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quinta-feira, 12 de junho de 2014

Secretary II - Capítulo 17 (Parte 1)


Família




Aeroporto Internacional de Genebra, Suíça.

Merci! - ouvi Cameron dizer para alguém que estava atrás de mim. Após passar pelo portão de desembarque com nossas malas, caminhamos por um enorme corredor bem iluminado e movimentado. As janelas de um lado eram enormes e possibilitavam ver outros aviões decolando e aterrisando. Ele se ofereceu para levar minha mala com rodinhas também, mas eu neguei com a cabeça e continuei a caminhar. 
- Desde quando você fala francês? - perguntei, tentando descontrair. Talvez ter ido para a Suíça não tivesse sido uma boa ideia, talvez estar ali com Cameron fosse totalmente errado. Mas já estava feito, logo estaríamos na casa de minha mãe. 
E eu não saberia o que dizer quando ela percebesse que o homem que estava comigo não era Joseph. 
- Na verdade eu só sei dizer obrigado, bom dia e boa noite em francês. Sabe como é, pesquisei no google... - ele riu de leve quando terminou de falar e tirou os óculos escuros, os prendendo na gola da blusa cinza de mangas compridas que usava. Seus olhos estavam inchados por ter dormido demais no avião. Eu tentava olhar tudo aquilo como algo natural. Eu e Cam poderíamos ser amigos, certo? Não tinha nada de errado no fato dele estar viajando comigo daquela maneira. Eu tentava me convencer daquilo... Sem sucesso. O pior de tudo foi perceber que ele aparentava estar muito sereno com tudo. Apenas caminhava ao meu lado, levando sua mala e olhando para todos os lados. Talvez eu pudesse mesmo começar a chamá-lo de anjo da guarda ou algo parecido. 
Depois que andamos mais um pouco, outro corredor se revelou a nossa frente a algumas pessoas esperavam por aqueles que tinham acabado de aterrisar, assim como nós dois. Nem precisei procurar muito, logo encontrei meu irmão Peter em uma das laterais do lugar. Seus cabelos estavam mais curtos e ele parecia mais alto do que nunca. Aquela garoto nunca pararia de crescer? 
Quando decidi que precisava escapar de toda a tragédia em Londres e ir ficar com minha mãe e meu irmão em outro país, os avisei no mesmo instante. Os peguei de surpresa, mas é claro que minha mãe me estimulou a não desistir da viagem. Obviamente ela estava em casa, esperando que eu aparecesse com meu marido
Ao lado de Peter, uma garota um pouco mais baixa que ele, de pele extremamente branca, cabelos castanhos e sardas pelo rosto também olhava para mim e para Cameron. Eu logo suspeitei que se tratava da namorada de meu irmão. 
Demetria! - Peter veio até mim, abrindo os braços e quase me fazendo sumir por entre eles. Seu inglês era engraçado, carregado de sotaque francês. Quando nos soltamos, ele olhou para Cameron e depois para mim novamente, abrindo a boca para dizer algo, mas olhou para a garota ao seu lado e pareceu mudar de ideia. - Essa é Anne, minha namorada. 
- Oi, Anne. - eu disse, a cumprimentando com beijos na bochecha. - Você fala meu idioma? 
- Sim, sim. - ela disse, levemente tímida. - Não sou daqui, me mudei ano passado. Antes eu morava em Seattle, nos Estados Unidos. 
Por um instante, foi como se todos estivessem se esquecido de Cameron. Olhei para ele, que estava parado ao meu lado e sorria sem mostrar os dentes. 
- Ah... Então, esse é meu... - meus lábios se fecharam em uma linha reta e eu olhei para Cam novamente, como se pedisse permissão para dizer as palavras. - Esse é meu amigo Cameron. Ele mora em Londres também! 
- Oi, Cameron! - Peter e sua namorada disseram em uníssono. A garota estava alheia a tudo que se passava entre nós três. Eu sentia que Peter estava se segurando para não perguntar onde diabosJoseph estava e porque eu estava indo visitá-los com um amigo
- Olá, Peter... Você é realmente identico a sua irmã. Só que bem mais alto... Olá, Anne! 
- Vocês querem ir direto para casa ou querem fazer uma parada em algum lugar? - Peter perguntou, tentando quebrar o clima pesado. Cam deu de ombros, deixando a decisão para mim. 
- Vamos para casa. - eu disse, voltando a andar pelo corredor. Talvez estar em um ambiente familiar me fizesse algum bem... 
Fomos até o estacionamento do aeroporto e entramos no carro novinho em folha de Peter. Fiquei orgulhosa ao saber que ele já estava dirigindo. Sua namorada sentou na frente, ao seu lado; eu eCameron ficamos atrás. 
Depois de um olhar tenso que se cruzou, ele voltou a colocar os óculos e virou o rosto para encarar a paisagem coberta por neve que passava por nós. 


Cameron's P.O.V

Tudo aquilo era inacreditável. Quem poderia imaginar que eu estaria na Suíça com Demetria, indo visitar sua família? Na verdade, era tudo bem estranho. Eu me sentia como um intruso, uma peça que não encaixava no quebra cabeça. Mas eu tinha feito uma promessa... Precisava cumpri-la. Eu estaria mentindo se dissesse que tudo aquilo não tinha me pegado de surpresa. Quando Joseph me procurou e deixou claro que queria que eu cuidasse de sua esposa, achei que era algum tipo de brincadeira de mau gosto. Deus, quem poderia imaginar que o homem que já tinha tentado me matar daria aquela tarefa para mim? 
Outra pessoa provavelmente se recusaria a cumprir tal promessa, mas eu não... Era de Demetria que estávamos falando. 
Quando o carro parou em uma rua onde os outros carros e todo o resto estava praticamente cobertos por neve, a mulher ao meu lado abriu a porta rapidamente e saiu, sem esperar por mim. Repeti seus movimentos e sai, sentindo o frio aumentar. Eu estava acostumado com a neve de Londres, mas aquela parecia mais intensa. 
A casa a nossa frente era enorme e um jardim totalmente branco e escorregadio estava diante dos nossos pés. A enorme porta de madeira se abriu e uma mulher muito parecida com Demetria surgiu, sorrindo ao ver a filha. 
Sim, eu me lembrava daquela mulher. Sue Lovato, mãe de Demetria. 
Logo as duas estavam se abraçando e eu me sentia um peixe fora d'água de novo. Será que ter viajado com ela foi um erro? Me surpreendi por Demetria não ter recusado meu pedido para acompanha-la, mas eu estava começando a pensar que poderia não ser a coisa certa. Os olhos atensiosos de Sue me encontraram e ela voltou a olhar para a filha, levantando uma sobrancelha. Passou pela irmão de Demetria e por Anne e veio até mim, me recebendo com um abraço, mesmo que, provavelmente, não soubesse meu nome. 
Bonsoir! - eu disse, correspondendo sem jeito seu abraço e ela riu, colocando uma mão em meu ombro. 
- Não se preocupe, querido, eu falo seu idioma. Sei que é inglês. - ela disse amigavelmente com um sotaque forte. Demetria nos olhava de um certa distância. Ela respirou fundo e caminhou pela neve até a enorme porta da casa, sem olhar para trás. - Amigo da Demetria, qual é o seu nome? 
Cameron, Cam... Você é quem sabe. 
- Ok, Cameron. Entre! - ela apontou para a porta quando os outros já estavam do lado de dentro. 
A casa de Sue era bem bonita. Na verdade, todo aquele lugar era bonito. Genebra parecia um lugar muito bom de se viver. O que Demetria fazia em Londres há tantos anos, já que o resto de sua família vivia naquele outro país? 
- Onde está o Joseph, Demetria? - escutei a conversa que Sue começava com sua filha. Esperei para ouvir a voz de Demetria, mas demorou muito. Provavelmente ela não sabia o que dizer. Parei ao lado de uma parede com vários porta-retratos pendurados. Pude reconhecer Demetria em várias das fotos. Em uma delas ela estava vestida exatamente como nos tempos de colegial, eu me lembrava bem. Em outra era apenas um bebê... Os olhos tão lindos como sempre. 
- Ele está ocupado em Londres. - a voz de Demetria soou baixa. 
- É uma pena que ele não esteja aqui. Mas nós temos outro convidado, não é? - ela olhou sorridente para mim. - Suba, por favor, vamos arrumar um quarto para você! - sem questionar, a acompanhei e subi um lance enorme de escadas. Ajeitei minha mala no canto do quarto que seria meu durante o tempo que ficasse e saí pelo corredor, dando de cara com Demetria. Ela tentou passar reto por mim e descer as escadas, mas eu a impedi. 
- Tem certeza que eu ter vindo com você foi uma boa ideia? - eu disse sem cerimônias e ela me olhou sem jeito, como se implorasse por alguma coisa. Eu queria poder fazer algo para mudar o jeito que ela estava se sentindo, mas Demetria não deixava eu me aproximar
- Não vejo problemas nisso... - ela me olhou nos olhos. - Só peço que não tente nada. - deixou aquelas palavras bem claras e eu engoli em seco, imaginando o quanto torturante aquela viagem seria.
- Não se preocupe, eu sei me conter. 
- Isso é muito bom. 
- Nós precisamos conversar, se for possível agora... 
Cameron, acabamos de chegar em Genebra! - seu tom de voz era alto, porém cansado. Ela mexeu nos cabelos e suspirou. - Só me dê um tempo para poder respirar de novo. 
- Claro, o que você quiser. - eu disse e voltei para dentro do quarto, dizendo para Sue que precisava descansar um pouco naquele quarto estranho e fechei a porta. O que diabos eu estava pensando, afinal? Quem eu era para estar naquela casa, naquela quarto e com aquela família? Demetria não queria nada comigo, só estava aceitando que eu cuidasse dela. Mas, mesmo assim, eu não conseguia me sentir diferente. Me encostei na porta fechada e encarei a cama arrumada a minha frente, respirando fundo e tentando colocar os pensamentos em ordem. 
"Só peço que não tente nada." 
- Como se isso fosse fácil... - murmurei exasperado. 


(n/a: Coloque He Won't Go da Adele para tocar!)

No dia seguinte, o irmão de Demetria sugeriu que fossêmos conhecer alguns lugares de Genebra. Depois de um café bastante reforçado preparado por Sue, saímos e entramos no carro. Peter ia passar na casa da namorada para levá-la conosco. Demetria estava quieta, pensativa, com o olhar perdido. Mas isso não a impedia de continuar tão... Ela. Os cabelos escuros estavam soltos e toda vez que ela se mexia, aquele perfume entrava em minhas narinas. Como eu poderia não sentir nada com aquele ser por perto? 
Autocontrole? Como se eu ainda soubesse o que aquilo significava... 

Depois que fomos em alguns museus e outros pontos turísticos, Peter e a namorada nos levaram até um enorme parque. As árvores e o chão estavam cobertos por neve, o que tornava a paisagem ainda mais relaxante. O irmão de Demetria chamou a namorada e eles saíram de perto de nós, alegando que voltariam logo. Demi ficou parada ao meu lado e depois continuou a caminhar, sem esperar que eu fosse atrás dela. Apertei o passo e tentei alcançá-la. Parecia uma criança que não queria estar no lugar onde estava, então ficava andando de um lado para outro com uma cara feia. 
- Não sei se sabe disso, mas você não tem mais 5 anos, Demetria... - eu disse, finalmente conseguindo ficar ao lado dela e acompanhando seus passos rápidos. 
- Por que está dizendo isso? - ela disse, ofendida, mas mão me olhou. 
- Você não vai contar para a sua mãe e seu irmão o real motivo de Joseph não estar aqui? Digo, é totalmente embaraçoso receber os olhares que eu estou recebendo. Não que eles estejam descontentes com a minha presença, mas é óbvio que outro homem deveria estar aqui com você e... 
- O homem que deveria estar aqui comigo está preso, Cameron. E por algum motivo, que eu me obrigo a não pensar, ele fez com que você se tornasse o meu anjo da guarda. - ela fez aspas com os dedos, seu semblante era irritado. - Então, por favor, não torne tudo mais difícil. 
- Tornar tudo mais difícil? Foi você que decidiu fugir, Demetria. Eu apenas te segui. 
- Ah, agora eu escolhi fugir? Como se tivesse escolha, né? Joseph não quer me ver, Carter quer fazer sei lá o que comigo, você... - sua voz parecia tão desesperada que eu não aguentei e a impedi de continuar. 
- Eu vou te abraçar agora. - ela se calou quando sentiu meus braços envolverem seu corpo. Para a minha surpresa, ela não tentou fugir, apenas ficou imóvel, esperando que eu a soltasse. Quando o fiz, ela me olhou como se tivesse um ponto de interrogação no rosto e eu tirei um floco de neve que estava em seu cabelo. 
- Eu... - a cortei de novo, prevendo que ela estava começando a se irritar com aquela atitude minha. 
- Não posso te abraçar do jeito que eu quero, mas posso do jeito que você precisa, então não vou hesitar. 

Demetria's P.O.V

Cameron ainda conseguia me surpreender. Sim, ele me surpreendia com atos que outras pessoas considerariam insignificantes. Mas só quem passa por um momento complicado sabe a diferença que um simples abraço faz, se for sincero. No fundo eu tinha medo de ter qualquer tipo de contato com ele, porque nossa última experiência não tinha sido boa. Eu ainda me arrependia de ter ficado daquele jeito na casa dele, de ter permitido que ele me dissesse todas aquelas coisas... Mas, quando eu olhava em seus olhos, não conseguia impedir uma sensação agoniante no peito. 
Ele gostava de mim, gostava muito de mim. E, mesmo sem querer, eu acaba o magoando. 
Mas o que fazer? Fingir que eu não estava enxergando o que estava bem diante dos meus olhos e não me preocupar com o sofrimentos das outras pessoas, só com o meu? Aquele era o problema, e talvez eu realmente precisasse passar por situações novas, tirar todo aquele martírio da cabeça pelo menos por um tempo. 
- Obrigada. - foi tudo que eu disse e nós dois continuamos a caminhar. O parque era enorme e estava lindo. A neve cobria tudo com perfeição, e era tão branca que quase fazia meus olhos doerem ao olhá-la. 
- Quero te contar uma coisa... - Cameron enfiou as mãos nos bolsos do casaco azul que usava, deixando que um leve sorriso se formasse em seus lábios. Aquela criatura nunca parava de sorrir daquele jeito? 
- Estou ouvindo. 
- Lembra quando você passou aquela noite na minha casa e no dia anterior me falou sobre um garoto que conheceu no orfanato? - concordei com a cabeça. 
- Sim, me lembro. O Jamie. 
- Sim, o Jamie. - ele preferia não me olhar enquanto falava, eu estava ficando curiosa. 
- O que tem o Jamie? 
- Eu fui visitá-lo há algumas semanas. 
- O quê? Mas como... 
- Eu fiquei interessado, pesquisei e acabei encontrando o orfanato em que ele está. Cabelos pretos, olhos azuis, extremamente sério... É esse, não é? 
- Sim, estamos falando da mesma pessoa. - sorri ao lembrar de Jamie. - Mas por que você fez isso? 
- Qual é o problema? Não posso visitar um órfão? Acho que ele gosta de não se sentir sozinho às vezes... 
- Ele conversou com você? 
- Claro que sim! Me disse até qual das garotas do orfanato achava mais bonita. - ele soltou uma risada leve e eu o acompanhei, balançando a cabeça negativamente. Deixei os problemas de lado por um momento e enfiei minhas mãos nos bolsos de meu casaco também, virando em uma das esquinas do parque. Peter e a namorada queriam um momento sozinhos, eu não os atrapalharia. 
- Tem mais... - ele começou de novo, só que dessa vez o sorriso não estava mais lá. - Eu quero me desculpar por uma coisa. 
- Vá em frente, acho que tudo que eu preciso agora é alguém mostrando arrependimento por um erro. - Cameron levantou uma sobrancelha daquele jeito característico e concordou com a cabeça, respirando fundo antes de falar. 
- Eu me sinto tão envergonhado por ter surgido daquele jeito no seu casamento... - fechei os olhos, parando de andar. 
- Qualquer coisa, menos esse assunto... 
Demetria! Deixa eu terminar! - cruzei meus braços e nós fomos até um banco de madeira. Depois de limpar a neve, nos sentamos. - Eu cometi muitos erros, eu escutei pessoas que não deveria ter escutado. Há um tempo, logo quando eu voltei para Londres, eu não conseguia aceitar que você estava prestes a se casar com o Joseph. Eu tomei a atitude errada e deixei que o Carter me dissesse o que fazer... Ele tinha prometido me ajudar, ele me disse que tinha algo que tiraria você do Joseph, e então o caminho ficaria livre para mim... - ele olhava para o chão enquanto falava, e eu tentava manter a respiração calma e a vontade de chorar longe. - Na época, quando éramos adolescentes, eu não fiquei sabendo o que tinha acontecido com a Erin Fields, eu só conhecia aquela garota de vista... Então, o Carter me contou que Joseph tinha... Você sabe, matado ela e todo o resto. Eu estava tão cego que eu acreditei em tudo que ele disse. Foi como se eu tivesse me tornado seu aliado. Eu fazia o que ele pedia e, como recompensa, ele me prometeu que cedo ou tarde eu teria você. Só que agora eu consigo enxergar como as coisas realmente são. Por que o Carter estaria tão obcecado em tentar incriminar o Joseph? É difícil admitir isso, até porque eu e seu marido não somos amigos nem de longe, mas eu não acho que ele tenha realmente matado a Erin... E, eu volto a dizer, me desculpe! Me desculpe por ter plantado todas aquelas duvidas na sua cabeça, eu estava desesperado... Eu não queria perder você. 
Cameron... - todas aquelas palavras me pegaram de surpresa, eu realmente não sabia o que dizer. Fiquei procurando por palavras coerentes durante vários segundos. Eu não era a única que acreditava na inocência de Joseph. 
- Então, eu não sei como, mas você acreditou em mim. Você me procurou quando estava desolada e eu vi uma oportunidade nisso... Eu me senti feliz por saber que você ainda confiava em mim. E agora eu estou aqui na Suíça com você, estamos conversando pacificamente em um parque coberto por neve... - ele gesticulou com as mãos e riu, me obrigando a rir também. - Não é todo mundo que dá uma segunda chance as pessoas, Demetria. 
- Eu não nasci assim... Me ensinaram a ser assim. 
- Quem te ensinou a ser assim, Demi? - Cameron se mostrou interessado. Eu me preparei, porque teria lembranças que eram doces e amargas ao mesmo tempo. Mas me faria bem falar sobre aquilo, fazia tempo que eu queria contar para alguém sobre Vincent
- O nome dele era Vincent, ele era extremamente ruivo... - sorri com a lembrança. - Até mesmo os seus poucos cílios eram ruivos. Tocava violão, contava e escrevia músicas. Era tão bonito... Por dentro e por fora. - flashbacks vinham em minha mente, e eu já começava a sentir aquela estranha nostalgia tomar conta do meu corpo. - Quando terminei o colegial... - aquelas palavras deixaramCameron desconfortável, mas a minha intenção não era jogar nada na cara dele. - Eu não era nada! Eu não tinha noção das coisas, não tinha noção da vida e nem do mundo. Foi engraçado, porque ele surgiu na minha vida do nada e de um jeito inesperado. Tinha atropelado minha bicicleta com seu carro dos anos 80. Vincent Lewis se tornou o melhor amigo que uma pessoa poderia ter, o tipo de amigo que sempre conseguia levar suas dores embora. Ele me ensinou a ser forte, me ensinou a ser alguém de verdade. 
- O que aconteceu com ele? Onde está? 
- Ele morreu em 2003. 
- Como? 
- Apesar de ser uma ótima pessoa, ele tinha inimigos, assim como todo mundo. O encontraram baleado perto de casa, e eu tenho certeza que não foi um acidente. Me ligaram naquele noite e eu corri para o hospital, mesmo com uma voz dentro de mim dizendo que já era tarde... Quando eu cheguei lá, ele ainda estava vivo... Mas tão fraco... - uma lágrima caiu. - Eu sabia que aquela seria a última vez que eu o veria com vida, a última vez que ele me deixaria feliz com suas palavras amigas. E então, ele me fez prometer uma coisa. 
- E você pode me dizer qual foi a promessa? 
Me prometa que sempre vai acreditar que as pessoas possuem um lado bom. Acredite que até no ser mais malígno existe um resquício de bondade. Se você acreditar nisso, tudo vai ser mais fácil. Buscar esperança não é cansativo, é revigorante. Se você não procurar pela bondade nas pessoas, como vai viver? Ninguém quer viver com medo. Então, me prometa que vai ser uma pessoa assim, uma pessoa positiva e cheia de esperança no mundo. Eu sei que tudo vai dar certo, porque você merece. Foi isso... Eu prometi, é claro. 
- E você se lembra de tudo que ele disse? - seus olhos estavam levemente arregalados.
- Sim, porque parece que foi ontem! 
- Nossa... 
- E tinha uma música. Foi lançada pouco antes dele faleceu... Oasis lançou Stop Crying Your Heart Out. Vincent me dizia para ouvir essa música sempre que eu estivesse triste. E mesmo agora, depois de tantos anos, eu continuo fazendo isso. Presto sempre muita atenção na letra e finjo que é ele que está me dizendo todas aquelas palavras. 
'Cause all of the stars are fading away. Just try not to worry, you'll see them some day... - Cam cantarolou, distraído. 
Take what you need and be on your way. And stop crying your heart out... - eu completei o trecho, limpando uma lágrima e sorrindo. - É por isso que eu ainda acredito na bondade das pessoas. É por isso que eu decidi confiar em você. Talvez dê certo algum dia. 
- Tudo bem, agora pare de deixar lágrimas cairem enquanto você sorri desse jeito, ou as pessoas ao redor vão começar a pensar que eu sou romantico demais e você não aguenta! - Cameron disse de um jeito sério e eu revirei os olhos. Nos levantamos do banco e logo encontramos Peter e sua namorada. Demos mais algumas voltas pelo lugar e minha mãe ligou no celular de meu irmão, praticamente ordenando que fossêmos para casa almoçar, porque um banquete nos aguardava. 


Cameron's P.O.V

Depois de um ótimo almoço, fiquei na mesa por um tempo conversando com a família Lovato. Demetria comeu em silêncio e permaneceu em silêncio todo o resto do tempo. Às vezes trocavamos olhares, mas ela logo desviava. De repente ela se levantou da mesa e disse que precisava subir para o quarto, porque estava muito cansada. Sue a olhou de um jeito preocupado e eu a observei subir a escada. Ela me olhou por uma última vez e então sumiu. Eu estava entendendo aqueles olhares de um jeito errado, não era possível que eles eram um pedido de ajuda
Peter e Anne saíram novamente e eu preferi ficar na casa, oferecendo ajuda a Sue para lavar os pratos. Ela arregalou os olhos riu, se fingindo de assustada e dizendo que eu era uma visão da mente dela, porque outro homem nunca faria aquilo. 
Enquanto eu lavava a louça, ela ia ajeitando outras coisas na cozinha, e parecia prestes a puxar algum assunto. Do andar de cima, eu conseguia ouvir a melodia que era tocada em um piano. 
- Ela não esqueceu como se toca. - Sue comentou, ajeitando as flores da bancada. 
- Ela toca piano desde sempre? - perguntei, curioso. Quando aquela mulher pararia de me surpreender? Eu sempre tive interesse por coisas que algumas pessoas julgariam antiquadas. Gostava de pintar quadros e de ouvir música clássica. Demetria tocava piano... 
- Quase! Desde bem pequena, a avó a ensinou. Mas ela só toca quando vem aqui, não tem piano em Londres. Não que eu saiba, pelo menos. 
- É bom ter algum talento. - comentei, secando um dos pratos. 
Cameron, eu posso te perguntar uma coisa? 
- Pode, Sue. 
- O que está acontecendo com a minha filha? Olha, não me leve a mal, eu realmente estou adorando sua companhia, mas é estranho ela estar aqui sem o Joseph. E o que são aqueles olhares perdidos e os suspiros? Você sabe o que aconteceu? Se sabe, me diga. Porque temos uma mãe começando a ficar preocupada por aqui. - ela falava como se sua filha fosse uma garotinha. Eu deveria dizer? Aquilo era um assunto particular da vida de Demetria. Não me sentiria bem se dissesse algo que a deixasse zangada comigo. 
- Sue, eu não sei se posso tocar nesse assunto... 
- Eu não sei há quanto tempo você conhece Demetria, mas deve saber que quando ela se cala, não volta atrás. Ela não vai me contar, eu sei. Então desembucha! - engoli em seco e sequei minhas mãos, desejando mentalmente que ela não sentisse vontade de me matar quando soubesse o que eu tinha dito a sua mãe. 
Joseph está preso. - escolhi ser direto. - Mas nós não sabemos se ele é culpado ou não... 
- Culpado ou não pelo quê? - sua voz alta e cheia de sotaque me cortou. 
- Por um assassinato. - Sue ficou em silêncio, processando o que eu tinha lhe dito. 
- Oh, meu Deus... Isso não pode ser possível! Eu conheço o Joseph, ele já veio aqui várias e várias vezes... Não faria nada assim. 
Demetria também acredita que ele é inocente. - quando percebi, ela já tinha me deixado sozinho na cozinha. 

Demetria's P.O.V

Parei de tocar o piano quando percebi que alguém estava parado na porta. Virei meu rosto e encontrei minha mãe encostada no batente, com os braços cruzados e aquela típica expressão de mãe preocupada. Eu já conseguia ter uma ideia do que estava acontecendo. Fiquei em silêncio e continuei sentada na banco de madeira, enquanto ela se aproximava mais. Senti seus dedos mexeram nos fios dos meus cabelos e logo percebi que ela estava fazendo uma trança. Ela sempre fazia isso quando eu era pequena. 
- Há quanto tempo eu não faço isso no seu cabelo? - ela suspirou e continuou a entrelaçar as mechas. 
- Há muito, muito tempo. - eu disse simplesmente, levantando o corpo quando ela parou de mexer no meu cabelo. Passei a mão pelo mesmo e sorri de leve ao sentir uma longa trança. - Desculpe por ter aparecido desse jeito, gostaria de ter te avisado antes. 
Demetria, não se preocupe com isso! Você sempre vai ser bem vinda aqui, essa é a sua casa. Vem, vamos conversar na varanda! - ela pegou minha mão e me levou até uma enorme porta de madeira, a abrindo e revelando a varanda que me trazia boas recordações. O lugar era claro, amplo e cheio de flores. As enormes janelas de vidro estavam abertas, revelando uma bela paisagem de Genebra. Nos sentamos em um balanço largo de madeira que ficava em um dos cantos. 
- Adoro esse lugar. - comentei, com o olhar perdido na paisagem. 
- Você gostava de ficar aqui à noite tocando violão, e também gostava de ficar aqui com o Joseph. - quando ela disse aquele nome, meu sorriso se desfez e eu sabia que ela tocaria naquele assunto. Não que eu fosse de esconder as coisas da minha mãe, mas como passei grande parte da vida morando longe dela, me acostumei com guardar os problemas para mim. - Onde ele está, Demi? 
Cameron não te contou? 
- Sim, mas eu quero saber com as suas palavras. - resumidamente eu contei o que Cameron já deveria ter contado, mas ela reagiu como se estivesse escutando aquelas primeiras palavras pela primeira vez. 
- Eu confio nele, mamãe, confio mesmo. Quanto mais eu penso sobre tudo isso, mas tenho certeza de que ele não matou ninguém. Mas o que eu posso fazer? - deixei que meu corpo se inclinasse um pouco e encostei minha cabeça no ombro dela, recebendo um abraço de lado. 
- Você realmente o ama? - ela perguntou, séria. 
- Sim, mais do que achei ser possível. E isso dói, amar desse jeito dói. 
- Nem me fale, querida. 
- Você já amou alguém desse jeito? - perguntei, mesmo já sabendo sua resposta. 
- Sim, seu pai. - ela soltou um longo suspiro e tirou uma mecha de cabelo que estava em minha testa. - Mas eu não tive sorte. Na verdade, tive azar duas vezes. Insisti duas vezes no mesmo erro. Em todo o caso, eu não posso reclamar, porque se não fosse por esses dois erros, eu não teria você e o Peter. - a história de minha mãe era complicada e triste. Lembro-me bem de quando ela foi praticamente obrigada a me contar que tinha conhecido um homem e fora amor a primeira vista. Ele era extremamente misterioso e aquilo contribuiu para que ela se entregasse a paixão repentina. Quando ficou grávida de mim, aquele mesmo homem desapareceu do mapa, a deixando totalmente sozinha. Quando eu tinha sete anos, aquele mesmo homem retornou em sua vida. Ela ainda o amava, sim, ela ainda nutria aquele sentimento. Todos poderiam chamar ela de tola por ter se entregado àquilo outra vez, mas o amor muitas vezes deixa as pessoas cegas. Ela acreditou que ele tinha mudado e que ficaria com ela, mas foi ferida outra vez. E então veio Peter. Aquele homem que eu recusava chamar de pai era apenas uma forma sem rosto na minha mente, eu não me lembrava de já ter visto ele, e nem queria. Não fazia questão. - Nem sempre temos sorte e amamos o que é certo. Às vezes esse erro pode se tornar um acerto, mas só às vezes. 
- Será que eu errei? 
- Duvido, querida. Até os cegos seriam capazes de notar a forma como Joseph te olhava. Eu duvido que um homem que sentia um amor daquela proporção fosse capaz de ferir alguém, mesmo no passado. 
- Que diferença faz? Ele está preso agora, longe de mim. 
- Mas não é como dizem? Ficar longe de quem você ama pode ser uma boa coisa, faz você perceber o quanto precisa dessa pessoa. Você dá mais valor a ela. 
- Eu espero que você esteja certa, mãe. 
- Não desista dele ainda, Demetria. É só uma simples intuição de mãe... - ela riu e se soltou de mim, levantando o corpo. - Bom, agora eu vou deixar você descansar um pouco. E sobre o Cameron... Gostei dele, aparenta ser uma boa pessoa. Deve ser um grande amigo. 
- Ele é. - eu disse, mesmo não tendo total certeza. 
Fiquei um tempinho na varanda, apenas sentindo o vento frio em meu rosto e observando a paisagem coberta por neve. Levantei e caminhei até meu quarto de novo, não encontrando sinal algum deCameron. Liguei a televisão e me deitei na cama, sentindo um leve sono. Um clipe passava na televisão, e a letra da música não me ajudou em nada. 

Where'd you go? I miss you so
Seems like it's been forever
That you've been gone.



15 dias depois...

A árvore de natal iluminada e enfeitada a minha frente significava uma coisa: o tempo tinha voado. Quinze dias passaram exatamente como se fossem apenas 15 horas, e as coisas pareciam mais estranhas do que nunca. Eu ainda estava em Genebra, na Suíça, sem qualquer tipo de notícia sobre Joseph. E Cameron ainda estava comigo. 
Aquela era a parte estranha. 
Ele estava diferente, distante. Interagia totalmente com minha família, mas comigo trocava poucas palavras, só o necessário. 
Durante o tempo daquela viagem, fomos passear praticamente todos os dias. Visitamos os alpes suíços e outros lugares maravilhosos, nos entupimos do famoso chocolate suíço e tudo que tinha direito. Mas Cameron continuava lá, evitando olhar para mim e fingindo que eu não existia. Ele não tinha motivos para estar daquele jeito, eu não tinha dito nada que pudesse magoá-lo, na verdade eu também estava mais calada do que nunca. Então, se ela não puxava conversava comigo, eu também não puxava com ele. 
Voltei a olhar para a árvore no canto da sala e percebi que estava nevando do lado de fera. Era véspera de Natal e o resto dos famíliares que moravam na Suíça estavam prestes a chegar. Grande parte da família de minha mãe morava por lá. 
Peter e Anne já estavam prontos e arrumavam os presentes embaixo da árvore, Cameron estava no quarto e eu fui até a cozinha para ver se minha mãe queria ajuda com toda aquela comida. Ela negou com a cabeça e me olhou inconformada, ordenando que eu fosse me arrumar. Qual era o problema com o meu casaco pesado e a calça de moleton? A temperatura deveria estar abaixo de zero!
Me dei por vencida e subi as escadas com desanimo. Tomei um banho exageradamente quente e fiquei enrolando para me trocar, rezando para que ninguém me mandasse descer. Festas em família eram sempre daquele jeito, eu me sentia uma menina de dez anos. Tirei da mala um vestido vermelho de mangas longas e um poderoso sobretudo preto de lã. Coloquei as meias pretas e grossas, vesti as outras duas peças de roupa e calcei as sapatos pretos de salto. Me olhei no espelho e desejei que Joseph pudesse estar ali. Certamente ele diria algo sobre o meu vestido vermelho, e isso me agradaria muito. 
Porém, tudo que ouvi foi o chamado de minha mãe vindo do andar de baixo. Minha vó, duas tias e alguns primos tinham chegado. Bufei e dei um jeito rápido no cabelo, fazendo uma maquiagem simples e passando um perfume qualquer. Quando bati a porta, meu corpo trombou com o de Cameron e o cheiro de seu perfume quase me sufocou. Era ótimo. 
- Preparado para conhecer o resto da família Lovato? - ele deu de ombros e me deu passagem. Senti vontade de rir ao perceber que nossas roupas combinavam. Ele usava um suéter vermelho e um grosso casaco preto por cima. 
Descemos as escadas juntos e aquele momento desconfortável aconteceu: todos os presentes na sala pararam o que estavam fazendo para nos olhar. Fui direto até minha avó e dei um longo abraço nela, tendo que inclinar o corpo pelo fato dela ser mais baixa. Era minha mãe com cabelos brancos, extremamente parecidas. 
- Esse não é o seu marido, Demi! - ela sussurrou no meu ouvido sem que ninguém pudesse perceber. Quando as pessoas parariam de dizer aquilo? Quantas vezes eu teria que ouvir as mesmas palavras na mesma noite? 
Joseph está ocupado em Londres, pediu desculpas por não poder vir. - eu disse alto para que todos pudessem ouvir e minha mãe pareceu ficar desconfortável com aquela mentira. - Esse é meu amigo Cameron. - o apresentei e o mesmo ficou totalmente sem jeito, dando um aceno de cabeça para todos. 
- Amigo, Demetria? Certeza? - uma de minhas tias perguntou e eu senti que meu rosto estava ficando da cor do vestido. Aquela noite não seria fácil! 
Fiquei algum tempo sentada no meio dos parentes, tentando fingir que as conversar me agradavam e disfarçando quando o assunto chegava em Joseph. Cameron estava no canto da sala e conversava com Peter sobre assuntos aleatórios. Tentei atrair sua atenção, até que seus olhos se encontraram com os meus. Tentei fazer com que meu olhar fosse como um pedido de socorro e ele pareceu entender. Saiu de perto de Peter e caminhou até o centro da sala. 
- Senhoras, com licença! Demetria, podemos conversar? - ele disse de um jeito educado e todos os olhares se voltaram para mim. O de minha tia - a que desconfiou que ele era apenas um amigo - foi malicioso. Ignorei e segurei a mão de Cameron, levantando rapidamente. Ele me puxou pela mão e abriu a porta. 
- Onde vamos? - perguntei, saindo e quase tropeçando nos meus próprios pés. 
- Tomar ar fresco. 
- Claro que não, está nevando! - tentei voltar para dentro da casa, mas ele se colocou na frente da porta e balançou a cabeça negativamente. 
- Você nunca caminhou na neve? Vamos, vai fazer bem! - Cam me puxou de novo pela mão e nós atravessamos o jardim branco, caminhando pela rua. O lugar era um misto de neve, luzes fortes e decorações natalinas. As ruas estavam levemente movimentadas, outras pessoas também gostavam de andar na neve. 
- Já são mais de onze horas, minha mãe vai ter um ataque se não voltarmos até a meia noite. 
- Pare de se preocupar com tudo! Isso é um cabelo branco? - senti sua mão passar pela minha cabeça e recuei, ajeitando brevemente meu cabelo. 
- Ok, por que estamos aqui? Se queria conversar, a varanda era um bom lugar para isso. 
- O lugar onde você costumava ficar com o Joseph? Não, obrigado. Prefiro conversar na neve. 
- Estranho você dizer isso, porque ficou praticamente quinze dias sem ter uma conversa de verdade comigo. 
- E tentar te tirar do estado depressivo em que você ficou? Acredite, eu preferi ficar quieto do que te dizer algumas verdades. 

(n/a: Coloque Broken Arrow da Pixie Lott para tocar!)

What do you do when you're stuck
'Cos the one that you love
Has pushed you away
And you can't deal with the pain?


- Algumas verdades? Ah, que ótimo! - elevei meu tom de voz, olhando com fúria para ele. Onde Cameron estava querendo chegar ao me dizer aquelas coisas? Eu sabia que estava agindo de uma maneira insuportável, eu mesma estava irritada com tudo aquilo. Não precisa de alguém para jogar nada na minha cara. - Parece que você está tão irritado com tudo isso, parece que eu sou um estorvo. Um peso que te impede de fazer outras coisas. - disparei a falar e ele mal piscava, parecia uma estátua de mármore. - Não te obriguei a vir comigo, se quiser ir embora, pode ir. Estou a salvo aqui, Carter não sabe onde minha família mora... A menos que você tenha contato. É, talvez você tenha mesmo feito isso e ele esteja por aqui, se preparando para aparecer e fazer algo contra mim...
- Pare de falar besteiras! Você sabe que eu não faria isso. Se eu quisesse o seu mal, eu mesmo já teria me encarregado de fazer algo contra você. - Cameron veio para mais perto de mim e nós dois ficamos frente a frente. - Será que é tão difícil de perceber o que está acontecendo, Demetria? 
- Não, não é difícil. É só olhar ao redor, e só olhar para mim. Meu marido está preso por um crime que provavelmente não cometeu, eu não consigo seguir em frente como ele pediu, não consigo parar de pensar nele, não consigo... 
- Porra, será que você pode parar de falar do Joseph por pelo menos um mínuto? Eu estou aqui, não sou feito de pedra! 

And now you're tryin' to fix me. Mend what he did
And find the piece that i'm missing
But I still miss him, I miss him
I'm missing him, Oh I miss him.
I miss him
I'm missing him.


- O quê? - eu praticamente gritei, franzindo o cenho e atraindo a atenção de algumas pessoas para nós. 
- Você não tem ideia de como tem sido difícil, Demetria! Eu tenho que ficar aqui com você, ser o seu guarda costas, estar disposto a ouvir qualquer tipo de coisa que você queira me dizer sobre oJoseph, seus desabafos... Acho que não consigo mais aguentar por muito tempo. 
- Então por que aguenta? Por que continua me olhando nos olhos e dizendo essas coisas? Por que ainda está aqui? 
- Porque eu te amo. - meus olhos se arregalaram e a neve que caia por nossas cabeças pareceu ficar ainda mais fria. A expressão no rosto de Cameron era indecifrável. Seus lábios tremiam levemente, mas eu não sabia dizer se era por causa do frio ou por causa daquela revelação. - Eu te amo! - ele repetiu pausadamente e seus olhos eram intensos, ele parecia estar sentido raiva de si mesmo. De repente, uma memória veio em minha mente. 

Flashback

Eu não sabia por que diabos estava em cima daquele palco com todas aquelas pessoas. Já não bastava os olhares debochados que eu tinha que receber, ainda por cima tinha que estar frente a frente com ele
A escola tinha aquele maldito clube de teatro e, por vezes, quando os alunos cometiam algum ato peculiar, ao invés de serem mandados para a detenção, eram obrigados a participar de uma peça. Meu ato peculiar? Matar aula para evitar dar um soco na cara daquele infeliz. Ele e Carter haviam tirado o dia para fazer comentários e soltar risinhos baixos quando eu passava por perto. 
O professor andava por todos os casais formados no palco de madeira e citava algumas instruções, falando como se estivesse lendo um poema. Algumas pessoas estavam sentadas nas poltronas assistindo, Carter era uma delas. Desviei meu olhar dele e voltei a olhar para Cameron, que me mediu de cima a baixo. Eu estava vestida como de costume; cabelos presos em um coque mal feito, camiseta de bancas desconhecidas e um jeans surrado. Queria gritar e sair correndo, aquilo era simplesmente humilhante. 
- E então, rapazes, vocês dirão o que sua amada quer ouvir. Dirão as três palavras magicas que funcionarão como uma chave para abrir este coração que está a ponto de ser partido. Apenas vocês podem curá-lo. Digam para elas, digam... - o professor falou mais alto, esboçando drama ao abrir os braços. Olhei para baixo e depois para o meu parceiro. Ele estava rindo. Cameron olhava para Carter e os dois riam. Estavam rindo de mim. 
Nossos olhares se encontraram e ele segurou o riso, mordendo o lábio inferior, abrindo a boca para dizer a maldita fala. 
Eu te amo.

Fim do flashback. 

And you're sitting in the front row
Wanna be first in line
Waiting by my window, giving me all your time
You could be my hero if only I could let go
But his love is still in me
Like a broken arrow
Like a broken arrow.


- Eu já ouvi isso antes. - eu disse, deixando que a raiva provocada por aquele flashback me dominasse de novo. Há anos eu não pensava nas situações que passei no colegial com Cameron. Mas naquele momento foi inevitável, e eu sabia que ele também se lembrava de tudo. - Não foi verdadeiro, e eu duvido que agora seja. - ele abriu a boca para dizer alguma coisa, mas a fechou e virou o rosto, passando a mão pelo cabelo, tirando alguns flocos da neve que já parecia dar uma trégua. 
- Você acha que o Joseph é o único homem que te ama? Lamento, mas você não deu apenas a ele a chance de criar sentimentos por você. Todo maldito dia eu lembro de Los Angeles, eu lembro que tive você nos meus braços. Eu lembro da garota que era apaixonada por mim e tudo que eu fiz foi rir dela. Naquela época, Demetria, era mentira, mas agora não é. Eu não posso controlar a vontade de ter você nos meus braços e fazer o que eu quiser. Eu não posso controlar a vontade de ter você para mim... 
- Eu lamento. - baixei minha cabeça, mais do que incomodada com suas palavras. Eu senti algo se agitar em meu estômago, mas não eram borboletas. Era pesar. Pesar por saber que alguém nutre sentimentos que eu não posso corresponder. 
- Você lamenta? Que bom! Aliás, isso não deve significar nada para você, porque o seu sentimento é correspondido. O Jonas te ama também, você não tem que ficar correndo em circulos feito uma idiota, na esperança de fazer algo que atraia a atenção da pessoa que você tanto quer. Eu não quero sentir isso, eu faria qualquer coisa para que esse sentimento sumisse, mas eu não posso! - sem que eu pudesse recuar, ele se aproximou de novo e segurou minhas duas mãos, as apertando um pouco. As suas estavam geladas e as minhas quentes, o que provocou um arrepio pelo meu corpo. 

He's the thorn in my flesh that I can't take out
He's stealing my breath when you're around.

And now you're tryin' to convice me
He wasn't worth it
But you can't complete me, he's the part that is missing
I miss him
I'm missing him, Oh I miss him
I miss him
I'm missing him.


- Quer um conselho? Arrume suas coisas e vá embora amanhã! - me livrei do aperto que suas mãos dedicavam as minhas, recuando um passo, afirmando com a cabeça algo que, certamente, tinha acreditava com muito empenho: - Eu estou bem, posso ficar apenas com a minha mãe e o Peter por um tempo. Não preciso de você, não preciso que se esforce em esconder os seus sentimentos para ficar ao meu lado. Eu não quero te magoar desse jeito, mas eu não posso corresponder o que você sente. Vá embora... - Cam mordeu o lábio inferior com força e um som saiu por sua garganta, uma manifestação de descontentamento. O jeito que ele tentava se controlar me assustava, seu peito subia e descia freneticamente, o jeito que ele me olhava era intenso demais, eu me sentia irritada e fraca, já que não tinha o coração frio o suficiente para afastá-lo de uma forma que não deixaria rastros. Sua raiva por minha seria tanta que afogia o amor que ele insistentemente afirmava sentir. A neve tinha parado de cair, a rua parecia ter ficado vazia. Eu queria correr, mas minhas pernas não deixavam. Desviei meus olhos dos seus, não acreditando mais ser fitada daquela forma e recuei outra passo, totalizando dois, com uma leve e segura distância dele. Respirei fundo e me preparei para voltar para a casa. Fugir dele e do que eu sentia que estava prestes a acontecer. 
- Não... Me desculpe, mas eu não vou deixar você fugir dessa vez. - meu corpo foi puxado pela cintura por duas mãos fortes e decididas. 

What do you do when your heart's in two places?
You feel burned, but you're torn inside
You feel love, but you just can't embrace it
When you've found the right one...
At the wrong time.


Ele tentou me beijar. 
Pela surpresa e pelo modo como seus braços imobilizaram meu corpo, senti o ar escapar com desespero de meus pulmões, passando com dificuldade pelos lábios entreabertos enquanto eu temia o que ele tentaria fazer. Por frações insignificantes de segundos, eu fechei meus olhos com força, acreditando cegamente que já não existia mais meio de pará-lo, só tentar fazer o possível para que o beijo não durasse, nem que se intensificasse. Virei meu rosto na direção contrário do seu, tentando a todo o custo empurrá-lo pelo peitoral, ou segurar em seus ombros firmemente para adquirir alguma força e tirá-lo da minha frente. Ele parecia determinado a não me soltar, quase rindo de minhas tentivas falhas. Cameron era muito mais forte e alto do que eu, começava a passar por minha cabeça que a única saída para conseguir me livrar de suas intenções obscuras seria gritar, ou até mesmo ferí-lo. Talvez deixar que ele me beijasse para, então, aproveitar de sua distração e enfim conseguir a liberdade que seu enlace negava. Por um instante, fitando seus olhos vivos ao extremo, me perguntei se deveria ceder e deixar meu corpo entregue ao seu desejo. Talvez fosse o pleno estado de carência em que eu me encontrava, toda aquela tristeza e solidão. Talvez fosse pela sua confissão, por ter me dito aquelas malditas três palavras. De repente eu me sentia a Demetria adolescente de novo, porém mais relutante. Eu tinha beijado Cameron antes, em Los Angeles, mas eu não queria ter a sensação novamente... Eu não podia tê-la novamente. E eu não a teria. 
Eu precisava parar de sustentar seu contato visual, antes que o brilho de suas íris conseguisse deter minha relutância ao não permitir que nada acontecesse entre nós. 
Finalmente consegui fazê-lo me soltar, atingindo um soco não proposital em sua peitoral quando consegui tal façanha - visto a força com que me segurava. A emoção que meus olhos lhe transmitiam talvez beirasse a ódio, talvez a desapontamento. Ele sabia da bola crescente de neve que era a minha vida naquele momento, sabia que eu corria o grave risco de perder uma das melhores coisas que tinha na vida, então por que sequer pensar em complicar tudo? Ele deveria ser um amigo, um guardião, alguém que fica perto apenas porque sente que é a coisa certa a fazer. Mas ficar perto é diferente de tentar o que é proibido. Eu não sabia se a egoísta era eu - por fazer pouco caso de seus sentimentos -, ou ele - por entender que eu não poderia correspondê-los. 
Quando me dei conta, já tinha acertado o rosto de Cameron com um impulsivo tapa estalado que provou ardência na pele da palma de minha mão. Ele segurou a região, sentindo o local latejar por causa de meu ato impensado. Seus lábios estavam trêmulos e ele tentava regularizar a respiração, me olhando incrédulo. 
Como eu pude... Como eu pude sequer pensar em permitir que seus lábios frios cobrissem os meus? Joseph estava preso, estava sofrendo, precisava de mim. E eu estava ali, longe e segura de ameaças, debatendo comigo mesmo se deveria ou não me consolar nos braços de outro. Uma traição. Pensada, não realizada, mas ainda sim, pelo menos para mim, uma traição. Meus olhos marejaram, percebi que passei a cuspir palavras impensadas. 
- Não ouse, não ouse em qualquer outro momento da sua vida tentar me tocar desse jeito. - eu apontava o dedo em sua direção, sentindo meu rosto queimar pela ira que borbulhava meu sangue. - Você sabe pelo que eu estou passando, e ao invés de me ajudar, me consolar ou simplesmente ir embora, tenta se aproveitar como se eu fosse uma qualquer que cederia aos seus encantos sem hesitar. - Cameron riu, riu desimpedido, contrariando toda a fúria que eu sentia. Fazendo de minhas palavras um motivo para deboche. 
- Então você assume que eu tenho encantos, Demetria? - ele mordeu o lábio inferior ao proferir, e foi como se a neve que caia sobre minha cabeça estivesse mais fria do que antes, se é que era possível. Eu não sabia se isso se dava ao fato de que a frieza em meu interior aumentava, ou se realmente a temperatura só baixava com o passar dos intermináveis segundos. 
Eu quis chorar. Eu deixei as lágrimas, ao provocarem ardência, escaparem de meus olhos. Pouco me importava que ele visse minha fraqueza tão exposta. 
- Toda a confiança que eu tinha em você... - vacilei, erguendo o rosto, arrependida pelo choro que deixei se iniciar, tentando conter as lágrimas. - Acabou. - pronunciei pausadamente e friamente, olhando-o por uma última vez antes de girar em meus calcanhares e caminhar a passos determinados para longe dele. No fundo, eu sabia que não queria ter dito aquelas palavras. Descontei nele a raiva que eu estava sentindo de mim mesma. Era em mim que eu não tinha mais confiança pelo simples fato de ter deixado que aqueles pensamentos vagassem por minha mente confusa. Meus olhos ardiam e eu teria que pensar no que dizer para minha família quando chegasse. - Feliz Natal! - virei meu rosto e soltei as palavras em um tom irônico, sabendo que já passava da meia noite. Ele não respondeu, continuou parado. 
Mesmo que relutante, eu deveria admitir a mim mesma. Ele sofria. Ele não tinha culpa se a vontade de me ter nos braços o transformava em um homem que apenas agia com seus instintos mais primitivos, os instintos inconscientes, aqueles que não se pode controlar. Aqueles que você só toma conhecimento quando o estrago já está feito. E ele sofria por mim. Eu não queria ninguém sofrendo por mim, pois sabia como era doloroso sofrer por alguém. 
Por que eu senti aquela estúpida vontade de me desculpar e abraçá-lo? 
- Feliz Natal. - ainda consegui ouvir quando ele sussurrou. 
Caminhei sozinha o restante do breve percurso, olhando diversas vezes para trás, me certificando de que ele não vinha logo atrás de mim. Abracei meu próprio corpo, vendo minha respiração visível escapar por meus lábios graças ao tremendo frio, a típica fumacinha branca. Pensei em Daniel, sozinho e atrás de grades frias naquele momento. Imaginei seus olhos, antes tão vivos, apagados como a cela em que deveria estar, a luz bloqueada pelo fracasso. O que eu estava fazendo tão longe de casa, tão longe do que mais amava na vida? E o pior: o que eu estava fazendo deixando aquelas emoções contraditórias se apoderarem de meu debilitado ser? 
Olhei outra vez para trás, e, dessa vez, uma mísera parte de mim desejou enxergar alguém. 

E uma perguntou pairou: qual dos dois?



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Cadê vocês???????

Um comentário:

  1. Eu estou aqui! Sempre. Entro aqui no blog todo dia! Ta perfeito, não para, por favor. Beijos.

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Sem comentario, sem fic ;-)