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segunda-feira, 17 de março de 2014

Secretary II - Capítulo 9


Enterrado e esquecido



O papel em minha mão era amassado na medida em que meus pensamentos tentavam se organizar. Levantei bruscamente do sofá e entreguei o papel rapidamente para Caleb, que se atrapalhou ao tentar colocá-lo no bolso de novo. Observei todos os rostos com expressões diferentes pelo local onde os restos da festa reinavam e balancei a cabeça negativamente. 
- Você tem ideia do que vamos fazer agora? - Caleb perguntou. 
Deixei que meu olhar se perdesse em uma mesa com sobras de comida, até que um rosto entrou na mesma direção. 
Troquei um olhar carregado com Cameron e tentei desviar, mesmo sabendo que ele não tinha feito o mesmo. Não aguentei e olhei de novo, procurando por algo indefinido naquele rosto. Ele levantou quase que imperceptivelmente um dos cantos da boca e depois seu olhar desceu para minhas pernas sujas com o troço vermelho dos sprinklers. Ele fez menção de se aproximar, mas uma mão com unhas pintadas de vermelho segurou seus ombros e o puxou para longe. Ele lançou um olhar furioso para Bethany e depois um último para mim. Segundas, terceiras e até quartas intenções transbordaram e eu voltei minha atenção para Caleb que tinha um ponto de interrogação estampado em sua face. 
- Você acha que devemos procurar esse local ou... 
Minha voz foi interrompida com batidas apressadas na enorme porta de madeira. Cassie surgiu do nada e abriu a mesma, lançando um olhar horrorizado para quem quer que estivesse ali. A loira lançou um olhar frio para mim segundos depois e apontou com a cabeça. Joseph entrou no recinto e todos olhavam para ele e para as três marcas horrendas em seu rosto. Meu estomago se embrulhou e o asco tomou conta de mim. Talvez pelo ferimento, talvez por toda aquela agitação e a lembrança de um Carter demôniaco ou talvez pelo conjunto de tudo. Conversas baixas de diversos cantos começaram e eu só conseguia ficar parada olhando para ele com raiva. É, raiva. 
Não poderia explicar muito bem porque a raiva, mas senti vontade de ir até ele e esmurrar seu torax como já tinha feito algumas vezes. Mas antes que eu pudesse colocar qualquer ideia em pratica, Caleb entrou em minha frente e foi até Joseph. 
- Isso é grave! Vamos para o hospital! - ele gritou por Rachel e procurou pelas chaves nos bolsos. 
- Eu não quero ir. - Joseph disse, frio. 
- Ah, mas é claro que você quer! - me coloquei ao lado dos dois e encarei Joseph com toda a força que tinha. Meu olhar deveria pegar fogo, porque ele engoliu em seco, olhou para baixo e depois concordou com a cabeça, se dando por vencido. 
- O que aconteceu com os outros dois? - Caleb perguntou, curioso para saber o paradeiro de seu pai. 
- Austin mandou aquele... - Joseph fechou os olhos e respirou fundo, se recompondo em seguida. - Mandou que o Carter fosse embora antes que tivesse que tomar alguma providência. Depois disso, o mesmo foi embora também e mandou que eu entrasse e cuidasse disso. - ele apontou para os ferimentos no rosto. 
- Então vamos cuidar! - sem pensar direito, segurei a mão de Joseph e parei de andar quando senti como ela estava quente. Com um pouco de esforço e ignorando nosso contato, o puxei com certa força e manti nossos olhares colados. 
- Certo, adoro uma visita noturna ao hospital... - Caleb disse. Estava tão sério que ele realmente deveria adorar aquilo. 
Ignorando todas aquelas pessoas, Caleb, Joseph e eu passamos rápido pela porta e somos rápido até o carro. 
Pelo menos eu tinha conseguido fugir dos olhos intensos de Cameron. 

O caminho até o hospital estava sendo tenso. Enquanto Caleb dirigia cantarolando alguma música estranha, eu só conseguia ficar encarando minhas unhas. No banco traseiro, um Joseph totalmente silêncioso se encontrava. Caleb parecia estar imune àquela tensão que pairava dentro do veículo. Mordi o lábio, controlando minha vontade de ir para o banco de trás com Joseph e conversar com ele; perguntar se o ferimento ainda estava doendo. Poderia também dizer a ele que eu continuava disposta a cumprir a promessa que tinha feito. Eu queria cumprir, não queria? Se pelo menos eu soubesse que ajuda era aquela que ele tanto precisava... 
Quando Caleb me entregou aquele folheto com a foto da tal Erin, confesso que pensei em milhares e milhares de hipoteses, das mais absurda até as mais banais, mas eu continuava na estaca zero. 


Joseph's P.O.V

Soltei o ar pesadamente, tentando me manter parado enquanto a enfermeira cuidado do meu ferimento. O médico que me atendeu determinou que o local recebesse pontos, já que era um corte profundo. Depois de uma medicação apropriada para a inflamação e a dor, lá estava eu tentando fingir que não estava sentindo nada. Depois de limpar, suturar e colocar um curativo de maneira apropriada, ela me liberou e deu um leve sorriso. Agradeci, respirando fundo mais uma vez, deixando que aquele famoso cheiro de hospital entrasse por minhas narinas e saí da enfermaria. Enquanto caminhava pelos corredores brancos a procura os dois que estavam me acompanhando, não pude deixar de observar detalhes simples daquele hospistal. Médicos e enfermeiros andando de um lado para o outro; alguns calmos e serenos, outros apressados e preocupados. Uma rotina. 
Quando criança, minha maior vontade era fazer parte daquela rotina muitas vezes brutal. Quando criança, eu tinha aquela estranha vontade de curar as pessoas. Tinha decidido que faria medicina e me tornaria um médico capaz e totalmente focado em seu trabalho. Com 9 ou 10 anos um garoto como eu era não se preocupada com namoradas, não se preocupava se um dia se casaria ou teria filhos. Durante as aulas de biologia na escola, enquanto as outras crianças faziam traquinagens com os ratos, sapos ou qualquer outro animal, eu ficava procurando um jeito de reconhecer algo de errado com eles. Queria fazer com que a dor provocada por alguma daquelas crianças insuportáveis sumisse. 
Com o passar dos anos, só consegui o efeito contrário... Só causei dor. 
Dor. 
A dor em meu rosto já tinha se tornado suportável. Avistei Caleb e Demetria encostados em uma parede da sala de espera. Seus olhares eram preocupados e eles pareciam conversar sobre algo que exigia discrição. Senti algo dentro de mim despertar por causa daquilo e tratei de apertar o passo e me aproximar deles. 
Não, eu não estava com cíumes, só achava que o assunto da conversa dos dois era algo que exigia a minha preocupação. Demetria pigarreou e olhou afobada para mim, sendo seguida por Caleb que fez um aceno de cabeça. Fui idiota por ficar esperando que minha mulher viesse para os meus braços e perguntasse como eu estava. Demetria estava diferente. Aquilo despertava a minha raiva, despertava a vontade de ser frio com as pessoas ao meu redor. Eu não conseguia sentir o calor do corpo dela proximo ao meu. Permaneci em silêncio, enquanto os dois continuavam a me encarar e então eu bufei. Procurei por algo nos bolsos da calça e me senti aliviado quando encontrei o maço de cigarros. 
- Podem continuar com a conversa secreta, não quero atrapalhar. - eu disse simplesmente, dando as costas para os dois e procurando uma saída. 

Já era o segundo cigarro sendo tragado. Eu queria e não queria parar com aquilo, porque achava fumar um vício inútil. O prazer provocado pela nicotina em meu sistema não era grande coisa. Existiam prazeres melhores, prazeres muito melhores... 
- Desde quando você fuma? - surpreendi-me com aquela voz e sem fazer questão de esconder o cigarro, virei meu corpo e encarei Demetria. Ela tinha uma expressão confusa e olhava do meu rosto para o cigarro envolvido entre meus dedos. - Cada dia uma nova descoberta, é isso? - o vento passou pelos cabelos dela, enquanto seus passos rápidos iam colocando nossos corpos a uma distancia cada vez menor. Dei de ombros, soltando um riso e dando outra tragada. O clima entre nós estava estranho, e eu não fazia questão de tentar quebrá-lo. Por algum motivo, o Joseph preocupado com o seu relacionamento tinha saído do meu corpo e ido dar uma volta. - Eu estou falando com você! - seu rosto a centimetros do meu se fechou e as sobrancelhas dela se uniram, assim como os lábios que formaram uma linha fina. 
Soltei a fumaça, lançando um olhar indiferente para ela. Estava afim de provocá-la, um masoquista de plantão. 
- E você se importa? - assisti enquanto seus dedos trataram de tirar o cigarro que já estava pela metade de meus dedos. Em um movimento rapido e até que gracioso, ela o levou até sua boca e deu uma curta tragada. Piscou os olhos algumas vezes e depois soltou a fumaça, se recuperando e lançando um olhar mortal para mim. 
- Já passamos da fase de joguinhos, você não acha? - ela indagou, jogando o cigarro longe. 
- E você, Demetria, desde quando fuma? Meu Deus, como a comunicação no nosso relacionamento é boa! - ironizei. - Daqui a pouco vai me dizer que beijou o Caleb por acidente... - assim que soltei as últimas palavras, ela deu um murro em meu ombro. Soltei um grunhido e segurei seus braços, olhando fundo em seus olhos. 
O que estava se passando entre nós? 
- Quer mais um machucado? Vejo que não se contenta com essas três marcar na sua cara. Vão deixar cicatrizes, pode ter certeza. - ela não se importava por estar sendo segurada. - E agora você sente ciúmes do Caleb? Francamente... 
- Você me fez uma promessa, Demetria! 
- Você me deve uma confissão, Joseph! 
- Tem certeza que eu preciso confessar alguma coisa? Aparentemente, o nome Erin Fields não é estranho para você. - toda a confiança que transbordava pelo olhar daquela mulher foi embora e então ela parecia assustada. Desviou seu olhar do meu e ficou encarando o outro lado da rua. Demetria fechou os olhos com força e sugou o ar com vigor, como se estivesse tentando prender um choro. 
- Nós não... Nós não... - apertei ainda mais seus braços, puxando seu corpo para mais perto. 
- Não deveriamos ter nos casado? É isso que você vai dizer? Diga de uma vez! 
Eu podia perceber que ela travava uma batalha interna para não chorar. Eu estava sendo um monstro, de novo. 
- Eu não tenho certeza de nada. Eu olho nos seus olhos esperando a verdade, esperando você confiar em mim e provar que tomamos a decisão certa quando entramos naquela igreja. Mas quanto mais luz eu procuro dentro dos seus olhos, mais a escuridão deles me cega. Eu prometi que te ajudaria, mas você não parece interessado em colocar nada para fora... - seus olhos brilharam com as lágrimas e eu afrouxei minhas mãos em seus braços. De novo, estávamos brigando de novo. - Não tenho mais certeza se eu posso continuar com tudo isso... 
Eu poderia ser um fraco, mas um desespero sem tamanho me possuiu e eu não queria ouvir o resto. Não queria aceitar daquele jeito que estava a perdendo por esconder toda aquela porcaria do meu passado. Quanto foi necessário para eu conseguir que aquela anjo ficasse ao meu lado? Ela lutou tanto por mim e eu estava provando ser a porra de um mal agradecido. 
- Fique quieta! Você não pode dizer isso, você não pode desistir disso, não pode... - nossos narizes quase se colavam com a proximidade de nossos corpos. - Você é minha
- Uma aliança não vai me prender. - de repente, as lágrimas em seu rosto não faziam mais diferença e o olhar frio tomou conta de Demetria de novo. Nos meses em que ficamos juntos, ela nunca tinha me olhado daquele jeito. Despertou sentimentos obscuros em mim. - E pare de me tratar como se eu fosse sua propriedade. 
- Uma aliança não vai te prender, não é? - a obriguei a olhar mais uma vez em meus olhos. - Uma par de algemas sim, Demetria! E eu juro por Deus que se você tentar me deixar, é isso que eu vou fazer. Eu vou te prender e te arrastar para bem longe de todo esse inferno. Eu farei você esquecer de tudo isso e você voltará a ser a minha doce Demetria... 
- Por que você não vai pro inferno com toda essa possessão? - ela fez forças com os braços e eu acabei a soltando, percebendo que poderia machucá-la se não o fizesse. - Você é doente, Joseph! 
- Sempre fui. 
- Eu também devo ser, porque fiquei todo esse tempo convivendo com tudo isso... 
- Eu não vou admitir que você fale desse jeito! Não vou permitir que jogue tudo na minha cara como se eu não tivesse feito você feliz nem que por um segundo... 
- E de que adiantou? Olhe para nós agora... Não reconheço mais você, não me reconheço mais... - Demetria limpou o rosto e me fitou intensamente por uma última vez. - Vou pedir para a Caleb me levar até a minha casa. - ela frisou suas duas últimas palavras e deu as costas para mim, entrando no hospital com passos apressados. 
Tudo que eu fiz foi acender outro cigarro. 

/Joseph's P.O.V


Um fim de tarde quente: com certeza aquilo estava totalmente fora da época. Era dia 1 de novembro e as pessoas já pareciam esperar pelo intenso inverno europeu, mas tudo que conseguiam obter era um calor com proporções sobrenaturais. Talvez obra do aquecimento global. Enquanto refletia sobre dezenas de coisas sem importancia, ouvi um buzinar e tratei de jogar a água do copo na pia do cozinha, apagar as luzes e sair com passos apressados até a entrada de minha casa. Naquele dia, eu tinha acordado com o estômago embrulhado e sentindo a ansiedade borbulhar dentro de mim. Depois da noite nada amigável que tive com Joseph, possuida pela raiva, combinei com meu amigo Caleb que iriamos procurar aquele endereço... 
Peguei um prendedor que achei jogado pelo caminho e fiz um rabo-de- cavalo alto com meus cabelos, ajeitando a blusa preta de alças finas e ajustando também o jeans surrado que eu vestia. Peguei o molho de chaves que estava em cima de uma mesinha na sala e abri a porta. Caleb acenou com a mão, levantando os óculos em seguida. Ele estava com os cabelos cacheados mais desordenados do que nunca e vestia uma camisa polo que aparentava ser bem fina. 
- Oi. - eu disse, trancando a porta e suspirando brevemente. 
- Mas que droga de calor é esse? - ele comentou, passando a mão pela testa, dando a volta em seu carro e entrando no mesmo. 
Imitei seus movimentos e sorri agradecida quando ele ligou o ar condicionado. 
- Então... - comecei. - Você está disposto mesmo a procurar esse endereço? 
Demetria, eu ainda não tenho a mínima ideia do que você tem a ver com toda essa... coisa - ele gesticulava com as mãos enquanto falava, procurando palavras para definir algo que, a seu ver, parecia ter uma importancia grandiosa. Parecia um cientisma procurando por uma formula. - Mas, seja lá o que for, meu pai também está envolvido nisso! Caso contrário, como alguém pode explicar o folheto com, exatamente, o nome que você me mandou pesquisar? Isso é insano! 
- Será que esse endereço é o lugar onde ela está? O endereço de sua casa ou algo assim? - encarei a foto da garota pela milésima vez e depois virei a folha para tentar reconhecer o endereço. 
- E se esse lugar for longe? Estou falando de horas de distância! 
- Só vamos descobrir se você colocar esse carro para funcionar, Caleb! 
Ele seguiu minha ordem e durante o caminho nós trocavamos poucas palavras. A noite já reinava, porém o calor só parecia se fazer pior. Abri totalmente o vidro da janela do carro e contemplei um leve vento que entrou no veículo. Caleb estava dirigindo tranquilamene, pois estava contando com o auxílio de um GPS. De repente, ele soltou um risinho. 
- O que foi? - perguntei, levantando uma sobrancelha. 
Talvez eu estivesse me tornando boa em esconder minhas preocupações. Consegui esconder o turbilhão de pensamentos negativos e as sensações provocadas pela ansiedade em meu corpo, vestindo uma máscara sem expressão. 
- Não parece que somos como aqueles investigadores? Sabe, indo atrás de uma pessoa desaparecida, com todo um mistério envolvido... Digo, não temos a mínima ideia de quem é essa tal de Erin, mas mesmo assim é emocionante! - ri, enquanto ele se mostrava empolgado. 
- Pelo menos alguém aqui está conseguindo tirar alguma diversão de tudo isso... - comentei. Caleb diminuiu a velocidade para um sinal vermelho e começou a me encarar. - O quê? 
- Eu não tenho noção do que acontece entre você e o Joseph, como todos são capazes de sentir que tem algo tenso... - estava demorando para ele começar a falar do Joseph. Eu não queria ouvir nada sobre a minha situação com ele, queria simplesmente não pensar naquilo. Não pensar em nós dois... Por um tempo. - Por acaso tem algo a ver com a Erin? 
- Caleb, você não sabe o quanto eu desejo poder compartilhar tudo isso com alguém, mas, se não se importa, eu prefiro procurar por esse endereço sem dizer exatamente o motivo, tudo bem? 
- Ok. Você é quem manda. 
Dez minutos de silêncio se passaram, exceto pela voz feminina e computadorizada do GPS que ia auxiliando Caleb em seu caminho. 
- Tenho medo do que podemos encontrar. - confessei e ele concordou com a cabeça, demonstrando que compartilhavamos aquele sentimento. Enquanto eu sentia o calor dar uma trégua, encostei minha cabeça no banco de couro e comecei a prestar atenção no caminho que percorríamos. Toda a agitação e as luzes do centro de Londres não se faziam mais presentes ali. As ruas eram escuras e vazias, o fluxo de casas era diminuído e uma paisagem mais verde começava a se mostrar. Caleb entrou em uma espécie de estrada emoldurada por grama crescida que se misturava com outras plantas e formava um pequeno matagal. Árvores altas e com folhas dançando por causa do vento forte nos cercavam. Olhei com mais atenção para o caminho que cada vez se revelava mais escuro e endireitei meu corpo, chamando a atenção de Caleb. 
- Tudo bem? 
- Eu conheço esse lugar! - ele indireitou os óculos e parou o carro embaixo da maior árvore que se encontrava ali. Era visível um caminho escuro para aquele matagal e mais a frente eu podia enxergar pequenas luzes em postes. 
- Você tem certeza? - ele me olhou, prestando atenção em minhas expressões, enquanto eu tentava lembrar. Respirei fundo e abri a porta do carro, saindo do mesmo e encarando a estrada escura. Senti arrepios pelo meu corpo por estar sozinha ali. Certo, eu estava com Caleb, e ele não faria nenhum mal a mim, disso eu tinha certeza. Aliás, como aqueles braços magros poderiam fazer mal a alguém? Eu deveria ser mais forte do que ele, com certeza. Deixando de pensar naquilo, observei enquanto meu amigo vinha em minha direção. Ele parou a meu lado e encarou ao redor, fazendo um som estranho com a boca. Encarei suas mãos e percebi que o papel estava entre elas. 
- A julgar pelo endereço, estamos perto... Bem perto! - puxei a folha de sua mão e encarei a foto da garota loira mais uma vez. Ela sorria e seu semblante era sereno e feliz. 
- Então vamos procurar o tal lugar a pé! - eu disse firme, tratando de começar a caminhar pela estrada, deixando um Caleb confuso para trás. Me virei e ele não tinha movido um músculo. Uma expressão de medo em seu rosto. Bufei e voltei até onde ele estava, balançando o papel na frente de seu rosto. 
- Você é filho de um polícia durão! Não pode sentir medo de uma coisa que nem sabe o que é! 
- É fácil falar, não é? - cruzou os braços e olhou para o mesmo ponto que eu tinha reparado antes. Os postes com luz. - Quer saber? Você tem razão! Vamos acabar logo com isso! 
- Vai deixar o carro aqui? 
- Acho melhor, sabe? Se algo sinistro aparecer a gente corre e sai rápido daqui! 
- Que mente fértil... Como se algo sinistro fosse aparecer por... 
Parei de falar e de andar, arregalando os olhos e encarando o caminho que percorríamos mais uma vez. Levantei meu rosto e acompanhei o movimento intenso das árvores. Enquanto Caleb chamava meu nome e perguntava se tudo estava bem, eu consegui ligar todos aqueles detalhes. 
A estrada escura e deserta. 
As enormes árvores. 
Os postes de luzes mais a frente. 
Não, não podia ser... 
- Caleb... - senti minha voz tremer. - Eu já estive aqui... 
Não esperei que ele me respondesse e comecei a andar mais rápido, praticamente correndo. Uma pequena construção ficava mais evidente a cada passo que eu dava. Enquanto ouvia os passos apressados de Caleb atrás de mim, senti a adrenalina fluir por todo o meu corpo. A cada passo que eu dava, tudo aquilo ficava mais evidente. O vento forte que se fez presente passou a dificultar minha corrido, e então eu parei. 
Encarei o enorme portão com grades de metal que nos impediu de continuar. 
- Olha, tem uma casa ali! - ele apontou com a mão, encarando o portão e parecendo calcular alguma coisa. 
Me perdi em pensamentos enquanto flashes de uma das melhores - e piores, ao mesmo tempo - noites da minha vida era transmitida como um filme em minha mente. Atrás daquele enorme portão, era possível ver uma pequena casa com tijolinhos marrons. Em seu jardim, mesmo que de longe, era perceptível que todas aqueles flores estavam mortas, já que o seu colorido não existia mais. Diferente de como eu me lembrava, pequenas luzes não iluminavam mais o local. Tudo estava escuro e sombrio. Vendo daquele jeito, a casa até fazia com que alguns arrepios tomassem conta do meu corpo. Caleb se aproximou mais, segurando uma das grades com as mãos e depois me olhou, procurando por respostas. 
- Verifique o endereço. - foi tudo que eu consegui dizer, com os olhos presos naquele lugar. 
Depois de poucos segundos de silêncio, ouvi o barulho do papel e então um "wow" escapou pela garganta de Caleb. 
- É aqui. - ele disse de um jeito baixo, e nós nos olhamos. Ainda perplexa, passei as mãos pelo rosto, sentindo o sentimento de medo mandar lembranças. 
- Essa casa... Foi aqui que... 
Demetria! Pode tentar formular uma frase inteira? 
Segurei nas grades com as mãos, soltando um doloroso suspiro. 
- Foi aqui que Joseph me trouxe na nossa noite de núpcias
Meu amigo ficou extremamente sem graça com aquela revelação e desviou o olhar, não querendo perguntar algo inconveniente. 
Comecei a me questionar se a tal Erin Fields poderia morar ali. Mas por que diabos em nossa noite de núpcias Joseph me levaria até um lugar que era habitado por uma pessoa que, aparentemente, fazia parte de seu passado? O que Erin Fields teria a ver com o fato de meu marido ter sido colocado em uma clínica especial? O que aquela maldita casa tinha a ver com tudo aquilo? 
- Vamos escalar o portão. - a voz de Caleb me acordou e eu franzi o cenho, já observando ele segurar com força em uma das barras de aço e tomar impulso para com uma das pernas. 
- Como pode ter tanta certeza que eu consigo escalar isso? - perguntei, indignada e esquecendo por um instante de todo aquele terror. A expressão em seu rosto era divertida, aventureira... 
- É claro que você consegue! - logo ele já estava dando a volta no portão e soltou o corpo, surgindo do outro lado. Cruzou os braços e fez uma pose convencida, rindo e me incentivando a fazer o mesmo. 
- Ok, homem aranha... Eu vou tentar! 
Agradecendo mentalmente por estar usando uma calça jeans, segurei nas barras de aço e levantei minha perna, tentando escalar o enorme portão. Comecei a pensar o que faria se algum tipo de alarme disparasse, mas nada do tipo aconteceu. Aquela casa estava abandonada! Eu só queria entender porque Joseph tinha me levado até ali, afinal, existiam outros milhares de lugares melhores, não? 
Quem tinha cuidado das flores, arrumado a pequena casa de tijolinhos decorados e feito parecer que era um lugar tão aconchegante... 
O nome Erin mais uma vez surgiu em minha mente. 
Então era isso? Ela cuidava daquela casa? Joseph estava envolvido com ela de algum jeito? 
Soltei meu corpo e fiquei ao lado de Caleb, tentando normalizar minha respiração. 
- Não foi tão difícil, foi? Só fico pensando no que vamos dizer se alguém descobrir que invadimos esse local... - ele fez aspas com os dedos, torcendo os lábios. 
- Bom, eu sou casada com o provável dono daqui... Darei um jeito! - dei uma leve batidinha em seu ombro e comecei a caminhar de novo, olhando para trás algumas vezes, me sentindo estranha com o fato de não ter notado a existencia daquele enorme portão na vez em que tinha estado ali com meu marido. 
- Ainda não acredito que essa casa pertence ao Joseph! Cara, é tudo tão confuso! O que diabos meu pai tem a ver com tudo isso? - paramos em frente e fachada da casa e eu olhei para as flores mortas mais uma vez. Me lembrava de como elas estavam lindas na noite em que estava ali com Joseph, de como elas combinavam com a cor do meu vestido de noiva. Caleb se afastou um pouco de mim e foi para uma das laterais da casinha, olhando com atenção para as janelas que revelavam que tudo estava escuro na parte de dentro. Cruzei os braços, sentindo um pouco de frio. Incrível como o clima mudava de uma hora para a outra. Passei pela parte das flores e encarei a porta de madeira, girando a maçaneta e esperando que a porta se abrisse, mas é claro que isso não aconteceu. Voltei para o lugar que estava antes e comecei a procurar por algo junto com Caleb. Praticamente contornamos a casa antes dele chamar meu nome em um tom de voz alto e apontar para um lugar mais ao longe. Passei por ele com passos curtos e rapidos e percebi que a casa tinha uma espécie de quintal no fundo. A grama crescida se misturava com outras plantas, assim como nos arredores e mais a frente uma parede de concreto impedia de enxergar o que se escondia atrás. Em um dos cantos dessa mesma parede, um pequeno buraco era visível, como se alguém tivesse quebrado para poder passar para o outro lado. 
- Eu espero que você não sugira que a gente passe por ali! - alertei e ele deu de ombros, olhando para a parte de trás da casa. 
- Será que no seu molho de chaves não tem alguma que abra essa casa? 
- Eu dúvido muito... 
- Podemos tentar entrar, eu acho. - ele colocou a mão no queixo. - Eu só preciso de algo pontudo. 
- Não! Não vamos invadir a casa, Caleb! 
- Meu pai é um polícial, como você já disse... 
- Sim, e você está maluco para ser preso ou é impressão minha? 
- E se a Erin estiver, sei lá, dormindo lá dentro? - ele indagou, e eu balancei a cabeça negativamente. Era pouco provável que uma mulher estivesse dentro daquela casa, e ainda por cima dormindo. 
- Só se ela for maluca, porque morar nesse lugar isolado do mundo... - ele me cortou. 
- E como você pode ter certeza que ela estaria morando aqui por vontade própria? 
- Caleb, nós não vamos entrar na casa e pronto! - elevei meu tom de voz, deixando ele nos fundos da casa e voltando para a frente. Parei no meio do jardim e assisti enquanto meu amigo voltava com uma expressão que parecia a de uma criança aborrecida. 
- Por que viemos até aqui então? Só para olhar? Que tédio! 
- O que você esperava? - soltei um riso, olhando inconformada para ele. - Toda uma investisgação criminal? 
Ele não me respondeu e correu para os fundos de novo. Bufando, eu fui atrás dele e percebi que Caleb se aproximava da pequena abertura no concreto. Ele era maluco! Como podia pensar em passar por ali? Ele não sabia o que estava do outro lado! 
Gritei seu nome e comecei a correr na mesma direção. Ele passou uma perna pelo buraco e olhou confiante para mim. Mas que droga! Apertei meu passo, cruzando toda aquela área coberta por mato e senti meu pé prender em algo, fazendo com que eu caísse de qualquer jeito no chão. Soltei um gemido de dor quando senti o jeans de minha calça rasgar e revelar um arranhão. Caleb saiu de onde estava e veio correndo em minha direção. Com um pouco de força, me levantei, batendo uma mão na outra para livrá-las de toda aquela terra. 
- Você está bem? O que houve? - ele olhou para o local que eu tinha caído e eu curvei meu corpo, tentando examinar se o dano em meu joelho era grave. 
- Eu tropecei em alguma coisa, não sei... - olhei ao redor, afastando algumas ervas daninhas que me impediam de enxergar onde pisava. Ouvi um barulho alto e Caleb tirou o celular do bolso, saindo de perto para atendê-lo. Passei a mão devagar por meu joelho e grunhi ao ver que estava sangrando. Dando passos arrastados no meio de todo aquele mato e terra, senti meus pé bater em algo novamente. Daquela vez eu tinha sido esperta e, como se prevesse que aquilo aconteceria, não me deixei cair. Abaixei rapidamente, afastando as ervas daninhas e enxergando um objeto comprido e sujo de terra. Com um pouco de receio, toquei o mesmo sentindo que sua superfície era dura. Olhei para o lado, vendo que Caleb ainda falava ao celular e decidi pegar seja lá o que fosse aquilo para olhar melhor. Limpei a terra que se agrupava na coisa não identificada e passei a analisá-la. 
Meu conhecimento em coisas daquele tipo era quase nulo, mas o objeto duro, amarelado e sujo de terra era famíliar... Sua forma era irregular, levemente parecia fazer o formato de um "s". 
Me desesperei quando senti algo tocar meu ombro e quase dei um pulo para trás, mas era apenas Caleb que já tinha encerrado a ligação que tinha recebido. Passei a mão que estava livre pelo local que ele tinha tocado e analisei o objeto em minha outra mão mais uma vez... 
- O que é isso? - ele arregalou os olhos. 
- Encontrei no meio de todo aquele mato, acho que foi isso que me fez tropeçar. 
Ele olhou mais uma vez, como que para ter certeza do que me diria em seguida. 
Demetria, isso é um osso. - olhei o troço comprido mais uma vez, percebendo que o que Caleb falava realmente fazia sentido. Como eu não tinha reparado que aquilo era um osso? Um pensamento medonho surgiu... - E, se me permite, arrisco dizer que é uma clavícula! 
- O que uma clavícula estaria fazendo a... - minha fala foi cortada quando Caleb me lançou um olhar de pânico. Era como se ele quisesse dizer "Acho que encontramos a Erin". - Não, não pode ser! - sentindo uma sensação esquisita, soltei o possível osso, vendo-o cair na terra de novo. Meu corpo começou a tremer e Caleb não fazia nada a não ser continuar com aquele olhar que estava me desesperando. 
- Só existe um jeito de descobrir! - ele virou o corpo, indo na direção do enorme portão. 
- ONDE VOCÊ PENSA QUE VAI? - gritei, correndo na mesma direção que ele. 
- Deve ter algo no porta-malas que eu possa usar aqui... - eu não conseguia alcançá-lo, porque o mesmo corria desesperadamente. 
- ESPERA, VOCÊ É MALUCO? - Caleb parou em frente ao portão e se virou para mim. - Não p-pode... Não pode querer desenterrar alguma coisa... I-isso não faz sentido... 
Demetria, você tropeçou em um osso e eu dúvido que ele esteja solitário lá... Vamos cavar e descobrir! - segurei seu braço, obrigando-o a me encarar nos olhos. 
- Não, por favor, não! - eu implorei, percebendo que ele me olhava com certa pena. Como se soubesse o estado em que eu me encontrava por dentro. O medo havia dominado meu interior, exatamente como um homem poderoso dominaria um pequeno vilarejo de pessoas fracas e incapazes. Era possível ainda sentir minhas mãos secas pelos fragmentos de terra que continuavam ali, eu ainda conseguia sentir aquele osso em minha mão. - Vamos embora daqui! Por favor, eu te imploro, vamos sair daqui agora! 
- Porra, você quer sair daqui sem conseguir descobrir nada? 
- Nós já descobrimos. 
Demetria, pelo amor de Deus! - ele andava de um lado para o outro, as mãos bagunçavam os cabelos desgrenhados. - Isso não tem só a ver com você, esse endereço estava escondido em um cofre do meu pai! 
- Eu sei! - eu disse, no mesmo tom de voz exasperado que o dele. - Mas nós não podemos... Não podemos... Vamos sair daqui, por favor! 
- Isso não pode ficar assim, e você sabe. Não é a coisa sensata a se fazer. Tem algo escondido lá, algo que envolve meu pai, uma garota desaparecida e, aparentemente, você! 
- Não estou envolvida com isso, mas talvez o Joseph esteja... - confessei, não aguentando mais segurar aquilo e Caleb adotou uma expressão derrotada, como se não visse outra saída a não ser parar de pensar naquilo. 
- Tudo que eu te peço é tempo! Por favor, eu sei que não podemos deixar as coisas assim, mas eu preciso de tempo! 
- Vamos sair logo daqui. - logo já tinhamos escalado o portão de volta e entrado no carro. Ambos perturbados demais para tentar proferir alguma coisa. 


Caleb estacionou o carro em frente a minha casa. Ficou parado, esperando pacientemente que eu demonstrasse algum interesse por sair dali e entrar em casa, mas eu não conseguir me mexer. Não conseguia fazer nada a não ser ficar olhando para o nada, com os lábios em linha reta e a mente tentando trabalhar sem que eu me deixasse sucumbir por certos pensamentos. Era um daqueles momentos em que você quer parar de pensar, quer perder a memória ou qualquer coisa do gênero, mas não consegue se desligar do que está acontecendo. Eu queria deixar de pensar no que tinha presenciado, mas não conseguia. Uma pequena parte de mim queria ligar todos aqueles fatos. Eu sabia que quanto mais tentasse procurar, mais encontraria. Quem procura, acha. 
E tinha outra coisa: Eu não queria ficar sozinha em casa. Eu não queria ficar encarando a escuridão sem ter alguém do meu lado para conversar sobre qualquer coisa e tentar me distrair. Eu sentia que se ficasse sozinha, acabaria enlouquecendo e fazendo alguma loucura. Eu precisava que alguém olhasse nos meus olhos e tentasse me convencer que nada de ruim estava acontecendo. Eu queria ser enganada, porque simplesmente não aguentava mais me entregar a todas aquelas suposições. 
Minha mente apresentava uma explicação, mas meu coração não queria aceitar aquilo. Minhas emoções contraditórias não deixavam eu fazer nenhum movimento, e eu acabei por perceber isso quando Caleb tocou meu ombro. Assustei-me e respirei com dificuldade, estranhando o fato de meus olhos ainda estarem secos. Ele estava tão desnorteado quando eu, parecia agir calculando qualquer movimento que fosse, como se estivesse em perigo. 
Não bastava eu estar envolvida em tudo, Caleb e seu pai também tinha que estar. Mais pessoas no meio de tudo aquilo, mais soldados para uma guerra que, a cada dia que passava, conseguia me convencer de que duraria uma eternidade. 
Um osso. Eu tinha tropeçado e encontrado um osso que, ao ver de Caleb, era uma clavícula. Será mesmo que ele não estava solitário no meio de toda aquela terra e mato? Será que, se Caleb tivesse começava a cavar naquele local, teríamos encontrado restos do que, no passado, teria sido uma pessoa como nós dois? Um arrepio insuportável correu solto pelo meu corpo e eu olhei para Caleb, tentando buscar algum conforto em seu rosto, mas o resultado fora o contrário. 
- Caleb, eu não quero ficar sozinha. - eu disse, tão baixo que mal consegui ouvir direito. - Não depois de tudo isso... 
- Eu poderia te levar em casa, para que a Rachel te fizesse companhia, mas eu não quero ir lá... Eu não quero encarar meu pai. - abaixei a cabeça, tentando pensar em alguém que poderia me confortar naquele momento. 
Cassie estava magoada comigo. 
Eu não seria cara de pau ao ponto de procurar por Jared. 
Bethany era uma traidora. 
Caleb se encontrava no mesmo estado que eu. 
Minha família estava em outro país. 
Joseph... Não, eu não queria ficar perto de Joseph naquele momento. 
- Eu não tenho ninguém, Caleb. Ninguém para conversar e tentar tirar todos esses pensamentos absurdos da minha mente... Eu só não quero ficar sozinha. Só quero alguém que não me faça sentir esse medo. 
Foi então que ele entrou em meus pensamentos; tão rápido e valente como sempre se mostrava ser. 
Cameron. 
Sem que eu pudesse controlar, minha mão foi até o bolso de minha calça e retirou o celular. Como se estivesse apenas com o sentido do tato ligado, procurei ferozmente por uma sequencia de números como se minha salvação dependesse daquilo. Vasculhei as ligações recebidas e um alívio insano tomou conta de mim quando finalmente encontrei o número que procurava. Começou a chamar.
Mordi o lábio e fechei os olhos, ignorando o arrependimento que queria me dizer que eu estava fazendo a coisa errada, dizendo que com aquele ato eu só pioraria as coisas. Não importava, porque talvez ele fosse o único que poderia me dar algum conforto naquele momento. Apesar do ódio que eu tinha conseguido nutrir por ele, tive que engolir o orgulho. 
Alô? - não sabia definir se ouvir sua voz provocou medo ou alívio. 
- Eu preciso de você... - senti o olhar de Caleb sobre mim. Soltei aquele frase com os olhos fechados, como se tivesse certeza que estava soando totalmente como uma desesperada. Nem eu era mais capaz de entender meus próprios sentimentos. Eu só queria ele do meu lado, porra! Só isso. E eu sabia que ele sentia algo por mim, então não vi outra saída a não ser... aproveitar. - Cam, eu preciso de você. Onde você está? 
O silêncio do outro lado da linha me desesperou. 
- O que aconteceu? O que ele fez com você? - a voz dele era irritada, parecia estar pronto para fazer algo contra Joseph. 
- Eu quero me encontrar com você, onde está? 
- Me diga onde você está e eu vou te buscar. 

Lançando um olhar em forma de agradecimento para Caleb, eu abri a porta do carro e saí. Depois de tomar um pouco de coragem, virei meu corpo e o encontrei me esperando. O olhar de Cameron era confuso e preocupado, estava pronto para disparar a me perguntar dezenas e dezenas de coisas. Mas, antes que ele pudesse abrir a boca, eu me joguei em seus braços, na busca desesperada por algum tipo de consolo. Demorou para que ele se acostumasse com aquilo e me abraçasse pela cintura, mas, quando o fez, eu fechei os olhos e ignorei o arrependimento por ter me desesperado e recorrido a ele. Era uma coisa totalmente errada, mas com ele eu estava conseguindo sentir pelo menos um pouco de segurança. 
- Seja lá o que tenha acontecido, você pode contar comigo. - ouvi sua voz baixa e rouca. 
Cam, eu estou com medo... 
- Posso tentar fazê-lo ir embora? Era isso que deveria ter feito há muito tempo! 
Eu me afogava em um mar de sentimentos contraditórios, enquanto ele me abraçava como se dependesse daquilo para viver. 

Vows are spoken to be broken
Feelings are intense, words are trivial
Pleasures remain, so does the pain
Words are meaningless and unforgettable.

All I ever wanted, all I ever needed
Is here - in my arms
Words are very unnecessary
They can only do harm.

Um comentário:

Sem comentario, sem fic ;-)