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segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Secretary II - Capítulo 1


Faces do passado



Londres

Observei a vista abaixo de mim através dos vidros limpos da janela; meus olhos passaram pelo Big Ben e pararam do outro lado da rua, onde algumas moças conversavam animadas esperando para poderem atravessar. Reparei em suas roupas e dei um sorriso fraco; usavam aqueles mesmo blazers, camisas brancas por baixo, saias ou calças sociais e cabelos impecavelmente presos. 
Secretárias, com toda certeza. 
Todas elas deveriam estar indo para seu destino, seu trabalho. Chegar lá e talvez até esbarrar em seu chefe enquanto vai pegar café, se sentir balançada e até mesmo idiota por criar pensamentos tão ilusórios; fantasiar com um encontro, um contato mais direto. Ah, como eu me lembrava daquela situação, parecia que ainda estava viva dentro de mim. Será que algumas daquelas moças que já estavam do outro lado da rua teriam um destino parecido com o meu? Bom, aquela questão continuava sem resposta, já que nem eu mesma possuía um destino definido ainda. 
As coisas estavam acontecendo, estavam fluindo. 
Sai da janela, observando os traços luxuosos do atelier ao meu redor. Estava começando a ficar ansiosa demais com aquilo, a cada nova prova do vestido meu estômago se contorcia mais intensamente. 
Demetria, querida! - me virei, indo ao encontro de Meg; ela era a responsável geral pelo meu vestido. 
Sim, o vestido vermelho... Joe não havia mudado de ideia sobre aquilo. E eu estava adorando ser tão diferente das outras noivas. 
- Não me atrasei, não é? - olhei meu relógio, já abrindo minha bolsa e tirando um prendedor de cabelo, fazendo um coque de qualquer jeito. Ela sorriu fazendo um sinal negativo com a cabeça e outro com a mão, pedindo para que eu a acompanhasse. Entrei pela enorme porta branca detalhada enquanto ela pediu para que eu aguardasse um minuto; sentei-me em um sofá vermelho ao lado de uma pilha de tecidos e comecei a bater meu sapato contra o piso branco, esfregando meu rosto e sentindo um leve sono. Olhei ao redor, sussurrando um "Uau!" ao ver aquelas inúmeras mesas, inúmeros desenhos e inúmeros vestidos inacabados. 
- Ele sentiu sua falta! - Meg entrou em meu campo de visão, segurando um enorme pacote negro; o colocou sobre uma das enormes mesas, ou bancadas, seja lá o que fosse aquilo e puxou o zíper. O vermelho logo me chamou a atenção e eu só consegui sentir minha boca se abrir lentamente. - Faltam alguns ajustes aqui, outros aqui - ela segurava alguns alfinetes entre as mãos. - Preciso fazer o ajuste da cauda, que tamanho você quer? Muito grande? - ela me olhou e levantou os óculos, esperando uma resposta. 
- Eu... Ahn... É tão bonito! - rimos juntas e ela concordou com a cabeça, tirando totalmente de dentro do pacote aquele que me lembrou os vestidos que eu costumava ver pela televisão e nunca me imaginaria dentro. - Meu Deus, isso é mais do que bonito, isso é... 
- Vermelho é raro, não vou mentir para você, querida. Acho que em toda a minha carreira só desenhei uns dois ou três como esse. Se sinta especial. 
Logo eu estava com aquela coisa maravilhosa vestida em meu corpo, me sentindo uma princesa ou... Sei lá, me sentindo diferente do que eu costumava ser, pelo menos. As provas do vestido estavam quase acabando e logo ele estaria pronto. Encarei meu reflexo no espelho de parede inteira e vi meus próprios olhos brilhando. Definitivamente eu ficava bem de vermelho, combinava com o meu tom de pele; produzia um contraste incrível. 
- Ai! - gemi baixinho ao sentir um daqueles pequenos, porém mortais, alfinetes furarem minha pele. 
- Desculpe. 
- Tudo bem, já me acostumei com essas picadinhas. - bufei disfarçadamente, enquanto Meg capturava cada detalhe com o olhar e as mãos ágeis procurando por algum mínimo erro... Já disse que pessoas perfeccionistas me deixam meio desconfortável? 
- Que coisa mais linda! - virei meu pescoço, vendo outra mulher entrar na local. Era a secretária de Meg, era com ela que eu batia papos totalmente desnecessários quando a estilista demorava demais para me atender. Mordeu uma maçã - que era quase da mesma cor do vestido - com vontade e me olhou de cima a baixo. - E fora do comum, também. 
- O que faz aqui, Molly? - Meg não prestava muita atenção nela e eu só conseguia ficar com o corpo preparado para outra possível picada. 
- Nada, só dar uma olhada nesse trabalho maravilhoso. Hm, vermelho... Você vai matar seu noivo com isso, moça. - ela sorriu maliciosa e eu não pude deixar de imaginar a reação de Joseph ao me ver entrando pela igreja; ou ele não se importaria com o padre, os convidados e o fato de estarmos em uma igreja e me agarraria ali mesmo, ou cairia duro para trás. Duas opções aceitáveis, eu estava em dúvida. 
- Foi ele quem escolheu. 
- Adoro pessoas que fazem coisas inusitadas, que não se preocupam em seguir a ordem proposta das coisas. Fugir do destino e tudo o mais... 
- Molly, assim você assusta a menina, sua louca! - Meg olhou feio para ela, recebendo uma risada alta. 
- Eu sou louca mesmo, mas sei que estou certa quando digo que a vida dessa moça está bem longe de ser normal, mas não se assuste, eu não disse que será ruim... Apenas não será normal. - e quem era ela? Algum tipo de bruxa? 
- Obrigada, eu acho. - sorri meio sem jeito, preferindo apreciar minha imagem tão deslumbrante e vermelha no espelho. 


Preferi evitar o metrô e caminhar até meu destino, já que não ficava muito longe de onde eu estava. Enquanto andava despreocupadamente e atravessava uma das ruas, olhei para cima de imediato, parando de andar e sendo invadida por pensamentos de direções diferentes. 
Aquele prédio ainda despertava sensações em mim; aquele que ainda era meu local de trabalho me assombrava de certa maneira. A pintura não era mais a mesma e tudo estava bem diferente; a Empire Jonas passara por um período de revigoração. Adentrei o local, passando pelo porteiro e o cumprimentando com um aceno de cabeça. Logo estava caminhando até o acesso aos elevadores. 
Uma tremenda sensação de Déjà vu. 
Oito meses tinham se passado. Devo confessar que a vida tinha mudado bastante naquele tempo, e não só pelo fato de eu estar meses mais velha, ou pelo fato dos meus cabelos estarem mais compridos e levemente mais escuros; eu estava me vendo de uma maneira que jamais imaginei, pela primeira vez em minha vida eu podia dizer para quem quer que fosse, com toda a certeza do mundo, que minha vida era maravilhosa. Eu tinha amigos, me divertia, me sentia bem comigo mesma e o mais importante de tudo: eu tinha Joseph. 
Meu noivo também estava melhor do que nunca; estava diferente, finalmente sendo quem ele sempre quis ser. Nossa relação era... Bem, não existiam palavras boas o suficiente para descrever, só dizer que um completava o outro em todos os sentidos. Ele e Jared, por incrível que pareça, haviam se tornado sócios na Empire Jonas; com o emprego agora melhor, Jared poderia garantir uma vida sem preocupações a sua mãe doente do coração. Cassie... Bem, a garota maluca que naquele momento eu chamava de melhor amiga também estava bem, é claro. Namorando com Jared, ela estava feliz trabalhando junto com todos nós; se tornara gerente comercial. Parecia um absurdo eu continuar sendo a simples secretária, mas Joe não quis que eu mudasse de cargo e isso estava relacionado com uma estranha fantasia; ele não entrava muito em detalhes comigo. 
Apertei o botão que me levaria até o sétimo andar e tive vontade de rir. Uma cena passou como um filme em minha cabeça. Era como se uma tela partida ao meio com os dizeres "antes" de um lado e "depois" do outro estivesse na minha frente. Lembrava-me bem do dia que tudo mudou; aquele dia em que deixei de ser uma secretária com uma quedinha impossível pelo chefe misterioso. As portas do elevador se abriram e eu me assustei ao dar de cara com Cassie e Jared de mãos dadas, prontos para entrarem no mesmo. 
- Então quer dizer que estavam indo almoçar sem mim? - coloquei as mãos na cintura, fingindo raiva. Ambos deram um sorriso fraco e entraram no elevador; desisti de sair e desci com eles. 
- Onde é que você estava? - Cassie arrumava os cabelos mais loiros do que nunca no espelho. - Pois é! Ser noiva do chefe facilita muito! - riu, e eu dei um tapinha em seu braço. Sabia que era apenas uma brincadeira. 
- Onde as moças querem comer? - Jared, que até o momento parecia não estar ali, se manifestou em voz alta. 
- Tanto faz! - dei de ombros. - Vocês não viram o Joe? Ele não vai almoçar com a gente? - as portas se abriram e saímos, caminhando até a saída da empresa. 
Existia uma tensão no ar; Cassie e Jared estavam juntos, mas eu sabia que não estavam bem. Os olhos fortemente maquiados de minha amiga não escondiam sua inquietação. Olhei significadamente para Jared que fingiu não entender e disparou a falar sobre assuntos aleatórios. 
- Vamos ao McDonald's? - ele perguntou. 
- Que ótimo Jared, executivos como nós indo ao McDonald's. Já olhou nossas roupas? 
- Fale por você! - me intrometi. Não estava usando um salto muito alto, meu vestidinho branco era curto e simples, apenas com um casaquinho de algodão cinza por cima. Meus cabelos estavam presos em um coque daquele tipo que se faz pra andar de bicicleta em dias quentes. - Esperem, eu vou ligar para o Joe e pedir que desça. - me afastei um pouco deles, tirando o celular da bolsa. Falei rapidamente com Joseph, que ainda estava trancado em seu escritório e ele disse que desceria em alguns minutos. Finalizei a chamada e pude perceber que Jared e Cassie discutiam; os tons das vozes altos, por mais que eles tentassem disfarçar. Eu sabia! Algo estava errado. 
- O que foi? - perguntei, me aproximando. 
- Nada! - responderam em uníssono. 
- Jared, quero falar com a Cassie. Vai tomar um ar. - ele bufou e se afastou. 
- Não quero mais ir almoçar, quero me trancar em minha sala e esquecer que tudo existe. Droga de mundo. - era horrível quando ela começava a tagarelar sobre seus problemas e eu não fazia a mínima ideia de quais eram eles. 
- Quando vai abrir a boca e dizer o que eu realmente quero saber? O que está acontecendo entre vocês? 
- Sei lá, ele anda frio comigo. Não conversamos mais como antes, não somos mais amigos como costumávamos ser; dividimos a cama, mas na realidade cada um está em um lugar. - ela bufou, mexendo freneticamente na franja. Tirei sua mão dali e a apertei com força. 
- São problemas passageiros! 
- Com você e Joe também é assim? 
- O que é assim? - nos viramos ao ouvir a voz de nada mais nada menos que Joseph Jonas, ou como eu gostava de chamar: meu noivo! 
- Falando no diabo... - Cassie deu de ombros. - Estou morrendo de fome, podemos ir agora? - passou na nossa frente e se adiantou, procurando por Jared. Eu estava disposta a fazer o mesmo, masJoe me puxou pela mão, provocando o contato imediato de nossos corpos e me abraçou pela cintura. 
- Onde você pensa que vai? - eu não sabia se olhava para seus olhos ou para seus lábios. - Não estou contente com essa ideia de ficarmos "separados" até o casamento - aquela ideia idiota tinha sido de Cassie; ela alegou que se o casal não tivesse contato íntimo, as coisas "depois" do casamento seriam melhores. Tolice, eu sei. - E, aliás, estou pensando em arranjar uma nova secretária! Você anda me deixando na mão... - senti seus lábios em meu pescoço. 
- Hoje foi meu dia de folga, não se esqueça! - protestei, tentando puxá-lo para frente, a fim de ir atrás de Cassie e Jared que já deveriam estar comendo sem nós. Eu realmente estava com fome, mas com um homem como aquele me agarrando ficava difícil. 
- Não, pare de me puxar, eu não quero ir! - ele fingiu choramingar, me puxando no sentido contrário. - Vamos subir, ir até a minha sala... Eles sabem se virar sozinhos, não vamos demorar. Eu promet... - coloquei o dedo indicador em seus lábios e me soltei dele. 
- Guarde tudo isso para a nossa noite de núpcias, Joe. - soltei um risinho. 
- Se eu guardar você não vai dar conta, acredite no que eu digo... Lovato. 
- Hm, então eu pago pra ver! - entrelaçamos nossas mãos e atravessamos a rua, indo até o McDonald's que ficava em frente à empresa. 
- Não me provoque, - Joseph achava que me assustava com aquela expressão malvada e os olhos intensos. - Ainda sou seu chefe! 

Enquanto Cassie tentava roubar minhas batatas, percebi que Joe estava com a mão apoiada em minha cadeira e seus dedos acidentalmente batucavam de leve em minha coxa descoberta. Ele estava impossível aquele dia. 
- Satisfeito! - Jared exclamou e meu noivo concordou com a cabeça, terminando de tomar sua coca-cola. Cassie e eu continuávamos a comer e trocar risinhos discretos, - e alguns bem indiscretos - deixando os outros dois curiosos. 
- Posso saber do que estão rindo? - Jared me olhou sério e eu apoiei o cotovelo na mesa, piscando os olhos diversas vezes. 
- Despedida de solteira, querido! - Cass virou para ele, que apenas concordou com a cabeça e abaixou o olhar. 
- Hey Jar, o que foi? - me atrevi a perguntar. Todos à mesa prestavam atenção nele, seus olhos correram para a porta do local, passaram por Joseph e chegaram a minha mão que segurava o copo do refrigerante. Ele fitou o anel. 
- Nada! 
- Essa "Despedida de solteira" - Joe fez aspas com os dedos. - é mesmo necessária? Olha, a noiva é minha - senti sua mão envolver minha cintura e nos aproximamos. Eu quase caí, já que estava em outra cadeira. - e eu tenho certeza que ela não tem nada do que se despedir! - ele fez um gesto com seu peitoral, o estufando e olhando de soslaio para mim. - Ela tem tudo que precisa e vai precisar bem aqui! - convencido. 
- Cale a boca, Joe! Essa despedida vai acontecer, já tenho tudo planejado. - Cassie estalou os dedos.
- Ah é? Tipo, o quê? - ele estava com ciúmes? Estava imaginando que eu veria homens pelados e aquelas coisas todas? Me segurei para não rir. 
- Até parece que eu vou te contar! - rimos, enquanto Jared continuava sério. Aquilo estava me irritando, mas deixei passar. 
- Tudo bem, depois ela me conta na cama. - Joe cruzou os braços, os cantos de seus lábios levantaram. Dei uma cotovelada nele, que mordeu o lábio. Já mencionei que Jonas estava mais devasso do que nunca? 
Não, não era uma reclamação! Digo, depois de vários meses naquele relacionamento, as coisas não haviam esfriado de maneira nenhuma; tudo era feliz, quente e divertido. 
- Vou voltar para a empresa, vocês me acompanham, guys? - Cass se levantou e Jared a seguiu, apenas dando um sorrisinho fraco para se despedir de mim. 
- Dia de folga! - dei um tchauzinho debochado e Cassie me mandou o dedo do meio. TPM descontrolada, que horror. 
- Hey Jared, depois temos que falar com Caleb. Acho digno combinarmos uma despedida de solteiro, né? - lancei um olhar mortal para ele. - Sabem como é... Homens, videogames e muita cerveja! - os dois sorriram cúmplices. - Só isso. 
- Sei! - rolei os olhos e depois encarei minhas unhas. Enquanto eles se afastavam, Joseph parou atrás de mim e colocou as mãos em meus ombros, os apertando levemente. Seu perfume perfurava minhas narinas. 
- Me diga, por que eu iria querer saber de outras mulheres? - sorri por dentro, levantando a cabeça. - Nos acertamos depois, Lovato! - ele se inclinou, me beijando de uma maneira rápida, mas que me fez sentir toda a intensidade que ele quis demonstrar naquele beijo. Logo eu estava sozinha na mesa. Rindo sozinha. 

Adiantei-me, antes que o sinal ficasse vermelho de novo e passei para o outro lado da rua, já sentindo certo cansaço nos pés que se mantinham sustentados por aquele pequeno salto. Quando as inúmeras casas entraram em minha visão, senti um arrepio na espinha, não sabendo se era pelo fato do tempo estar mudando para chuva, ou pelo fato de estar sozinha. Não era tarde, não tinha por que tudo estar tão deserto. Chegando à rua de minha casa, ouvi um roncar de motor se aproximar, olhei para trás e vi que o veículo estava em uma velocidade baixa, quase parando. Apertei o passo, sentindo meu coração acelerar e aquela sensação que não se apresentava há meses tomar conta de mim de novo. Não era nada, eu sabia que não era. 
O carro passou por mim e no mesmo instante o vidro fumê foi se levantando, evitando que eu visse o rosto do motorista. Logo avistei minha casa e entrei o mais rápido que consegui, me sentindo uma boba por ter medo de um simples carro em uma rua vazia. 

Dias depois...

Tirei a toalha de meus cabelos e a joguei na cama bagunçada, que estava cheia de roupas, sapatos e essas coisas. Fui até meu closet, o abrindo e fechando diversas vezes, totalmente em dúvida do que vestir. 
O dia de minha despedida de solteira havia chegado. 
Sorri sozinha, olhando o porta-retrato em meu criado-mudo e caminhando até ele. O peguei e passei meus dedos ao redor, tendo boas lembranças daquela foto. Fora tirada durante uma viagem a casa de praia de Joe, nas férias do começo do ano. Cassie e Jared foram junto, mas sempre davam um jeito de se perder totalmente de nós, o que eles faziam? Eu fingia não saber. Em todo o caso, aquelas férias foram incríveis, passei tantas noites à luz da lua com Joe que já estava mais do que acostumada. A praia do local costumava ficar fazia tarde da noite e nós sempre aproveitávamos. Na foto, ele tinha um sorriso encantador e eu estava com meus braços envolvendo seu pescoço, o amor praticamente estampado em meu rosto bronzeado. 
Coloquei uma calcinha e voltei a minha busca incessante por algo que me agradasse. Ok, na verdade eu não sabia direito que roupa usar, já que Cassie mantinha aquela noite em total sigilo, preparando tudo sem que eu nem tivesse a chance de saber. Até parecia que ela era a noiva, e não eu. 
Depois de quase meia hora, acabei decidindo por um uma blusa bordô com decote nas costas, um jeans skinny escuro e ankle boots pretas. Depois de uma maquiagem não muito pesada, porém bem marcada, cuidei de meu cabelo, agradecendo por ele estar de bom humor naquela noite. Depois de secar, o prendi um pouco colocando a franja para trás e fazendo um penteado com cachos nas pontas. Borrifei um pouco do perfume que havia ganhado de Joseph e que, segundo ele, me deixava ainda mais sensual. Corri até minha cama, pegando uma bolsa preta e sentindo uma enorme ansiedade. 
O que Cassie estava armando? 
Desci para a sala e olhei o relógio mais uma vez. Ela viria me buscar em seu carro. 
Sentei-me no sofá, colocando a bolsa no mesmo e dando uma relaxada. Virei meu rosto e sorri, não acreditando que o perfume dele ainda estava ali. 

Flashback

Xinguei a maçaneta da porta ouvindo um riso alto de Joe, que não soltava as mãos de minha cintura. O efeito do álcool não me deixava encontrar a chave certa e eu acabava derrubando todas elas. Depois de mais algumas tentativas, risos e xingamentos, a abri, entrando tão rápido com Joseph que quase caímos um por cima do outro. Ele riu de novo, tateando a parede e quando finalmente ligou a luz, eu fui até meu aparelho de som, olhando maliciosa para ele, que se jogou no sofá e não tirava os olhos de mim. 
Como eu já sabia o cd que estava ali dentro, apenas apertei o botão play e o vi revirar os olhos. 
- Maroon 5... Você tem obsessão por essa banda ou é só impressão minha? - ele tentava manter a voz séria, mas pelo fato de estar bêbado só conseguia o efeito contrário. Sorri, começando a balançar meu corpo no ritmo da música. 
- O que eu posso fazer se o Adam Levine é tão sexy? 
- Mais sexy do que eu? Olha, eu duvido! 
Ele se levantou e foi até a mesinha no meio da sala, pegando a garrafa de whisky deixada por nós ali há algumas horas. Colocou em um copo e deu um gole no líquido, com os olhos grudados nos movimentos lentos que eu fazia conforme a música. 
- O que você faz que não seja sexy, Demetria Lovato? - senti um arrepio ao ouvir sua voz extremamente rouca, me virando e fazendo nossos olhares de encontrarem. O desgraçado estava mais sedutor do que nunca. Desci meus olhos por seu terno preto e mordi o lábio inferior, quase o machucando. 
- Essa voz, esse whisky, essa roupa... - balancei minha cabeça. - Meu Deus, você é o Chuck Bass!- ele riu, e colocou o copo na mesinha. 
- Na verdade eu me chamo Joseph Jonas e, sim, é um enorme prazer te conhecer. - entrei na brincadeira, segurando nas barras do vestido e fazendo uma curta reverência. - Em todo o caso, não acho que você se parece com a... Como é mesmo o nome dela? Blair... Blair alguma coisa. 
- Esperai ai... Desde quando você sabe o nome dela? 
- Um dia, eu achei sua coleção de DVDs, fiquei curioso... 
- Oh, então que tal uma maratona de séries, só nos dois, na minha cama... 
- Na verdade eu prefiro uma maratona de outra coisa, mas aceito só nós dois e também aceito sua cama. 
Joe! - sorri, percebendo que ele se aproximava. Estendi minha mão e quando ele a segurou, fez com que meu corpo praticamente se chocasse com o seu. 
- Sabe, eu não ligo para Adam Levine, muito menos para esse tal de Chuck Bass... Eu tenho você só pra mim, eles não. 
- Convencido, abusado, idiota... O que mais? Ah é... Tão gostoso! - mordi seu lóbulo recebendo um gemido leve de aprovação. 
- Eu adoro quando você fica bêbada, acho que deveríamos fazer isso todos os dias, o que você acha? 
- Não, todos os dias não! Talvez um dia sim e um dia não. - sorri, sentindo sua mão descer por minha coxa e logo nossos lábios estavam colados. Às cegas, ele nos levou até o sofá e se sentou, puxando meu corpo para que eu ficasse por cima dele. Coloquei uma perna de cada lado de seu corpo e deixei que um beijo cheio de desejo começasse. 
Demi, no sofá é bom? - ele me olhou sério, mas logo voltou a sorrir maroto. 
- Não sei, só vamos descobrir se... 
- É, isso mesmo, agora vem aqui! - envolveu minha nuca com uma das mãos e chocou nossos lábios, já com a outra mão pronta para colocar meu vestido para fazer companhia ao chão. 

Fim do flashback

Demetria! - saí de um transe, balançando minha cabeça e ouvindo o barulho irritante da campainha que não parava. - Anda logo, noiva, vamos nos atrasar! 
Abandonei as lembranças do que havia acontecido naquele sofá e peguei minha bolsa, correndo até a porta e ajeitando e ajeitando minha roupa. Abri a porta e Cass quase pulou em mim. Estava com um vestidinho preto tomara-que-caia e justo ao corpo, acompanhado de um peep toe vermelho. Os cabelos presos em um rabo de cavalo e a maquiagem marcando bem seus olhos claros. Cassie estava bem... Cassie. 
- Chegou o dia, chegou o dia de aproveitar seus últimos momentos de liberdade! - ela soltou um gritinho, levantando os braços e me puxando para que eu saísse de dentro de casa logo. - Mas por que uma roupa tão comportada? Cadê aquele seu vestido vermelho? 
Ignorei sua pergunta, dando um tapinha em seu ombro e olhei para o carro estacionado do outro lado da rua, percebendo certa movimentação vinda de dentro dele. - Trouxe algumas pessoas comigo e outras ficaram esperando nós no local marcado. 
- Às vezes eu acho que estou confundindo as coisas e você é a noiva! - eu ri, chegando perto do carro. 
- Logo eu serei uma noiva também, amiga. 
- Certo, então pode me dizer aonde vamos? - parei do lado da porta do passageiro e cruzei os braços. 
- Surpresas são surpresas, Lovato, agora entre logo ai antes que eu faça essa despedida de solteira sem a noiva. 
Vendo-a dar de ombros, abri a porta do carro e tentei me acomodar de algum jeito, já que estava cheio. Assim que fiz isso, recebi vários gritinhos animados e palmas. Não pude evitar sorrir e entrar na brincadeira. Eu conhecia todos que estavam ali. Do meu lado estava Susie, uma antiga colega de faculdade; ao seu lado Bethany, uma amiga que eu nem me lembrava direito de como tinha conhecido. Eu achava Bethany muito enigmática e às vezes ela falava como se me conhecesse há muito tempo. Não sei o motivo, mas Joseph não ia muito com a cara dela. Do lado de Cassie estava Rachel, outra amiga em comum e irmã de Caleb, um dos amigos de Joe. 
- Ok garotas, não convidamos toda Londres, mas acho que isso não importa, não é? - todos concordaram em uníssono. - Vai ser uma longa noite! - a vi sorrir maliciosa e olhar para mim antes de começar a dirigir. 

- A noiva, a noiva! Tapem os olhos da querida noiva! - ouvi Susie praticamente gritar, provocando as risadas de Bethany. Não demorou muito até que alguém passasse uma venda pelos meus olhos e deixasse tudo escuro. Fui guiada por alguma delas até conseguir sair do carro e senti o vento bater em meu rosto, as vozes altas e a música evidente ao meu redor só poderiam indicar uma coisa... 
- Tirem a venda! - Cassie disse. 
E então tiraram a venda, demorei um pouco para me acostumar com todas as luzes de novo, mas assim que isso ocorreu, arregalei meus olhos e comecei a rir. 
- Um strip club para mulheres? Cass, eu não acredito nisso! - vi Rachel totalmente empolgada e impaciente para entrar, com Susie e Bethany ao seu lado. 
- Vamos entrar, ok? As surpresas não acabaram, noiva
Assim que entramos no local, automaticamente senti meu rosto queimar. Não que algo ali fosse estranho para mim, mas era diferente. Eu nunca tinha ido a um local como aquele. Nas mesas, mulheres de todas as idades, com roupas comportadas ou não, as servindo, garçons musculosos com apenas uma gravata borboleta e um... Aquilo era um tapa-sexo ou o quê? Era minúsculo. Uma mesa bem na frente de um enorme palco com as cortinas vermelhas estava vazia e logo Cassie me puxou até lá. Ignorei a música alta e toda aquela bagunça. Algumas mulheres conhecidas nos esperavam, já com copinhos de tequila nas mãos. Respirei fundo, dizendo a mim mesma que um pouco de curtição não faria mal. 
- Ok, sentem-se. - Cass abriu a bolsa e tirou um envelope vermelho de dentro, o abrindo e pegando um papel dobrado. - Vamos iniciar a última noite de liberdade de Demetria Lovato, nossa querida amiga. - ela sorriu, e os sorrisos foram seguindo, até chegar a mim. - Como eu dizia... Porra, cadê a tequila, garçom? - ela gritou e logo um bombado estava a nossa frente, segurando sedutoramente uma badeja de prata com tequila e drinks vermelhos ao nosso dispor. 
- Obrigada, adorei sua gravata! - Rachel piscou, sendo o primeiro o virar um drink. 
- Vou explodir de curiosidade, Cassie Smith, anda logo! 
- Certo, eu tenho aqui uma listinha. - ela passou a papel na minha frente e assim que eu o tentei pegar, o escondeu. - São algumas "missões". Vou ler para vocês. - abriu o papel, mas eu fui mais rápida e o tomei de sua mão, soltando um risinho de vitória. Comecei a rir de imediato. 

O último dia de liberdade.
*Club de Strip para mulheres.
*Beber até confundir um vovô com o Brad Pitt.
*Aproveitar o porre e arrancar segredos íntimos da nossa querida noiva.
*Fazer algo digno de um filme adolescente; aquelas loucuras, sabe?
*Passar um trote "daqueles" no noivo.


- Cassie, você se supera! - larguei o papel na mesa, pegando a tequila e tomando de uma vez. Todas presentes na mesa já estavam empolgadas e as luzes diminuíram, formando um clima meio tenebroso devido a quantidade de lâmpadas vermelhas pelo local. Uma música com batidas fortes, que devia ser eletrônica começou a tocar e todos os presentes ali começaram a gritar. Fala sério, aquilo tudo era desespero por sexo? Eu não me encontrava naquela situação, obrigada. 
De repente, as cortinas vermelhas despencaram, caindo no chão e revelando quatro homens no centro do palco. Suas fantasias eram tão óbvias. 
Um policial, um salva-vidas, um cozinheiro e um zorro. 
- Ai meu Deus, eu vou morrer! - Bethany colocou a mão no coração, fingindo estar passando mal e arrancando mais risadas de todos. 
Os quatro caras começaram a dançar sensualmente, se dividindo pelo palco. Aquilo era meio estranho... Não que fosse uma visão ruim, de maneira alguma, mas eu estava me sentindo estranha, sentindo que algo que eu não esperava aconteceria. Cassie me puxou pelo braço e me empurrou para frente. Um dos dançarinos, o policial, parou bem na nossa frente e apontou pra mim, recebendo um sinal positivo com a cabeça de Cassie. Ele foi até os outros e logo ambos estavam descendo do palco, provocando gritos e mais gritos. 
- Melhor esconder a aliança, Lovato! - Cassie disse em um tom muito malicioso e logo os quatro grandões haviam me cercado. 
Socorro! 
- Você está sequestrada, moça! - o salva-vidas me pegou no colo, antes que eu pudesse fazer alguma coisa e caminhou em passos firmes até o palco. Eu deveria estar vermelha, rosa, roxa, laranja, azul, verde... Quais eram os nomes das outras cores mesmo? Até isso eu tinha esquecido. Eu me sentia no colo de um gigante. Logo estava no meio do palco, cercada pelos quatro que dançavam ao meu redor, fazendo provocações e arrancando suspiros da platéia. Cassie e Bethany estavam quase subindo no palco, enquanto Susie e Rachel não sabiam se curtiam aquilo ou curtiam as bebidas. As outras presentes na mesa apenas gritavam a batiam palmas. 
O zorro se aproximou de mim e fez questão de me puxar pela cintura. Por impulso coloquei uma das mãos em seu rosto, fazendo com que a máscara que ficava apenas na região dos olhos e maçãs do rosto caísse. De imediato ele soltou meu corpo e recuou. Minha única reação foi virar meu corpo bruscamente e descer quase caindo nas escadas do palco, recebendo um olhar confuso de todos. 

Tinha que ser efeito da tequila, NÃO podia ser ele.

Passei bruscamente pela mesa e peguei minha bolsa, correndo dali o mais rápido que meus saltos permitiam. Ouvi os gritos de Cassie logo atrás de mim e quando cheguei à entrada ela segurou meu braço. 
- Que palhaçada é essa? Por que você saiu assim? 
- Cassie, eu quero ir embora agora! - senti o desespero me dominar e meus olhos começaram a arder, mas eu não choraria ali. Logo Rachel se aproximou com Susie, ambas com expressões preocupadas. 
- O que foi, Demi? 
- Eu só quero sair daqui, por favor. Podemos continuar isso na minha casa, mas vamos sair daqui! - não esperei nenhuma delas, fui andando meio atordoada até o carro, me encostando nele. Cassie bufou e voltou para dentro do strip club. Logo apareceu de novo, com Bethany ao seu lado, que estava tensa, mas não fiz questão de prestar atenção naquilo. Todas vieram até mim e foram entrando no carro. 
- Toma! - ela estendeu meu celular, eu nem tinha percebido que o mesmo não estava dentro da minha bolsa. - O zorro me entregou, acho que caiu da sua bolsa. 
- Desculpe, Cass. De verdade. - eu disse, tentando ignorar aquele fato. 
- Não, não ligue para isso! Se você não está bem nós vamos embora. - entrei no carro, me sentindo culpada pelo silêncio presente. 
- Quer que eu chame os bonitões para ir com a gente? Tipo uma sessão particular? - ela deu um meio sorriso. 
- Nada de bonitões, Cassie! Vamos embora, pode ser? - coloquei uma das mãos na cabeça, evitando olhar para qualquer um, mantendo meu olhar preso na janela. 
Mas que merda! 

Desci do carro antes de todo mundo e fui até a porta, tirando a chave de dentro da bolsa e abrindo-a. Assim que entrei me joguei no sofá, vendo todas entrarem a seguir. Espalharam-se pela sala e começaram a me olhar como se esperassem alguma reação. 
- Acho que estou ficando estressada por causa do casamento, entendem? - tentei justificar. 
- Isso é TPC! - Susie disse, segura de suas palavras, recebendo um olhar torto de Bethany. 
- O que diabos é TPC? 
- Tensão Pré Casamento. Não sei realmente existe, mas nossa amiga está, com certeza, passando por isso. - Susie era bem inteligente, não? 
- Com uns dançarinos como aqueles eu acho que teria Tesão Pré Casamento, isso sim! - Rachel disse, ela estava mais alegrinha que o resto das garotas e todos começaram a rir. Até eu. 
- Ok, já que os nossos planos não saíram como o esperado, pelo menos podemos passar um belo trote no noivo, concordam? - Cassie se sentou no chão, pegando um celular que não era o seu de sua bolsa. As outras se sentaram perto dela, formando uma espécie de rodinha, apenas eu que continuei no sofá. - Isso é algo que não pode deixar de acontecer, já foi preparado. 
- O que você tem em mente? - perguntei. 
- Observem! - e então ela discou os números e pigarreou, esperando pacientemente até ser atendida. 
Alô? - pude ouvir a voz de Joseph, pois Cassie havia colocado no viva-voz. Sua voz estava cansada. Ah, como eu queria estar com ele. 
- Boa noite! - segurei o riso e me aproximei dela, não acreditando que Cassie estava fingindo uma voz fina e irritante daquele jeito. - O seu pedido está a caminho, Sr. Jonas. - olhei curiosa para ela, não entendendo nada. 
Pedido? Pedido do quê? Deve ser algum engano e... 
- Sr. Jonas, não tem engano nenhum, espere que logo sua campainha vai tocar! Ei, isso que acabei de ouvir foi um barulho de campainha, não foi? 
Um minuto! 
Silêncio de outro lado da linha e risadas em minha sala. 
QUE PORRA É ESSA? - desabamos a rir, mesmo ainda não entendo o motivo daquilo. Cassie continuava séria, uma ótima atriz. 
- Chegou tudo certinho? Os dez pacotes de camisinhas de morango, dez de chocolate, hm... Sei lá quantos potes de lubrificante, dois vibradores médios, bonecas infláveis com cores de cabelos diferentes... Faltou algo? - ela colocou a mão na boca, não conseguindo controlar o riso. Eu estava perplexa. 
Olha, será que dá pra você mandar alguém tirar isso daqui? Eu não pedi nada disso, eu... Eu não preciso disso! 
- UI, ELE NÃO PRECISA! - Rachel gritou e Susie se jogou em cima dele, tapando sua boca. 
Quem é? Quem teve a brilhante ideia de me mandar esse sex shop ambulante? 
- Já disse, trabalho em um sex shop e liguei apenas para confirmar seu pedido. Espero que tenha uma excelente noite com sua noiva, a Demetria. 
Ops... 
Como você sabe o nome da minha noiva? 
- Er... Eu só... - droga, ela se esqueceu de manter a voz diferente. 
Porra, Cassie, não acredito! - ouvi uma risada alta, rindo junto. - Bem que eu desconfiei, sua maníaca! 
- Não culpe só a mim, estamos todas aqui na casa da sua noiva. Fala com ela! - neguei com a cabeça tentando levantar, mas Bethany me segurou. 
- Olá, Joe. - respondi, sem graça. 
Srta. Demetria Lovato... O que significa isso? - eu não o via, mais podia perceber que ele sorria enquanto falava. Tirei do viva-voz, recebendo palavras de protesto das outras que estavam na sala e me deitei no sofá. 
- Eu juro que não sabia disso, é tudo culpa da Cassie... Sabe, se eu fosse você, mandava todas essas coisas para o Jared... - antes que eu terminasse de dizer, Cass veio até mim e começou a me estapear, pedindo que eu calasse a boca, enquanto eu ria. 
Jared e Caleb já foram embora, por sorte. - ele ficou em silêncio por alguns minutos e logo voltou a rir. 
- Tão cedo? Bom, então você guarda esses presentinhos e depois os entrega para quem quiser. Já sinto saudades de você, meu Chuck Bass! 
Olha... Acho que vou jogar os vibradores e as bonecas fora e guardar o resto, pode ser útil... 
- Conversamos sobre isso depois, e faça o que eu disse, mande o resto das coisas pro Jared! - senti mais um tapinha em meu braço. Joseph riu do outro lado da linha. 
Você não vai passar essa noite livre de mim, ainda é cedo! 
- Quem sabe... Agora preciso desligar, eu amo você. 
Eu também te amo, e estou com saudades do seu sofá. - sorri e desliguei o telefone, entregando para Cassie e sendo coberta por olhares maliciosos. 
- Olha, eu preciso ir embora, minha casa não fica tão longe... - Bethany se levantou, pegando sua bolsa e se despedindo de mim com um leve abraço. Rachel e Susie fizeram o mesmo e decidiram ir com ela, já que Cassie disse que ainda não iria embora, pois tinha um assunto importante para tratar comigo. As vi entrando no carro e logo sumirem de minha visão. Fechei a porta e ignorei Cass praticamente jogada no chão e subi as escadas, sentindo um incômodo nos pés pelo salto. Logo ouvi seus passos pela escada e revirei os olhos. Abri a porta do meu quarto e desmoronei na cama, tirando meus sapatos de qualquer jeito e depois abraçando um travesseiro, vendo ela se encostar na parede e cruzar os braços. 
- O que foi? Quer dormir aqui? Sabe que não precisa pedir. - virei para o outro lado, ficando de costas para ela. 
- Acha mesmo que eu engoli a história de estar "muito nervosa por causa do casamento"? - ela disse as últimas palavras fazendo aspas com os dedos. Senti um peso na ponta da cama e sua voz mais próxima. - Pode me contar o que aconteceu, Demetria. 
- Não foi nada, Cass. Eu já disse. 
- Isso não é resposta que se dá a uma amiga e você sabe disso. Sabe que pode confiar em mim. - levantei meu tronco, soltando meu cabelo e olhando para ela. Eu não sabia muito bem que palavras usar, na verdade nem eu sabia direito o que estava acontecendo. Mas desabafar com ela seria bom, eu acho. 
- Às vezes eu tenho medo. 
- Medo do quê? - ela se deitou ao meu lado, deitada de lado, apoiando a cabeça na mão. 
- Não sei explicar... Mas é como se eu sentisse que não acabou, entende? 
- Você está me deixando confusa, não faça isso, esqueceu que eu já bebi hoje? - ri levemente, voltando a me deitar. 
- Eu sei que esse último ano foi praticamente perfeito, sei também que não tenho motivos para me preocupar, mas eu não consigo abandonar esses pensamentos, Cass. 
- Hm, e quais pensamentos são esses? 
- Às vezes eu acho que aquela história não acabou, só está tendo uma pausa... - vi seu corpo se levantar bruscamente e ela puxou meu braço, me fazendo levantar também, balançou a cabeça negativamente e bagunçou meu cabelo. 
- Não seja tola, amiga. Não pense nisso, você passou esse último ano tão bem, não deixe que fantasmas do passado voltem a te assombrar. Eu sei que não participei muito daquilo, mas pelas coisas que você me contou e a julgar pelo jeito que as coisas terminaram, não tem motivos pra ter medo. - Cassie me assustava, ela começava a falar e não terminava. Eu sempre cogitava a hipótese dela realmente não precisar de oxigênio nos pulmões. 
- Obrigada. - a abracei, ainda sentindo um peso dentro de mim pelo fato de estar escondendo o que realmente me preocupava. 
O zorro. 
- Vamos mudar de assunto? Como anda seu vestido? - ela bateu palminhas, empolgada. 
- Vou te mostrar! - saltei da cama, indo até meu armário e abrindo uma gaveta, tirando de lá uma pasta preta de couro. - Meg me deu uma cópia do design do vestido, claro que ainda faltam alguns detalhes, mas aí está... - entreguei a pasta a ela, sentando ao seu lado de novo. 
- Meu Deus, como é lindo... - ela estava de queixo caído, com os olhos brilhando. - E o vestido das damas de honra continua sendo creme com detalhes vermelhos? - concordei com a cabeça, vendo Cassie sorrir. 
- É difícil de imaginar você usando um desses... Digo, depois das coisas que você contou sobre seu passado. 
- Pois é! Nem eu mesma me imaginaria usando um desses, a verdade é que eu passei a cuidar mais de mim, gostar mais de roupas e essas coisas há pouco tempo. 
- Ah, nisso você está certa. Precisamos estar bem com nós mesmas antes de estar bem com qualquer homem, sabe? - ela ajeitou o cabelo, ainda segurando o desenho. - Mas devo confessar que é maravilhoso quando eles chegam em casa, super cansados do trabalho e te encontram deitada sensualmente na cama usando algo da Victoria's Secret! E a cara que eles fazem? Adoro! - soltou um riso malicioso. 
- Não me obrigue a saber os detalhes, Cassie! 
- Falando nisso, já é tarde e eu preciso passar no Jar. 
- Tem certeza que não quer dormir aqui? 
- Não, faço isso na véspera do casamento, pra te ajudar com a TPC! - rimos e ela se despediu com um abraço. - Fique bem, e esqueça aqueles pensamentos, noiva. 
- Vou esquecer. Pode fechar a porta para mim? Hoje não saio mais desse quarto. - ela concordou e saiu pela porta, a fechando e logo eu escutei o barulho de seu carro sendo ligado. 
Me levantei, sentindo uma necessidade de tirar aquela roupa que já me incomodava. Após fazer isso eu voltei a deitar na cama, ficando apenas de calcinha. Minhas pálpebras estavam pesadas, mas eu ainda não queria dormir. Ajeitei-me com o travesseiro e fiquei encarando o teto, tentando seguir o conselho de Cassie e pensar em coisas boas, pensar no que realmente importava. Minha tentativa foi interrompida pelo som do meu celular tocando. Não sei como minha bolsa foi parar em meu quarto, acho que foi Cassie quem a trouxe. A abri e peguei o aparelho, sorrindo ao reconhecer o número na tela. Demorei um pouco para atender, apenas fazendo charme e apertei o botão. 
- Sorte sua que eu ainda não estou dormindo. - atendi com a voz baixa e intensa. 
Eu não vou conseguir dormir até ter você em meus braços, totalmente cansada. - sorri maliciosa, ainda olhando para o teto. 
- Bom, podemos ver o que é possível fazer. Me sinto sozinha aqui. - ele não disse nada, apenas consegui ouvir sua respiração forte. - Apenas eu, minha cama e uma peça de roupa insignificante... 
Não faça isso comigo, secretária! 
- Secretária? - eu ri. - Não estamos na empresa, não precisa me chamar assim. 
Mas eu acho sexy te chamar assim. - senti certo calor, devo confessar. - Me conta... Qual é a cor de sua peça insignificante de roupa? Que, suponho, seja lingerie. 
- Na verdade eu estou só de calcinha, preta. 
Inferno! - ele sibilou e eu desatei a rir. 
- E você? 
Só com uma calça de moleton. 
- Adoraria tirá-la de você. 
Penso o mesmo de sua calcinha. - olhei para o anel em meu dedo, aquele que me tornava a mulher mais feliz do mundo. Todas as preocupações tinham sumido. 
- Na verdade acho que vou dormir. 
Então eu vou ter que me virar com minha imaginação e minhas mãos, Lovato? - soltei uma risada que ecoou pelo quarto, mas ele não me acompanhou. Mordi o lábio inferior e minha mente logo pensou em uma boa resposta a ele. 
- Imagine que sua mão é a minha, Joseph. 
Até que assim não fica tão ruim... 
- Divirta-se. 
- Só quando você estiver comigo, minha noiva. Boa noite. 
- Boa noite, meu amor. - desliguei o aparelho, sorrindo feito uma idiota e me levantei, decidindo tomar um banho quente. Aproveitei bem a água que caia pelo meu corpo, relaxando cada mínima parte dele. O cheiro do sabonete era um dos meus preferidos, era suave e me lembrava Joe. Me lembrava dos dias que ele dormia em casa e saia do banho com aquele mesmo cheiro. Terminei de tirar a espuma de meu corpo e sai do box, pegando uma toalha branca e fofa, me secando.
Trinta minutos tinham se passado.
Depois de estar seca, joguei a mesma no chão e fui até o espelho de corpo inteiro no canto do banheiro. Primeiro encarei meu rosto sem maquiagem, depois meus cabelos molhados e grudados em minha pele. Desci os olhos e comecei a perceber as inúmeras mudanças com o passar dos anos, cada detalhe. Depois daquele momento "olha como eu cresci, mamãe", peguei um roupão branco e sai do banheiro, agradecendo mentalmente por ter deixado uma caixa de chocolates em meu criado-mudo. Sempre era útil. Deliciei-me com alguns bombons e o sono só ficava mais forte, me deixando meio tonta. Deixei a caixa de chocolates de lado e me deitei na cama, de roupão mesmo. A hora estava passando muito rápido aquela noite, nenhum sinal de movimentação na rua, uma escuridão agradável, apenas a luz da lua. 
Soltei um xingamento baixo ao ouvir o celular tocar de novo, mas sorri em seguida. Deveria ser Joseph, aposto que tinha esquecido de dizer algo ou simplesmente queria ter outra conversa no mesmo estilo da anterior. Peguei o aparelho e estranhei ao olhar para o visor e não reconhecer o número. No instante seguinte, ouvi um barulho de carro em frente a minha casa e corri até a janela, segurando o celular que insistia em tocar. 
Era o carro de Joseph. 
Ele saiu do carro e olhou para cima, me vendo ali e dando um sorriso malicioso. Fiquei meio atordoada e sai da janela, sabendo que ele também tinha uma chave da porta. Olhei o aparelho em minha mão e pensei em desligar, mas o impulso falou mais alto e acabei atendendo, não recebendo resposta. 
- Alô? Quem é? 
Demetria... - franzi o cenho, sentindo calafrios correrem por todo meu corpo. - Eu estava tomando um banho e me lembrei de você. Como vai? 
O baque do celular contra o chão foi o único som que consegui escutar antes de sentir aquele aperto em meu peito, de novo. Depois de meses sem notícias dele. 
Cameron Wolfe. 

Everything you think you know, baby, is wrong.

Um comentário:

  1. ai meu Deus...posta logo, mais um pelo amor de Deuuus, quero mais mais mais maiiiiis

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Sem comentario, sem fic ;-)