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sábado, 22 de fevereiro de 2014

Secretary - Capítulo 17


Música do capítulo!

Ao dizer aquilo, o corpo dele saiu de cima do meu, se jogando ao lado na cama. Permaneci olhando para o teto, sentindo a sensação de fraqueza nas pernas ir embora aos poucos. O que era bom, já que eu não poderia ficar naquele quarto pra sempre. Percebi que ele começou a olhar para o mesmo ponto do teto que eu, virei meu rosto, encarando o dele e voltando a olhar para o ponto de antes. 
- Eu queria poder ficar nesse quarto pra sempre. - a princípio achei estranho o que ele tinha dito. - Os problemas parecem longe... 


- Que bom que você pensa assim! - minha voz estava baixa. 
- Não, é sério... - ele virou seu corpo, ficando de lado da cama e mantendo contato visual comigo. - Nunca teve a sensação de que se isolar do mundo torna as coisas melhores? - ele disse aquilo com tanta calma, de uma maneira tão suave... Como se fosse outra pessoa. 
- Nunca parei pra pensar nisso. - sem estar muito afim de conversar, me levantei, ficando sentada no canto da cama, de costas para ele. 
- Suas costas são bonitas. - franzi o cenho, olhando para o chão. Aquela transa havia deixado ele tão louco ao ponto de não falar coisa com coisa? - E, olha só, você tem um pequeno sinal aqui! - senti seu dedo encostar-se ao meio das minhas costas, o que foi algo inesperado... Até demais. Levantei-me, sem esperar que ele retirasse a mão dali e fui atrás das minhas roupas, vestindo-as rapidamente e ajeitando meu cabelo que estava bagunçado. 
- Onde você vai? - ele ficou sentado na cama, cobrindo a parte de baixo do seu corpo com o lençol branco. 
- Eu vou voltar para o mundo real... Pode me dar a chave? - estendi minha mão, já esperando que ele não cooperaria com aquilo tão facilmente. 
- Eu ainda não disse que você pode sair, Lovato. - o sorriso de antes voltou aos seus lábios. 
- Agora você tem suas duas mãos soltinhas, por que precisa de mim? - ele começou a rir, enquanto a minha cara ficou mais séria do que estava antes. Não gostava de ficar muito tempo com ele, era como se aquilo me enfraquecesse, era como se eu fosse ceder a todas as suas vontades, caprichos e loucuras. 
- Qual é o seu problema? - ele jogou o lençol longe, se levantando e vestindo a boxer. - Eu não sou uma máquina de sexo. - era estranho ouvir aquilo dele, já que eu poderia pensar o contrário. - Só quero que você fique aqui! – encarou-me, vestindo a camisa e tirando a chave do bolso da calça, estendendo-a para mim. - Mas quem sou eu pra te pedir alguma coisa, não é? - Joseph balançou a cabeça negativamente, vestindo o resto de suas roupas. 
Abri a porta, lançando um último olhar para ele, desejando mais do que nunca que existisse realmente uma escapatória para o mundo, como ele mesmo havia dito. Deixei-o sozinho no quarto e saí, voltando a fazer todo aquele enorme percurso. Só que dessa vez ele não vinha atrás de mim, como eu gostaria. 

1 dia depois... 

Tédio. 
Era o que aquele dia havia se tornado. 
Eu realmente não imaginava que conseguiria sentir tédio em Los Angeles, não passou pela minha cabeça que Joseph ficaria isolado durante aquele tempo, como se estivesse se preparando para algo, decidindo o que fazer ou simplesmente tentando fugir do que um lado dele queria fazer. 
Afinal, ele tinha dois lados. 
Senti algumas gotas de água atingirem minha pele devido a duas crianças que pulavam na piscina, já que o dia estava quente e vários hóspedes decidiram ficar por ali. Procurei com os olhos, na esperança de ver Jonas, mas tudo que consegui ver foi Jared, sentado em uma das cadeiras do bar. Seu olhar estava longe. Levantei-me, indo até ele e sentando em sua mesa, recebendo um olhar confuso em troca. 
- Antes que você me mande ficar longe de você... - comecei, com receio. - Eu queria dizer que... Bom, eu confio em você, eu sei que você não fingiu nada pra mim, eu sei. - ele levantou uma sobrancelha, dando um gole em seu suco e olhando para a piscina. 
- Essa sua confiança cega nas pessoas ainda vai te meter em sérios problemas. Vai acabar te matando. - ignorei as palavras frias dele, dando um meio sorriso e pensando em como puxar assunto, consertar as coisas. 
- Eu não quero ficar brigada com você, entende isso? - não sei bem se Jared estava me ouvindo, já que ele não me encarava. - Você é meu amigo, eu acho. 
- Sou? Tem certeza? - ele coçou a nuca, percebendo que eu não desistiria até estarmos nos falando normalmente de novo. 
- Claro que sim! Não nas circunstâncias que eu gostaria, mas somos sim! - ele se aproximou um pouco, sussurrando um "Me Desculpe!" e dando um leve beijo em minha bochecha. Olhei para os lados, com medo de encontrar alguém que não gostaria de ver aquela cena e sorri pra ele. 
- Eu acho que nós vamos conseguir! - levantei da cadeira, seguida por ele. 
- Eu não teria tanta certeza se fosse você... De qualquer jeito, você viu o Ian por aí? - neguei com a cabeça, deixando ele onde estávamos e voltando para dentro do hotel. 

Abri a porta do quarto, não vendo sinal de Joseph. Entrei com cuidado, não ouvindo meus próprios passos e minha respiração. Olhei ao redor, percebendo que uma mala não muito grande estava em um dos cantos do quarto, caminhei até ela, me abaixando e depois de pensar um pouco, abri seu zíper. Eu nunca havia percebido a existência dela ali, mas também, com tantas coisas para reparar e tomar cuidado, quem olharia para uma mala? 
A princípio, tudo que vi foram coisas comuns, algumas roupas, uma boxer vermelha que me fez imaginar como ele ficaria vestindo aquilo... Mexi mais no fundo, encontrando uma pequena e comprida caixinha de madeira. Estranhei aquilo, tirando a mesma de dentro da mala e tentando abri-la. Não demorou muito e eu avistei um papel dobrado e amarelado sobre todas as outras coisas que pareciam estar dentro da caixinha. Optei por abri-lo e deixar o resto para depois, sempre dando uma olhada na porta, que estava encostada. Levantei-me, segurando a caixa nas mãos e me sentando na cama arrumada. Abri o papel, não entendendo logo de cara o desenho que ali se encontrava. Eu tinha certeza que uma criança havia feito aquilo, já que a caligrafia que estavam em cima do desenho era infantil. Olhando com mais atenção, percebi que o nome de Joseph estava escrito no canto da folha, com a mesma caligrafia da parte de cima. 

"Às vezes eu queria sumir..." 

"Ninguém se importa... Eu também não deveria." 

Passei a mão sobre a folha, grudando meus olhos no desenho abaixo daquelas duas frases. Um garoto estava no meio, com uma expressão triste. Ao seu lado esquerdo, uma mulher também com a expressão triste e um pouco distante. Do lado direito, um homem também afastado do garotinho possuía um rosto que demonstrava raiva e tristeza. Não precisei pensar muito para reconhecer que as pessoas daquele desenho só podiam ser Joseph, sua mãe e seu pai. Dobrei a folha, colocando-a com cuidado na cama e voltando minha atenção para a caixinha. Peguei uma foto velha e que começava a se rasgar por uma das pontas, sentindo um aperto em meu coração na mesma hora. 
Joseph e seus pais estavam abraçados. De fundo, uma paisagem verde que parecia ser bonita. 
Ele era uma criança... Ele ainda era um inocente. 
Peguei a última coisa que estava na caixinha, percebendo que também se tratava de uma foto. Tomei um susto ao reconhecer meu rosto naquela fotografia tão recente... A mesma estava dobrada, provavelmente ocultando alguém. Desfiz aquela dobrada, vendo Joseph a meu lado. 
Senti um misto de emoções ao me lembrar do dia em que aquela foto foi tirada. Logo que eu comecei a trabalhar no escritório, foi feita uma reunião na empresa mesmo, onde Jonas e eu ficamos conversando um pouco, como se a presença dele não me deixasse completamente idiota naquela época. 
Ainda deixava, na verdade. 
Mas por que ele guardava aquela foto? Por que ele guardava aquelas coisas? 
Arrumei tudo dentro da caixinha de novo, sentindo meu coração acelerado e, em questão de minutos, a porta se abriu. Ele olhou meu rosto assustado e seu olhar logo desceu para minhas mãos, que seguravam seus pertences. Piscou várias vezes, abrindo a boca e a fechando. Sustentei seu olhar, deixando evidente que eu sabia o que tinha ali dentro e logo ele estava caminhando rápido em minha direção, tomando o objeto de madeira das minhas mãos. Nesse instante, o mesmo caiu no chão, revelando novamente as fotos e o desenho. Percebi que ele estava mudo e se abaixou para recolher aquilo, pensei em falar algo, pensei em perguntar o motivo daquilo... 
- Você não deveria ter mexido nisso! - se levantou, segurando a caixa entre as mãos. Joseph fechou os olhos, os abrindo em seguida. Algo estava errado com ele, seu olhar não era apagado daquele jeito. - Saia do quarto, Demetria. - neguei com a cabeça, ouvindo ele bufar. - Me deixa sozinho, porra! 
- Você não consegue mais esconder, não é? - ele me olhou sem entender. - Eu sei, tem alguma coisa errada, eu sempre soube! - e então ele segurou meu braço, puxando-me para a porta, mas parou no meio do caminho, percebendo que estava depositando força demais em meu braço. Olhou-me nos olhos e abriu a porta, lançando-me um último olhar antes de minhas pernas me tirarem dali. 


Joseph's POV 

Fechei a porta com força, jogando a caixa de madeira longe. Livrei-me daquela camisa que só servia para incomodar meu corpo e abri uma das gavetas que ficavam ao lado da cama. Retirei dali uma garrafa de whisky que até o momento eu não tinha tido vontade de tomar. Mas naquele momento eu precisava... Precisava apagar as coisas que estavam na minha cabeça de algum jeito. Senti a bebida descer queimando pela minha garganta e sentei do lado da cama, olhando para a janela que estava aberta. 
Mais um gole, outro... Outro... Porra, por que eu não podia ficar bêbado logo e pegar no sono? 
A verdade era que eu não era fraco quando o assunto era álcool, aquilo não adiantava comigo. 
Deixei a garrafa que estava pela metade no chão, me levantando e andando pelo quarto. Encostei-me à parede, fechando os olhos e respirando o mais fundo que eu conseguia. O gosto de álcool ainda estava em minha boca e meu estômago estava embrulhado há horas. 
Eu não conseguia me livrar daquela maldita sensação... 

" Tem razão, eu tento me convencer que ainda vale a pena lutar pelo meu filho, mas você é igual a seu pai... Você é um insensível, não se importa com nada. Se um dia eu te ver no fundo do poço,Joseph, eu não irei te ajudar. Eu cansei de tentar. Boa sorte com essa merda que você chama de vida, estou seguindo seu conselho e me afastando de você." 

Que porra eram aquelas malditas lágrimas querendo sair dos meus olhos? Não, eu não iria chorar. Joseph Jonas não chorava por merda nenhuma, ele era maior que aquilo... Ele sempre superava. 
Eu estava cansado de superar. Só superar. 
Soquei a parede, engolindo aquele maldito choro e sentindo minha mão latejar. Todo o meu corpo latejava, todo o meu corpo doía, não só por fora, mas por dentro também. Eu me sentia uma espécie de bomba relógio, a qualquer momento eu simplesmente não aguentaria mais, eu explodiria e causaria danos e mais danos. Danos a pessoas inocentes. 
Ignorar os outros sempre foi o meu forte, mas quem disse que aquilo ainda funcionava? 
No meio de tudo aquilo, confesso que eu conseguia sentir um pequeno alívio. Às vezes eu gostava de ficar sozinho, era o único momento da minha vida que eu poderia ser eu mesmo... Ou pelo menos pensar como eu realmente quero, não esconder sentimentos, vontades e mágoas de ninguém. Ali, sozinho naquele quarto, eu sabia quais eram os meus problemas, eu sabia qual eram os meus erros. E sim, eu sabia que ainda... Por mais que a palavra ainda me irritasse, havia uma saída. 
Senti o sol que vinha da janela bater em meu rosto e junto com ele um cheiro estranho de queimado me fez correr até a porta e abri-la de imediato. A parte do corredor que levava aos elevadores e as escadas estava tomada por um rastro de fogo que aos poucos ia chegando mais perto, impossibilitando que eu saísse dali. De onde aquilo tinha saído? Alguém estava tentando me matar? 
Bem na hora... Na verdade, já tinha passado da hora. 

/Joseph's POV 


Caminhei com passos firmes e com minhas mãos fechadas em punhos pelo saguão movimentado, esbarrando em uma pessoa ou outra, sem me virar e pedir desculpa. Passei direto por Jared, o ouvindo gritar meu nome e parando de andar. 
- O que foi? - me virei, não escondendo meu estado. - Imagino o que tenha sido e... - o cortei. 
- Você achou o Ian? - ele abriu a boca para responder, mas nossos ouvidos foram tomados por algo que aparentava ser uma sirene, pareciam ser os bombeiros. Rapidamente o saguão havia se tornado uma aglomeração de gente que observava três bombeiros entrarem correndo e se dirigindo até as escadas de emergência que ficavam no fundo. 
"Fogo." 
"Andar 27." 
"Onde está o senhor Jonas?" 
As vozes das pessoas que estavam por perto ecoavam dentro da minha cabeça como pancadas. Um aperto forte em meu corpo fez com que eu corresse até a escada principal, sentindo a mão de Jared me segurar. 
- Me solta! - tentei manter minha voz baixa, mas era impossível. - ME SOLTA! - gritei, sentindo as mãos dele apertarem meus braços com força. Droga, eu precisava chegar naquele andar, eu precisava fazer alguma coisa. Logo o cheiro de fogo já era percebido por todos ali e um dos encarregados que ajudavam a cuidar do hotel veio correndo até Jared, com uma expressão tensa no rosto. Ele olhou pra mim, e pareceu pensar em alguma coisa. 
- Metade do andar foi tomado, a outra ainda está normal, mas eles vão ter dificuldade para passar. O estranho é que isso aconteceu somente com o andar 27, eu não entendo... Pelo menos não vamos ter muitos prejuízos. - senti uma raiva tomar conta do meu corpo e consegui me livrar das mãos de Jared, empurrando o homem que falava calmamente com nós, como se nada estivesse acontecendo. 
- Acho melhor você calar a boca e fazer alguma coisa! O Joseph tá lá em cima, ele não saiu do andar, vocês têm que fazer alguma coisa! - minha voz foi falhando e logo eu estava chorando. Jared envolveu os braços sobre mim de novo, tentando me conduzir até o elevador, por mais que eu lutasse contra aquilo, acabei deixando ele me guiar. 
- Eu vou te levar pra um quarto, ficar aqui não vai ajudar. Daí você se acalma e tudo vai ficar bem. 
- Eu não quero me acalmar, porra! Eu quero saber se ele tá bem. - funguei, já dentro do elevador, sentindo todo o meu corpo tremer. Ele abriu uma das portas usando uma chave que eu não tinha o visto pegar e segurou minha mão, entrando comigo no quarto. Sentei na cama, enxugando algumas lágrimas que estavam em meu rosto. 
- Calma. - ele se sentou do meu lado. - Não aconteceu nada com ele... - deixei meu corpo cair na cama, fechando os olhos e pedindo com todas as forças para que realmente nada de ruim estivesse acontecendo. - Estranho só aquele andar pegar fogo... - Jared estava pensativo, com uma mão no queixo. - E o Ian sumiu... - dizendo isso, ele arregalou os olhos e se levantou, saindo sem dizer nada e me deixando sozinha. 
Eu queria levantar, queria saber se estava tudo bem, mas minhas pernas estavam fracas e meu corpo implorava por descanso. Coisa que era rara eu ter durante aqueles tempos. Minhas pálpebras ficaram pesadas, meu corpo inteiro amoleceu... 

A fumaça era fraca, mas tornava o ambiente meio abafado e meus pulmões trabalhavam com dificuldade. O corredor estava vazio, mas eu ouvia vozes altas mais a frente. Uma delas era a de Jared, ele lamentou algo e depois chamou meu nome. Antes que eu chegasse até a única porta que estava aberta, olhei para o chão, vendo que uma parte dele estava preta e saía uma leve fumaça, como se algum fogo estivesse sido apagado ali há pouco tempo. Jared entrou no meu campo de visão e correu até mim, entrando em minha frente e impedindo que eu passasse. Segurei seu braço com força, o vendo tentar a todo custo me segurar.
- Não entre lá, não entre. Por favor! - Ignorei seu pedido, avançando e dando de cara com a porta do quarto que estava aberta.
Aquela foi a pior visão da minha vida...
Joseph estava caído no chão, o rosto virado para o lado da parede. Imóvel.
Aproximei-me com medo, sentindo a vontade de chorar ficar maior a cada passo que eu dava. Senti uma lágrima quente correr por toda a extensão do meu rosto ao avistar aqueles olhos que eu tanto gostava. Estavam abertos... Sem brilho algum, imóveis como seu corpo. Seu nariz estava sangrando e ele já não respirava mais. Ajoelhei-me ao lado dele, colocando a mão em seu peito. Ele estava frio e seu coração não demonstrava sinal algum de batimentos. Eu não conseguia me mexer, não conseguia dizer nada, não conseguia chorar...
Uma voz veio da porta.
- Era pra ele ter morrido queimado, mas enfim... Asfixia devido à fumaça também serviu...
Consegui me virar, dando de cara com Ian. Seu rosto carregava uma expressão fria, logo ele soltou uma risada alta, tirando uma arma de dentro de seu casaco.
Não consegui gritar...
Estava tudo acabado. 



Joseph's POV 

Abri a porta, vendo Demetria deitada na cama. (n/a: Coloque a música.) 
Eu havia conseguido escapar daquele maldito fogo. Ok, meu braço tinha sofrido algumas pequenas queimaduras, mas isso não importava. Quando consegui sair daquele andar, a primeira coisa que veio em minha cabeça foi ela. Eu tentei evitar, mas quem disse que eu estava conseguindo? Procurei Jared, avisando que estava tudo bem e quando ele me disse que ela estava em um quarto do andar 25, não pensei duas vezes e fui do jeito que estava até ela. 
Cheguei mais perto, parando em frente à cama. Sua mão estava fechada em punho, segurando com força a colcha, sua expressão era tensa... Ela deveria estar sonhando com algo ruim. Sentei-me com cuidado na cama, me aproximando aos poucos. Nunca tinha reparado no rosto dela daquele jeito, nunca tinha prestado atenção nos detalhes... 
Antes que eu pudesse evitar, minha mão foi até seu rosto, fazendo um carinho leve. Ela se mexeu e percebi que sua respiração estava acelerada demais. Tirei minha mão de seu rosto, sentindo a queimadura em meu braço arder um pouco. Inclinei-me, aproximando meu corpo do dela e seu rosto estava muito próximo do meu. Fiz um leve carinho de novo, sentindo sua pele agora mais quente. Em questão de segundos, ela abriu os olhos e os arregalou, respirando com dificuldade. Afastei-me um pouco, esperando alguma reação da parte dela ao me ver. 
Os olhos de Demetria foram ficando vermelhos e logo lágrimas começaram a cair. Ela praticamente se jogou em mim, envolvendo os braços em meus ombros e chorando, soluçando alto. Eu não sabia o que fazer, nunca tinha visto ela daquele jeito. Eu estava me sentindo impotente... 
- Me diz que foi só um sonho! - ela pressionou uma das mãos nas minhas costas, estava desesperada. - Você não pode ter morrido, não pode! - ela havia sonhado com isso? Ela estava daquele jeito por minha causa? Fiz ela tirar os braços dos meus ombros, segurando seu rosto com as duas mãos e olhando fundo em seus olhos encharcados e cheios de desespero. 
- Eu tô aqui! - ela fungou de novo, seu corpo inteiro tremia. - Eu poderia ter ficado naquele quarto e esperado tudo queimar... - mostrei meu braço a ela, que colocou a mão na boca e voltou a chorar de novo. - Mas eu tinha que sair de lá, eu tinha que sair por... - senti que algo dentro de mim gritava para que eu falasse logo, mas outra coisa que também estava dentro de mim fazia com que eu travasse. Joseph, não tinha mais sentido enganar a si mesmo. - Por você. 
Ela me olhou surpresa e eu limpei uma lágrima que estava em sua bochecha com o dedo. 
- Ignore esse pesadelo, eu não morreria antes de te mostrar que eu posso ser diferente, acredite em mim... - a razão já não importava mais, deixei que tudo aquilo saísse. 
- O Ian... Ele estava no sonho... Ele te... 
- Shh! - selei meus lábios nos dela. - Não se deu conta das coisas que eu acabei de te dizer, Lovato? - envolvi minhas mãos na cintura dela, que se ajeitou ao meu corpo, encostando a cabeça em meu ombro, não estava mais chorando. 
- Por um instante eu achei que tinha te perdido! - ficou de joelhos na cama, segurando meu rosto com uma das mãos. Colocou a outra no meu braço machucado. Senti o toque dela na queimadura, soltando um gemido baixo de dor. 
- Eu acho que você precisa saber... - fiz ela sentar na cama, segurando sua mão que estava gelada. 
- Saber o quê? - eu não estava me reconhecendo, mas foda-se, aquilo era mais importante que meu orgulho idiota. 
- O motivo de tudo... De você estar sentada nessa cama chorando, o motivo de você estar em Los Angeles... 
- Isso eu sei, você quer matar o Cam! - o olhar dela ao dizer aquilo me fez sentir um aperto. 
- Mas você não sabe o motivo real de tudo isso! - soltei sua mão, me afastando um pouco. Coloquei as pernas pra fora da cama. Demetria se encostou na cabeceira e encolheu as pernas, me olhando, ainda com os olhos inchados. 
- Eu tenho medo de saber. 
- E eu tenho medo do que pode acontecer se eu continuar com isso... - abaixei minha cabeça, sendo tomado por dezenas de memórias. Aquelas das quais eu me recusava e lutava para não lembrar todo santo dia. 
Joseph... 
Demetria, você não entende? E se não fosse eu naquele quarto, e se fosse você? E se você tivesse... - os olhos dela começaram a ficar vermelhos de novo. Eu não conseguia terminar aquela frase. 
Alguns minutos de silêncio. 
- Então me conta! 
Respirei fundo, me preparando. Não seria fácil. 
- Você deve estar se perguntando o motivo de eu ter aquelas fotos e aquele desenho, não? - ela concordou com a cabeça. - Quem me visse há quinze anos atrás, nunca imaginaria que eu me tornaria o que sou hoje. 
- Por quê? 
- Eu morava com meus pais, em uma casa maior ainda do que aquela que você conheceu em Londres. Meu pai sempre foi rico, eu nunca soube bem de onde vinha toda aquela fortuna dele. Só que, diferente de como todos deveriam imaginar, nós não éramos uma família de aparências, nós éramos felizes. Pelo menos eu achava que sim. - me ajeitei na cama, evitando olhar diretamente paraDemetria. - Uma noite que chovia muito, eu subi pro meu quarto correndo, porque eu tinha medo de trovões. Deus, como eu era medroso! - ri sem humor algum. - Apesar do forte barulho da chuva, eu conseguia escutar a briga que acontecia no andar de baixo. Eu conseguia reconhecer as vozes alteradas dos meus pais. Eles raramente brigavam, mas eu odiava tanto quando aquilo acontecia, tanto... Lembro que comecei a chorar, eu queria morrer, aquelas gritos se tornavam insuportáveis com o passar do tempo. - o rosto dela estava imóvel, assim como o resto de seu corpo. - Pouco tempo depois, minha mãe entrou em meu quarto. 


Flashback - 15 anos antes... 

Joseph fechou os olhos com força, forçando as mãos contra os ouvidos. Ele não queria ter que ouvir aquilo. Aqueles não eram seus pais, seus pais nunca brigariam daquele jeito. 
Um trovão estrondoso fez a porta do quarto tremer e os raios clareavam por um curto tempo seu quarto, que era praticamente todo azul. Percebeu que os gritos haviam parado, tirando então as mãos das orelhas e se deitando de novo. Pegou sua coberta azul e jogou por cima de si, deixando apenas a cabeça para fora. Os olhos ainda ardiam por causa do choro e ele queria poder fazer alguma coisa, descobrir o que acontecia no andar de baixo. 
Mas Joseph era só uma criança. 
Piscou os pequenos olhos algumas vezes, querendo dormir, mas sabia que não iria conseguir. Olhou assustado para a porta ao ouvir o barulho da maçaneta. Estava meio escuro, mas ele conseguia ver perfeitamente que era sua mãe. Elizabeth fechou a porta com cuidado e nas mãos tinha uma caneca azul com o desenho do mickey. Joseph adorava aquela caneca. Assim como toda criança, ele tinha afeto por alguns objetos infantis. Ela sorriu levemente e se sentou na ponta da cama do menino, ele levantou o tronco e ficou sentado, apenas encarando a mãe. Ela estendeu a caneca e ele a pegou, levando a mesma até a boca e tomando o chocolate quente com cuidado, pois estava quente. Outro trovão fez o menino fechar os olhos com força e puxar mais a coberta, para se proteger. 
- Quando é que você vai perder o medo de trovões, querido? - Elizabeth se aproximou e fez um carinho leve no rosto do filho, que abaixou o olhar e levou uma das mãos até os cabelos, os bagunçando. Mania essa que nunca perdeu. 
- Quando eles deixarem de existir! - cruzou os braços e encarou o rosto dela. Apesar de ser pequeno, sabia que algo estava errado. Ela respirou fundo e sentou do mesmo jeito que ele na cama, com as pernas cruzadas, do jeito que um índio se sentava. 
- Você é maior que seus medos, Joseph. Seja lá o quão monstruosos eles sejam. - outro trovão. Elizabeth segurou a mão pequena do filho. - Feche os olhos e pense em algo que te fortaleça. - o menino fez isso, abrindo os olhos segundos depois. - Seus medos estão sumindo, não estão? Eles não vão ter forças para lutar contra o que torna você forte e capaz de derrotá-los. 
O pequeno sorriu sem mostrar os dentes, se mostrando mais calmo. Porém, seus olhinhos ainda analisavam cada detalhe do rosto de sua mãe. Ela não era a mesma, de jeito nenhum. 
- Não quero que vocês briguem, não gosto disso. 
- Não vamos mais brigar, meu amor. Prometo! - ela abaixou o olhar e se aproximou, dando um beijo na testa dele. Ajudou Joseph a se deitar e o cobriu, tirando alguns fios de cabelo de sua testa. - Agora durma, amanhã será um novo dia. Amo você, anjo. 
- Também te amo, mamãe. 

/Flashback 


- Eu dormi. Acordei no dia seguinte e saí correndo do meu quarto, indo atrás dela ou do meu pai. Não a encontrei, mas o encontrei... - parei de falar, fechando meus olhos. 
- Não precisa continuar se não quiser. - ignorei o que ela disse e continuei. 
- Eu nunca tinha visto meu pai com aquele olhar, era outra pessoa, me causou medo. Naquele mesmo dia, ele me ameaçou, disse que se eu falasse o nome da minha mãe e ele ouvisse, eu pagaria caro. Não era mais meu pai que estava ali... Sabe por quê? Porque minha mãe o trocou. Traiu ele. Sabe com quem? Acho que você deve imaginar... Ou até saber... - baguncei meus cabelos, maldita mania. 
- Eu sei... - olhei para ela, já imaginando quem havia contado. - Cameron me contou. 
- Eu já esperava isso... - balancei minha cabeça. - Continuando... Depois que ela trocou meu pai pelo pai do Wolfe, minha vida se tornou um inferno. 
- Ele... Ele te batia? - doía lembrar daquilo. 
- Sim. - levantei minha camisa, mostrando minhas costas para ela. - Vê essa cicatriz aqui? Você nunca deve ter reparado nela... - Demetria não sabia o que dizer, com razão. - Sabe como aconteceu? - eu falava agressivamente, sentindo todas as sensações daquelas memórias. - Eu disse que sentia saudades da minha mãe e ele não aguentou ouvir aquilo... Ele... 
- Pare! - ela fechou os olhos, com uma expressão de dor. Decidi pular aquela parte. 
- Na época a Margo estudava comigo e insistia em ir na minha casa todos os dias. Ela era a única pessoa que eu podia contar naquele momento. Não havia rastros da minha mãe, em lugar algum... Mas a convivência com ela também não me ajudou. Os anos se passaram e eu virei um idiota, tentava de todos os jeitos possíveis esquecer do inferno que eu vivia. Porém, encher a cara não adiantava, usar drogas não adiantava, sair com garotas menos ainda... Eu sabia que no fundo faltava alguma coisa, eu sabia que aquelas porcarias não tampariam o vazio que eu tinha dentro de mim. 
- Meu Deus... - Lovato estava estática, suas mãos estavam fechadas em punhos. - Você... Você... 
- Não há um dia sequer que eu não lembre disso. Quando abro meus olhos de manhã, aquela frase que minha mãe usou para afastar meu medo de trovões está comigo. - soltei meu peso na cama, não aguentando mais. - E eu penso todos os dias no meu pai... - olhei pra ela, recebendo um olhar de pena. Eu não poderia reclamar, eu era digno de pena mesmo. - Penso todos os dias no homem que, até meus 10 anos de idade, foi meu herói. 
- Eu lamento tanto... Tanto! 
Demetria, eu queria voltar no tempo. Eu daria qualquer coisa por uma chance, só uma! - fechei os olhos, me sentindo mais fraco do que nunca. - Eu teria evitado tanta coisa, teria evitado te deixar nesse estado... Eu não seria um monstro agora! - parei de falar, sentindo aquele silêncio insuportável dominar o quarto. Ouvi a respiração alta dela. 
- Por que o Wolfe e não o pai dele? - foi direta, já recuperada do choro, porém, ainda com uma expressão que fazia com que eu me xingasse de tudo por deixá-la daquele jeito. 
- Porque ele contribuiu para o inferno na minha vida... Nós estudávamos juntos quando tínhamos uns 15 anos... Ele sabia dos meus problemas, sabia por que eu achava que ele era meu amigo, achava que podia confiar nele. Apesar do pai dele ter roubado minha mãe. O desgraçado espalhou tudo para a escola inteira, disse que minha mãe havia trocado meu pai pelo dele porque Joseph batia nela, fazia a vida dela e a minha um inferno... Isso não era verdade... Ele inventou dezenas de coisas. Demetria... Você não conhece aquele cara como eu conheço, ele pode parecer um santo, mas não é. E o pai dele... O pai dele é o culpado de tudo! 
- Mas... 
- Eu cresci com uma revolta enorme dentro de mim... Eu queria me vingar dele através do filho... Eu não pensava em ter misericórdia de ninguém... - senti meus olhos arderem... Chorar era demais, eu não podia! - Porque ninguém teve de mim quando eu ficava trancado naquela casa chorando, implorando que o meu pai parasse de ser daquele jeito. E onde minha mãe estava? Com outro homem, ignorando o filho dela, fingindo que o pequeno Joseph não existia. Hoje ela me ligou, e disse que tinha desistido de lutar por mim... Como se eu quisesse isso dela. - bufei, olhando para Demetria que devolveu meu olhar. 
- Depois de saber dessas coisas, você não imagina como eu queria ter te conhecido antes... - ela se aproximou, segurando minha mão e aproximando o rosto do meu. - Como eu queria poder ter te abraçado e evitado tantas lágrimas... Joseph, você não sabe como eu gostaria de ter evitado tudo isso. 
- A culpa não é sua... Apesar de eu ter feito parecer que sim, várias vezes... - grudei nossos lábios, sentindo um choque assim como todas as vezes que tinha contato com o corpo dela. - Exatamente por isso eu vou te deixar ir! 
- Ir aonde? - ela me olhou confusa. 
- Você pode voltar pra Londres, eu não vou mais colocar você em perigo, não vou me perdoar se algo acontecer... Quero que você vá! - eu disse, com o olhar firme. No fundo eu sabia que não queria que ela se afastasse, mas era melhor... 
Para ela. 
- Eu não vou a lugar algum. - seu nariz encostou-se ao meu e ela pegou minhas mãos, colocando-as em sua cintura. Juntou nossos lábios, dei passagem para sua língua, apertando mais a cintura dela e trazendo seu corpo para mais perto de mim. Nós nunca havíamos nos beijado daquele jeito... Tinha algo a mais. Demetria encerrou o beijo, respirando com dificuldade e me olhando nos olhos. - Não estou mais aqui porque você quer, estou porque eu quero! 
- Eu sou um monstro. 
- Eu. Não. Me. Importo! - ela disse pausadamente, pressionando ainda mais seu corpo no meu, juntando nossas mãos e lançando o olhar mais confiante que eu já tinha recebido em toda minha vida.

Um comentário:

Sem comentario, sem fic ;-)