. Desejar aquela vida se tornou inevitável e impossível. 
Ele saiu do quarto e se engasgou com a própria saliva, parando por um instante e colocando a mão no peito, tentando respirar direito. Ainda estava vendo tudo dobrado, ainda se perguntava se tinha mesmo voltado para a realidade. Viver no mundo dos sonhos não era uma experiência tão ruim, pelo menos lá ele era capaz de ver pessoas que nunca mais veria de verdade. 
Assim que sua respiração se estabilizou, Carter tomou uma decisão. E faria aquilo acontecer de qualquer maneira. 
Ouviu seu celular tocar, mas não sabia onde ele estava. Depois que conseguiu localizá-lo com muita dificuldade, apenas apertou o botão e o colocou próximo a orelha, permanecendo em silêncio. 
Vá até a porta, tem uma surpresinha. - após as breves palavras, seja lá quem estava do outro lado da linha desligou. A voz era familiar, se ele tivesse que escolher um nome, com certeza seria Scarlett. 
Carter jogou o celular em qualquer lugar e tentou chegar até a porta de entrada, forçando a vista e enxergando um pequeno cartão de cor vermelha jogado. Se abaixou e largou o corpo no chão, pegando o cartão com a mão dormente. No entando, entre todas as palavras escritas com caneta preta, conseguiu enxergar apenas a palavra "Inferno"
Os cantos de seus lábios se levantaram, o típico sorriso malicioso se formou. 
Era a oportunidade perfeita. 

And everything I was
And everything that I've become
Just falls into the end...

Um comentário:

Sem comentario, sem fic ;-)