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domingo, 25 de maio de 2014

Secretary II - Capítulo 14


Triângulo



Joseph estacionou o carro em frente a porta de nossa casa. Encarei seu rosto e ele tinha o olhar perdido na fina chuva que caia do lado de fora, tornando o clima ainda mais frio. Encarei a mesma direção que ele e respirei fundo, atraindo sua atenção. Ele endireitou o corpo no banco do carro e virou o rosto, provavelmente esperando que eu abrisse a porta e saísse pela chuva. 
- Pode ir, eu tenho algumas coisas para resolver na empresa. - concordei com a cabeça, mas antes de abrir a porta pensei por um tempo e voltei a encostar meu corpo no banco de couro. Nós precisavamos conversar. Desde a saída do cemitério, nenhuma palavra havia sido trocada. Ele estava frio, distante. Eu não sabia o que dizer, não sabia como explicar o que tinha acontecido comCameron. É claro que as piores coisas passavam pela mente de Joseph, mas será que ele não confiava em mim? Será que pensava que eu realmente seria capaz de traí-lo naquelas circunstâncias? Eu precisava encontrar um jeito de dizer a ele que, apesar de Cameron ter me pressionado, eu resisti. Resisti porque sabia que o meu lugar era com Joseph, porque sabia que nem tudo estava perdido. 
Até aquele momento, nem tudo estava perdido. 
- Isso não pode ficar assim. Eu preciso explicar o que aconteceu! - eu disse com a voz firme e ele soltou um longo suspiro, encostando a cabeça no banco do carro e fechando os olhos, estava exausto. 
- Estou ouvindo. - ignorei a frieza em sua voz e pensei rapidamente na melhor maneira para explicar tudo. 
- Carter plantou muitas duvidas na minha cabeça, disso você não pode discordar. Quando ele me falou sobre Erin Fields, sobre a clínica e todo o resto, eu fiquei paranóica. Eu olhava para você e não conseguia mais enxergar alguém que me ofereceria segurança. Comecei a pesquisar e a correr atrás do que era jogado na minha cara. Procurei por ajuda do Caleb, e ele descobriu uma coisa... 
Segundos de silêncio entre nós, apenas o barulho da chuva. Os olhos de Joseph se abriram. 
- Quê coisa? - questionou. 
- Ele conseguiu abrir um cofre de Kyle Austin e encontrou um folheto de procura-se, era da Erin. Atrás, tinha um endereço. - mordi o lábio, chegando a parte complicada da história. - Nós procuramos por esse endereço e, quando encontramos o lugar, foi um choque. Você se lembra da casa que me levou na nossa noite de núpcias? - Joseph desencostou o corpo do banco e ficou tenso, encarando as próprias pernas, como se algo alarmante tivesse passado por sua cabeça. 
- O brinco. - sua voz estava baixa demais. Eu sabia do que ele estava falando. Tinha perdido um brinco naquela noite, e Joseph provavelmente o encontrou. - Eu fui naquela casa porque queria ficar em um lugar que me trouxesse lembranças boas de nós dois. Na entrada, eu achei aquele brinco. 
Respirei fundo e continuei a falar. 
- Nos fundos da casa, eu encontrei uma coisa... Um osso. E nós achamos que não é o único... Você entende o que eu quero dizer, Joseph? 
- Que o corpo da Erin foi enterrado nos fundos da casa, e que o polícial Austin sabe... E, se o corpo está lá, só existe uma explicação. 
Joseph... Não existem provas a seu favor, mas também não existem provas contra você. Nem sabemos se é o corpo dela mesmo que está lá... - ele passou as duas mãos pelo cabelo desesperadamente e fechou os olhos novamente, os abrindo em seguida. Cobriu a região da boca com a mão e balançou a cabeça negativamente, demonstrando surpresa e medo. Como se não tivesse ouvido minhas palavras que tentavam confortá-lo. 
- Meu Deus, o que foi que eu fiz? - ele questinou para si mesmo, voltando a prestar atenção na chuva que agora estava mais forte. 
- Você não sabia disso? Não sabia que um corpo poderia estar enterrado lá? 
- É claro que não! Eu já te expliquei, tudo relacionado a isso é um grande borrão na minha mente. 
Descobrir que ele não sabia sobre o possível corpo de Erin enterrado naquele local me provocou um certo alívio. 
- Você consegue imaginar como eu fiquei? Aquela tinha sido a casa onde passamos nossa noite de núpcias! Eu me desesperei, fiquei pensando que você sabia o que estava nos fundos da casa, não me conformei em pensar que você tinha sido capaz de me levar a um lugar que escondia um possível assassinato. Joseph, eu fiquei com tanto medo! 
- E com razão. - sua voz continuava a soar fria e seus olhos verdes eram totalmente perdidos. 
- Eu não sabia quem procurar, não sabia o que fazer. Todos aqueles abutres a minha volta, dizendo coisas que eu não queria acreditar, me fazendo ver o que eu não queria ver... Foi errado, foi um impulso idiota, mas a única pessoa que pareceu confiável foi o... 
Wolfe. 
- Sim. Até hoje eu não sei o motivo de ter confiado nele. Eu sei que você deve estar pensando no que aconteceu entre nós, mas não foi nada disso, Joe. - ele me olhou como se estivesse me desafiando a dizer as próximas palavras. Magoava ver a desconfiança transbordando de seus olhos. - Ele tentou... Sim, ele tentou, mas eu não deixei que nada acontecesse. Eu não te fiz uma promessa atoa, eu não minto para você sobre meus sentimentos. E agora eu me arrependo por ter procurado ele, me arrependo por não ter te escutado primeiro. Eu sinto que tudo isso é uma grande armação contra você e, não sei como, mas vou provar que estou certa. 
- Você confia no Cameron? - mesmo depois de tudo que eu disse a ele, Joseph estava concentrado apenas naquela questão. 
- Eu não sei. Mas o fato de saber que ele tem conhecimento sobre certas coisas me impulsionou a correr atrás dele... 
Um som estridente me impediu de continuar. 
Joseph atendeu o celular e conversou por alguns instantes sobre assuntos que só poderiam ser da empresa. Desligou o aparelho e se recompôs, bagunçando os cabelos mais uma vez e esfregando as mãos nos olhos, tentando se livrar daquela cansaço. 
- Olha, talvez eu tenha que ir a Los Angeles amanhã. Tenho reuniões importantes com um comprador que está interessado nos hotéis... 
- Eu vou com você. - eu disse de um jeito firme, olhando em seus olhos. 
- Você nunca quis voltar naquele lugar, por motivos óbvios. 
- Agora eu quero. - observei as gotas de chuva chocando-se com o vidro fumê do carro e me surpreendi quando senti uma mão gelada segurar meu rosto de um jeito leve e lábios quentes tocarem os meus. Fechei os olhos e retribui o beijo suave de Joseph, até que ele se afastou de novo. 
- Leve um vestido bonito na mala. - franzi o cenho. Por que eu precisaria de um vestido bonito? 
- Deixe-me adivinhar... Vermelho? - um sorriso singelo ameaçou surgiu em seus lábios. 
- A cor que você quiser, Demetria. Vai ficar linda com qualquer uma. 
- Tudo bem, vou providenciar um vestido. - abaixei o olhar e abri a porta do carro, ignorando a chuva que já molhava levemente minhas roupas e parei o que estava fazendo quando ouvi - mesmo que de um jeito abafado - a voz de Joseph me chamar. O olhei dentro do carro e ele estava sorrindo ternamente. 
- Eu acredito em você, acredito mesmo. Me perdoe por parecer frio, é só que tem muita coisa acontecendo... Mas nós vamos dar um jeito. - correspondi seu sorriso e fechei a porta do carro, esperando que o veículo se afastasse de mim. Corri até a porta de casa, tentando me proteger da chuva. 


O voo para Los Angeles foi demorando, mas Joseph e eu aproveitamos para descansar e dormir durante toda a viagem. Precisávamos daquilo. Assim que o avião pousou, uma sensação estranha tomou conta do meu peito. Era exatamente a sensação que eu havia sentido algum tempo antes, quando estava naquele lugar contra minha vontade. Mas, apesar da sensação ser a mesma, as circunstâncias eram outras. O homem que ainda dormia na poltrona ao meu lado não era mais um estranho, não era mais a pessoa que eu tanto temia; nada de ruim nos esperava em Los Angeles. Minha cabeça latejou e meus olhos estavam ardendo, mas eu não me importei. 
Logo estávamos dentro de um carro que foi mandado pelo hotel, para nos levar até o mesmo. Durante o caminho, dezenas e dezemas de flashbacks vinham em minha mente. Como Joseph estava quieto, deduzi que o mesmo acontecia com ele. Apesar disso, senti quando sua mão quente se colocou por cima da minha, que estava apoiada no espaço entre nós no banco traseiro do carro. O sol já estava baixo, seus raios entravam pelo vidro do carro, iluminando o rosto de Joseph e deixando seus olhos com uma cor mais linda que o normal. Era bom sentir o clima daquele lugar, era bom poder me livrar de Londres mais uma vez. A cada segundo que passava eu começava a repudiar mais e mais aquele lugar. 

Quando saí do carro - com auxílio de um dos empregos do hotel - levantei o rosto e encarei o enorme prédio. Estava diferente, estavam bem mais bonito do que eu me lembrava! A pintura e a decoração ao redor estavam mudadas, tudo estava renovado. Joseph me alcançou e nos conduziu para a entrada, sendo recebido com cumprimentos dos demais empregados. Ignorando a enorme sensação de Deja vu, caminhei calmamente com ele até o lobby. 
- Senhor e senhora Jonas, sejam bem vindos! - uma das recepcionistas de uniforme vermelho sorriu atenciosamente. Joe fez o que tinha que fazer e então nós subimos pelo elevador. Levei meu corpo até a parede com espelho e me encostei, fechando os olhos por um momento e voltando a ter lembranças. 
Quando abri os olhos, Joseph estava do meu lado e sorria sem mostrar os dentes. 
- Tudo bem? - perguntou-me, também se encostando. Nossas malas já deveriam estar nos esperando no quarto. 
- Sim, só que isso é tão... 
- É, eu sei! Nas vezes em que estive aqui sozinho, não senti nada disso, mas com você é diferente. Muitas coisas aconteceram nesse hotel.
As portas do elevador se abriram e o andar 27 foi revelado. Aquele não era um número qualquer, não era um andar qualquer. Quando estive naquele hotel pela primeira vez, sem compreender o que estava acontecendo com minha vida, foi naquele andar que me obrigaram a ficar. Olhei para meu marido com surpresa nos olhos e ele sorriu, deixando transparecer que não estávamos naquele andar por coincidência. Depois de caminhar pelo longo corredor de portas, ele passou o cartão magnético por uma delas e a abriu, revelando um belo quarto. E é claro que eu me lembrava daquele quarto... 
- Vamos ficar no mesmo quarto que ficamos há meses? - encostei-me no batente da porta e encarei toda a decoração do quarto. Era clara, aconchegante, luxuosa. Joseph já tinha se livrado de seu casaco e estava jogado na cama, tentando descansar mais. Permaneci congelada na porta por um pequeno espaço de tempo, até que ele me chamou com o dedo. Logo me deitei na cama ao seu lado e nós ficamos olhando para o teto feito dois idiotas. Naquele quarto fui forçada a conviver com Joseph Jonas, naquele quarto aprendi a amá-lo. 
- Eu sempre fico nesse quarto, sempre. - ele disse como uma confissão e eu me acomodei melhor nas várias almofadas que faziam meu corpo se sentir totalmente relaxado. A cama em nossa casa era delíciosa, mas aquela era simplesmente coisa de outro mundo. Enorme e aconchegante. O tipo de cama que cessaria o choro de um bebê no mesmo momento em que seu pequeno corpo fosse deitado sobre a mesma. Com aquela linha de pensamento, encolhi meu corpo e me afastei um pouquinho de Joseph. Nunca tinha pensado muito no tipo de mãe que eu seria, nunca tinha passado pela minha cabeça como seria segurar um filho em meus braços. Não deveria existir emoção maior no mundo. E eu queria passar por tudo aqui, como eu queria... 
- Por que ficou quieta, Demi? - a voz de Joseph cortou meus devaneios e eu virei o corpo novamente para encará-lo. Eu deveria dizer o que estava pensando? De que adiantaria? Ter um bebê estava fora de nossos planos, era totalmente impossível colocar uma criança no mundo diante de toda aquela situação. 
- Como se sentiria se soubesse que vai ser pai? - eu perguntei de um jeito distraído, desenhando circulos no tecido mácio da colcha da cama. Joe arregalou os olhos e aproximou seu corpo do meu. Segurou meu ombro e depois segurou meu queixo, fazendo meu rosto se erguer. 
Demetria... Você... - eu ri de leve, balançando a cabeça. 
- Não. - ri mais uma vez e ele jogou o corpo na cama novamente, fechando os olhos. - Só tenho curiosidade em saber como seria sua reação. - algo na forma que ele permaneceu deitado e imóvel deu a entender que não queria falar sobre aquele assunto. Preferi deixar como estava e permaneci quieta, observando através da enorme janela que a noite já chegava em Los Angeles. 
De repente, Joseph se levantou e pediu que eu fizesse o mesmo. Ajeitei meu cabelo e o acompanhei ao sair pelo porta, percebendo que ele estava se dirigindo ao elevador. Entramos no mesmo e descemos, saindo depois de um tempinho e dando de cara com uma enorme porta de vidro. Sorri, reconhecendo aquele lugar. Então ele queria que nós fizessemos um passeio pelo passado? 
A área de uma das piscinas do hotel se aproximava e ele segurou minha mão, nos conduzindo e puxando a mesma, sempre demonstrando gentileza quando algum de seus empregados passava por nós. O lugar estava vazio, todas as espreguiçadeiras jaziam vazias e o crepúsculo no céu e as luzes nos postes produziam diversos reflexos na piscina. Joe se sentou em uma das espreguiçadeiras e eu sentei ao seu lado. 
- E daqui, você se lembra? - ainda me perguntando o motivo do lugar estar vazio, olhei para a piscina e sorri. 
- É claro que eu me lembro! - mordi o lábio, concordando com a cabeça. - Aquela foi uma das experiências mais assustadoras e excitantes da minha vida. 
- Por que assustadora? - Joseph franziu o cenho. 
- Eu pensei que você realmente fosse capaz de me matar! - eu disse como se fosse óbvio e foi a vez dele de rir. Passou um braço pela minha cintura e beijou meu pescoço com paixão. 
- Eu nunca seria capaz de fazer algo de ruim a você, Demi. Nem naquela época e muito menos agora. 
- Ah, então você já gostava de mim na época em que nos jogou nessa piscina? - ele me olhou nos olhos. 
- Não sei o que eu sentia por você, mas era algo bom. 
- Sim, tão bom que foi capaz de provar, da maneira mais selvagem possível, que realmente era um homem. - disse séria e ele voltou a rir, depois estirou o corpo na espreguiçadeira. 
- Eu era selvagem. Mas se você disser que não gostou... - mas antes que eu pudesse responder se tinha gostado ou não, ele se levantou abruptamente e me puxou pela mão, saindo da área da piscina e passando pelo porta de vidro novamente. Algo em seu rosto era excitante e ele apertou o passo, me obrigando a correr por um enorme corredor. Os empregados provavelmente nos olhavam como se tivéssemos algum tipo de problema. Depois que enormes portas brancas e pilastras passaram por nós, eu também fui capaz de reconhecer aquele lugar. Levantei meu olhar e a enorme escadaria estava lá, dando voltas e mais voltas. 
- Quanto você veio correndo até aqui e me provocou daquele jeito... - ele fez uma breve pausa, olhando na mesma direção que eu. - Eu já tinha certeza do que sentia. Eu queria você para mim, e eu a teria. De qualquer jeito. 
- Bom, agora você me tem. Porém, eu não vou fazer charme e subir por essa escada jogando peças de roupa como fiz no passado, você já pôde aproveitar isso uma vez. 
- Mas dessa vez você não vai subir sozinha, nós vamos juntos. Tem um outro lugar que precisamos ir... - como sempre, não esperando que eu protestasse, ele voltou a me puxar pela mão e começou a subir rapidamente a escada, dando todas aquelas voltas. Ofegante, soltei sua mão e me sentei nos degraus brancos, procurando descansar. Ele sentou ao meu lado e beijou meus lábios, sem deixar que eu tentasse normalizar minha respiração. Logo voltamos a subir a escada de um jeito desajeitado e rindo, parando para observar o que estava abaixo de nós. Se eu estivesse usando um vestido elegante e volumoso e ele um lindo terno, as pessoas poderiam dizer que estávamos gravando aqueles típicos comerciais de perfume internacional. Era um lugar muito bonito, eu tinha me esquecido de toda aquela beleza. Os quadros nas paredes, os enormes lustres de cristal e a escada tão branca que parecia brilhar. 
Chegando no último corredor, no final da escada, ele nos colocou dentro de um elevador e o mesmo parou em frente a outra enorme porta de vidro, de onde era possível observar o céu azulado e estrelado de L.A. Puxou a porta e a cobertura do hotel nos recebeu silenciosa. Fitei a decoração impecável, senti o vento que brincava com as flores das plantas decorativas e suspirei. Eu não tinha boas lembranças daquele lugar, mas precisava esquecer aquilo. Joe encostou o corpo nas barras de metal e contemplou a vista que permitia enxergar toda a cidade e o mar mais ao fundo, onde a lua já brilhava refletindo no mesmo. Fui até ele e segurei nas barras, observando o abismo embaixo de mim. 
- E por que você me trouxe até aqui? 
- Porque foi aqui que eu senti medo de perder uma pessoa pela primeira vez. - suas palavras sairam rápido e de um jeito firme, mas ele não me olhava. - Quando ouvi seus gritos, quando descobri queMargo estava armada e com você... Eu nunca tinha sentido aquela sensação de impotência antes. 
Coloquei uma mecha teimosa de cabelo atrás da orelha e sorri para ele, afagando seus cabelos mácios. 
- Já passou. - minha voz saiu baixa e serena. Joseph olhou para o horizonte mais uma vez e desencostou o corpo da sacada, dando a entender que queria sair dali. - Joseph, você tem certeza de que quer vender tudo isso? Digo, olhe ao seu redor, é tão lindo e deve ter algum significado para você. - ele olhou ao redor, como se quisesse comprovar o que eu estava falando. - Talvez você ainda seja jovem demais para cuidar de tudo isso sozinho, mas pense bem, não quero que se arrependa depois. 
- De qualquer jeito, eu não posso me dedicar a isso agora. 
- Não fuja do assunto. Isso não significa nada para você? Não te faz bem manter algo que pertence a sua família? - ele ficou em silêncio de novo, obsevando a paisagem de cartão postal. Por vezes, nem ele parecia acreditar ser dono de tudo aquilo. 
- Pois é, você me pegou, eu não sei se quero vender. Apesar de tudo, meu pai deixou todo um legado para mim. Isso quer dizer que ele acreditava no meu potencial. 
- É claro que ele acreditava. - coloquei minha mão em seu ombro, sorrindo com confiança. - Pense melhor, deixe isso nas mãos de pessoas que você confia e dê tempo ao tempo. 
- Você está certa. 
- Então, onde você vai me levar agora? 
- Agora nós podemos ir jantar e depois eu tenho uma surpresa. - concordei com a cabeça e nós fomos nos preparar para comer. Depois que escolhemos entre um dos cinco restaurantes, comemos calmamente e fazendo pequenas pausas para rir ou fazer pequenos comentários. O prato que era preparado com peixe estava delícioso e o vinho era sua companhia perfeita. Durante aquele momento, Joseph continuava demonstrando muito respeito e companheirismo com todos ao redor. Por vezes, ele não parecia mesmo o dovo de tudo aquilo. O grande chefe. Quando estávamos satisfeitos, ele me levou até um Rolls Royce preto, dizendo que sua surpresa estava próxima. E, apesar de querer mesmo ser surpreendida, eu já tinha uma noção do lugar em que ele estava me levando. Ah, como eu queria voltar àquele lugar. 

Quando o vento ficou mais forte e o cheiro de mar tomou conta de minhas narinas, senti um conforto enorme no peito. Eu sabia! Era aquela praia... 
Depois de estacionar perto da areia, ele saiu e deu a volta para abrir a porta para mim. Segurei sua mão e fui muito bem recebida pelo vento que levou meus cabelos para trás. Apesar da felicidade por estar naquele praia, eu também conseguia sentir medo. Às vezes, eu tinha sorte e conseguia esquecer por um tempo pelo que estávamos passando, mas depois tudo voltava e me fazia acordar para a realidade. Ali, naquela praia, eu sabia que ele traria certos assuntos a tona. Passei até a temer uma possível despedida. 
Caminhamos pela areia de mãos dadas, ficando cada vez mais próximos do mar. Algumas pessoas ao longe estavam na água, outras apenas assistiam a bela noite e conversam com outras, totalmente descontraídas. Diferente da outra vez em que estive ali, caminhei com meu marido até um pier largo e de madeira escura. Passamos pelo mesmo, sentindo o peso do vento em nossos corpos e mantendo nossos bocas fechadas, apenas procurando aproveitar o que nossos olhos enxergavam. Ao final do pier, uma cerca também de madeira nos permitia apoiar o corpo ali e observar o mar. As ondas se quebravam e produziam um barulho agradável. 
- Veja como o mar está agitado, obscuro... - Joe apontou para as águas, me fazendo sorrir. - Veja também como a lua está brilhante, como ela parece forte. O reflexo que ela produz no mar, o jeito como os dois parecem estar ligados. 
- Exatamente como naquela noite. 
- Sim, exatamente como naquela noite. Eles continuam juntos, continuam nos oferecendo essa vista linda. Apesar de tudo que acontece diariamente, isso não muda. Nunca vai mudar, na verdade. - ele virou o corpo e colocou as duas mãos em minha cintura. A luz da lua intensificava a cor de seus olhos. Fiquei esperando que seus lábios viessem de encontro aos meus, mas ele tinha mais coisas a dizer. 
- Foi naquela noite que eu soube que ainda existia vida para mim, Demetria. - ele passou o polegar por minha bochecha, puxando meu corpo pela cintura com a outra mão e acabando totalmente com qualquer distância entre nós. O tecido de sua camisa era movimentado pelo vento, assim como a saia de meu vestido branco de tecido fino. - Quando você disse que me amava. Deus, como eu me assustei ao ouvir você dizer aquilo... Como alguém poderia amar um monstro? Você só podia estar louca! 
- Talvez eu ainda esteja louca. - embrenhei meus dedos nos cabelos de sua nuca e uni nossas bocas, passando minha língua pelo lábio inferior dele e começando um beijo cheio de ritmo e desejo. Suas mãos seguravam meu corpo com firmeza e certo desespero, como se ele estivesse prestes a me perder. E algo dentro do meu peito doeu. Aquele não era um beijo qualquer, não era como todos os beijos que haviamos trocamos durante nosso tempo juntos... Era um beijo de despedida. 
Abri os olhos, dando de caras com suas íris verdes brilhantes. 
- Eu te prometo que nossa história não acabou. Agora eu não posso deixar isso como está, eu preciso aceitar o que me espera em Londres, mas eu quero que você saíba de uma coisa. 
Joe... - tentei dizer, já sentindo meus olhos arderem, mas ele me calou com um selinho demorado. 
- Do mesmo jeito que o mar e a lua continuam nessa sintonia, nós também continuaremos. Eu não sei o que vai acontecer comigo, mas eu já cuidei para que nada de ruim aconteça a você enquanto eu não puder te proteger com os meus braços. - eu não estava entendendo o que ele estava dizendo, mas permaneci em silêncio. - Se você não desistir, eu também não vou. Enquanto você acreditar em mim, acreditar em nós... Existe uma razão para eu continuar lutando. E, talvez um dia, eu possa ser o pai dos seus filhos, e nós vamos enlouquecer nos primeiros meses, mas será a experiência mais divertida das nossas vidas. Vamos olhá-los depois de alguns bons anos e perceber que tudo valeu a pena. Talvez eu possa ser o homem que vai envelhecer ao seu lado e repetir todos os dias o quanto você é linda e o quanto eu me sinto feliz por ter você até o último dia da minha vida. Talvez um dia você não tenha mais que sofrer por minha causa... 
Um soluço escapou pela minha garganta e o vento aumentou, fazendo uma lágrima sumir em minha pele. 
- Eu te amo, Demetria. - Não se despeça de mim desse jeito, eu te imploro! - o envolvi em meus braços com força, temendo que ele pudesse desaparecer a qualquer momento. Encostei minha cabeça em seu ombro e deixei que mais lágrimas caíssem. Joseph tinha certeza do que o destino tinha separado para ele, sabia que seria preso. Como eu havia dito a ele, não existiam provas contra, mas também não existia nada a seu favor... Mas eu esperaria por ele. 
Love hurts, but sometimes it's a good hurt. And it feels like I'm alive... - cantei baixinho, mesmo não sabendo porque tive vontade de cantar aquela música. 
- Por que você não tentou seguir a carreira de cantora? Sua voz é linda. - ele disse perto do meu ouvido. Já tinha ouvido aquelas mesmas palavras saírem por seus lábios algumas vezes. 
- Você não pode julgar o que eu deixei de fazer. Não é médico e nem cursa medicina, e, pelo que eu sei, era esse seu sonho... - rebati, com os olhos fechados e sentindo o perfume em seu pescoço. 
- Sonhos mudam. 
- Qual é o seu sonho agora? 
Joseph não respondeu. 


Olhei fixamente para o espelho, observando meu corpo naquele vestido. O tecido preto se ajustava as minhas curvas, desenhando minha cintura e quadris. O decote quadrado deixava meus seios bonitos e mangas em renda preta cobriam meus braços. A fenda na saia permitia que uma de minhas pernas ficasse amostra, destacando meus sapatos pretos de salto fino. Ajeitei uma mecha de cabelo que estava fora do lugar em meu coque e observei a trança francesa na lateral, tendo certeza de que estava certa. A maquiagem consistia em muito rímel e lábios com um tom de vermelho bonito. 
Eu não sabia porque tinha me arrumado tanto, mas Joe pediu que eu ficasse pronta para uma festa particular que aconteceria assim que ele terminasse uma de suas reuniões. Sozinha no quarto, me olhei no espelho mais uma vez e me perguntei se a tristeza era capaz de transparecer mesmo com toda aquela produção. Nem eu mesma conseguia enxergar minha tristeza, eu não queria enxergar. Depois da despedida de Joseph na praia no dia anterior, eu me obrigava a afungentar qualquer tipo de pensamento depressivo. Afinal, você só se deixa queimar no fogo do inferno quando já está nele.
Borrifei um pouco de perfume no pescoço e pulsos esperei até que meu marido viesse me buscar. 
Logo, duas batidinhas na porta me fizeram levantar rápido da cama e caminhar até a mesma, ouvindo os saltos contra o chão. 
Assim que abri a porta, Joseph quase engasgou quando me viu. Sorri levemente e ele estendeu o braço para que eu o segurasse, sorrindo galente. Seus cabelos estavam penteados para trás e ele usava um terno grafite. Me disse que sua reunião já estava finalizada e que a festa privada para hóspedes e sócios já tinha começado. Eu queria festejar e beber, mesmo que não tivesse motivos para a primeira opção. 
- E depois dizem que não existe beleza em uma tragégia. - ele nos fez parar brevemente no corredor e beijou meu rosto com romantismo. - Até dói te olhar, Demetria. 
- Isso quer dizer que eu estou horrenda? - brinquei e ele revirou os olhos. Entramos pela milésima vez naquele elevador e paramos no primeiro andar. Uma escada elegante e branca, com flores em sua decoração nos esperava. Embaixo, o salão onde a festa estava acontecendo parecia extremamente movimentando e uma música envolvente tocava. Joseph fez um gesto de cavalheirismo e segurou minha mão, então nós descemos com cuidado pela escada. Os membros da festa perceberam que estávamos nos aproximando e pararam sua dança para nos aplaudir. Eu não sabia o que eles aplaudiam, mas, assim como Joseph, sorri abertamente. O lugar contava com uma decoração clássica e diversas pessoas dançavam em pares. Todos com seus vestidos e térnos de gala. Um garçom com uma bandeja de prata nos ofereceu champagne e eu não recusei, percebendo que duas mulheres extremamente elegantes se aproximavam para conversar comigo. 
- Eu já volto! - Joseph me um beijo rápido e cumprimentou as duas mulheres com um aceno de cabeça. 
Logo eu estava sentada em um dos diversos chaises espalhados pelo local. Assisti os casais dançando uma música de instrumental agradável e pedi outra taça para o garçom. 


Joseph's P.O.V

Deixei o salão com passos apressados e caminhei por um dos milhares de corredores do hotel. A única imagem que eu tinha na mente era de Demetria. Ela estava tão linda e eu me sentia feliz por saber que ela era minha. 
Eu era um homem sortudo, apesar de tudo. 
Olhei ao redor para ter certeza de que ninguém estava por perto e abri uma porta, entrando e fechando a mesma rapidamente. Cameron estava no canto, com os braços cruzados e uma sobrancelha arqueada. Eu não sabia o que diabos tinha acontecido comigo para que eu procurasse ele, para que eu pedisse sua ajuda. Aquele era o homem que eu odiava, o homem que eu tentei matar. O homem que fora responsável por parte do inferno em minha adolescência. Mesmo assim, eu não tive outra escolha. Precisava de alguém para cuidar da minha Demetria. Eu estava atormentado e assustado com as coisas que poderia ter feito no passado. E se eu tivesse mesmo tentado algo contra minha amiga Erin? E se eu tivesse mesmo feito algo contra ela? E se o fato de seu corpo estar escondido naquela maldita casa era só mais uma das muitas provas que me colocariam atrás das grades? Eu, Joseph Jonas, não poderia fugir. Não tinha essa opção. Apesar de querer ficar com Demetria, eu não podia simplesmente pegá-la e levá-la para longe, vivendo uma vida de fugitivo. Ela não merecia isso. E, se eu tivesse que pagar abrindo mão de minha liberdade, eu pagaria. 
Por isso, quando Demetria me disse firmemente que viria para Los Angeles, tratei de ir até a casa de Cameron e fazer algo que eu jamais imaginaria ser capaz. 
Eu pedi sua ajuda. 
Não que eu tivesse certeza de alguma coisa, mas foi ele que Demetria procurou quando não restava mais ninguém, e o medo que ela sentia de mim era grande demais para se aproximar. Que porra eu estava pensando, afinal? Entregar a mulher que eu amava nas mãos de um cara que queria muito mais do que simplesmente protegê-la era como suicídio. No entando, eu confiava nela. Apenas nela. 
- Você tem ideia do quanto é chato ter uma festa acontecendo e eu ter que ficar nesse maldito escritório? - ele me disse com a voz cheia de deboche, desgrudando seu corpo de parede e se aproximando. - Onde ela está? 
- Na festa. - eu rosnei, lançando um olhar mortal para ele. Mas eu já tinha estragado tudo, eu já tinha colocado ela nas mãos dele. Não podia reclamar. - Não aja como se eu estivesse feliz com essa escolha. Mas eu não posso fazer outra coisa, eu não posso deixar que ela corra o risco de ser pega pelo Carter. Eu não posso permitir que ele encoste nela. 
- Ele não vai. - Wolfe respondeu com confiança. - Na verdade, Joseph, eu estou curioso. Você realmente confia em mim para isso? 

Flashback

Estava chovendo e meu pai ainda não tinha aparecido para me buscar na escola. Corri até a parte coberta e fiquei lá, assistindo enquanto os outros iam embora com seus pais. Onde meu pai estava? Bufei, xinguei aquele homem de todos os jeitos que eu sabia e acendi um cigarro, não me importando se alguém visse. Um barulho de passos rápidos prendeu minha atenção e eu levantei, percebendo que alguém também tinha pensado em se proteger da chuva no mesmo lugar. 
Cameron Wolfe passou rápido por mim e se sentou, estava com a respiração falha e totalmente molhado. Dei de ombros e voltei a fumar, não fazendo questão de me importar com a presença daquele garoto. 
Joe. - ele disse e eu virei o pescoço. 
- O quê? 
- Eu não tenho nada a ver com o que nossos pais fazem. E, se quer saber, Elizabeth sempre vai ser sua mãe. Ela pode estar com o meu pai agora, mas isso não muda as coisas. - eu não sabia porque ele estava sendo legal comigo, nem porque dizia todas aquelas palavras idiotas. Traguei o cigarro por uma última vez e joguei seu resto na chuva, soltando a fumaça. 
- Obrigado pelas palavras, Wolfe. Pena que elas não servem de nada. 
- Você não é o único que tem que viver sem a sua mãe. Acho que temos uma coisa em comum. 

Fim do Flashback.

- Aparentemente Demetria confia, e eu espero que com razão. É isso que importa. - passei pela porta, deixando claro que ele poderiaa me seguir e ir aproveitar a festa, mas não tinha movido um músculo. - Wolfe, eu não tenho todo o tempo do mundo. - ele passou pela porta e a fechou. Wolfe me olhou e balançou a cabeça positivamente. 
- Eu vou cuidar dela, você pode ter certeza. 
- Ótimo. - eu disse, voltando a andar na direção do salão. 

/Joseph's P.O.V


Minhas palpebras estavam insuportávelmente pesadas e aquela música clássica não ajuda de maneira alguma. Agradeci ao garçom por me serviu outro drink e o virei, fazendo uma careta e voltando a prestar atenção nas pessoas da festa. Apesar de ser a esposa do dono de tudo aquilo, ninguém parecia realmente me notar, o que era muito bom, visto o estado em que eu me encontrava. Não, eu não estava bêbada, mas também não estava em meu estado totalmente sóbrio. Não que eu fosse de afogar mágoas com drinks e champagne, mas naquele dia eu não estava me importando. Cruzei as pernas e senti o salto incomodar um pouco, procurando ao redor por Joseph. Onde diabos aquele homem estava? Tinha dito que já voltava e vários mínutos tinham se passado. 
Quando olhei na direção da escada que tínhamos descido, arregalei os olhos e os pisquei algumas vezes. Engano meu, eu estava totalmente bêbada, porque aquela cena não podia ser real! 
Ergui meu tronco que estava relaxado no chaise e me levantei, esperando que aquela visão desaparecesse. Esperando que pelo menos um daqueles dois homens desaparecesse. 
Joseph e Cameron vinham caminhando pelos casais que dançavam, ambos trajavam ternos bonitos e elegantes. Os dois me olhavam, cada um de maneira. 
Eu tinha enlouquecido de vez. 
Os dois pararam na minha frente e Cameron deu um sorriso de canto, se curvando e beijando minha mão. Segurei o drink com mais força para que não acabasse escapando por meus dedos que estavam prestes a tremer e olhei incrédula para Joseph, que tinha uma expressão de derrota em seu rosto. 
- Olá, Demetria. - Cameron disse com sua voz calma e carregada de segundas intenções. Joseph olhou para ele por um instante e fechou uma das mãos em punho. Fingindo que não estávamos no meio de um lugar movimentado, eu disse alto: 
- Alguém vai me explicar o que diabos está acontecendo aqui? - meu olhar alternava de um para o outro. 
Demi, sente-se. Precisamos conversar. - meu marido pediu e eu me sentei, voltando a arregalar os olhos quando cada um sentou de um lado. 
Eu estava no meio de uma tremenda confusão, literalmente. 
Depositei ainda mais força no copo que segurava, não acreditando que Wolfe estava ali. E acreditando menos ainda que Joseph não estava fazendo nada para afastá-lo. Eu sentia raiva daquele homem, como ele foi capaz de contar o que aconteceu para o Carter? Como ainda tinha coragem de me olhar com aqueles olhos que fingiam inocencia e deixar que aquele sorriso surgisse em seus lábios? Eu queria socá-lo. 
- Por que vocês estão sentados no mesmo chaise que eu? Ou melhor, porque não estão olhando com fúria um para o outro com os punhos erguidos? Vocês se odeiam! - coloquei o copo de drink na mão de Joseph e escondi meus rosto com as mãos, totalmente confusa. 
Demetria, você está bêbada? - Cameron perguntou, querendo rir. - E, sim, nós nos odiamos. 
- Não, não estou bêbada. Só não consigo acreditar que vocês dois não estão prestes a matar um ao outro! - exclamei, fazendo com que um dos casais que dançava me olhasse de um jeito estranho. Ignorei, lançando um olhar suplicante e questionador para Joe. O que diabos ele estava fazendo? 
- Não me culpe por nada, foi seu marido que me pediu para vir até Los Angeles. 
- Porra, eu já disse que não tenho escolha! E é bom que você não deixe nada acontecer à ela, ou eu dou um jeito e acabo com você. 
- Você? Me ameaçando? Wow, é o apocalípse! - Wolfe disse, se aproximando um pouco de mim e parando o garçom para pegar um drink. 
- Do que vocês estão falando? Não deixar nada acontecer comigo? Por acaso ele vai... - parei de falar, arregalando os olhos mais uma vez e olhando com raiva e tristeza para Joseph. Não, ele não poderia ter feito o que eu estava imaginando. 
- Eu não posso deixar você sozinha, o Carter não pode chegar perto de você. Olha, eu sei que você não vai compreender agora, mas só faço isso pelo seu bem. O Cameron vai cuidar de você, enquanto eu... - ele suspirou, encarando o chão. Eu queria gritar, queria quebrar aqueles copos na cabeça de ambos. Por que estavam me tratando como uma criancinha? Por que meu marido não podia ter um pouco de esperança? Por que ele estava tão certo de que seria preso? Droga! 
- Legal, agora eu vou ter uma babá! - ironizei uma comemoração. 
- Tem certeza de que você não está bêbada? - Cam voltou a perguntar, fazendo minha raiva aumentar. Então ele sabia de tudo? Joe tinha contado tudo que sabia sobre Erin? Tinha me deixado nas mãos de Cameron para que ele pudesse ser uma espécie de anjo da guarda? Que ótimo. 
Joseph se levantou e estendeu sua mão, olhando-me nos olhos e ignorando a presença de Cameron. Uma música mais lenta começou a tocar e eu entendi que ele queria dançar comigo. 
- Posso ter uma última dança? - segurei sua mão e levantei com raiva, sentindo uma leve tontura e meu corpo mais leve do que deveria estar. Meu marido me segurou com firmeza pela cintura, não deixando que eu caísse. 
- Eu acho bom você parar de falar desse jeito, até parece que vai morrer amanhã. - ralhei. 
- E eu acho bom você parar de beber. - ele me puxou e nos conduziu até o meio da pista. - E dançar comigo. 
Cameron sumiu de meus pensamentos, tudo sumiu de meus pensamentos. Restava apenas Joseph, eu e aquela dança que começava. Ele segurou minha mão com carinho e passou o outro braço por minha cintura, conduzindo meus movimentos. Envolvi meu braço livre em seu ombro e encostei minha cabeça em seu ombro, deixando que a música nos levasse. As curvas de meu corpo sonolento pareciam encaixar-se perfeitamente com o dele, e eu fechei os olhos ao prestar atenção na letra da música. 

Whenever I'm alone with you
You make me feel like I am home again
Whenever I'm alone with you
You make me feel like I am whole again.


Fomos dando passos rítmicos pelo salão, passando por outros casais. Levantei meu rosto e o olhar de Joseph estava pronto para se encontrar com o meu. Havia algo extremamente sedutor no jeito que ele segurava minha cintura, obrigando-me e seguir seus movimentos a todo custo. Nossos narizes se encostaram e sua respiração quente se chocou com minha boca. Eu estava um pouco bêbada, mas nenhum álcool no mundo seria capaz de anestesiar o que aquele olhar me causava. Voltei a repousar a cabeça em seu ombro e senti sua boca se aproximar de minha orelha, depositando um beijo no lóbulo. 
Até na mais violenta luta, existira um movimento gracioso. Até no mais destruído campo da batalha, existira uma pétala de rosa. - ele sussurrou com sua voz rouca e apaixonante, fazendo meu corpo inteiro se arrepiar enquanto ainda dançavamos. Procurei por contato visual de novo, desesperada por uma explicação para aquela frase. - Minha mãe vivia dizendo essa frase, mas não sei por que fui lembrar disso agora. 

However far away
I will always love you
However long I stay
I will always love you
Whatever words I say
I will always love you
I will always love you.


- Posso? - assim que a música terminou, outra um pouco mais animada começou e Cameron me surpreendeu ao surgiu do nosso lado como uma aparição. Ele olhou para Joseph pedindo permissão e meu marido soltou meu corpo, trancando seus lábios em uma linha reta e abaixando a cabeça, se distanciando de nós. Ainda atordoada, senti quando a mão de Cameron segurou minha cintura com certa força, segurando minha mão com a outra e me obrigando a dançar novamente. Eu não queria estar dançando com ele, não queria suas mãos em mim daquele jeito, não queria estar sendo olhada daquele jeito. Porém, eu não conseguia mudar de direção. Mantemos nossos corpos concentravados em manter aqueles mesmos movimentos, olhando nos olhos um do outro. Meu olhar era frio e distante, mas o dele era intenso e ansioso. Eu não sabia o que ele estava tentando conseguir... Ok, eu sabia sim. 
- Pode desfazer esse sorriso. - avisei, adotando uma postura mais tensa e sentindo sua mão se afrouxar em minha cintura. 
- Você está bêbada. - senti seu hálito extremamente próximo. - Mas não se preocupe, eu vou cuidar de você. 
Ignorei o que ele disse e, mesmo continuando a dançar, procurei por Joseph com o olhar. Não demorei a encontrá-lo. Seu corpo jazia encostado em uma das pilastras e uma de suas mãos segurava um copo com whisky. 
Apesar de insanamente lindo, ele não era capaz de esconder o semblante triste, derrotado. Seus olhos verdes se encontraram com os meus e ele tentou sorrir, mesmo sabendo que não conseguiria enganar ninguém com aquele sorriso. 
- E eu sei a quem você pertence. - a voz de Cameron soou abafada, mas eu preferi ignorar e continuei a contemplar o homem que eu amava do outro lado da pista. Porque, mesmo nos braços de outro, eu sempre pertenceria a ele. 

Whatever tomorrow brings, I'll be there
With open arms and open eyes, yeah
Whatever tomorrow brings, I'll be there
I'll be there.

Um comentário:

  1. Ameii esse ep o Cameron tem q se tocar q a Demi é do Joe, nao vejo a hora do Carter ter oq ele merece. posta Logo

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